As sobrancelhas de Orson se franziram imediatamente, mas, dessa vez, ele hesitou antes de desligar o celular. Zara, por outro lado, soltou o cinto de segurança com um movimento decidido. — Esquece. Eu volto pra casa sozinha. Enquanto falava, ela já levava a mão à maçaneta para abrir a porta, mas Orson rapidamente segurou sua mão. — Para onde você acha que vai? — Você parece estar muito ocupado. Eu posso chamar um carro e voltar sozinha. — A essa hora você quer pegar um carro? — Perguntou Orson. — E o que tem isso? A rua está cheia de carros. Por que eu não poderia? — Zara respondeu, com evidente impaciência. — Entra no carro! Eu já vou... — Orson começou a falar, mas foi interrompido pelo toque do celular. Era a terceira ligação. O olhar de Zara ficou ainda mais cínico, carregado de uma ironia mordaz. — Veja bem, você está tão ocupado que não precisa se preocupar comigo. Eu volto sozinha. Dizendo isso, ela afastou os dedos dele com firmeza. Orson tentou segurá-l
Zara não sabia como havia chegado naquele lugar. Ela só se lembrava de descer do carro de Orson, atravessar a rua e, então, sentir alguém tocando em seu ombro. Antes que ela pudesse se virar para ver quem era, a pessoa cobriu sua boca e nariz. Tudo ficou escuro, e ela perdeu completamente a consciência. Quando abriu os olhos novamente, estava em um quarto desconhecido. Suas mãos e pés estavam amarrados, e o ambiente exalava um forte cheiro de mofo. A única fonte de luz vinha de uma pequena janela, por onde a luz da lua entrava fracamente. O resto do cômodo estava mergulhado em escuridão. Zara não fazia ideia de quem a havia levado ali, muito menos do que queriam. Até aquele momento, ela não tinha visto ninguém. Enquanto tentava encontrar algo no quarto que pudesse ajudá-la a cortar as cordas, a porta velha e rangente se abriu de repente. Zara virou a cabeça imediatamente e, ao ver quem era, suas pupilas se contraíram levemente. — É você? — Parece surpresa. — Lilian so
— Olha só como eu sou cuidadosa. Então, você poderia fazer o favor de colaborar e parar de se mexer, está ouvindo? Caso contrário, se a faca escorregar acidentalmente para a sua barriga, eu vou me sentir muito mal. — Lilian disse, enquanto pressionava a faca com mais força. Zara sentiu a dor cortante de forma nítida. O sangue começou a escorrer lentamente, pingando no chão frio, espalhando uma sensação gélida por todo o seu corpo. Nesse momento, o rosto de Orson surgiu em sua mente. Ela se perguntou o que ele estaria fazendo agora. Será que ele achava que ela havia saído com raiva e estava desesperado, procurando-a por toda parte? Ou será que ele atendeu a ligação de Lila e nem percebeu que ela tinha desaparecido? Zara não queria pensar nisso, mas quanto mais pensava, mais amarga ficava sua sensação. A dor em seu rosto ficava cada vez mais intensa, mas ela não se atrevia a se mover. Lilian tinha razão. Havia uma criança em sua barriga. Se ela fizesse algo que irritasse Lili
A ambulância chegou rapidamente ao hospital. O sangramento no rosto de Zara já havia sido controlado, mas os médicos ainda precisavam realizar a sutura. Depois de aplicar a anestesia, aquela parte do rosto já não tinha mais sensibilidade. No entanto, Zara ainda podia sentir o movimento das mãos do médico, como a agulha e o fio passavam por sua pele. Era um processo nítido e quase desconfortável, mesmo sem dor. Como era uma cirurgia simples, o procedimento foi realizado na sala de emergência. Embora a porta estivesse fechada, os olhos de Zara permaneceram fixos nela, como se esperasse algo ou alguém. Mas o que exatamente ela esperava... Nem ela mesma sabia ao certo. Mesmo assim, enquanto o médico terminava a sutura, Orson não apareceu. Do lado de fora, Emory permaneceu esperando o tempo todo. Assim que Zara saiu, ele deu alguns passos apressados em sua direção. — Você está bem? Está doendo? — Ele perguntou, com preocupação evidente. Zara olhou para ele e balançou a cabeç
