— Se essa pessoa não existe, então por que não escolher alguém que possa ajudar na sua carreira? — Marta perguntou, a expressão completamente racional. Era exatamente assim que Orson a conhecia. Se não fosse essa mentalidade dela, ele próprio não teria se tornado quem era hoje. Mas, dessa vez, Orson a encarou por alguns segundos antes de perguntar: — E por que eu preciso me casar? A pergunta pegou Marta de surpresa. Orson sorriu de leve. — Eu realmente não tenho ninguém que goste agora, mas também não vou usar meu casamento como moeda de troca. Então... Não vou me casar com a Laura. Quando essa parceria acabar, não teremos mais nenhuma ligação. Dizendo isso, ele se virou para sair. Mas, antes que pudesse dar mais um passo, a voz de Marta soou novamente: — Mas você já usou seu casamento como troca uma vez, não foi? O que tem de diferente agora? Ou será que, da última vez, você aceitou apenas porque a noiva era a Zara? Os passos de Orson pararam instantaneamente. Ele
Orson não sabia ao certo por que havia dirigido até a Rua dos Ventos.Segurando o volante, ele lançou um olhar rápido para as ruas estreitas e sinuosas à frente. Depois de um instante de hesitação, ele decidiu não descer do carro. Apenas deu meia-volta e seguiu outro caminho.Mas, logo em seguida, ele avistou Zara saindo de uma farmácia. Ela enfiou as mãos nos bolsos e abaixou a cabeça, evitando o frio cortante daquela noite em Cidade N. Ela vestia um casaco de plumas preto, e seus cabelos caíam soltos sobre os ombros. A ponta de seu nariz avermelhada denunciava a baixa temperatura. Havia algo de delicado e tranquilo nela naquele momento.Orson a observou por alguns segundos e, sem querer, ele lembrou-se das palavras de sua mãe naquela noite. Sim, ele nunca aceitaria trocar seu casamento por algum tipo de benefício. Mas, quando as famílias começaram a discutir seu noivado com Zara, ele também não se opôs.Por muito tempo, ele acreditou que fora a insistência de sua mãe que o influencia
Zara só percebeu o cheiro forte de álcool quando Evander começou a falar. Seus olhos estavam avermelhados, e a expressão um tanto transtornada deixava claro que ele não estava completamente sóbrio. — Se tem algo a dizer, diga logo. — Ela cortou. Evander ficou parado na porta, olhando para ela fixamente por alguns segundos antes de finalmente perguntar: — Por que você não foi ao meu noivado? Desde o último acontecimento, os dois não haviam mais se falado. A pergunta repentina pegou Zara de surpresa, mas ela logo recuperou a compostura. — Não havia motivo para eu ir. — Como assim, não havia motivo? Nós não somos amigos? A palavra “amigos” saiu da boca dele de um jeito estranho, como se fosse difícil pronunciá-la. Zara segurou o olhar dele por um instante antes de sorrir, sem humor. — Não. Desde o momento em que você e a Fiona armaram para mim, deixamos de ser amigos. Evander ficou em silêncio por alguns segundos, até que sua expressão se fechou completamente. — Entã
Evander falava tão perto que seu hálito quente roçou a pele de Zara. Aquela sensação fez com que, por um instante, ela se lembrasse de quando esteve diante de Roberto. A mesma repulsa, a mesma náusea subiu de repente, fazendo seu estômago revirar. Zara cerrou os dentes devagar, seus olhos fixos no homem à sua frente. — Evander, se você tentar qualquer coisa, eu chamo a polícia agora mesmo... — Chame. — Evander riu, sem o menor traço de preocupação. — Mas você realmente acha que, com a sua reputação no momento, alguém vai acreditar em você? Acha mesmo que, quando isso chegar aos ouvidos dos outros, eles não vão dizer que foi você quem me provocou? O sorriso de Evander se manteve intacto, do mesmo jeito que ela sempre o conheceu. Mas, naquele momento, aquele rosto familiar parecia o de uma serpente, pronta para dar o bote. Zara abriu a boca, mas não conseguiu encontrar palavras. Tudo o que sentia era um nó sufocante na garganta. Evander percebeu sua hesitação, e seu sorriso
