LEITURA DE MÃO CONFUSA
Corny, Maryah e até Rânio, que agora era visitado por Magna toda hora livre no colégio e que a denominaram sua auxiliar de enfermagem, ficaram devastados com a iminente partida das garotas.
- Alguém em sua comunidade faz leitura de mão? - Perguntou Rânio a Magna que passava muito tempo o auxiliando na enfermaria do colégio.
- Sim, somos em dezoito famílias e muitas mulheres lêem as mãos, minha mãe é uma delas e a senhora Lama é a que mais lê; mesmo estando já bem velha, ela ainda sai todos os dias nas praças para ler mãos - Respondeu a garota, enquanto separava bolas de algodões e as dispunham em vidros tampados.
- Eu gostaria, digo, de ter uma leitura de mãos, nunca tive uma leitura - Disse Rânio, separando gazes. Eram muitos os ralados dos alunos na desabalada cor
A graça para brincarem passou, Corny ficou balançado com a leitura de Lama. Mesmo tendo brincado bastante com suas amigas e os irmãos de Magna. Não dormiu aquela noite e o pouco que cochilou, foi assombrado por pesadelos onde Lama aparecia e lhe repetia as mesmas palavras; no pesadelo, ela ficava encoberta pela fumaça espessa, mas a voz dela era indescritível e o assombrou mesmo acordado na noite interminável.Magna ao ir a escola no dia seguinte, mal assistiu às aulas, ficou o tempo todo na diretoria falando com Maryah e na enfermaria conversando com Rânio. O dia de sua partida da cidade estava chegando e a tristeza de deixar seus novos amigos, a deixava deprimida.Pela primeira vez, ela desejou não ser uma cigana. Não ter que andar pelo mundo, se fixar, poder estudar e se tornar uma enfermeira. Estava obcecada com essa idéia e não queria ir embora.
No dia seguinte, a realidade de que logo iriam embora, deixou Magna angustiada. A noite alegre no circo, esquecida. Resolveu não ir a escola. passou o dia calada e triste e por mais que Zaira insistisse com ela, a garota se animava.- É bom que já vou me acostumando, logo não iremos mais, mesmo - Dizia.- Sim, mas temos que aproveitar a presença de nossos amigos - Insistia Zaira.- Para quê? A despedida só será pior quando formos embora.- Você gostaria de ser uma Cajon? - Questionou a amiga.- Do que está falando? - Perguntou ultrajada Magna, virando-se para ela, estavam sentadas e um monte de areia, Zaira com sua mochila tentando convencer a amiga a irem para a escola.- Se fosse como as outras crianças, seria normal, poderia ir a mesma escola até se formar e depois ser uma enfermeira.- Nós somos normais! Amo minha vida de cigana
Niva veio visitá-la quando soube que ela estava internada, a freira não a havia esquecido desde seu tour pelo hospital anteriormente.- Mas minha garota está aqui e não me avisam? Como está, meu bem?A freira adentrara o quarto após três batidas de aviso e encontrara Zaira, Corny, Tâmara, Ziri, Heron, Lui e a Magna sentada na cama ainda de avental hospitalar. Niva com seu hábito escuro, mangas longas, seu crucifixo comprido no pescoço que descia quase até a cintura, não se via seus pés, o hábito os cobria. Era uma mulher de estatura média, no máximo um metro e sessenta, mas era imponente.- Estou bem, irmã, estou feliz de estar aqui.- Meu Deus, mas como assim, como uma pessoa pode estar feliz estando internada? - Fingia consternação. Se aproximara da garota, distribuindo sorrisos aos outros.- N&ati
Precisaram de mais uns dias para os trâmites legais de passar a guarda provisória de Magna para Mayah. A menina não cabia em si de felicidade. Zaira estava arrasada e não escondia isso, sua tenra idade, não lhe permitia ocultar a angústia de saber que sua amiga não iria com eles, não conseguia fingir nem ficar feliz pela amiga.- Não quero que fique, Mag, nada será como antes sem ter você.- Zai, vamos nos ver sempre, não viu que mamãe e papai voltarão sempre, nos veremos ainda.- Eu sei, mas não vou acordar todos os dias e ver você. Vai andar como os Cajons, agora, vestir as roupas iguais as deles?- Claro que não! Jamais vou deixar de usar as roupas que gosto, irmã Niva disse que compraria roupas normais para mim, que seria mais fácil e parariam de me tratar diferente mas a agradeci e disse que quero continuar a
