Aloy tinha os olhos vermelhos quando a acordou.
Havia prometido a Lacantra não a acordá-la se ficasse agitada. Ela havia gritado, chorado por horas, gemia um gemido doloroso, como se tivesse pedindo socorro, seu lamento doía na alma do rapaz e por vezes saiu para o quintal para se segurar e não a despertar.
O dia amanhecera e ela não acordava. Aloy pensou em pedir ajuda a alguém mas não queria que ela ficasse nervosa com ele se a acordasse e achou melhor esperar. Avisou que não sairia de casa e passou o dia a escutar os gritos de desespero.
Já anoitecia quando ele por fim não mais suportou o choro incontido, os gemidos saíam como de uma animal ferido e ele não suportou mais.
- Meu amor, que bom que está acordada, me perdoe por acordá-la.
- Ele está vindo, Aloy! Temos que correr, me ajude!
Ela gritou se levantando, as l
Estavam todos atentos. Shetary estava ficando na morada de Aloy junto com Sácia e Tix. Lacantra foi dissuadida por Aloy de induzir visagens, como ele disse, ela precisava estar atenta e ficar sem dormir, se cansar, não era uma boa idéia e todos foram unânimes em concordar com o rapaz. Se ela queria lutar, que se mantivesse descansada, que treinasse ainda mais, que descansasse enquanto não eram atacados.Lacantra e os demais só não previram que seriam atacados com fogo.Na noite seguinte à chegada de Tix, os Tims tocaram. Ao primeiro toque, estavam de pé, espadas nas mãos, punhais na cintura, atirador em outra mão, prontos para revidarem.Os sem tribos os atacaram na madrugada. A armadilha na entrada da tribo não segurou nenhum deles. Os quatro Cândalos guardiões da entrada foram mortos e jogados no buraco. Deviam saber da armadilha ou chegara
A trinta metros do Galpão, ela viu que seria impossível passar sem ser percebida e atacada.Pelo menos quinze sem tribos lutavam no caminho. Estavam em desvantagem. Menos de dez Cândalos se defendiam com afinco, os gritos de ataque cortavam a noite e ela deitou o garoto no chão.- Por favor, Magú, não me deixe.Ela lhe pedia e ignorava as lágrimas que caíam no peito do garoto. Segurando com ambas as mãos seu rostinho, ela o beijou no topo da cabeça, no rosto, nas pálpebras e soluçava a cada beijo lhe implorando para aguentar:- Você é meu amigo… temos que vencer, temos que ir á caça juntos, não é?- Estou cansado, sonhadora…- Não me chame de sonhadora ou vai ver a minha ira!Ele lhe sorriu sem abrir os olhos.- Me desculpe..- Não, não o desculpo se me deixar. Fiq
Frizzat os chamou: Ranem, Lacantra, Aloy, Sote, Mury e mais uns quarentas que eram os melhores Cândalos guerreiros de Pief para uma reunião de emergência; o ataque já estava mais calmo. Uns haviam saído a pedido do líder antes que fossem atacados. Ele já previa que seria um banho de sangue e pediu ajuda a uns uns Sivaês de tribos vizinhas. Esperavam que chegassem a qualquer momento. Imaginava que até o clarear do dia, tudo teria finalizado.Shetary e Sácia os esperava no Galpão e ao chegarem e iniciarem a reunião, ela disse:- Temos um plano e queremos saber de vocês, principalmente você, Lacantra.A jovem não conseguia prestar atenção em nada que falavam e isso preocupava Aloy. Parecia apenas uma lembrança do que era no dia anterior, parecia uma casca oca.Sua expressão era de vazio, suas roupas
Cerca de duzentos Cândalos vinham para Pief. Várias tribos lhes enviaram seus lutadores.Cecat foi libertado e conseguiram parar as lutas. Os sem tribos que não foram mortos, os feridos, tantos os gravemente quanto os mais leves, estavam na entrada de Pief para partirem. E Lacantra estava entre eles.Cento e seis sem tribos, entre feridos e não feridos, rumariam para longe e não seriam impedidos.Pela primeira vez, Aloy se sentiu mal com a decisão dos Sivaês. Estava inconformado com a decisão de mandarem um dos seus; temia que Lacantra fosse morta, violentada e sofreria as mais bárbaras agressões enquanto não a resgatassem.O dia estava ensolarado quando ela partiu com os sem tribos. O sol, a claridade, os pássaros, não combinavam com o humor de Pief. Parecia que Rafo os esquecera.As ruas de Pief estavam banhadas em sangue. Choupanas
