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Quando entrei em casa, fechei a porta atrás de mim e encostei na mesma com a respiração ofegante. Julian havia me deixado muito intrigada e curiosa sobre ele. Quem era ele? Porque eu ficara tão estranha perto dele, de uma forma que eu nunca me sentira antes na vida. Eu me sentia uma tola pelo que aconteceu no carro, eu fui vulnerável e se ele fosse um homem mau, teria se aproveitado de mim com facilidade.

Minha mente estava confusa, eu estava a ponto de chorar. Será que era normal eu me sentir atraída por um homem estranho e praticamente permitir que ele me tocasse sem protestar? Mas eu sentia no fundo do meu ser, algo me dizia que ele não era qualquer um, senti assim que coloquei meus olhos nele. O homem era um deus grego da beleza. Só que era além da beleza, eu senti algo diferente com seu toque e proximidade. Sua voz grave e bonita, sua presença confiante e elegante.

Decidi deixar pra lá. Certeza que foi passageiro e eu nunca mais saberia dele novamente.

"Vovó! Já cheguei." Chamei.

"Estou na cozinha!" Ela gritou.

"Sua benção vó. Estou morrendo de fome... Como a senhora está?" Fui até ela e lhe cumprimentei com um beijo no rosto.

"Deus te abençoe filha. Estou esquentando o almoço, eu estava te esperando para comer." Disse ela mexendo na panela.

"Não precisava vovó... Poxa, desculpe-me ter demorado. A culpa não foi minha. Eu esperei mais de meia hora um ônibus e não passou nenhum, a mesma coisa de manhã, tive que ir andando." Expliquei.

"Eu entendo filha, só estava preocupada com você, tentei te ligar mas estava dando caixa postal. Eu já disse para você colocar crédito nesse celular, mas você nunca aceita porque fala que não tem ninguém pra ligar, mas e eu?" Fez um olhar de mágoa, mas eu sabia que era brincadeira. Dona Florence era bem brincalhona.

"Me desculpe vovó. Além do mais, aconteceu uma coisa muito estranha no caminho de volta, não passava ônibus algum e um homem passou de carro e me sujou de lama e logo em seguida me ofereceu uma carona, eu não iria aceitar por causa do que a senhora me ensinou, mas ele me lembrou do maníaco a solta e eu preferi pegar uma carona, além do mais era bem perto daqui e ele não parecia ser uma pessoa ruim." Expliquei quando me dei conta de que estava falando rápido demais.

"Vai tomar um banho, você está toda suja e vai acabar pegando um resfriado. Depois você vai me contar que história é essa de carona." Tremi na base. Não queria levar uma bronca da minha avó aos 18 anos de idade.

Apenas assenti e subi para o meu quarto, entrei no meu banheiro tirando minhas roupas sujas e molhadas, coloquei as roupas dentro de uma sacola e logo depois dentro do cesto de roupas sujas para não sujar ou molhar as outras. Me olhei no espelho e avistei algumas costelinhas de fora mas tudo bem, eu comia igual um leão, então minha magreza não era culpa minha.

Entrei de baixo do chuveiro e estremeci quando a água quente caiu sobre minha pele fria, lavei os meus cabelos e esfreguei todo o meu corpo retirando toda a lama. Fechei os olhos e comecei a pensar automaticamente no toque de Julian em minha pele que ficou em chamas no momento, eu estava muito intrigada sobre quem era ele.

Terminei o banho, sequei-me, vesti um moletom velho que eu amava, penteei o cabelo e desci pra conversar com a Dona Florence. Chegando no andar de baixo ela estava sentada no sofá assistindo TV.

"Ei." Falei baixinho sentando ao seu lado.

"Ei. Vamos comer." Ela se levantou e desligou a televisão.

Eu coloquei o meu prato, que parecia mais uma montanha e a vovó colocou o dela. O almoço era arroz, feijão, bife de frango grelhado e salada de alface com tomate. Nos sentamos a mesa e começamos a comer, eu devorava a comida como se estivesse há dias sem comer. Deveria ser por volta de uma hora da tarde.

