O grito de dor ecoou pela sala fria e mal iluminada, mesclando-se ao som metálico da faca que Dante girava lentamente em suas mãos. O cheiro de sangue fresco misturava-se ao ar abafado, e os olhos do torturador brilhavam com um prazer sombrio.
— Eu avisei. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregava uma ameaça que gelaria qualquer alma. — Se me roubasse de novo, eu faria você se arrepender até do dia em que nasceu.
O homem amarrado na cadeira, ensanguentado e tremendo, tentou falar, mas as palavras saíam fracas e entrecortadas pela dor.
— Dante, por favor… eu não…
— Não ouse mentir de novo na minha frente! — rugiu o loiro, cravando a lâmina mais uma vez no braço da vítima, arrancando-lhe outro grito. Ele não queria apenas punir; queria deixar uma lição que ecoasse entre seus subordinados. Trair um Moretti era assinar a própria sentença de morte.
Henrico, o fiel braço direito de Dante, encostado na parede, observava a cena em silêncio, tragando seu cigarro. Ele sabia que aquilo não era apenas um interrogatório. Para Dante, era um ritual. Cada golpe, cada palavra carregava o peso de uma lição que o jovem Moretti aprendera desde criança: lealdade acima de tudo.
Desde a morte de sua mãe, Dante fora moldado para ser o herdeiro perfeito da Cosa Nostra. Giacomo, seu pai, não poupou esforços em transformá-lo em uma arma mortal. Aos dez anos, assistira à sua primeira execução. Aos doze, aprendera a atirar com precisão cirúrgica. Aos quinze, já dava ordens que homens feitos seguiam sem questionar. O amor, diziam-lhe, era uma fraqueza, e fraqueza não tinha lugar em sua vida.
— Chega disso. — Dante afastou-se do corpo exausto e ensanguentado à sua frente, limpando as mãos com um lenço branco que logo ficou vermelho. Ele puxou a arma do coldre, apontando-a diretamente para a testa do homem.
— Por favor… eu só…
— Nosso próximo encontro será no inferno — sussurrou, antes de apertar o gatilho.
Bang.
O som do tiro reverberou pela sala. O corpo tombou na cadeira, enquanto o sangue formava uma poça ao redor. Dante, indiferente, ajustou o colarinho do terno, olhando para Henrico.
— Preciso de outra camisa. Essa está arruinada.
— E o corpo? — perguntou Henrico, exalando a fumaça do cigarro.
— Jogue numa vala. Deixe que a polícia encontre. Eles precisam ser lembrados de quem dita as regras.
Henrico arqueou as sobrancelhas. — Seu pai não vai gostar disso.
— Meu pai precisa entender que a lealdade deles não é mais suficiente. Se eles pensarem em nos trair, quero que saibam o que acontece.
Enquanto os homens limpavam a cena, Dante já se preparava para outro palco, muito mais perigoso: a casa de seu pai, onde uma festa reunia os maiores nomes da máfia italiana. O futuro da Cosa Nostra seria decidido naquela noite, e Giacomo tinha planos que Dante mal podia imaginar.
Na mansão Moretti, a opulência contrastava com a tensão no ar. Homens de terno, carregados de poder e segredos, brindavam e discutiam em meio a charutos e taças de vinho caro. Giacomo, como o rei de um império sombrio, circulava entre eles com a imponência de um líder nato.
— Onde está Dante? — perguntou, com uma calma que disfarçava impaciência.
— Ele resolveu… um problema. — respondeu Enzo, o conselheiro fiel.
— Ótimo. Assim que chegar, mande-o ao escritório.
Dante entrou na festa pouco depois, sua presença dominando o ambiente. Ele cumprimentava os convidados com um olhar frio e calculista, mas algo capturou sua atenção.
No meio da multidão, uma jovem servia bebidas e desviava dos olhares dos homens à sua volta. Seus cabelos negros caíam em ondas suaves, e seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas. Dante parou, incapaz de desviar o olhar. Havia algo nela — uma pureza contrastando com a decadência ao redor. Por um instante, esqueceu-se de quem era e do que representava.
— Não, Dante. — A voz de Enzo o tirou do transe.
— Quem é ela? — perguntou, sem esconder o interesse.
— A filha de Antonieta. Ela trabalha aqui para ajudar a mãe. Uma boa garota. Não se meta com ela.
Dante sorriu, o tipo de sorriso que fazia qualquer um perceber que ele já havia tomado a sua decisão.
— Eu a quero.
Enzo suspirou. — Dante, escute…
— Já ouvi o suficiente. — Ele pegou o copo das mãos do padrinho, bebeu tudo de uma só vez e arrematou: — Vamos terminar logo essa reunião. Depois, cuido disso.
