Lembrando-se da batalha ela se esforçou, com o coração acelerado, cada retumbada, lhe doía o peito. Ela abriu os olhos e foi como se tivesse levado uma pancada forte, a luz do sol. Levantar seria impossível e enquanto ficava ali, deitada no que lhe parecia ser o chão, olhava para um céu azul cortado por uma faixa colorida.
Inspirando e respirando, tentando se acalmar, acalmar a respiração e as batidas frenéticas de seu coração, ela viu no céu uma revoada de Biús.
Dezenas deles bem no alto, voavam sobre as cores lindas do céu, depois eram centenas, milhares. Muitas aves rodavam em sincronia lá no alto.
Bem acima de onde ela estava.
O céu escureceu; não via mais as cores hipnóticas, apenas Biús e pareciam ser do mesmo tamanho. Forçando a vista, ela viu que alguns saíram da sincronia e lhe par
Ela era uma cigana. Zaira tinha dezessete anos.Agora ela se lembrava; outro mundo, outra vida. Ela era uma cigana, ou Romi; Tinha sido uma criança feliz, pais maravilhosos, uma infância e adolescência comum e alegre.Viviam como nômades, de cidade em cidade, sua mãe a ensinara a ler e escrever, era filha única, mas seus amigos, seu bando, nunca permitiu que se sentisse solitária.O preconceito contra seu povo, era grande e isso a entristecia. Entrar em uma escola, a deixaria à mercê dos preconceitos e crueldade. Outras crianças a faziam se sentir uma aberração; os próprios educadores, por não conhecer o que eram os ciganos, partilhavam do preconceito, às vezes travestido de pena ou punição gratuita e desmedida, fazendo com que seu pai achasse melhor que ela fosse educada por ele e sua esposa.A vida entre seu
Ter a amizade de Maryah deu forças as garotas de continuarem a ir ao colégio.Eram a novidade do momento, porém os agressivos, ao verem que a diretora as protegia, mantinham certa distância.Ambas estavam adorando a escola e o aprendizado. Todos os dias tinham novidades para contar quando chegavam na comunidade. Quando estavam há uma semana na escola, seus pais foram conversar com a diretora e tal qual as filhas, a adoraram.- Ela nos disse que vocês são especiais - era Ziri quem falava, com o orgulho estampado no rosto. Dezenas de amigos estavam fora da barraca, o calor estava insuportável, mesmo sendo o começo da noite, bebiam e fumavam sentados cada um em um lugar, uns pelo chão, outros em caixotes e em um rádio de pilhas, ouviam músicas.- Ela nos disse que podemos ser o que quisermos - Falou Magna.- Idiota - Lama retrucou - Se os Cajons nem sempre
LEITURA DE MÃO CONFUSACorny, Maryah e até Rânio, que agora era visitado por Magna toda hora livre no colégio e que a denominaram sua auxiliar de enfermagem, ficaram devastados com a iminente partida das garotas.- Alguém em sua comunidade faz leitura de mão? - Perguntou Rânio a Magna que passava muito tempo o auxiliando na enfermaria do colégio.- Sim, somos em dezoito famílias e muitas mulheres lêem as mãos, minha mãe é uma delas e a senhora Lama é a que mais lê; mesmo estando já bem velha, ela ainda sai todos os dias nas praças para ler mãos - Respondeu a garota, enquanto separava bolas de algodões e as dispunham em vidros tampados.- Eu gostaria, digo, de ter uma leitura de mãos, nunca tive uma leitura - Disse Rânio, separando gazes. Eram muitos os ralados dos alunos na desabalada cor
A graça para brincarem passou, Corny ficou balançado com a leitura de Lama. Mesmo tendo brincado bastante com suas amigas e os irmãos de Magna. Não dormiu aquela noite e o pouco que cochilou, foi assombrado por pesadelos onde Lama aparecia e lhe repetia as mesmas palavras; no pesadelo, ela ficava encoberta pela fumaça espessa, mas a voz dela era indescritível e o assombrou mesmo acordado na noite interminável.Magna ao ir a escola no dia seguinte, mal assistiu às aulas, ficou o tempo todo na diretoria falando com Maryah e na enfermaria conversando com Rânio. O dia de sua partida da cidade estava chegando e a tristeza de deixar seus novos amigos, a deixava deprimida.Pela primeira vez, ela desejou não ser uma cigana. Não ter que andar pelo mundo, se fixar, poder estudar e se tornar uma enfermeira. Estava obcecada com essa idéia e não queria ir embora.