"Eu estava no ponto esperando por um ônibus para voltar pra casa." Comecei a falar. "Como sempre, mas fazia mais de vinte minutos e não havia passado nenhum, então um homem passou por uma poça de lama na minha frente e me sujou toda, como a senhora me viu chegar, toda suja." Dei uma pausa e bebi um pouco de água ao me lembrar daquele par de olhos azuis. "Eu xinguei ele e decidi ir andando, muito irritada por estar tendo um dia ruim. Logo mais a frente ele estava lá com o carro parado, eu fui até ele para tirar satisfações, mas ele foi gentil comigo e me ofereceu uma carona, e ele também sabia do maníaco fugitivo e se preocupou por eu estar sozinha." Suprimi um sorriso ao lembrar-me dele me persuadindo para entrar no carro.

"Em outras circunstâncias, eu acharia ruim você ter pego carona com um estranho, mas esse homem te trouxe segura pra casa meu amor. Os ônibus entraram em greve sem avisar e passaram algumas novidades sobre o caso do maníaco, revelaram o nome dele. Queria conhecer esse homem para agradecê-lo por trazer minha menininha de volta pra casa." Reapondeu ela com um olhar aliviado e de carinho para mim. Me senti muito mais aliviada por ela compreender e dei um sorriso de carinho pra ela.

"Obrigada por entender vovó. Mas sobre o maníaco, como ele se chama, já tem o retrato dele? Fiquei sabendo que o perfil que ele gosta é meninas ruivas." Perguntei estranhamente interessada.

"Ele se chama Julian Vicenzo, mas a foto ainda não divulgaram. Só avisaram para termos cuidado, mas acreditam que ele não está aqui em nossa cidade. E no jornal não divulgaram nada sobre o perfil que das meninas que ele atacou." Ao ouvir aquele nome, meu coração virou um tambor dentro do peito. Engoli em seco e imediatamente tratei de descartar aquele pensamento bobo.

O Julian que me trouxe para casa não parecia nem de longe com um louco, poderia muito bem existir várias pessoas com o mesmo nome. Mas eu não consegui ignorar por muito tempo o fato de que eu estava quase obcecada por um homem que conheci a menos de duas horas atrás. Ele já dominava cada segundo do meu pensamento e eu nem queria pensar nele. Julian...

"Então ele não me parece ser um louco, pelo contrário, parece ser bem esperto para planejar tudo isso, ou teve ajuda. Sumir com todos os documentos e informações sobre ele." Senti um arrepio estranho de repente.

"Mas nada vai te acontecer princesa, eu rezo por você todos os dias. E recarregue o seu celular para você me ligar quando for se atrasar." Disse ela e percebi que tentava me tranqüilizar mudando de assunto.

"Tudo bem." Falei terminando minha comida.

Eu e minha avó conversamos mais um pouco sobre coisas aleatórias, logo terminamos a comida, eu lavei os pratos e arrumei a cozinha. Ela foi para a varanda ler um livro como de costume. Eu dei um beijo nela e subi para o meu quarto, estava cansada e queria dormir um pouco.

Chegando no meu quarto, me deitei na cama e comecei a procurar meu celular dentro da mochila, desesperada por não acha-lo, abri todos os bolsos mas não estava. Fui até minhas roupas sujas e verifiquei por precaução, mas também não achei. Pronto, havia perdido o celular, que droga de dia era aquele!

Deitei de barriga para cima e fiquei olhando o teto em silêncio. Por incrível que pareça naquele momento não estava passando nada pela minha cabeça. Acabei pegando no sono, acordando somente horas depois.

Minha barriga começou a roncar então eu levantei e fui procurar alguma coisa para comer. Olhei no relógio e eram quase quatro da tarde. Minha avó estava cochilando na poltrona dela com um livro no colo, fui até ela e a cobri com uma coberta, fazia frio.

Fui até a cozinha e fiz um café, eu amava café. Peguei alguns biscoitos e comi. Quando estava subindo de volta para o quarto, o celular da vovó começou a tocar. Corri para atender para não acordar ela, eu sabia que a noite ela não dormia muito bem, ela nunca me contava nada mas eu sabia. Peguei sem olhar quem era e atendi.

"Alô" Sussurrei subindo as escadas correndo.

"Olá, Eloíse." A voz sombria e estranhamente sensual, um arrepio percorreu todo o meu ser e eu estremeci.

Era ele.

Julian.

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