Enquanto caminhava para o escritório, sua mente já trabalhava em um plano. A jovem desconhecida não saía de sua cabeça, e Dante Moretti nunca deixava de conseguir o que queria.
No escritório, Giacomo o esperava com os outros líderes. A conversa seria sobre alianças, poder e estratégias. Mas, enquanto as portas se fechavam atrás dele, Dante só conseguia pensar nos olhos verdes que pareciam assombrar sua alma.
E, pela primeira vez em sua vida, sentiu algo que não podia controlar. Algo que poderia ser sua ruína, ou a sua maior força!
Fiorella FortunattoO coração parecia querer escapar do meu peito enquanto eu corria pelos corredores da mansão. Ainda sentia o peso daquele olhar intenso, predador, como se ele pudesse me despir até a alma. Encostei-me na parede da cozinha, tentando recuperar o fôlego, mas a lembrança de Dante Moretti continuava a me assombrar.Por Deus, o que farei? Aquele homem não é mais o garoto que conheci. Não é mais o menino que, há treze anos, segurou minha mão enquanto chorava pela morte da mãe. O que sobrou foi um homem perigoso, de olhos azuis que já não carregam doçura, mas algo sombrio, quase insuportável de encarar.Fiorella, sua burra, pensei comigo mesma. Você sabe que não deve sentir nada por ele. Dante não é um homem para se amar.— Filha, está tudo bem? — A voz da minha mãe me trouxe de volta à realidade.Desviei o olhar, encarando o chão, e menti com um sorriso fraco:— Está sim, mamãe.Mas ela sabia. Sempre soube. Desde que chegamos aqui, a velha mansão parecia um palco onde meu c
Após o término do espetáculo, o caos tomou forma nas ruas da cidade da Sicília.A noite, que começara com aplausos e luzes, transformou-se em um cenário de sangue e desespero. Giacomo Moretti e sua esposa, Francesca, saíram do teatro de braços dados, alheios ao destino cruel que os aguardava. A explosão dos primeiros disparos foi como um trovão no silêncio da noite. Giacomo tentou proteger sua esposa, mas o tiro certeiro atingiu Francesca no peito.Ela caiu, lenta e graciosa, como uma folha arrancada pelo vento, e ele a segurou antes que tocasse o chão. O vestido dela, antes branco e impecável, foi tingido pelo vermelho da tragédia. Francesca olhou para o marido pela última vez e, com um suspiro quase inaudível, partiu.A luz da vida de Giacomo foi extinta ali, em seus braços.O que veio depois foi uma tempestade de vingança. Movido pelo ódio e pela dor, Giacomo Moretti tornou-se um símbolo de terror. Ele caçou cada mandante, cada executor, e os matou de forma brutal. Seus corpos, esqu
Dante MorettiO rugido do motor do carro cortava o silêncio da noite, mas dentro de mim, o barulho era outro. Um turbilhão de emoções que eu não conseguia controlar.Os pneus derraparam ao fazer uma curva fechada, mas não diminui a velocidade. Não importa. Talvez eu desejasse que algo acontecesse, algo que me tirasse desse estado insuportável.Minha mente girava em torno dela.Fiorella.Como pode uma simples garota, com um olhar inocente, provocar esse caos dentro de mim? Sou um Moretti, um homem feito de pedra, criado para comandar com punho de ferro, não para sentir. E, no entanto, aquele beijo, aquele toque singelo… foi como fogo queimando minha carne e a minha alma.Estacionei o carro em frente à boate, mas não entrei imediatamente. O reflexo no retrovisor me encarava como um estranho. Quem é esse homem? Esse tolo que perdeu o controle?Quando finalmente saí do carro, o segurança na porta abriu caminho sem dizer nada. Todos ali sabiam quem eu era. Sentar na última mesa, com as cost
Fiorella FortunattoOlho nos olhos do homem alto e imponente e consigo ver algo além de pesar. Por mais que Enzo Ferrari seja um homem perigoso, as coisas que escuto sobre ele só me levam a crer que ele quer o meu bem. Abaixo a cabeça e tento controlar a vontade de chorar. Por que fui amá-lo? Por que me prendi a promessas feitas por um garotinho de oito anos? Levanto meu rosto apenas para olhar novamente para ele e digo:— Não se preocupe, senhor Ferrari, farei o que me pede. Se me der licença… Digo dando as costas a ele voltando para dentro de casa, mas sinto as mãos fortes dele segurar o meu braço e o encaro assustada, mas antes de dizer alguma coisa, escuto a sua voz firme e ao mesmo tempo delicada pronunciar:— Fiorella… não é nada pessoal. Sabe que Dante é o único herdeiro da Cosa Nostra e como herdeiro ele tem obrigações. Continuo observando o homem diante de mim que completa:— Dante ficará noivo!Fui pega de surpresa. Meu olhar dizia o que se passava na minha mente: Dant
