Cap 03- Fiorella Fortunatto

Fiorella Fortunatto

O coração parecia querer escapar do meu peito enquanto eu corria pelos corredores da mansão. Ainda sentia o peso daquele olhar intenso, predador, como se ele pudesse me despir até a alma. Encostei-me na parede da cozinha, tentando recuperar o fôlego, mas a lembrança de Dante Moretti continuava a me assombrar.

Por Deus, o que farei? Aquele homem não é mais o garoto que conheci. Não é mais o menino que, há treze anos, segurou minha mão enquanto chorava pela morte da mãe. O que sobrou foi um homem perigoso, de olhos azuis que já não carregam doçura, mas algo sombrio, quase insuportável de encarar.

Fiorella, sua burra, pensei comigo mesma. Você sabe que não deve sentir nada por ele. Dante não é um homem para se amar.

— Filha, está tudo bem? — A voz da minha mãe me trouxe de volta à realidade.

Desviei o olhar, encarando o chão, e menti com um sorriso fraco:

— Está sim, mamãe.

Mas ela sabia. Sempre soube. Desde que chegamos aqui, a velha mansão parecia um palco onde meu coração encenava um drama interminável. Dante era a estrela principal, e eu, sua espectadora, presa entre o desejo e o medo.

— O senhor Giacomo pediu que você levasse drinks ao escritório — continuou minha mãe, mas sua voz carregava um tom de aviso.

— Mãe, por favor, não…

— Fiorella, já conversamos sobre isso. — Ela me olhou com firmeza, os olhos verdes, idênticos aos meus, cheios de preocupação. — Dante não é mais aquele menino. Ele se tornou um homem frio e perigoso. Não há espaço para sentimentos aqui.

Engoli em seco, tentando afastar a dor que vinha junto com suas palavras. Ela estava certa. Eu precisava esquecer aquele Dante do passado, o menino que um dia achei que poderia amar.

— Tudo bem, mamãe. Eu levo. — Respondi, tentando soar confiante, mas por dentro, minha determinação tremia.

Dante Moretti

No escritório, a conversa seguia, mas eu não prestava atenção em uma única palavra. Os velhos falavam sobre alianças, tradições e acordos que deveriam ser mantidos. Eu os achava patéticos. Quando eu assumir o lugar do meu pai, as coisas serão diferentes. Essas regras antiquadas não terão mais espaço.

Minha mente, no entanto, não estava ali. Aqueles olhos verdes assombravam meus pensamentos. Eles eram familiares, mas… de onde? Enquanto girava o copo de uísque entre os dedos, fechei os olhos por um instante, deixando as lembranças de sua figura delicada tomarem forma. A garota parecia uma visão, algo que não deveria existir em um lugar como este.

A porta se abriu, e lá estava ela.

Fiorella entrou com a bandeja nas mãos, caminhando com uma delicadeza que parecia destoar completamente do ambiente pesado e sufocante. Meu olhar prendeu-se a ela, e eu sabia que ela sentia isso. Seus passos hesitaram quando percebeu meus olhos fixos, e seu rosto corou. Ela era linda, mas não era apenas isso. Havia algo nela que me atraía de uma forma que eu não conseguia explicar.

Quando ela terminou de servir, se virou para sair, mas não deixei. Minha mão segurou firme seu braço, forçando-a a me encarar. Ela levantou os olhos para mim, assustada, os lábios entreabertos, e algo dentro de mim se agitou. Ficamos ali por segundos, que pareceram uma eternidade.

— Dante, o que acha? — A voz grave de meu pai quebrou o momento.

Soltei o braço dela com relutância, desviando o olhar por um instante. Quando voltei, ela já havia se afastado, saindo da sala rapidamente. Algo dentro de mim gritou para segui-la, mas contive o impulso.

Por que ela me afeta tanto? pensei. Não sou um homem inocente. Já tive centenas de mulheres, e para mim, sexo sempre foi algo intenso, bruto, sem complicações. Então por que, com ela, sinto essa necessidade de algo que nunca busquei?

Henrico, meu padrinho e conselheiro, se aproximou. Ele me olhou com um misto de curiosidade e preocupação, mas não disse nada. Ele sempre soube quando era melhor ficar em silêncio.

Voltei minha atenção para a mesa, onde os velhos continuavam a discutir sobre o futuro da máfia. Casamentos arranjados, contratos para fortalecer alianças. Suspirei profundamente. A ideia de uma união forçada me irritava, mas eu sabia que não poderia escapar das responsabilidades que vinham com meu sobrenome.

Enquanto fingia ouvir as discussões, minha mente voltou para Fiorella. Por que ela parecia tão familiar? E por que, ao mesmo tempo, despertava em mim algo tão perigoso e incontrolável?

Olhei para Henrico, que me observava em silêncio, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo.

— Algo errado, Dante? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Eu não respondi. Apenas encarei a porta por onde Fiorella tinha saído, sentindo que aquele encontro era apenas o começo de algo muito maior. Algo que eu ainda não entendia, mas que já começava a consumir minha sanidade.

E então, enquanto os velhos conspiravam sobre o futuro da máfia, um pensamento se fixou em minha mente como uma marca indelével:

"Eu vou descobrir tudo sobre essa garota. E ninguém vai me impedir."

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