Como pode um cara ser tão mesquinho a ponto de ameaçar um bebê por não ter conseguido se casar com a mãe? Eu me conheço, sei que sou um cara ruim, mas nunca faria mal a um bebê por vingança...Ainda não consigo acreditar no que está nas minhas mãos, mas sei que é real pelo desespero que vejo nos olhos da minha mulher. Me aproximo ainda mais e a abraço forte, tentando consolá-la dentro do possível, com o nosso filho entre nós. Mas vejo que não adianta muito...— Isso não vai ficar assim, Kara. Dessa vez, ele foi longe demais — falo, beijando o topo de sua cabeça.Ela treme no meu abraço, e eu sinto o peso do medo que ela carrega. Não é o medo dela, mas o medo de mãe, aquele que nasce quando alguém ameaça o que você mais ama no mundo. Eu entendo. Eu também sinto isso, mas não posso mostrar. Preciso ser forte por ela, por Dominic, por todos nós.Depois de alguns minutos, pego o papel em cima da minha cama e olho para minha esposa, que aparentemente está um pouco mais calma.— Meu amor, q
Acordo disposto, como há um bom tempo não acontece. Kara dorme tranquilamente nos meus braços. Acaricio seu lindo rosto e deposito um beijo em sua cabeça. Devagar, me levanto da cama e, em seguida, vou até o berço dar uma olhada no meu garotão, meu orgulho. Separo uma roupa preta, luvas, um elástico para prender o cabelo e um boné. Não quero ser atrapalhado na minha diversão...“Enquanto me visto, sinto um frio na espinha. Não é medo, mas uma antecipação sombria. Hoje não serei apenas Don Andrew Montanaro, o chefe da família. Hoje serei o justiceiro, o carrasco. E, por mais que eu saiba que isso é necessário, uma pequena parte de mim questiona até onde estou disposto a ir. Mas essa dúvida é rapidamente sufocada pela imagem do escorpião no berço do meu filho. Não há espaço para hesitação."Depois de um banho que me deixa bem acordado, verifico mais uma vez meu filho e minha esposa. Em seguida, saio do quarto, trancando com cuidado e reforço a ordem da segurança deles. Nada de ruim ou ne
Segui rumo ao galpão bem mais calmo. No caminho, fiquei pensando em como seriam meus próximos passos e como poderia infligir ainda mais dor ao desgraçado. Meu pai ficou em casa com Kara e, com certeza, não permitirá que ela vá até lá, por isso terei espaço para fazer o que minha mente perversa planejou.Enquanto caminhava, uma lembrança veio à tona. Era de uma noite, há alguns anos, quando Kara e eu estávamos sentados na varanda de casa, após um dia particularmente tenso. Ela estava com um copo de vinho na mão, olhando para o horizonte com aquela expressão pensativa que eu conhecia tão bem. Era o olhar dela quando sua mente estava trabalhando em algo, algo que eu sabia que não era exatamente "normal".— Andrew — ela disse, quebrando o silêncio —, você já pensou em como a dor pode ser mais do que física? Como ela pode ser... psicológica?Eu me virei para ela, intrigado. Kara raramente falava sobre seu trabalho, mas quando o fazia, era sempre com uma precisão e uma frieza que me deixava
Kara GreccoAcordo com a claridade do sol espelhando o meu rosto e o peso reconfortante do braço de Andrew sobre a minha cintura. Mexo-me levemente, tentando não acordá-lo, e respiro fundo ao me lembrar que, finalmente, o final de semana chegou. Hoje é o dia de levar Dominic ao parquinho, um momento que tanto esperávamos. Mas, apesar da felicidade, uma sensação estranha me incomoda, como um pressentimento que não consigo decifrar. Ignoro, atribuindo ao cansaço ou ao estresse dos últimos dias.Ainda não consigo acreditar que o meu pequeno já tem dois aninhos. O tempo voa, e cada dia com ele é um presente. Lembro-me com clareza da primeira vez que ele balbuciou "mamãe". A alegria que tomou conta do meu peito naquele momento foi indescritível. Agora, vê-lo andando pela casa, ainda tropeçando nas próprias perninhas, me enche de orgulho e ternura. Ele é a nossa luz, o nosso milagre.Com cuidado, retiro o braço de Andrew da minha cintura e me levanto. Ele resmunga algo ininteligível, mas co
