A mão de Zara se fechou imediatamente, enquanto sua mente era invadida por uma série de pensamentos rápidos. Antes que pudesse capturar qualquer um deles, sua voz escapou sem controle: — A pessoa morta é... Lilian? …A vítima, de fato, era Lilian. Ela havia caído da sacada do 21º andar de um prédio e morrido na hora. O mais perturbador era que, no momento de sua morte, ela estava com as roupas desalinhadas. Naquele apartamento, além de Lilian, apenas Orson estava presente. Um homem e uma mulher sozinhos em uma casa, no meio da noite. Esses dois fatores por si só eram suficientes para gerar especulações infinitas, ainda mais considerando quem era Orson. Em poucas horas, os rumores já haviam dominado as manchetes. A relação entre Lilian e Orson era um tema que vinha se espalhando nos círculos sociais há algum tempo. Agora, com uma tragédia dessas acontecendo, e com o estado em que Lilian foi encontrada, muitos começaram a especular que os dois estavam “se divertindo demais
Zara não se lembrava exatamente de como havia respondido a Marta. Depois de desligar o celular, ela ficou sentada sozinha no quarto, olhando pela janela, perdida em seus pensamentos. Com medo de ser cercada pela mídia, Zara não saía de casa há dias. Os empregados responsáveis pela limpeza também pareciam ter visto as notícias. Sempre que olhavam para Zara, faziam isso com extremo cuidado, e seus olhares vinham acompanhados de uma dose de compaixão... Por isso, Zara preferia permanecer no quarto, evitando qualquer contato desnecessário com eles. Enquanto ligava sua mesa digital para se distrair desenhando algumas histórias em quadrinhos, o som da campainha ecoou pela casa, fazendo suas sobrancelhas se franzirem imediatamente. Pouco depois, uma das empregadas apareceu para informá-la: — Senhora Harris, é um homem que se apresentou como irmão do senhor Orson. A senhora deseja recebê-lo? Zara apertou os lábios com força. O olhar dela fez com que a empregada ficasse ainda ma
— Lilian me disse uma vez que, às vezes, Orson ficava olhando para ela como se estivesse vendo o reflexo de outra pessoa. Se eu não estiver enganado, essa pessoa deve ser… Você, Zara. Ou, melhor dizendo, quem você costumava ser. Percival fez uma pausa e continuou, com um sorriso leve. — Porque, agora, você está calma e racional demais. Veja essa situação, por exemplo. Qualquer outra mulher, ao ouvir que o marido está envolvido em algo assim, ficaria completamente desesperada. Mesmo que não tentasse de tudo para ajudar, pelo menos ficaria furiosa, não acha? Mas você, nada. Orson, mais do que ninguém, percebe isso. Ele sente essa frieza. Então, não é nada estranho que ele procure esse tipo de realização em outra mulher. Percival falava com uma leveza desconcertante, como se estivesse apenas expressando uma verdade óbvia. Ele parecia estar analisando a situação sob o ponto de vista de um homem, com a confiança de quem sabia exatamente o que estava dizendo. Zara, no entanto, ouviu su
Nos dias mais intensos de especulação pública, Orson passou todo o tempo na delegacia. Com o passar dos dias, a comoção inicial começou a diminuir gradualmente. No entanto, assim que a notícia de sua soltura sob fiança foi divulgada, a entrada da delegacia foi rapidamente tomada por jornalistas logo pela manhã. Microfones e câmeras estavam preparados, e todos aguardavam ansiosamente a saída de Orson, esperando conseguir entrevistá-lo e obter a notícia mais recente. Michel, sabendo como aquela situação seria caótica, havia planejado uma rota e um horário alternativos para evitar o tumulto. Mas Orson recusou diretamente a proposta. Michel, percebendo que ele tinha outros planos em mente, não insistiu e seguiu os procedimentos exigidos pela polícia. Do lado de fora, os jornalistas já estavam à espera há horas. O clima era de tensão e expectativa, todos com os olhares fixos na saída. Assim que Orson apareceu, a multidão reagiu como tubarões sentindo o cheiro de sangue fresco.
