O medo fora a causa da morte de muitos companheiros, o medo levava à hesitação, a hesitação trazia falhas de pensamento, de raciocínio lógico, de enxergar com clareza as oportunidades diante de si, as inúmeras possibilidades de reverter o fluxo dos combates a seu favor.
Natham sabia que precisava manipular o inimigo a tomar as decisões que ele queria. Esse era o segredo de se vencer qualquer tipo de batalha. Quando fora recebido pelos Mestres, pelos Mentores e outros membros das tropas da Ordem, o Mentor que o adotara como discípulo junto de outros jovens camponeses como ele, os ensinara a jogar um jogo de tabuleiro muito antigo, esquecido por muitos, chamado Xadrez.
—O que podemos aprender com um jogo? Se temos tempo livre para jogar, deveríamos estar treinando! – dissera um dos garotos.
—Observe e aprenda – foram as únicas palavras do M
O exterminador de demônios estava preso pelos dois punhos do inimigo que o segurava pelos ombros, apertando com força à medida que ganhava altura. Daquela forma era impossível para o caçador o atingir com as garras, pois seus braços estavam imobilizados. Contudo, nada havia saído diferente do planejado. Como em um jogo de Xadrez, as peças estavam posicionadas da forma como Natham havia previsto. Da forma como planejara.Batendo uma das mãos na cintura, o caçador abrira um pequeno frasco de Água Benta e uma vez mais a criatura fora embebida pelo líquido, que dessa vez lhe atingira a face e o peito. Olrox fechara os olhos e soltara um dos ombros do oponente, levando à mão ao rosto na tentativa de se livrar do líquido queimando seus olhos. No impulso, parara de bater as asas e ambos, a criatura e sua presa começaram a cair em queda livre por quase dez metros de altura.<
Apesar de não parecer quando visto de baixo, a torre negra tinha um terraço extremamente amplo. Natham estimara pelo menos cem metros de diâmetro, mas poderia ser mais, uma vez que sem qualquer ponto de referência, era difícil calcular com precisão. Havia ali diversos objetos como caixas e gigantescas balestras, certamente usadas no passado para a proteção do perímetro.Após poucos passos, o caçador contemplara a cena mais aterrorizante e chocante de toda sua vida. Deitada sobre o que parecia um grande caixão de pedra retangular, estava sua amada. Porém, a mesma permanecia imóvel, como se estivesse inconsciente e não notasse sua chegada.Usava um vestido com a parte superior branca e a saia vermelha.Não – pensara, já correndo ao encontro da mulher.A longa saia do vestido não era vermelha, o cheiro forte carregado pel
—Não entendo o que quer dizer, monstro… – rugira Natham, as lágrimas lhe escorrendo pela face, cuspindo saliva e sangue enquanto falava tomado pela fúria – Mas irei me certificar de que desapareça para sempre desse mundo.O Supremo Licantropo seguira calmamente até uma parede onde dezenas de armas gigantescas estavam jogadas. Natham não se movera um milímetro, talvez aquela fosse sua última luta. A criatura apanhara um martelo de cor negra, brilhante como se tivesse acabado de sair da forja, cuja empunhadura tinha quase a sua altura. Natham imaginara que nem dez homens dos mais poderosos que conhecia seriam capazes de erguer aquele artefato.—Venha com todas as suas forças. O esmagarei ao primeiro erro. Irá sentir a dor da morte como se durasse séculos antes de ser levado pelo Anjo para o mundo dos mortos… – quase de costas para o rapaz, a c