Quinze dias haviam se passado. Há duas semanas que Fiorella evitava cruzar o caminho de Dante, mas isso acabava a machucando cada vez mais. Depois do ocorrido na cozinha, ele parecia evitá-la. As noites de Fiorella estavam cada vez mais longas e o motivo não era a insônia, mas os gemidos de mulheres vindos do quarto de Dante que ela costumava ouvir de madrugada. Seu estômago revirava e uma estranha sensação surgia em seu peito, apenas para atormentá-la. Parecia que Dante estava determinado a magoá-la e isso era cruel e doloroso demais. Fugia dos olhares inquisitivos de sua mãe, sempre perguntando se tudo estava bem. Fiorella respondia que sim com um sorriso nos lábios. Era uma noite de sexta-feira e Fiorella estava terminando de organizar a sala de estar quando escutou a porta ser aberta abruptamente. Seus olhos verdes captam logo a figura de Dante, ele parecia alterado, provavelmente estava bêbado ou drogado, ela tentou permanecer imperceptível, mas os olhos azuis de Dante logo a
Dante MorettiO que porra acabou de acontecer? Por que ela me empurrou? O que caralhos eu fiz de errado?Eu fui gentil, amoroso e é isso que recebo? Vou mostrar a essa garota que nem ela nem ninguém pode tratar Dante Moretti dessa maneira. Caminho a passos firmes na direção que ela foi, mas acabei esbarrando com a pessoa que menos esperava.— Dante.— O que quer padrinho?— Aonde vai com tanta pressa?— Não interessa!— Está bêbado?— EU JA DISSE QUE NÃO INTERESSA, PORRA!Encaro o meu padrinho furioso. Se existe no mundo alguém que eu respeito e admiro é Enzo Ferrari. Passo as mãos pelos cabelos tentando conter a minha fúria. Enzo percebe e diz:— Vamos sair para conversar.— Não quero conversar, preciso fazer uma coisa importante antes.— Sabe que não deve importunar essa garota, Dante!Encaro meu padrinho e fico ainda mais irritado. Como ele…? Sorrio sarcástico e cruzo os braços:— Anda me espionando, Enzo Ferrari? — Dante…— Sou bem grandinho para ter babá, não acha?— Dante M
“Não me diga que não posso, pois eu adoraria provar que você está errado.” Fiorella FortunatoTrês dias se passaram e não cruzei mais com Dante pela casa. Hoje acontecerá um evento importante a noite e todos estamos trabalhando desde cedo, segundo o que eu ouvi, será um jantar com os principais líderes da Cosa Nostra e de outras organizações criminosas, sempre que tem esses eventos fico tensa. Nasci e cresci sabendo sobre quem eram os meus padrinhos, minha mãe nunca me escondeu nada. Quando completei oito anos, fui morar com meus avós, tudo isso porque as coisas ficaram perigosas aqui depois da morte da minha madrinha e minha mãe achou melhor que eu crescesse num lugar mais seguro. Passei dez anos distante, mas não teve um dia sequer que não pensasse em Dante, às vezes me pergunto como isso é possível? Quando éramos pequenos, costumávamos andar sempre juntos, lembro da minha madrinha dizendo que éramos lindos juntos, Dante sempre dizia que ia me proteger e que quando fôssemos mais
A aliança havia sido firmada e Dante saiu do escritório voltando para a festa. Tinha sido uma boa proposta que garantiria a Cosa Nostra a soberania da máfia com o apoio de outra organização criminosa poderosa. Ele se aproximou de Henrico e com as mãos dentro dos bolsos da calça disse:— Está feito!— Quando conhecerá a sua noiva? — Amanhã. — Graziella é muito bonita… — disse Henrico encarando os olhos azuis do amigo. Dante desviou o rosto buscando por alguém, sorriu ao encontrá-la. Henrico percebendo para onde o amigo olhava disse: — sabe que não deve.— Por que não? — Dante… — O acordo não diz nada sobre fidelidade. — E o que pretende fazer? Casar com uma e transformar a outra em amante? Dante encarou o amigo nos olhos e se calou. Sabia que era errado, que casamento dentro da máfia era algo sério e para o resto da vida. Desviou os olhos novamente para Fiorella e sentiu o sangue ferver ao ver um dos membros próximo dela. Ignorou o amigo e saiu a passos pesados em sua direção. He