As palavras de Zara mal haviam sido ditas, mas o homem à sua frente continuava inabalável. Ele apenas lançou-lhe um olhar breve antes de, finalmente, estender a mão e pegar o acordo de divórcio. Orson abriu o documento diretamente na última página e, ao ver que o nome de Zara já estava assinado ali, ele soltou uma risada baixa e carregada de sarcasmo. Zara não teve tempo de entender o motivo daquele riso. Antes que pudesse reagir, ele já havia levantado a mão e, com um gesto firme, rasgou o contrato ao meio! O som do papel sendo destruído fez o coração de Zara dar um salto, mas ela rapidamente recuperou a compostura. — Sr. Orson, se o senhor não está satisfeito com os termos, eu posso imprimir outra versão. Orson não respondeu. Continuou em silêncio, jogando os pedaços rasgados do contrato no lixo. Então, sem aviso, ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles em um movimento repentino. A proximidade inesperada fez o rosto de Zara mudar de expressão. Instintiv
Zara entendeu o significado daquele olhar. Era um aviso, mas também uma demonstração de desprezo. Ela sabia muito bem que, sob a fachada gentil e educada de Orson, havia um coração mais frio e inflexível do que o de qualquer pessoa que conhecia. Seus olhos caíram lentamente até pousarem naquilo que estava no chão: os pedaços do acordo de divórcio que ele havia rasgado e jogado no lixo sem hesitar. Aquele contrato, que ela havia reunido toda a sua coragem e determinação para entregar, não merecera sequer um segundo de consideração. Ele não se importava com os sentimentos dela — e, por consequência, tampouco se importava com as decisões que ela tomava. Nos dois dias seguintes, Zara não viu Orson. A última notícia que teve dele foi através de uma foto em um artigo sobre uma conferência pública. Na imagem, Orson vestia um elegante terno escuro. Seu rosto impecável, capturado no close da câmera, era tão perfeito que nem mesmo os maiores astros de cinema poderiam competir. O leve so
Zara abaixou os olhos e ficou olhando fixamente para a foto no jornal. Na imagem, ela mesma, em um estado claramente humilhante e desleixado. No entanto, naquele momento, uma estranha serenidade tomou conta dela. Ao se abaixar para pegar o jornal caído, não disse nada. Apenas ergueu a mão e jogou o papel no lixo ao lado, antes de abrir novamente a porta do carro com calma. — Vamos. — Disse ao motorista, a voz tranquila. O motorista, entretanto, hesitou em ligar o carro. Seus olhos, inseguros, buscaram a expressão de Orson. O homem permanecia impassível, encarando Zara. Mas ela não olhou para ele. Nem sequer lhe lançou um único olhar de canto. Apenas subiu o vidro da janela do carro, encerrando qualquer possibilidade de contato entre os dois. Foi então que Orson, sem hesitar, virou-se e entrou novamente na mansão. Ele não podia vê-la, mas Zara acompanhou cada detalhe de suas costas enquanto ele se afastava. Ela sabia exatamente o que aquele gesto significava: ele não a acomp
Ela tinha uma expressão séria, completamente diferente de quem estivesse brincando. Mas Evander, em vez de responder, soltou uma risada. — Vamos. Desta vez, voltei ao país trazendo um confeiteiro especialmente para isso. O bolo que ele faz com certeza vai ser do seu gosto. Enquanto dizia isso, Evander já puxava Zara para frente, conduzindo-a com naturalidade. Ele era o centro das atenções naquela noite, o motivo pelo qual metade dos olhares no salão estavam voltados para ele. Ainda assim, parecia alheio a tudo, ignorando as expectativas ao seu redor. Com a mesma despreocupação de uma criança, que quer compartilhar algo que considera especial, ele pegou um bolo na mesa e o entregou a Zara. Ele podia agir assim, sem se importar com nada. Mas Zara não tinha o mesmo privilégio. Depois de observar o bolo por alguns instantes, ela o pegou, mas não sem comentar: — Seu objetivo ficou bem óbvio. Evander arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa: — Ah, é? O quê? — Você só quer m