Logo chegaram a Brisa do Mar.Orson só pensava em Zara nos últimos dias. Sabia que tudo era uma armadilha de Percival, e Zara era uma peça no plano dele... Afinal, naquela noite, se não fosse pela ligação que ele recebeu dizendo que Zara estava na casa de Lila, ele jamais teria ido ao encontro de Lila tão tarde. Agora, o que mais preocupava Orson era a possibilidade de que realmente tivessem feito algo contra Zara. Mas, por mais que ele estivesse ansioso e aflito, por mais que cada dia na delegacia fosse um tormento pensando em como poderia confirmar que ela estava bem, tentando antecipar o momento de sair para vê-la, agora, parado diante da porta da casa, um sentimento estranho tomou conta dele. Ele hesitou. Sua mão, que havia se levantado para bater na porta, permaneceu suspensa no ar por alguns segundos intermináveis. Foi só quando uma das empregadas abriu a porta que ele se deu conta do tempo que havia passado ali parado. Ao vê-lo, a mulher ficou surpresa por um instante
Quando Zara terminou de falar, o rosto de Orson mudou visivelmente. No entanto, ele rapidamente recuperou a compostura e disse: — Naquela noite, alguém me ligou dizendo que você tinha sido levada para a casa da Lila. Foi por isso que fui até lá. Quando cheguei, nem cheguei a vê-la. Ela se trancou no quarto e, de repente, se jogou da sacada. Eu não faço ideia do porquê ela fez isso! Entre mim e ela, não havia nada, eu juro. Orson tentava se explicar, mas sua voz parecia frágil, quase sem força. Zara permaneceu parada, ouvindo atentamente. Durante toda a explicação, ela não o interrompeu, mas também não deu nenhuma resposta. Orson observava a expressão dela, e suas sobrancelhas começaram a se franzir levemente. — Isso foi uma armadilha do Percival. — Ele continuou, rapidamente. — Eu fui descuidado, não imaginei que ele seria capaz de usar a morte da Lila para me atingir. Mas não se preocupe, eu vou resolver isso. Você só precisa... — Já chega. — Zara o interrompeu de repent
Os olhos de Zara transmitiam sinceridade, mas, na verdade, pareciam estar implorando. Orson sempre acreditou ser um mestre na arte de pesar interesses. Desde pequeno, ele aprendeu a equilibrar ganhos e perdas, e essa habilidade o tornara muito bem-sucedido, tanto nos negócios quanto na vida. Mas o que Orson nunca imaginou foi que, um dia, ele estaria do outro lado da balança e acabaria sendo descartado. Os dedos dele, que seguravam a mão de Zara, começaram a afrouxar lentamente. Ele deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para absorver o que estava acontecendo. — O que isso significa? Esse é o motivo para você me deixar, Zara? — Orson perguntou, com a voz baixa. — Se ao menos você dissesse que é por causa da Lila... Eu te perdoaria. Porque isso significaria que você se importa, que não quer me ver envolvido com outra mulher, certo? Ele parou por um momento e, de repente, riu amargamente. — Não, não é isso... Você nunca teria ciúmes de mim. Se você realmente se
Zara colocou os papéis do acordo de divórcio na frente de Orson. Ao ver o documento, tão direto e inescapável, Orson riu. — Então você já tinha tudo preparado. Zara não respondeu. O sorriso no canto dos lábios de Orson se ampliou, tornando-se ainda mais evidente. Sem hesitar, ele pegou a caneta e o papel e assinou seu nome com uma fluidez quase automática. Orson já havia escrito o próprio nome milhares de vezes. Desde que começou a aprender a escrever, sua mãe sempre o incentivou a praticar sua assinatura. Assim, naquele momento, ele não precisou pensar. Sua mão se moveu instintivamente, completando o movimento como se fosse natural. Depois de assinar, ele jogou os papéis na direção de Zara. — Pronto. Agora você está satisfeita? Zara pegou os documentos rapidamente. Depois de verificar a assinatura, ela ergueu os olhos para Orson e disse: — Obrigada. Obrigada? Agradecia pelo quê? Por ele ter concordado em dar a ela sua tão desejada liberdade? Para Zara, isso era mot