As sombras daquela sala pareciam engolir a figura de Dante Moretti, mas seus olhos, frios e intensos, brilhavam como farois no escuro. Ele tinha apenas vinte anos, mas o peso que carregava nos ombros poderia esmagar homens mais velhos e experientes. Herdeiro do império construído por seu pai, Giacomo Moretti, o atual líder da Cosa Nostra, Dante não era apenas um jovem; ele era uma peça central no xadrez sombrio da máfia italiana.
Com um copo de uísque na mão, sentado no canto reservado de seu pequeno escritório, ele parecia estar em guerra consigo mesmo. O silêncio ao seu redor era denso, interrompido apenas pelo som ocasional do gelo derretendo no copo. Seus pensamentos eram uma tempestade, um emaranhado de raiva, frustração e, acima de tudo, questionamento. As decisões de seu pai ecoavam como grilhões em sua mente. A máfia era um mundo de tradição, mas Dante estava decidido a quebrar o ciclo.
Ao seu lado estava Henrico Portinari, seu soldado mais leal, confidente e futuro general da Cosa Nostra. Henrico observava o amigo com a paciência de quem sabia que algo grandioso estava prestes a ser dito. Dante quebrou o silêncio, sua voz carregada de uma mistura de resignação e determinação:
— Desde o dia em que nasci, fui condenado a este mundo. Não tive escolha, Henrico. Não fui criado para ser livre; fui moldado para obedecer, para carregar o peso de um legado que nunca pedi. Cada passo que dou, cada ordem que sigo, é uma peça desse quebra-cabeça chamado máfia. E sabe o que é pior? Eles acham que podem decidir tudo por mim, até quem devo amar.
Ele levou o copo aos lábios, sentindo o ardor do uísque descendo por sua garganta, como se tentasse apagar o incêndio que queimava em seu peito. Seus olhos se estreitaram, e Henrico sabia o que vinha a seguir.
— Um casamento, Henrico. Meu pai quer me amarrar a uma aliança que não desejo, com uma mulher que eu abomino. Tudo em nome de poder, controle, tradição. Mas a que custo? — Dante soltou um suspiro amargo. — A máfia sempre fala de família, de honra, mas tudo o que vejo são correntes. Correntes que me prendem a um destino que não escolhi.
Henrico permaneceu em silêncio, mas seus olhos verdes estavam atentos, incentivando Dante a continuar. Ele encheu o copo do amigo e o entregou, como quem oferece combustível para um fogo prestes a explodir.
— Cresci ouvindo sobre lealdade e respeito. Mas o que é a lealdade, Henrico? É viver como um fantoche, controlado por um nome e uma tradição que nunca questionei? Eu vi homens bons serem destruídos por esse sistema. Vi monstros serem aplaudidos como lendas. E, no fundo, sempre me perguntei: é isso que quero ser?
A voz de Dante crescia em intensidade, carregada de um misto de raiva e desespero. Ele se levantou, caminhando pelo escritório. As paredes pareciam apertá-lo, como se estivessem conspirando para sufocar sua determinação. Ele parou diante da janela, observando a noite que já havia caído. A escuridão lá fora refletia perfeitamente o vazio que ele sentia por dentro.
Henrico, encostado em um dos móveis, quebrou o silêncio:
— E o que você vai fazer, Dante? Sabe que desafiar seu pai significa desafiar toda a máfia. Está disposto a pagar esse preço?Dante virou-se lentamente, seus olhos carregados de uma certeza inabalável.
— Não vou ser escravo de um sobrenome, Henrico. Meu pai pode ser o líder da Cosa Nostra, mas eu sou Dante Moretti. E eu decido meu destino. Vou enfrentá-lo, vou criar meu próprio caminho, mesmo que isso signifique enfrentar tudo e todos.Henrico sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de admiração. Ele sabia que o caminho seria perigoso, mas também sabia que Dante estava disposto a lutar por algo maior que ele mesmo.
— Se é isso que quer, estou com você até o fim, Dante.Dante desviou o olhar para a noite, um sorriso amargo nos lábios.
— O que a máfia não entende é que a força dela não está apenas no poder, Henrico, mas no medo do desconhecido. E é isso que vou usar contra eles. Se meu pai acha que pode controlar tudo, está prestes a descobrir que as sombras têm segredos que nem mesmo ele consegue prever.O silêncio voltou a preencher o ambiente, mas dessa vez, era um silêncio carregado de promessas e mistérios. Henrico sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele sabia que a noite estava apenas começando, e que Dante Moretti tinha planos que mudariam para sempre os rumos da máfia italiana.
