Zara, a princípio, achou que tinha se enganado. Afinal, aquele caderno de desenhos havia desaparecido há anos. Ela sempre pensou que o tinha esquecido em algum outro lugar.Só que, ao se aproximar, percebeu que era mesmo o seu caderno. Na capa, bem visível, estava escrito o seu nome.— Zara! — Ophelia, que até então estava rindo despreocupada, chamou por ela ao notar sua presença. — Olha só isso, é seu, não é? Eu ouvi o Fio comentar que você desenhava. Achei que fosse algo extraordinário, mas é só isso? Um romancezinho cafona desses?Assim que Ophelia terminou de falar, risadas ecoaram ao redor.Zara permaneceu em silêncio e deu um passo à frente para pegar o caderno. Naquele momento, nem teve coragem de perguntar como aquilo tinha parado ali.Mas Ophelia, como se adivinhasse suas intenções, jogou o caderno para outra pessoa no instante em que Zara tentou pegá-lo.Em segundos, o caderno passou para uma terceira pessoa. Elas formaram um círculo, rindo, como se aquilo fosse a brincadeira
Evander, antes de viajar para o exterior, quase não havia tido contato com Orson. Era difícil dizer que conhecia algo sobre ele. Mas, naquele momento, o olhar de Orson falava por si só. Não eram palavras: era um aviso claro.Evander, no entanto, respondeu com uma risada baixa e despreocupada. Orson não deu mais atenção. Depois de encará-lo por um breve instante, desviou o olhar e, com Zara ao seu lado, saiu dali, segurando-a pela cintura. O som da porta do carro sendo fechada com força ecoou. Zara podia sentir a raiva dele no ar. Não precisava que ele dissesse nada para perceber. Sem querer aumentar os problemas, abraçou o caderno de desenhos contra o peito e tentou se afastar para o canto do assento. Mas Orson, com um movimento rápido e decidido, puxou o caderno de suas mãos. Os olhos de Zara se arregalaram. — Me devolve! — Gritou ela imediatamente. Em dois anos de casamento, era a primeira vez que Orson a via tão fora de controle. Ela se lançou sobre ele, sem pensar d
Zara não sabia dizer exatamente como tinha conseguido dormir. Na manhã seguinte, foi acordada pelo som insistente do celular. — Você está no Brisa do Mar? — A voz de Marta soava tão calma quanto sempre. Zara despertou completamente no mesmo instante. — Estou, sim. — Estou indo para lá agora. A vovó está doente. Quero que você me acompanhe ao hospital. A primeira reação de Zara foi querer recusar. Desde a postagem de Fiona no Instagram na noite anterior, ela já sabia que Orson e Fiona haviam ido ao mesmo lugar. E, considerando que Orson não a havia avisado, significava que, para ele, sua presença não era necessária. Se não era ontem, por que deveria ser hoje? Mas, diante de Marta, as palavras de recusa simplesmente não saíram. Depois de um breve silêncio, ela respondeu: — Entendido. Marta tinha uma personalidade muito parecida com a de Orson. O telefonema não era um convite, mas sim um aviso. Assim que Zara respondeu, Marta desligou sem mais palavras. Dez minutos d
— Orson, você ouviu o que eu disse? A última frase da avó fez os lábios de Zara se apertarem imediatamente. Então Orson também estava ali. A voz dele soou tranquila, mas com um tom firme: — Vó, não combinamos que não tocaríamos mais nesse assunto? — Eu não vou tocar, desde que ela cumpra com as obrigações dela! Mas veja só o que ela... — Antes que pudesse terminar, Paula começou a tossir violentamente. — Vó! — Exclamou Fiona, alarmada. — Estou bem. — Paula respondeu rapidamente, recuperando o fôlego. — Orson, você é meu único neto. É claro que eu quero o melhor para você. No passado, sua mãe usou as ações do Grupo Harris para te obrigar a aceitar esse casamento. Mas agora... Você já não precisa mais se sujeitar a ela. Essa relação com Zara... Já está na hora de terminar, não acha? Orson não respondeu. Zara também não esperou por uma resposta. Assim que Paula terminou de falar, ela empurrou a porta e entrou no quarto. O movimento repentino fez todos se virarem para ela
