Cap 04 - Lembranças perdidas

Itália, Sicília

Ano de 1978

Teatro Arena di Verona

Após o término do espetáculo, Giacomo Moretti e sua esposa Francesca foram alvos de um atentado de uma máfia rival, ao saírem do teatro. Francesca levou um tiro no peito e morreu nos braços de seu amado. Giacomo, movido pelo ódio e pela sede de vingança, caçou todos os envolvidos e os matou, esquartejando seus corpos e espalhando seus restos mortais em todos os lugares da Itália, deixando claro o que acontecia aqueles que resolvessem dar as costas a Cosa Nostra. Giacomo mergulhou na sua dor e afundou na escuridão, a luz da sua vida tinha partido e o único resquício de humanidade que existia dentro de si foi enterrado ao lado de sua amada.

Dante, tinha apenas oito anos quando tudo isso aconteceu. Era um garotinho que tinha sonhos, sabia quem era seu pai e suas futuras obrigações, mas Francesca sempre ensinava ao filho que um verdadeiro líder não precisava ser cruel, ele poderia ser gentil, bondoso que seria muito mais respeitado. Após a morte de sua mãe, a vida do garotinho mudou drasticamente e ele foi apresentado a uma realidade nua e crua: O mundo que Dante havia criado em sua mente inocente nunca existiria.

Na noite do atentado, seu pai ficou possuído e saiu pelas cidades da Sicília atrás de todos os mandantes e executantes, deixando o menino sem rumo, apenas com a lembrança do corpo da pessoa que mais amava sem vida nos braços de seu padrinho.

Naquela noite, Dante não ficou sozinho. Ele foi acolhido por Antonieta Fortunato, a governanta da sua casa e protegida de sua mãe. Mas não foi nos braços de Antonietta que Dante encontrou paz naquela noite e sim nos braços de uma linda garotinha de apenas sete anos, Fiorella Fortunato. Foi dela que Dante recebeu o beijo mais terno e doce que precisava e naquela mesma noite, eles juraram, um ao outro, que se protegeriam por toda eternidade.

Quando o dia amanheceu, a vida, os sonhos, a realidade do pequeno garotinho de cabelos loiros e olhos azuis mudou drasticamente. Foi apresentado a um mundo onde o amor é capaz de causar dor, apenas isso, nada mais!

✲ ✲ ✲

Fiorella saiu do escritório sentindo o coração acelerado. A maneira que Dante olhou foi assustadora, porém, o mais doloroso foi ter a certeza que ele não lembrava dela, nem do beijo inocente, nem das promessas que fizeram embaixo da macieira, próximo ao campo de girassóis.

Doía saber que não existia nenhum resquício daquele garotinho, mas o que Fiorella mais temeu, foi saber que o toque bruto de Dante na sua pele, além de provocar coisas negativas, também despertou desejos até então inexplorados por ela.

Levou a mão até o peito tentando controlar a respiração e as batidas do seu coração. Precisava fugir para longe o mais rápido possível. Dante Moretti seria a sua destruição, não tinha dúvidas disso!

Fechou os olhos e levou a mão ao pingente que estava no seu peito. A única lembrança que tinha daquele dia, mas o que aconteceu a seguir, a fez estremecer…

✲ ✲ ✲

Dante Moretti

Não conseguia me concentrar nessa m*****a reunião. Minha mente vagava na lembrança dessa garota, a maneira que olhou para mim, aquele olhar inocente e intenso me deixou confuso. Era como se ao mesmo tempo que ela me temesse ela me desejasse, sei ler uma mulher muito bem, e é exatamente isso que aquele olhar quis dizer.

Todos na mesa discutem qual seria a melhor aliança e para mim, aquilo pouco importa! Desvio o olhar para Henrico, meu melhor amigo, sinalizando que irei me retirar. Meu padrinho percebe o que estou prestes a fazer e se aproxima de mim, como se quisesse me alertar a não fazer algo estúpido, como se isso fosse capaz de me impedir a fazer aquilo que desejo. Dou as costas e saio da sala, preciso falar novamente com essa garota.

Caminho pela sala, onde ela deve estar? Algo me diz que possa estar na cozinha, sem demora caminho até lá e a vejo encostada na parede de olhos fechados.

–- Mio bella…

Não sei o que aconteceu, mas meu corpo instintivamente me leva até o seu encontro. Caminho devagar e percebo seus olhos verdes se abrindo e encontrando os meus. Algo dentro de mim estremece, um sentimento desconhecido ou talvez adormecido que me faz temer ao mesmo tempo que me deixa intrigado em experimentar. Fico diante dela, percebendo sua respiração acelerada e suas bochechas ruborizadas. Assim como eu, é perceptível que ela me deseja e isso faz meu interior se agitar. Levanto minha mão e toco o seu rosto delicado devagar, como se quisesse apenas sentir a maciez de sua pele. Ela me encara fascinada, um misto de desejo e paixão, não consigo ver medo em seus olhos e isso me estimula a continuar.

— BELLISSIMO... Chi sei tu, mio angioletto? [ Muito bela, quem é você meu pequeno anjo?]

Ela fecha os olhos num convite mudo para que eu a beijasse. Pego minhas duas mãos e as coloco gentilmente em cada lado do seu rosto, como se quisesse garantir que ela não sairia dali. Inclino meu corpo contra o seu e beijo seus lábios de uma maneira que jamais beijei antes. Nosso beijo é singelo e delicado, mas o efeito que provoca dentro de mim é intenso.

— Dante?

A garota me empurra e encara o homem que está próximo a mim assustada. Sem demora, abaixa a cabeça e sai correndo me deixando com um turbilhão de sentimentos dentro do peito. O que acabou de acontecer aqui? Por que seus doces lábios me parecem tão familiares? Encaro meu padrinho assustado e digo:

— Não diga nada, deixe-me sozinho!

Saio daquele lugar confuso e irritado. Não consigo entender, lidar com isso e não ter controle sobre mim é algo que odeio. Preciso me afastar dessa garota, independente de quem ela seja.

Eu tenho uma certeza apenas, ela poderá ser a minha ruína!

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