E, no fundo, Dante sabia: na máfia, as regras eram claras, mas os métodos... ah, esses sempre guardavam segredos que nem a própria família ousava desvendar.
O grito de dor ecoou pela sala fria e mal iluminada, mesclando-se ao som metálico da faca que Dante girava lentamente em suas mãos. O cheiro de sangue fresco misturava-se ao ar abafado, e os olhos do torturador brilhavam com um prazer sombrio.— Eu avisei. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregava uma ameaça que gelaria qualquer alma. — Se me roubasse de novo, eu faria você se arrepender até do dia em que nasceu.O homem amarrado na cadeira, ensanguentado e tremendo, tentou falar, mas as palavras saíam fracas e entrecortadas pela dor.— Dante, por favor… eu não…— Não ouse mentir de novo na minha frente! — rugiu o loiro, cravando a lâmina mais uma vez no braço da vítima, arrancando-lhe outro grito. Ele não queria apenas punir; queria deixar uma lição que ecoasse entre seus subordinados. Trair um Moretti era assinar a própria sentença de morte.Henrico, o fiel braço direito de Dante, encostado na parede, observava a cena em silêncio, tragando seu cigarro. Ele sabia que aquil
Fiorella FortunattoO coração parecia querer escapar do meu peito enquanto eu corria pelos corredores da mansão. Ainda sentia o peso daquele olhar intenso, predador, como se ele pudesse me despir até a alma. Encostei-me na parede da cozinha, tentando recuperar o fôlego, mas a lembrança de Dante Moretti continuava a me assombrar.Por Deus, o que farei? Aquele homem não é mais o garoto que conheci. Não é mais o menino que, há treze anos, segurou minha mão enquanto chorava pela morte da mãe. O que sobrou foi um homem perigoso, de olhos azuis que já não carregam doçura, mas algo sombrio, quase insuportável de encarar.Fiorella, sua burra, pensei comigo mesma. Você sabe que não deve sentir nada por ele. Dante não é um homem para se amar.— Filha, está tudo bem? — A voz da minha mãe me trouxe de volta à realidade.Desviei o olhar, encarando o chão, e menti com um sorriso fraco:— Está sim, mamãe.Mas ela sabia. Sempre soube. Desde que chegamos aqui, a velha mansão parecia um palco onde meu c
Após o término do espetáculo, o caos tomou forma nas ruas da cidade da Sicília.A noite, que começara com aplausos e luzes, transformou-se em um cenário de sangue e desespero. Giacomo Moretti e sua esposa, Francesca, saíram do teatro de braços dados, alheios ao destino cruel que os aguardava. A explosão dos primeiros disparos foi como um trovão no silêncio da noite. Giacomo tentou proteger sua esposa, mas o tiro certeiro atingiu Francesca no peito.Ela caiu, lenta e graciosa, como uma folha arrancada pelo vento, e ele a segurou antes que tocasse o chão. O vestido dela, antes branco e impecável, foi tingido pelo vermelho da tragédia. Francesca olhou para o marido pela última vez e, com um suspiro quase inaudível, partiu.A luz da vida de Giacomo foi extinta ali, em seus braços.O que veio depois foi uma tempestade de vingança. Movido pelo ódio e pela dor, Giacomo Moretti tornou-se um símbolo de terror. Ele caçou cada mandante, cada executor, e os matou de forma brutal. Seus corpos, esqu
Dante MorettiO rugido do motor do carro cortava o silêncio da noite, mas dentro de mim, o barulho era outro. Um turbilhão de emoções que eu não conseguia controlar.Os pneus derraparam ao fazer uma curva fechada, mas não diminui a velocidade. Não importa. Talvez eu desejasse que algo acontecesse, algo que me tirasse desse estado insuportável.Minha mente girava em torno dela.Fiorella.Como pode uma simples garota, com um olhar inocente, provocar esse caos dentro de mim? Sou um Moretti, um homem feito de pedra, criado para comandar com punho de ferro, não para sentir. E, no entanto, aquele beijo, aquele toque singelo… foi como fogo queimando minha carne e a minha alma.Estacionei o carro em frente à boate, mas não entrei imediatamente. O reflexo no retrovisor me encarava como um estranho. Quem é esse homem? Esse tolo que perdeu o controle?Quando finalmente saí do carro, o segurança na porta abriu caminho sem dizer nada. Todos ali sabiam quem eu era. Sentar na última mesa, com as cost