O braço de Fiona estava delicadamente entrelaçado ao de Orson, e ambos usavam roupas em tons de azul, formando um par tão harmonioso que parecia ter saído de um editorial de moda. Naquele instante, Zara sentiu como se não apenas o véu que escondia sua vida tivesse sido brutalmente arrancado, mas também como se alguém tivesse erguido a mão e lhe desferido um tapa no rosto. E esse alguém, sem sombra de dúvidas, era seu próprio marido. Um gosto amargo tomou conta de sua boca, uma sensação que nem mesmo todos os pedaços de bolo que havia comido minutos antes poderiam mascarar. Sem dizer mais nada a Evander, Zara colocou o bolo de volta na mesa, os gestos controlados, mas a mente em completo turbilhão. Ela estava pronta para dar meia-volta e sair dali, mas Fiona foi mais rápida e, ao vê-la, chamou-a com uma voz clara e animada: — Irmã! O tom era tão alto e chamativo que seria impossível fingir que não ouviu. E, para piorar, Evander não facilitou as coisas. Com um movimento dis
No momento em que Zara se esforçava para soltar um dos dedos de Orson, ele aproveitou para usar a outra mão e passar o braço firme ao redor de sua cintura. Com o movimento repentino, Zara perdeu o equilíbrio e tropeçou alguns passos para frente. Para quem via de fora, parecia que ela havia se jogado diretamente nos braços dele. O rosto de Zara ficou ainda mais fechado, as feições carregadas de irritação. Foi então que Orson estendeu a mão e passou suavemente pelos lábios dela. Ela havia acabado de comer bolo, mas tinha certeza de que não havia sobrado nada em sua boca. Mesmo assim, o gesto dele despertou nela uma sensação inexplicável de desconforto, como se tivesse algo a esconder. Seu cenho se franziu ainda mais. Estava prestes a pedir que ele a soltasse, mas Orson foi mais rápido: — O bolo estava bom? A pergunta, tão inesperada, a pegou de surpresa. Antes que pudesse responder, ele se inclinou e a beijou. O beijo foi repentino, mas carregado daquela força dominante que
Zara, a princípio, achou que tinha se enganado. Afinal, aquele caderno de desenhos havia desaparecido há anos. Ela sempre pensou que o tinha esquecido em algum outro lugar.Só que, ao se aproximar, percebeu que era mesmo o seu caderno. Na capa, bem visível, estava escrito o seu nome.— Zara! — Ophelia, que até então estava rindo despreocupada, chamou por ela ao notar sua presença. — Olha só isso, é seu, não é? Eu ouvi o Fio comentar que você desenhava. Achei que fosse algo extraordinário, mas é só isso? Um romancezinho cafona desses?Assim que Ophelia terminou de falar, risadas ecoaram ao redor.Zara permaneceu em silêncio e deu um passo à frente para pegar o caderno. Naquele momento, nem teve coragem de perguntar como aquilo tinha parado ali.Mas Ophelia, como se adivinhasse suas intenções, jogou o caderno para outra pessoa no instante em que Zara tentou pegá-lo.Em segundos, o caderno passou para uma terceira pessoa. Elas formaram um círculo, rindo, como se aquilo fosse a brincadeira
Evander, antes de viajar para o exterior, quase não havia tido contato com Orson. Era difícil dizer que conhecia algo sobre ele. Mas, naquele momento, o olhar de Orson falava por si só. Não eram palavras: era um aviso claro.Evander, no entanto, respondeu com uma risada baixa e despreocupada. Orson não deu mais atenção. Depois de encará-lo por um breve instante, desviou o olhar e, com Zara ao seu lado, saiu dali, segurando-a pela cintura. O som da porta do carro sendo fechada com força ecoou. Zara podia sentir a raiva dele no ar. Não precisava que ele dissesse nada para perceber. Sem querer aumentar os problemas, abraçou o caderno de desenhos contra o peito e tentou se afastar para o canto do assento. Mas Orson, com um movimento rápido e decidido, puxou o caderno de suas mãos. Os olhos de Zara se arregalaram. — Me devolve! — Gritou ela imediatamente. Em dois anos de casamento, era a primeira vez que Orson a via tão fora de controle. Ela se lançou sobre ele, sem pensar d