A mão de Zara se fechou imediatamente, enquanto sua mente era invadida por uma série de pensamentos rápidos. Antes que pudesse capturar qualquer um deles, sua voz escapou sem controle: — A pessoa morta é... Lilian? …A vítima, de fato, era Lilian. Ela havia caído da sacada do 21º andar de um prédio e morrido na hora. O mais perturbador era que, no momento de sua morte, ela estava com as roupas desalinhadas. Naquele apartamento, além de Lilian, apenas Orson estava presente. Um homem e uma mulher sozinhos em uma casa, no meio da noite. Esses dois fatores por si só eram suficientes para gerar especulações infinitas, ainda mais considerando quem era Orson. Em poucas horas, os rumores já haviam dominado as manchetes. A relação entre Lilian e Orson era um tema que vinha se espalhando nos círculos sociais há algum tempo. Agora, com uma tragédia dessas acontecendo, e com o estado em que Lilian foi encontrada, muitos começaram a especular que os dois estavam “se divertindo demais
Zara não se lembrava exatamente de como havia respondido a Marta. Depois de desligar o celular, ela ficou sentada sozinha no quarto, olhando pela janela, perdida em seus pensamentos. Com medo de ser cercada pela mídia, Zara não saía de casa há dias. Os empregados responsáveis pela limpeza também pareciam ter visto as notícias. Sempre que olhavam para Zara, faziam isso com extremo cuidado, e seus olhares vinham acompanhados de uma dose de compaixão... Por isso, Zara preferia permanecer no quarto, evitando qualquer contato desnecessário com eles. Enquanto ligava sua mesa digital para se distrair desenhando algumas histórias em quadrinhos, o som da campainha ecoou pela casa, fazendo suas sobrancelhas se franzirem imediatamente. Pouco depois, uma das empregadas apareceu para informá-la: — Senhora Harris, é um homem que se apresentou como irmão do senhor Orson. A senhora deseja recebê-lo? Zara apertou os lábios com força. O olhar dela fez com que a empregada ficasse ainda ma
— Lilian me disse uma vez que, às vezes, Orson ficava olhando para ela como se estivesse vendo o reflexo de outra pessoa. Se eu não estiver enganado, essa pessoa deve ser… Você, Zara. Ou, melhor dizendo, quem você costumava ser. Percival fez uma pausa e continuou, com um sorriso leve. — Porque, agora, você está calma e racional demais. Veja essa situação, por exemplo. Qualquer outra mulher, ao ouvir que o marido está envolvido em algo assim, ficaria completamente desesperada. Mesmo que não tentasse de tudo para ajudar, pelo menos ficaria furiosa, não acha? Mas você, nada. Orson, mais do que ninguém, percebe isso. Ele sente essa frieza. Então, não é nada estranho que ele procure esse tipo de realização em outra mulher. Percival falava com uma leveza desconcertante, como se estivesse apenas expressando uma verdade óbvia. Ele parecia estar analisando a situação sob o ponto de vista de um homem, com a confiança de quem sabia exatamente o que estava dizendo. Zara, no entanto, ouviu su
Nos dias mais intensos de especulação pública, Orson passou todo o tempo na delegacia. Com o passar dos dias, a comoção inicial começou a diminuir gradualmente. No entanto, assim que a notícia de sua soltura sob fiança foi divulgada, a entrada da delegacia foi rapidamente tomada por jornalistas logo pela manhã. Microfones e câmeras estavam preparados, e todos aguardavam ansiosamente a saída de Orson, esperando conseguir entrevistá-lo e obter a notícia mais recente. Michel, sabendo como aquela situação seria caótica, havia planejado uma rota e um horário alternativos para evitar o tumulto. Mas Orson recusou diretamente a proposta. Michel, percebendo que ele tinha outros planos em mente, não insistiu e seguiu os procedimentos exigidos pela polícia. Do lado de fora, os jornalistas já estavam à espera há horas. O clima era de tensão e expectativa, todos com os olhares fixos na saída. Assim que Orson apareceu, a multidão reagiu como tubarões sentindo o cheiro de sangue fresco.