Cap 02- Dante Moretti

O grito de dor ecoou pela sala fria e mal iluminada, mesclando-se ao som metálico da faca que Dante girava lentamente em suas mãos. O cheiro de sangue fresco misturava-se ao ar abafado, e os olhos do torturador brilhavam com um prazer sombrio.

— Eu avisei. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregava uma ameaça que gelaria qualquer alma. — Se me roubasse de novo, eu faria você se arrepender até do dia em que nasceu.

O homem amarrado na cadeira, ensanguentado e tremendo, tentou falar, mas as palavras saíam fracas e entrecortadas pela dor.

— Dante, por favor… eu não…

— Não ouse mentir de novo na minha frente! — rugiu o loiro, cravando a lâmina mais uma vez no braço da vítima, arrancando-lhe outro grito. Ele não queria apenas punir; queria deixar uma lição que ecoasse entre seus subordinados. Trair um Moretti era assinar a própria sentença de morte.

Henrico, o fiel braço direito de Dante, encostado na parede, observava a cena em silêncio, tragando seu cigarro. Ele sabia que aquilo não era apenas um interrogatório. Para Dante, era um ritual. Cada golpe, cada palavra carregava o peso de uma lição que o jovem Moretti aprendera desde criança: lealdade acima de tudo.

Desde a morte de sua mãe, Dante fora moldado para ser o herdeiro perfeito da Cosa Nostra. Giacomo, seu pai, não poupou esforços em transformá-lo em uma arma mortal. Aos dez anos, assistira à sua primeira execução. Aos doze, aprendera a atirar com precisão cirúrgica. Aos quinze, já dava ordens que homens feitos seguiam sem questionar. O amor, diziam-lhe, era uma fraqueza, e fraqueza não tinha lugar em sua vida.

— Chega disso. — Dante afastou-se do corpo exausto e ensanguentado à sua frente, limpando as mãos com um lenço branco que logo ficou vermelho. Ele puxou a arma do coldre, apontando-a diretamente para a testa do homem.

— Por favor… eu só…

— Nosso próximo encontro será no inferno — sussurrou, antes de apertar o gatilho.

Bang.

O som do tiro reverberou pela sala. O corpo tombou na cadeira, enquanto o sangue formava uma poça ao redor. Dante, indiferente, ajustou o colarinho do terno, olhando para Henrico.

— Preciso de outra camisa. Essa está arruinada.

— E o corpo? — perguntou Henrico, exalando a fumaça do cigarro.

— Jogue numa vala. Deixe que a polícia encontre. Eles precisam ser lembrados de quem dita as regras.

Henrico arqueou as sobrancelhas. — Seu pai não vai gostar disso.

— Meu pai precisa entender que a lealdade deles não é mais suficiente. Se eles pensarem em nos trair, quero que saibam o que acontece.

Enquanto os homens limpavam a cena, Dante já se preparava para outro palco, muito mais perigoso: a casa de seu pai, onde uma festa reunia os maiores nomes da máfia italiana. O futuro da Cosa Nostra seria decidido naquela noite, e Giacomo tinha planos que Dante mal podia imaginar.

Na mansão Moretti, a opulência contrastava com a tensão no ar. Homens de terno, carregados de poder e segredos, brindavam e discutiam em meio a charutos e taças de vinho caro. Giacomo, como o rei de um império sombrio, circulava entre eles com a imponência de um líder nato.

— Onde está Dante? — perguntou, com uma calma que disfarçava impaciência.

— Ele resolveu… um problema. — respondeu Enzo, o conselheiro fiel.

— Ótimo. Assim que chegar, mande-o ao escritório.

Dante entrou na festa pouco depois, sua presença dominando o ambiente. Ele cumprimentava os convidados com um olhar frio e calculista, mas algo capturou sua atenção.

No meio da multidão, uma jovem servia bebidas e desviava dos olhares dos homens à sua volta. Seus cabelos negros caíam em ondas suaves, e seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas. Dante parou, incapaz de desviar o olhar. Havia algo nela — uma pureza contrastando com a decadência ao redor. Por um instante, esqueceu-se de quem era e do que representava.

— Não, Dante. — A voz de Enzo o tirou do transe.

— Quem é ela? — perguntou, sem esconder o interesse.

— A filha de Antonieta. Ela trabalha aqui para ajudar a mãe. Uma boa garota. Não se meta com ela.

Dante sorriu, o tipo de sorriso que fazia qualquer um perceber que ele já havia tomado a sua decisão.

— Eu a quero.

Enzo suspirou. — Dante, escute…

— Já ouvi o suficiente. — Ele pegou o copo das mãos do padrinho, bebeu tudo de uma só vez e arrematou: — Vamos terminar logo essa reunião. Depois, cuido disso.

Enquanto caminhava para o escritório, sua mente já trabalhava em um plano. A jovem desconhecida não saía de sua cabeça, e Dante Moretti nunca deixava de conseguir o que queria.

No escritório, Giacomo o esperava com os outros líderes. A conversa seria sobre alianças, poder e estratégias. Mas, enquanto as portas se fechavam atrás dele, Dante só conseguia pensar nos olhos verdes que pareciam assombrar sua alma.

E, pela primeira vez em sua vida, sentiu algo que não podia controlar. Algo que poderia ser sua ruína, ou a sua maior força!

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