Depois do ataque no parque, parei para refletir um pouco sobre o ocorrido. Mesmo assim, ainda não estava disposto a deixar a Calábria. Pelo contrário, minha mente já planejava um ataque a Terni. Na verdade, meu objetivo era arruinar de uma vez por todas aquela maldita cidade. Ver meu filho e minha esposa no meio do fogo cruzado foi aterrorizante — não por mim, mas por eles. Com os planos em mente, entrei em casa, mas meu pai, que me conhece muito bem, já sabia o que havia acontecido e veio ao meu encontro. Contei a ele meus planos, mas sua resposta me surpreendeu. Nunca imaginei ouvir aquilo da boca de um dom. Sim, porque, mesmo ele tendo passado o bastão para mim, ainda é um dom. Ainda peço conselhos a ele...Refleti por um tempo e então me lembrei que Kara sempre teve o desejo de conhecer a França. Decidi, então, tentar levar uma vida mais tranquila longe da Calábria. Não imaginei que ela ficaria tão agradecida por nos tirar da cidade por um tempo, e isso, de certa forma, me deixou
Kara GreccoHoje completam três meses desde que chegamos a Paris, e as coisas têm estado calmas por aqui. Recentemente, descobri que estou grávida. Ainda não contei a Andrew, pois quero preparar um momento especial para dar a notícia. Tenho certeza de que ele ficará tão feliz quanto eu. Com a paz que estamos vivendo, tudo parece perfeito. Dominic está cada dia mais esperto, e tenho certeza de que, no futuro, ele será um grande homem. Claro, dentro da Khazar, mas ainda assim um bom homem. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir isso...Neste tempo, sei que Andrew, mesmo à distância, mantém-se ativo na organização e tem dedicado esforços para encontrar Richard Smith, mas até agora sem sucesso. A Khazar tem crescido bastante, e Don Giorgi continua o excelente trabalho que começamos lá. Sempre mantemos contato, e ele nos mantém informados sobre tudo o que acontece. Sabemos que a caça às bruxas continuou após nossa partida, mas, por enquanto, apenas Don Giorgi conseguiu prova
Andrew Montanaro— Fala, porra! É melhor desembuchar antes que eu perca completamente o meu controle. Quem foi o filho da puta que me traiu? Era impossível alguém de fora se aproximar da minha esposa e tirar a nossa filha sem que ninguém notasse. Fala logo, caralho! Estou perdendo a minha sanidade… — Berro com todos da segurança que estão no escritório, de cabeça baixa, mas ninguém ousa sequer abrir a maldita boca.Pego a garrafa de whisky que está em cima da mesa e a arremesso na parede, fazendo com que todos se encolham. O vidro estilhaça, e o líquido âmbar escorre pela parede como lágrimas de fúria. Vejo que eles se deram conta do tamanho do problema em que estão metidos, finalmente...Se continuarem calados, a cada lágrima que a minha esposa e a minha filha derem, será uma chicotada nas costas de vocês. E não brinco quando falo que vou embeber o chicote em ácido. Desembucha, porra!Quando já estou perdendo completamente o meu autocontrole, um dos seguranças, tremendo, ergue o braç
Giorgi MontanaroAssim que fui avisado que o meu Andrew não tinha chegado ainda, eu sabia, sentia que tinha algo de errado com a minha cria. Afinal, eu sabia o horário que eles chegariam. Cada minuto que passava era como uma agulha fincada no meu peito, uma inquietação que não conseguia ignorar. Então, comecei a me organizar para ir à sua busca, mas antes mesmo de sair para averiguar o que tinha acontecido, um dos meus soldados que fica na entrada da Calábria veio ao meu encontro com um certo desespero. Ele estava pálido, suando frio, e seus olhos não conseguiam se fixar nos meus. Neste momento, senti o meu peito gelar. Algo dentro de mim gritava que algo terrível tinha acontecido, e apenas escutei quando o soldado, sem esperar a ordem, soltou as palavras que me destruíram completamente naquele dia...— Pai, eu sinto muito, mas eles conseguiram alcançar o seu filho. Eles alcançaram o Andrew na curva, e não conseguimos intervir. Não estávamos à espera de um ataque do tamanho que foi. A