Paxa ficou pensativa, sentada ao lado da moça, ela não falava nada e olhava absorta para o nada, perdida em lembranças.Lacantra tentou forçar mais algo para dentro, precisava estar forte quanto seus amigos a viessem resgatar. Olhou para Paxa e imaginou o que a mulher pensava. Devia estar sofrendo também, perdera os dois jovens que amava como filhos, sua vida não deveria ter sido fácil, mas não podia se solidarizar com a mulher; ela escolhera essa vida. Nada lhe descia pela garganta trancada. Temia o combate que estava próximo, temia perder mais alguém, Lucca fora chamado, sua tribo havia sido contactada e sabia que podiam ter baixas, o bando de Rocco era grande e guerreiros. Um soluço involuntário lhe escapou, de medo, de perda, sua vida havia virado de cabeça para baixo há meses e quando por fim encontrara a felicidade com Aloy, tudo descarrilara novamente.<
Paxa foi interceptada por Ranem que era o responsável por resgatar a jovem caso Aloy não conseguisse.A espada lhe cortou a garganta e ela caiu já sem vida quando tocou o chão, assim que pôs os pés para fora da tenda.Como fizeram em Pief, foram também atacados com fogo. Não havia cabanas ou tendas montadas, exceto a de Rocco e Paxa, mas utilizando uma tocha e líquidos inflamados, atacavam a todos que vinham pela frente.Lacantra e Aloy saíram da tenda e ela gritou ao tropeçar no corpo da sem tribo, olhou-a por alguns segundos e teve pena pelo fim da mulher.Munida de sua espada e o Atirador, ela saiu golpeando quem se impusesse em sua frente.Gritos. Crianças corriam e eram pisoteadas, idosos e guerreiros, empunhavam espadas e pedaços de pau.Lacantra ouviu o grito de Rocco, devia ter encontrado a esposa morta, p
Lembrando-se da batalha ela se esforçou, com o coração acelerado, cada retumbada, lhe doía o peito. Ela abriu os olhos e foi como se tivesse levado uma pancada forte, a luz do sol. Levantar seria impossível e enquanto ficava ali, deitada no que lhe parecia ser o chão, olhava para um céu azul cortado por uma faixa colorida.Inspirando e respirando, tentando se acalmar, acalmar a respiração e as batidas frenéticas de seu coração, ela viu no céu uma revoada de Biús.Dezenas deles bem no alto, voavam sobre as cores lindas do céu, depois eram centenas, milhares. Muitas aves rodavam em sincronia lá no alto.Bem acima de onde ela estava.O céu escureceu; não via mais as cores hipnóticas, apenas Biús e pareciam ser do mesmo tamanho. Forçando a vista, ela viu que alguns saíram da sincronia e lhe par
Ela era uma cigana. Zaira tinha dezessete anos.Agora ela se lembrava; outro mundo, outra vida. Ela era uma cigana, ou Romi; Tinha sido uma criança feliz, pais maravilhosos, uma infância e adolescência comum e alegre.Viviam como nômades, de cidade em cidade, sua mãe a ensinara a ler e escrever, era filha única, mas seus amigos, seu bando, nunca permitiu que se sentisse solitária.O preconceito contra seu povo, era grande e isso a entristecia. Entrar em uma escola, a deixaria à mercê dos preconceitos e crueldade. Outras crianças a faziam se sentir uma aberração; os próprios educadores, por não conhecer o que eram os ciganos, partilhavam do preconceito, às vezes travestido de pena ou punição gratuita e desmedida, fazendo com que seu pai achasse melhor que ela fosse educada por ele e sua esposa.A vida entre seu