No dia seguinte, a realidade de que logo iriam embora, deixou Magna angustiada. A noite alegre no circo, esquecida. Resolveu não ir a escola. passou o dia calada e triste e por mais que Zaira insistisse com ela, a garota se animava.
- É bom que já vou me acostumando, logo não iremos mais, mesmo - Dizia.
- Sim, mas temos que aproveitar a presença de nossos amigos - Insistia Zaira.
- Para quê? A despedida só será pior quando formos embora.
- Você gostaria de ser uma Cajon? - Questionou a amiga.
- Do que está falando? - Perguntou ultrajada Magna, virando-se para ela, estavam sentadas e um monte de areia, Zaira com sua mochila tentando convencer a amiga a irem para a escola.
- Se fosse como as outras crianças, seria normal, poderia ir a mesma escola até se formar e depois ser uma enfermeira.
- Nós somos normais! Amo minha vida de cigana
Niva veio visitá-la quando soube que ela estava internada, a freira não a havia esquecido desde seu tour pelo hospital anteriormente.- Mas minha garota está aqui e não me avisam? Como está, meu bem?A freira adentrara o quarto após três batidas de aviso e encontrara Zaira, Corny, Tâmara, Ziri, Heron, Lui e a Magna sentada na cama ainda de avental hospitalar. Niva com seu hábito escuro, mangas longas, seu crucifixo comprido no pescoço que descia quase até a cintura, não se via seus pés, o hábito os cobria. Era uma mulher de estatura média, no máximo um metro e sessenta, mas era imponente.- Estou bem, irmã, estou feliz de estar aqui.- Meu Deus, mas como assim, como uma pessoa pode estar feliz estando internada? - Fingia consternação. Se aproximara da garota, distribuindo sorrisos aos outros.- N&ati
Precisaram de mais uns dias para os trâmites legais de passar a guarda provisória de Magna para Mayah. A menina não cabia em si de felicidade. Zaira estava arrasada e não escondia isso, sua tenra idade, não lhe permitia ocultar a angústia de saber que sua amiga não iria com eles, não conseguia fingir nem ficar feliz pela amiga.- Não quero que fique, Mag, nada será como antes sem ter você.- Zai, vamos nos ver sempre, não viu que mamãe e papai voltarão sempre, nos veremos ainda.- Eu sei, mas não vou acordar todos os dias e ver você. Vai andar como os Cajons, agora, vestir as roupas iguais as deles?- Claro que não! Jamais vou deixar de usar as roupas que gosto, irmã Niva disse que compraria roupas normais para mim, que seria mais fácil e parariam de me tratar diferente mas a agradeci e disse que quero continuar a
Já fazia seis meses que estavam longe da cidade em que Magna ficara. Zaira ainda sentia falta da amiga diariamente, a angústia ainda a acompanhava, não se matriculara mais em nenhuma escola; sem Magna não teria a mesma graça e seus pais não insistiram. Caso entrasse em outra escola, não teria a companhia da amiga nem de Corny e os outros que lhes foram tão importantes.Tinham passado por cinco cidades diferentes desde que deixaram Magna, por dois estados diferentes e fazia duas semanas que estavam montados em uma cidade grande.A cidade era turística e animada, mas Zaira só se animava em sair, visitar lugares, quando ia acompanhada de Gunari e Hans; eles também sentiam falta da irmã mas procuravam não falar sobre isso, Zaira os via com o semblante triste quando brincavam ou faziam algo que a irmã gostava, mas não tocavam no assunto. Ela s
- De que lhe vale uma vida longa aqui ou lá se for para pagar os pecados cometidos? - Perguntou-lhe a velha.- É verdade - Concordou Zaira que já pensava em uma forma de se livrar daquela leitura de cartas que ela não compreendia.- Pois então, melhor fazer boas escolhas do que ficar pagando por erros e maldades. Vejamos aqui agora essa outra carta, a da Raposa, só reforça o que já falamos. Cautela. Algo novo que se aproxima, como a guerra, como já lhe disse também.- Já a carta da Estrela - Continuou Lama, com uma expressão desanimada - Ela nos diz que o que lhe é destinado, não há como desfazer, é seu destino, entende?Lama alterou a voz, Zaira já estava assustada e ficou ainda mais. Via nos olhos da velha uma motivação, uma ânsia para lhe informar, mas ela nada entendi
