Zara abaixou os olhos e ficou olhando fixamente para a foto no jornal. Na imagem, ela mesma, em um estado claramente humilhante e desleixado. No entanto, naquele momento, uma estranha serenidade tomou conta dela. Ao se abaixar para pegar o jornal caído, não disse nada. Apenas ergueu a mão e jogou o papel no lixo ao lado, antes de abrir novamente a porta do carro com calma. — Vamos. — Disse ao motorista, a voz tranquila. O motorista, entretanto, hesitou em ligar o carro. Seus olhos, inseguros, buscaram a expressão de Orson. O homem permanecia impassível, encarando Zara. Mas ela não olhou para ele. Nem sequer lhe lançou um único olhar de canto. Apenas subiu o vidro da janela do carro, encerrando qualquer possibilidade de contato entre os dois. Foi então que Orson, sem hesitar, virou-se e entrou novamente na mansão. Ele não podia vê-la, mas Zara acompanhou cada detalhe de suas costas enquanto ele se afastava. Ela sabia exatamente o que aquele gesto significava: ele não a acomp
Ela tinha uma expressão séria, completamente diferente de quem estivesse brincando. Mas Evander, em vez de responder, soltou uma risada. — Vamos. Desta vez, voltei ao país trazendo um confeiteiro especialmente para isso. O bolo que ele faz com certeza vai ser do seu gosto. Enquanto dizia isso, Evander já puxava Zara para frente, conduzindo-a com naturalidade. Ele era o centro das atenções naquela noite, o motivo pelo qual metade dos olhares no salão estavam voltados para ele. Ainda assim, parecia alheio a tudo, ignorando as expectativas ao seu redor. Com a mesma despreocupação de uma criança, que quer compartilhar algo que considera especial, ele pegou um bolo na mesa e o entregou a Zara. Ele podia agir assim, sem se importar com nada. Mas Zara não tinha o mesmo privilégio. Depois de observar o bolo por alguns instantes, ela o pegou, mas não sem comentar: — Seu objetivo ficou bem óbvio. Evander arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa: — Ah, é? O quê? — Você só quer m
O braço de Fiona estava delicadamente entrelaçado ao de Orson, e ambos usavam roupas em tons de azul, formando um par tão harmonioso que parecia ter saído de um editorial de moda. Naquele instante, Zara sentiu como se não apenas o véu que escondia sua vida tivesse sido brutalmente arrancado, mas também como se alguém tivesse erguido a mão e lhe desferido um tapa no rosto. E esse alguém, sem sombra de dúvidas, era seu próprio marido. Um gosto amargo tomou conta de sua boca, uma sensação que nem mesmo todos os pedaços de bolo que havia comido minutos antes poderiam mascarar. Sem dizer mais nada a Evander, Zara colocou o bolo de volta na mesa, os gestos controlados, mas a mente em completo turbilhão. Ela estava pronta para dar meia-volta e sair dali, mas Fiona foi mais rápida e, ao vê-la, chamou-a com uma voz clara e animada: — Irmã! O tom era tão alto e chamativo que seria impossível fingir que não ouviu. E, para piorar, Evander não facilitou as coisas. Com um movimento dis
No momento em que Zara se esforçava para soltar um dos dedos de Orson, ele aproveitou para usar a outra mão e passar o braço firme ao redor de sua cintura. Com o movimento repentino, Zara perdeu o equilíbrio e tropeçou alguns passos para frente. Para quem via de fora, parecia que ela havia se jogado diretamente nos braços dele. O rosto de Zara ficou ainda mais fechado, as feições carregadas de irritação. Foi então que Orson estendeu a mão e passou suavemente pelos lábios dela. Ela havia acabado de comer bolo, mas tinha certeza de que não havia sobrado nada em sua boca. Mesmo assim, o gesto dele despertou nela uma sensação inexplicável de desconforto, como se tivesse algo a esconder. Seu cenho se franziu ainda mais. Estava prestes a pedir que ele a soltasse, mas Orson foi mais rápido: — O bolo estava bom? A pergunta, tão inesperada, a pegou de surpresa. Antes que pudesse responder, ele se inclinou e a beijou. O beijo foi repentino, mas carregado daquela força dominante que