No dia seguinte, a realidade de que logo iriam embora, deixou Magna angustiada. A noite alegre no circo, esquecida. Resolveu não ir a escola. passou o dia calada e triste e por mais que Zaira insistisse com ela, a garota se animava.- É bom que já vou me acostumando, logo não iremos mais, mesmo - Dizia.- Sim, mas temos que aproveitar a presença de nossos amigos - Insistia Zaira.- Para quê? A despedida só será pior quando formos embora.- Você gostaria de ser uma Cajon? - Questionou a amiga.- Do que está falando? - Perguntou ultrajada Magna, virando-se para ela, estavam sentadas e um monte de areia, Zaira com sua mochila tentando convencer a amiga a irem para a escola.- Se fosse como as outras crianças, seria normal, poderia ir a mesma escola até se formar e depois ser uma enfermeira.- Nós somos normais! Amo minha vida de cigana
Niva veio visitá-la quando soube que ela estava internada, a freira não a havia esquecido desde seu tour pelo hospital anteriormente.- Mas minha garota está aqui e não me avisam? Como está, meu bem?A freira adentrara o quarto após três batidas de aviso e encontrara Zaira, Corny, Tâmara, Ziri, Heron, Lui e a Magna sentada na cama ainda de avental hospitalar. Niva com seu hábito escuro, mangas longas, seu crucifixo comprido no pescoço que descia quase até a cintura, não se via seus pés, o hábito os cobria. Era uma mulher de estatura média, no máximo um metro e sessenta, mas era imponente.- Estou bem, irmã, estou feliz de estar aqui.- Meu Deus, mas como assim, como uma pessoa pode estar feliz estando internada? - Fingia consternação. Se aproximara da garota, distribuindo sorrisos aos outros.- N&ati
Precisaram de mais uns dias para os trâmites legais de passar a guarda provisória de Magna para Mayah. A menina não cabia em si de felicidade. Zaira estava arrasada e não escondia isso, sua tenra idade, não lhe permitia ocultar a angústia de saber que sua amiga não iria com eles, não conseguia fingir nem ficar feliz pela amiga.- Não quero que fique, Mag, nada será como antes sem ter você.- Zai, vamos nos ver sempre, não viu que mamãe e papai voltarão sempre, nos veremos ainda.- Eu sei, mas não vou acordar todos os dias e ver você. Vai andar como os Cajons, agora, vestir as roupas iguais as deles?- Claro que não! Jamais vou deixar de usar as roupas que gosto, irmã Niva disse que compraria roupas normais para mim, que seria mais fácil e parariam de me tratar diferente mas a agradeci e disse que quero continuar a
Já fazia seis meses que estavam longe da cidade em que Magna ficara. Zaira ainda sentia falta da amiga diariamente, a angústia ainda a acompanhava, não se matriculara mais em nenhuma escola; sem Magna não teria a mesma graça e seus pais não insistiram. Caso entrasse em outra escola, não teria a companhia da amiga nem de Corny e os outros que lhes foram tão importantes.Tinham passado por cinco cidades diferentes desde que deixaram Magna, por dois estados diferentes e fazia duas semanas que estavam montados em uma cidade grande.A cidade era turística e animada, mas Zaira só se animava em sair, visitar lugares, quando ia acompanhada de Gunari e Hans; eles também sentiam falta da irmã mas procuravam não falar sobre isso, Zaira os via com o semblante triste quando brincavam ou faziam algo que a irmã gostava, mas não tocavam no assunto. Ela s