Havia uma saída – pensara o rapaz, refletindo sobre a situação.Era uma última cartada, sairia vitorioso ou morreria tentando. Sabia que se seu velho Mentor o visse ponderando vitória e derrota daquela forma, jamais o perdoaria. Não importava mais, ele não era mais aquele homem. Aquele Natham estava morto – Phelix ironicamente tinha razão.Ainda assim, mesmo com esse pensamento negativo, acreditava que tinha mais de oitenta por cento de chances de sucesso. Ele ainda era capaz de pensar, essa era a diferença entre homens e feras.Essa era a vantagem dos homens sobre as feras.Correndo como se tentasse fugir, Natham avançara para a direção onde o inimigo lançara sua espada. Precisava dela. Assim como esperado, o sombrio lobisomem sobrenatural reagira, correndo atrás de sua presa. O caçador saltara em meio às
O massacreNatham Benfort retornava para o lar após dois anos de batalhas incessantes no Norte em nome da Sagrada Ordem da Revelação. Diferente do jovem que partira da pequena aldeia de camponeses com dezesseis anos, agora, apesar da pouca idade, o rapaz já tinha em suas mãos mais sangue que muitos homens teriam durante toda a vida.No entanto, o mesmo havia sido instruído pelos Altos Sacerdotes de que nada do que havia vivenciado ou aprendido devia ser revelado para as pessoas comuns. Os segredos da igreja e da guerra não deviam ser do conhecimento de todos os homens.O terror presenciado pelo rapaz quase o consumira ainda nas primeiras semanas após sua partida, logo que encontrara as hordas de criaturas das trevas e presenciara em primeira mão tudo que elas faziam aos homens. Fora preciso muita frieza para adentrar vilarejos e aldeias repletos de pessoas massacrad
O jovem caçador cavalgava o mais rápido que podia pela trilha entre as árvores. Havia deixado o caminho normal e adentrado a floresta por um atalho que conhecia. Sentia que suas forças não seriam suficientes para confrontar o mal que estava por encontrar, tampouco o caos irreparável que seria feito por ele. O odor fétido que o vento carregava era o cheiro de Lycans, Licantropos, Lobisomens em êxtase, bem próximos de uma batalha. E só havia uma aldeia nas proximidades naquela região.Antes de chegar, Natham já confirmara o que mais temia. O clarão que vinha do pequeno povoado e a fumaça que subia não eram bons sinais. Ao passar pelos campos onde ele mesmo trabalhara nas plantações quando criança, tudo que encontrara fora um terreno vazio e destruído, as plantas haviam sido arrancadas e o solo cavado até a raiz dos vegetais. Além diss
Eram demônios com o tronco feminino, tinham abdômen e seios de mulher, porém, com algumas deformações. As semelhanças ficavam por aí, pois a parte de baixo da cintura era coberta de pelos e no lugar dos pés haviam garras como as das aves. No lugar dos braços haviam asas enormes que tinham até dois metros de envergadura com as quais alçavam voo e se mantinham brevemente no ar. A cabeça era semelhante à de um ser humano, mas toda a arcada dentária era composta de presas longas e pontiagudas. Os olhos eram amarelos com íris espirais. Ao contrário do que pareciam, eram criaturas não apenas selvagens, mas também inteligentes.—Então essa é a criança da Ordem que invade os domínios do Mestre? – grunhira uma delas com sua voz rouca, quase incompreensível.—Parece ser mais jovem do que disseram. Sinto o
—Os Estripadores nunca falharam, meu Amo, são seus próprios filhos, suas próprias crias, sangue do seu sangue. Esse caçador não terá vida em seu corpo até o amanhecer – bajulara o serviçal.—Que assim o Mestre permita.A pequena criatura se afastara da porta para o corredor com um sorriso na boca enorme que ia de orelha a orelha. Seus olhos eram amarelados e brilhavam todo o tempo, tinha nariz e orelhas longas e afinaladas e duas fileiras de dentes finos e pontiagudos em suas arcadas. Era baixo, corcunda e possuía braços mais longos que as pernas, com mãos pequenas de longos e finos dedos.Vivia constantemente tocando os dedos de uma mão com os da outra como se estivesse planejando algo, mas a verdade era que apenas seguia ordens. Suas longas unhas eram negras de sujeira e velhice. Levava consigo um número sempre impreciso de lâminas que usava para