Zara, a princípio, achou que tinha se enganado. Afinal, aquele caderno de desenhos havia desaparecido há anos. Ela sempre pensou que o tinha esquecido em algum outro lugar.Só que, ao se aproximar, percebeu que era mesmo o seu caderno. Na capa, bem visível, estava escrito o seu nome.— Zara! — Ophelia, que até então estava rindo despreocupada, chamou por ela ao notar sua presença. — Olha só isso, é seu, não é? Eu ouvi o Fio comentar que você desenhava. Achei que fosse algo extraordinário, mas é só isso? Um romancezinho cafona desses?Assim que Ophelia terminou de falar, risadas ecoaram ao redor.Zara permaneceu em silêncio e deu um passo à frente para pegar o caderno. Naquele momento, nem teve coragem de perguntar como aquilo tinha parado ali.Mas Ophelia, como se adivinhasse suas intenções, jogou o caderno para outra pessoa no instante em que Zara tentou pegá-lo.Em segundos, o caderno passou para uma terceira pessoa. Elas formaram um círculo, rindo, como se aquilo fosse a brincadeira
Evander, antes de viajar para o exterior, quase não havia tido contato com Orson. Era difícil dizer que conhecia algo sobre ele. Mas, naquele momento, o olhar de Orson falava por si só. Não eram palavras: era um aviso claro.Evander, no entanto, respondeu com uma risada baixa e despreocupada. Orson não deu mais atenção. Depois de encará-lo por um breve instante, desviou o olhar e, com Zara ao seu lado, saiu dali, segurando-a pela cintura. O som da porta do carro sendo fechada com força ecoou. Zara podia sentir a raiva dele no ar. Não precisava que ele dissesse nada para perceber. Sem querer aumentar os problemas, abraçou o caderno de desenhos contra o peito e tentou se afastar para o canto do assento. Mas Orson, com um movimento rápido e decidido, puxou o caderno de suas mãos. Os olhos de Zara se arregalaram. — Me devolve! — Gritou ela imediatamente. Em dois anos de casamento, era a primeira vez que Orson a via tão fora de controle. Ela se lançou sobre ele, sem pensar d
Zara não sabia dizer exatamente como tinha conseguido dormir. Na manhã seguinte, foi acordada pelo som insistente do celular. — Você está no Brisa do Mar? — A voz de Marta soava tão calma quanto sempre. Zara despertou completamente no mesmo instante. — Estou, sim. — Estou indo para lá agora. A vovó está doente. Quero que você me acompanhe ao hospital. A primeira reação de Zara foi querer recusar. Desde a postagem de Fiona no Instagram na noite anterior, ela já sabia que Orson e Fiona haviam ido ao mesmo lugar. E, considerando que Orson não a havia avisado, significava que, para ele, sua presença não era necessária. Se não era ontem, por que deveria ser hoje? Mas, diante de Marta, as palavras de recusa simplesmente não saíram. Depois de um breve silêncio, ela respondeu: — Entendido. Marta tinha uma personalidade muito parecida com a de Orson. O telefonema não era um convite, mas sim um aviso. Assim que Zara respondeu, Marta desligou sem mais palavras. Dez minutos d
— Orson, você ouviu o que eu disse? A última frase da avó fez os lábios de Zara se apertarem imediatamente. Então Orson também estava ali. A voz dele soou tranquila, mas com um tom firme: — Vó, não combinamos que não tocaríamos mais nesse assunto? — Eu não vou tocar, desde que ela cumpra com as obrigações dela! Mas veja só o que ela... — Antes que pudesse terminar, Paula começou a tossir violentamente. — Vó! — Exclamou Fiona, alarmada. — Estou bem. — Paula respondeu rapidamente, recuperando o fôlego. — Orson, você é meu único neto. É claro que eu quero o melhor para você. No passado, sua mãe usou as ações do Grupo Harris para te obrigar a aceitar esse casamento. Mas agora... Você já não precisa mais se sujeitar a ela. Essa relação com Zara... Já está na hora de terminar, não acha? Orson não respondeu. Zara também não esperou por uma resposta. Assim que Paula terminou de falar, ela empurrou a porta e entrou no quarto. O movimento repentino fez todos se virarem para ela