Já fazia seis meses que estavam longe da cidade em que Magna ficara. Zaira ainda sentia falta da amiga diariamente, a angústia ainda a acompanhava, não se matriculara mais em nenhuma escola; sem Magna não teria a mesma graça e seus pais não insistiram. Caso entrasse em outra escola, não teria a companhia da amiga nem de Corny e os outros que lhes foram tão importantes.Tinham passado por cinco cidades diferentes desde que deixaram Magna, por dois estados diferentes e fazia duas semanas que estavam montados em uma cidade grande.A cidade era turística e animada, mas Zaira só se animava em sair, visitar lugares, quando ia acompanhada de Gunari e Hans; eles também sentiam falta da irmã mas procuravam não falar sobre isso, Zaira os via com o semblante triste quando brincavam ou faziam algo que a irmã gostava, mas não tocavam no assunto. Ela s
- De que lhe vale uma vida longa aqui ou lá se for para pagar os pecados cometidos? - Perguntou-lhe a velha.- É verdade - Concordou Zaira que já pensava em uma forma de se livrar daquela leitura de cartas que ela não compreendia.- Pois então, melhor fazer boas escolhas do que ficar pagando por erros e maldades. Vejamos aqui agora essa outra carta, a da Raposa, só reforça o que já falamos. Cautela. Algo novo que se aproxima, como a guerra, como já lhe disse também.- Já a carta da Estrela - Continuou Lama, com uma expressão desanimada - Ela nos diz que o que lhe é destinado, não há como desfazer, é seu destino, entende?Lama alterou a voz, Zaira já estava assustada e ficou ainda mais. Via nos olhos da velha uma motivação, uma ânsia para lhe informar, mas ela nada entendi
Ziri e Heron perderam a paciência com Lama. Parecia que a senhora estava perseguindo Zaira e Corny, o garoto a evitava ultimamente. Heron pegou a filha desmaiada, caída no chão na entrada da barraca, Ziri lhe deu um retalho com álcool para cheirar e a menina tremia quando voltou a si.Pela manhã, os mais velhos da comunidade conversaram e decidiram que Lama não podia mais se aproximar da garota, Lama sentiu-se ultrajada e desrespeitada e saiu antes da conclusão da reunião. Bebeu o dia todo e a noite incomodou a maioria dos amigos. Pela manhã, sua barraca estava vazia.Procuraram-na pelos arredores, nas praças onde lia mãos e cartas e não a encontraram. Procuraram-na por dias, sem sucesso e quando chegou o dia de pegarem estrada, a senhora não apareceu e tiveram que seguir sem ela.Os pais de Magna, mantinham contato com a filha por telefone, ligavam na escola
Ainda era quarta-feira e enquanto Magna trabalhava e estudava, ia do serviço para o curso, Zaira ficou em sua quitinete, arrumou, guardou coisas, se ocupou cozinhando e o dia se estendia a sua frente. Corny a distraía, saíam durante as tardes em que ela ficava entediada e ociosa, o pai o liberava do serviço e eles andavam o dia todo. A amizade dos dois, se tornara sólida desde a infância. Ele e Zaira tinham uma ligação mais forte do que ele tinha com Magna, se entendiam sem precisar de palavras.Ele havia se tornado um belo homem, educado, engraçado e sempre presente. Corny era muito alto, a transformação dele de garoto para homem, o deixara completamente diferente daquele garoto só ossos, dos cotovelos proeminente. Suas costas eram largas, sua voz era muito grossa, engrosssara antes dos quinze e a cada visita que fazia á Zaira ou ela fazia a cidade dele, ela se surpreendia em como ele m