Ziri e Heron perderam a paciência com Lama. Parecia que a senhora estava perseguindo Zaira e Corny, o garoto a evitava ultimamente. Heron pegou a filha desmaiada, caída no chão na entrada da barraca, Ziri lhe deu um retalho com álcool para cheirar e a menina tremia quando voltou a si.Pela manhã, os mais velhos da comunidade conversaram e decidiram que Lama não podia mais se aproximar da garota, Lama sentiu-se ultrajada e desrespeitada e saiu antes da conclusão da reunião. Bebeu o dia todo e a noite incomodou a maioria dos amigos. Pela manhã, sua barraca estava vazia.Procuraram-na pelos arredores, nas praças onde lia mãos e cartas e não a encontraram. Procuraram-na por dias, sem sucesso e quando chegou o dia de pegarem estrada, a senhora não apareceu e tiveram que seguir sem ela.Os pais de Magna, mantinham contato com a filha por telefone, ligavam na escola
Ainda era quarta-feira e enquanto Magna trabalhava e estudava, ia do serviço para o curso, Zaira ficou em sua quitinete, arrumou, guardou coisas, se ocupou cozinhando e o dia se estendia a sua frente. Corny a distraía, saíam durante as tardes em que ela ficava entediada e ociosa, o pai o liberava do serviço e eles andavam o dia todo. A amizade dos dois, se tornara sólida desde a infância. Ele e Zaira tinham uma ligação mais forte do que ele tinha com Magna, se entendiam sem precisar de palavras.Ele havia se tornado um belo homem, educado, engraçado e sempre presente. Corny era muito alto, a transformação dele de garoto para homem, o deixara completamente diferente daquele garoto só ossos, dos cotovelos proeminente. Suas costas eram largas, sua voz era muito grossa, engrosssara antes dos quinze e a cada visita que fazia á Zaira ou ela fazia a cidade dele, ela se surpreendia em como ele m
Como a freira, irmã Niva havia avisado, as internações por aborto eram corriqueiras e quase diárias. Não se havia método contraceptivo gratuito e o coito interrompido, era o mais comumente utilizado, e como não era garantia de contracepção, mais e mais mulheres engravidavam. Mulheres da idade de Magna e Zaira, já tinham quatro filhos ou mais e teriam ainda muitos mais. Abortistas caseiras, fundo de quintal, eram ilegais, obviamente, mas não erradicadas. Todos os dias, davam entradas mulheres que tentaram em casa ou em abortistas se livrar de uma gravidez indesejada. A maioria, quando chegava ao hospital, era porque o método utilizado para interromper a gestação havia dado errado e mais da metade, vinha a óbito. Os mais comuns, eram jovens e crianças; meninas que mal menstruara e engravidara, ou por falta de informação ou estupro. Magna continuav
- A primeira vez que a vi, eu era um moleque mas meu coração se acelerou - Disse sorrindo Corny.- Não fui eu quem o vi primeiro? - Perguntou Zaira. Ela estava usando um vestido emprestado por Magna, de tafetá roxo, todo enfeitado com lantejoulas no decote, de mangas bufantes, pregueadas de lastex. Corny não cansava de dizer como ela estava linda e que jamais a vira tão bonita.- Claro que não! Fiquei curioso quando ouvi os burburinhos de que duas ciganas de nariz em pé que chegara, eu não podia deixar de verificar.Estavam sentados no sofá pequeno, ela tirara as sandálias e apoiava os pés no colo dele, tinha as faces coradas, estava cansada do dia exaustivo que tiveram e ela jamais se sentira tão feliz.- Como nunca me disse isso, Magna sabia?- Sou discreto,minha querida esposa. Passei pelo corredor da classe de vocês umas quinhent