Fiorella FortunattoOlho nos olhos do homem alto e imponente e consigo ver algo além de pesar. Por mais que Enzo Ferrari seja um homem perigoso, as coisas que escuto sobre ele só me levam a crer que ele quer o meu bem. Abaixo a cabeça e tento controlar a vontade de chorar. Por que fui amá-lo? Por que me prendi a promessas feitas por um garotinho de oito anos? Levanto meu rosto apenas para olhar novamente para ele e digo:— Não se preocupe, senhor Ferrari, farei o que me pede. Se me der licença… Digo dando as costas a ele voltando para dentro de casa, mas sinto as mãos fortes dele segurar o meu braço e o encaro assustada, mas antes de dizer alguma coisa, escuto a sua voz firme e ao mesmo tempo delicada pronunciar:— Fiorella… não é nada pessoal. Sabe que Dante é o único herdeiro da Cosa Nostra e como herdeiro ele tem obrigações. Continuo observando o homem diante de mim que completa:— Dante ficará noivo!Fui pega de surpresa. Meu olhar dizia o que se passava na minha mente: Dant
Quinze dias haviam se passado. Há duas semanas que Fiorella evitava cruzar o caminho de Dante, mas isso acabava a machucando cada vez mais. Depois do ocorrido na cozinha, ele parecia evitá-la. As noites de Fiorella estavam cada vez mais longas e o motivo não era a insônia, mas os gemidos de mulheres vindos do quarto de Dante que ela costumava ouvir de madrugada. Seu estômago revirava e uma estranha sensação surgia em seu peito, apenas para atormentá-la. Parecia que Dante estava determinado a magoá-la e isso era cruel e doloroso demais. Fugia dos olhares inquisitivos de sua mãe, sempre perguntando se tudo estava bem. Fiorella respondia que sim com um sorriso nos lábios. Era uma noite de sexta-feira e Fiorella estava terminando de organizar a sala de estar quando escutou a porta ser aberta abruptamente. Seus olhos verdes captam logo a figura de Dante, ele parecia alterado, provavelmente estava bêbado ou drogado, ela tentou permanecer imperceptível, mas os olhos azuis de Dante logo a
Dante MorettiO que porra acabou de acontecer? Por que ela me empurrou? O que caralhos eu fiz de errado?Eu fui gentil, amoroso e é isso que recebo? Vou mostrar a essa garota que nem ela nem ninguém pode tratar Dante Moretti dessa maneira. Caminho a passos firmes na direção que ela foi, mas acabei esbarrando com a pessoa que menos esperava.— Dante.— O que quer padrinho?— Aonde vai com tanta pressa?— Não interessa!— Está bêbado?— EU JA DISSE QUE NÃO INTERESSA, PORRA!Encaro o meu padrinho furioso. Se existe no mundo alguém que eu respeito e admiro é Enzo Ferrari. Passo as mãos pelos cabelos tentando conter a minha fúria. Enzo percebe e diz:— Vamos sair para conversar.— Não quero conversar, preciso fazer uma coisa importante antes.— Sabe que não deve importunar essa garota, Dante!Encaro meu padrinho e fico ainda mais irritado. Como ele…? Sorrio sarcástico e cruzo os braços:— Anda me espionando, Enzo Ferrari? — Dante…— Sou bem grandinho para ter babá, não acha?— Dante M
“Não me diga que não posso, pois eu adoraria provar que você está errado.” Fiorella FortunatoTrês dias se passaram e não cruzei mais com Dante pela casa. Hoje acontecerá um evento importante a noite e todos estamos trabalhando desde cedo, segundo o que eu ouvi, será um jantar com os principais líderes da Cosa Nostra e de outras organizações criminosas, sempre que tem esses eventos fico tensa. Nasci e cresci sabendo sobre quem eram os meus padrinhos, minha mãe nunca me escondeu nada. Quando completei oito anos, fui morar com meus avós, tudo isso porque as coisas ficaram perigosas aqui depois da morte da minha madrinha e minha mãe achou melhor que eu crescesse num lugar mais seguro. Passei dez anos distante, mas não teve um dia sequer que não pensasse em Dante, às vezes me pergunto como isso é possível? Quando éramos pequenos, costumávamos andar sempre juntos, lembro da minha madrinha dizendo que éramos lindos juntos, Dante sempre dizia que ia me proteger e que quando fôssemos mais