Foi justamente por causa daquela frieza que Zara sentiu ainda mais medo. Era a primeira vez que via Orson assim.Normalmente, quando alguém parte para a violência, é por estar tomado pela raiva. Mas Orson era o completo oposto. Ele parecia absurdamente calmo.Por um instante, Zara teve a impressão de que, para Orson, Evander não era sequer uma pessoa. Apenas um objeto ao seu dispor, algo que ele segurava nas mãos, sem se importar se viveria ou morreria.A voz de Orson a arrancou de seus pensamentos. Mas Zara ainda não conseguia reagir.Orson também não disse mais nada. Apenas lançou-lhe um olhar antes de pegar o próprio celular.Ao perceber que ele estava prestes a chamar a polícia, Zara não teve escolha a não ser avançar e segurar sua mão.— Não...Orson baixou os olhos para ela. Seu olhar permanecia insondável, sem qualquer emoção.— Leve-o primeiro para o hospital. — Finalmente, Zara conseguiu encontrar sua voz.Orson não respondeu. Nem se moveu.Zara esperou por uma reação, mas, co
Orson manteve a voz calma, mas seus dedos continuaram firmes ao redor do pulso de Zara.A pressão de sua mão fez com que ela tivesse a nítida sensação de que, se sua resposta não saísse como ele queria, ele poderia esmagar seus ossos sem hesitar.— Eu não é que não queira te ver. — Zara respondeu.Orson não disse nada, apenas ergueu os olhos e a observou.— Eu só acho... Que não há necessidade. — Zara umedeceu os lábios antes de continuar. — Nós...— Por que você quis se casar comigo? — Orson a interrompeu de repente.Zara não esperava aquela pergunta. Seu rosto mudou por um instante, mas logo recuperou a compostura.— Foi uma decisão entre as nossas famílias...— Apenas por isso? — Orson perguntou.— E o que mais você achava que poderia ser? — Zara rebateu.Orson não respondeu, mas seus dedos foram lentamente afrouxando ao redor do pulso dela.Zara pensou que o assunto havia terminado ali, mas, no momento seguinte, Orson falou novamente, com um tom lento e preciso:— Zara, pelo seu te
O humor de Zara foi completamente interrompido. Sua voz foi sumindo aos poucos, até que ela simplesmente cerrou os dentes e ficou olhando para ele.Orson, de repente, sorriu e disse:— Porque, de repente, percebi que não consigo me casar com mais ninguém. Mas o estranho é que, quando decidi me casar com você, não senti nenhuma rejeição. Você pode me dizer por quê?Zara sentiu como se tudo ao seu redor fosse irreal. Era como se estivesse à beira de um precipício, já com um pé no vazio, prestes a despencar no abismo.Mas a queda que ela esperava nunca veio. Em vez disso, ela sentiu-se mergulhar em uma imensa nuvem macia e doce, uma sensação tão reconfortante que ela sequer ousava imaginar antes.Lentamente, Zara abriu os olhos. A luz quente do sol invadia o ambiente. Não havia precipício, nem nuvens, apenas um quarto cujo design e mobília eram extremamente familiares. Ela estava no Condomínio Oásis.O cenário ao seu redor deixava claro que tudo o que acontecera na noite anterior não fora
— Eu...Zara nem teve tempo de terminar a frase antes de Orson interrompê-la diretamente:— Você ainda está em casa? Já estou lá embaixo.As palavras dele mudaram imediatamente a expressão de Zara. Instintivamente, ela quase virou para olhar a pessoa que estava atrás dela. Mas, antes mesmo de levantar a cabeça, viu os reflexos de duas silhuetas no espelho à sua frente.Foi nesse exato momento que Marta ergueu os olhos. No instante em que seus olhares se encontraram no espelho, Zara recuperou o controle sobre suas emoções e perguntou para Orson, do outro lado da linha:— O que você veio fazer aqui?— Comer.A resposta de Orson foi direta, como se fosse a coisa mais natural do mundo.— Eu... Eu já estou no elevador. Te encontro no estacionamento.Enquanto falava, Zara apertou o botão do térreo sem hesitar.Marta permaneceu em silêncio atrás dela. Quando as portas do elevador se abriram, foi a primeira a sair. O homem ao seu lado pareceu hesitar por um instante, mas não disse nada. Apenas