Cap 05- Conflitos internos 

Dante Moretti

O rugido do motor do carro cortava o silêncio da noite, mas dentro de mim, o barulho era outro. Um turbilhão de emoções que eu não conseguia controlar.

Os pneus derraparam ao fazer uma curva fechada, mas não diminui a velocidade. Não importa. Talvez eu desejasse que algo acontecesse, algo que me tirasse desse estado insuportável.

Minha mente girava em torno dela.

Fiorella.

Como pode uma simples garota, com um olhar inocente, provocar esse caos dentro de mim? Sou um Moretti, um homem feito de pedra, criado para comandar com punho de ferro, não para sentir. E, no entanto, aquele beijo, aquele toque singelo… foi como fogo queimando minha carne e a minha alma.

Estacionei o carro em frente à boate, mas não entrei imediatamente. O reflexo no retrovisor me encarava como um estranho. Quem é esse homem? Esse tolo que perdeu o controle?

Quando finalmente saí do carro, o segurança na porta abriu caminho sem dizer nada. Todos ali sabiam quem eu era. Sentar na última mesa, com as costas para a parede, era automático, um hábito de quem sempre espera pelo pior.

O garçom trouxe uma garrafa de bourbon. Enchi o copo, mas o álcool não queimava como antes. Fechei os olhos, tentando apagar a lembrança dela. Mas sua imagem voltava, insistente, cada detalhe me presegue, os olhos verdes, a pele delicada, o sabor doce daquele beijo.

— Chi sei tu, ragazza? Cosa mi stai facendo? [Quem é você, garota? O que está fazendo comigo?]

Minha linha de pensamento foi interrompida por uma voz familiar e sedutora.

— Dom Moretti…

Abri os olhos lentamente e me deparei com Nicole, uma ruiva de curvas perigosas e olhar sedutor. Ela era tudo o que eu costumava buscar em uma mulher, intensa, ousada, disposta a satisfazer sem questionar.

Ela deslizou para o meu colo, sorrindo de maneira provocante, mas sua presença me irritava.

— Me chame apenas de Dante, Nicole.

O beijo que ela me deu era tudo o que um homem deveria desejar, ardente, sem promessas, sem sentimentos. Mas eu não sentia absolutamente nada. Nada além de frustração.

Quando a empurrei, sua expressão se transformou em confusão. Sem paciência para explicar, encarei-a friamente.

— Ajoelhe-se e faça o que sabe fazer.

Nicole obedeceu, mas mesmo enquanto ela fazia o que sempre fazia tão bem, minha mente vagava. Não era Nicole que eu queria. Era ela. Fiorella.

Quando o prazer me atingiu, foi o nome dela que escapou dos meus lábios.

— Fiorella…

Fiorella Fortunato

A noite estava fria, mas minhas mãos queimavam. Levei os dedos aos lábios, tentando apagar o toque dele, mas era impossível. O beijo de Dante Moretti estava marcado na minha pele, como uma chama impossível de apagar.

Corri para o jardim, longe dos olhos atentos de minha mãe. Meu coração batia descontrolado, e minhas pernas mal sustentavam meu peso.

Como ele pôde? Como eu pude?

Tudo o que eu sabia sobre Dante era sombrio. Ele era temido, um homem sem coração, um líder moldado pela crueldade. Mas aquele beijo foi gentil. E isso era ainda mais assustador.

O único herdeiro da Cosa Nostra… Um amante voraz, mas incapaz de amar. Um homem que arrasta qualquer um para o precipício, sem hesitar.

Fechei os olhos, tentando afastar o sabor de tabaco e bourbon que ainda sentia. Mas não era só o sabor. Era a maneira como ele me tocou, como se eu fosse feita de vidro.

— Por que, Deus? — sussurrei, como se uma oração pudesse me salvar do caos que aquele homem causava em mim.

Foi então que um som vindo das sombras me fez abrir os olhos. Meu corpo congelou ao ver Enzo Ferrari se aproximando. O conselheiro de Dom Moretti era uma presença imponente e perigosa.

— O senhor deseja alguma coisa, senhor Ferrari? — perguntei, tentando esconder meu nervosismo.

Enzo me encarava com olhos afiados, como se pudesse ver cada segredo escondido dentro de mim. Após alguns segundos de silêncio, ele suspirou profundamente.

— Quero que se afaste de Dante, para o seu próprio bem.

Seus olhos não piscavam, e a ameaça velada era clara. Meu coração disparou, mas antes que eu pudesse responder, ele se virou e desapareceu nas sombras, deixando apenas o som de seus passos ecoando na noite.

Fiquei parada ali, lutando para respirar. O que ele sabia? O que eu não sabia?

Uma coisa era certa, o nome Dante Moretti era uma sentença. E eu ainda não sabia se era de morte ou algo pior.

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