Quando Zara terminou de falar, Orson soltou sua mão imediatamente. Da primeira vez que ela mencionou o divórcio, ele havia tratado como um momento de impulsividade. Mas agora, essa era a segunda vez. Não era mais algo que ele pudesse ignorar como uma brincadeira. — Irmã, o que você está dizendo? — Fiona perguntou, tentando disfarçar o sorriso que já ameaçava escapar de seus lábios. Mesmo assim, esforçou-se para parecer surpresa. — Como você pode falar em divórcio assim, tão de repente? Você e o cunhado... Zara não se deu ao trabalho de responder. Apenas direcionou seu olhar para a senhora idosa deitada na cama. Paula, no entanto, recuperou-se rapidamente do choque inicial e estreitou os olhos. — Zara, você está tentando me ameaçar? A reação dela era exatamente como a de Orson alguns dias antes. Zara deu um pequeno sorriso e balançou a cabeça. — Não, estou sendo sincera. Em seguida, finalmente olhou para Orson ao seu lado. — Entre nós dois não há amor, nem ligação. E
Fiona rapidamente espalhou a notícia de que Zara havia decidido pedir o divórcio.Assim que Zara entrou no táxi, o celular tocou. Era Vera. — Volte pra casa agora mesmo. Sem esperar por uma resposta, Vera desligou o telefone na cara dela. Zara não hesitou. Afinal, ela já estava mesmo com a intenção de voltar. Quando Zara abriu a porta de casa, deu de cara com Vera, que estava completamente fora de si. Não houve nem tempo para Zara avançar um passo antes de sentir o impacto de um tapa no rosto. O golpe foi tão forte que os cabelos próximos à orelha dela caíram, e um zumbido tomou conta de sua audição. — Você tem ideia do que está fazendo? — Gritou Vera, ainda tomada pela raiva. E, sem se dar por satisfeita, levantou a mão novamente, pronta para dar outro tapa. — Pare com isso. A voz grave interrompeu o movimento no mesmo instante. Vera ainda mantinha o cenho franzido, mas abaixou a mão, relutante, ao ouvir a ordem. Zara, atordoada, ergueu os olhos e viu o pai, Carlos,
Por quê? Na adolescência, quando Zara havia acabado de voltar para aquela casa, essa era a pergunta que mais rondava sua mente. Naquela época, tudo o que Fiona fazia para agradá-los, Zara também se esforçava para fazer. Mas, por algum motivo, eles simplesmente não gostavam dela. Até que um dia, Zara preparou pessoalmente um chá de limão para sua mãe. Vera agradeceu com um sorriso superficial, apenas para, logo depois, virar-se e despejar o chá num vaso de plantas. Naquela mesma noite, Zara, sem querer, ouviu uma conversa entre os pais. Era Vera perguntando a Carlos se não seria melhor levar Zara para fazer um exame de HIV. Naquele momento, Zara não sabia o que era HIV. Só mais tarde, já mais velha, ela entendeu. Era… AIDS. Tudo porque, no passado, Zara quase havia sido abusada por seu pai adotivo. Embora nada realmente tivesse acontecido, para os olhos deles, aquilo já era uma mancha irreparável, uma vergonha. Um motivo suficiente para que ela não fosse mais digna de ser ch
Quando Ivone estava prestes a impedi-la, o som de um motor de carro vindo de fora chamou sua atenção. Ela desceu correndo até a porta. — Sr. Orson, venha rápido! A Sra. Harris está com as malas prontas, parece que vai embora de casa de novo! Orson, no entanto, não demonstrou surpresa. Ele apenas ergueu o olhar lentamente. Zara estava descendo as escadas com suas coisas. Primeiro, ele observou a bagagem dela. Depois, seus olhos se fixaram em sua face, onde ainda era possível ver claramente a marca de um tapa. Zara não desviou o olhar. Foi direta: — Quando vamos resolver o divórcio? — Já chamei o advogado. — Respondeu Orson, desviando o olhar e caminhando em direção à escada. — Não precisa. Eu não quero nada. — Disse Zara, com firmeza. Ele já estava no segundo degrau quando parou ao ouvir aquelas palavras. Virando-se, ele respondeu com calma: — Mesmo que você saia de mãos vazias, o acordo de divórcio precisa ser assinado. Zara entendeu o recado e decidiu não insis