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Totalmente concentrada no caminho que o carro fazia na estrada, eu estava. Eu não consegui me atrever a dizer uma palavra se quer. O medo de dizer algo embaraçoso ou idiota, que era algo muito típico de mim, era maior do que minha vontade de fazer perguntas. A mistura de ansiedade e um medo estranho por estar dentro daquele carro, me incomodava e eu me mexia constantemente. Até que de tanto morder meu lábio inferior sangrou.

"Aí! Droga." Exclamei baixinho colocando um dedo na ferida e olhando o rastro pequeno de sangue.

"O que foi?" Ele perguntou-me me olhando rapidamente e voltando o olhar para a estrada. Ele só poderia ter ouvidos de um vampiro para ouvir sussurros.

"Nada. Só eu mordendo a minha boca até sangrar." Respondi como se não fosse nada e dei de ombros.

"Por que você faz isso? Gosta de machucar a si própria?" Com sua voz grave e sedosa ele me perguntou virando numa rua.

"Quando estou nervosa eu tenho alguns maus costumes." Falei.

"Então quer dizer que você está nervosa agora." Afirmou ele fazendo com que meu rosto esquentasse. Engoli em seco sem saber o que dizer, era um dom natural entrar em saias justas e não saber como sair delas, até que eu não tinha outra alternativa senão a sinceridade.

"Ora mas é claro. Eu estou dentro do carro de um estranho que me sujou de propósito e eu não estou chateada. Claro que estou nervosa." Expliquei falando um pouco rápido demais. Não queria olhar para ele, eu tinha medo do que meu olhar traiçoeiro poderia revelar para ele. Mas ouvi ele dando uma leve risada.

"Para ser sincero, você é uma mocinha bem corajosa. Eu poderia muito bem ser um louco ou um sequestrador, te levando para algum lugar desconhecido e lá fazer o que quisesse com você." Disse ele e meu corpo todo estremeceu. Engoli em seco com meu sangue gelado dentro das veias. Ele tinha razão, ele poderia ser, mas eu sabia que não era. Ou era?

"Você não teria coragem... Teria?" Perguntei tentando fazer o meu melhor olhar de coitadinha.

"Relaxe, querida." Ele soltou uma risada forte. Fiquei zangada por ele estar zombando de mim.

"Olha. Acho melhor você parar o carro aqui, eu vou andando daqui mesmo sabe." Falei com um medo estranho percorrendo meu corpo.

"Fique tranquila. Eu não vou fazer nada de ruim para você, se quisesse fazer, já teria feito." Deu de ombros.

"O que quer dizer com isso?" Perguntei irritada. O que ele achava que eu era? Uma garotinha indefesa?

"Você parece uma menininha indefesa. Muito ingênua por sinal." Disse ele com ar debochado. Eu me senti realmente ofendida com aquilo, e ainda mais por ele ter razão.

"Eu não sou indefesa!" Gritei com ele. "E muito menos ingênua!" Continuei.

"Você é sim, querida." Falou ele tranquilamente. E era aquilo que me deixava com raiva, a tranquilidade dele de me repreender e estar sempre certo sobre tudo.

"Eu não sou!" Discuti.

Desde pequena a minha avó reclamava que eu era uma criança que chorava bastante, e até aquele dia eu ainda era assim, eu chorava por tudo e aquilo não era de propósito, eu era sensível demais e um tom mais alto ou algo que eu não concordava me deixava triste e eu chorava por aquilo. E me odiava várias vezes por ser assim.

"Você quer ver como você é uma garotinha indefesa e ingênua?" Perguntou ele com voz sussurrante e parou o carro bruscamente me assustando.

"Você tá maluco?" Perguntei com a mão no peito me recuperando do susto.

"Eu sou maluco." Disse ele e se inclinou sobre mim no banco do carona. O rosto dele ficou muito, muito próximo ao meu naquele momento.

Instintivamente eu fechei os meus olhos não conseguindo me conter em ficar olhando aqueles lindos olhos azuis que estavam me deixando sem fôlego e tonta. Suspirei o cheiro dele e em senti embriagada como se tivesse usado alguma droga, meu rosto e minha respiração queimava como o inferno, quando eu senti a respiração dele desviar do meu rosto e indo para o meu pescoço. Foi ali, naquele exato momento que eu perdi as estribeiras de quem eu era.

Eu não conseguia reagir, parecia petrificada aos encantos daquele deus da beleza e do charme. Uma nova sensação começou a percorrer o meu corpo, algo que eu nunca sentira antes. Minha intimidade esquentou e era como se ela tivesse ficado úmida por casa de seu toque. Esfreguei minhas coxas uma na outra tentando aliviar aquela pressão que se acumulava entre minhas pernas.

Seus lábios quente e macios pressionaram meu pescoço de forma sensual, o que me deixou ainda mais fraca e ansiosa querendo que ele continuasse e não parasse, até a agonia que me incomodava entre as pernas parasse. A gota d'água foi quando ele apertou minha coxa esquerda com sua mão grande e áspera, foi como se minha alma saísse do corpo e voltasse de tão bom que foi a sensação. Sem conseguir me conter, meus lábios se abriram e um gemido teimoso escapou. Os lábios de Julian caminharam do meu pescoço até a minha bochecha parando no canto da minha boca, enquanto sua mão continuava a apertar e acariciar a minha coxa.

De repente ele parou, e eu me senti estranhamente abandonada e frustrada. Abri os meus olhos de vagar, e encontrei aquele azul estonteante, então me dei conta do que estava acontecendo. Ele havia acabado de me provar o quanto eu era vulnerável, o quanto eu era indefesa e ingênua. O pior era que eu queria me arrepender, eu queria me odiar por ter gostado daquele avanço de Julian.

Se ele quisesse ele poderia ter ido até o fim comigo, facilmente. Mas nunca havia acontecido, eu nunca havie sentindo daquela forma com o toque de alguém. Nem mesmo quando eu beijei um garoto pela primeira e única vez, apesar de ter sido apenas um selinho, eu nunca imaginei que poderia sentir aquilo com apenas um toque de um homem.

Naquele momento eu estava me sentindo vulnerável e culpada. Ele havia me provado que eu era fraca e nunca poderia me defender de um ataque de um homem mau. Eu queria chorar, e ir para o colo da minha avó para ela acariciar os meus cabelos e dizer que iria ficar tudo bem. Mas não ia.

"Por que você fez isso?" Minha voz estava magoada e eu queria muito chorar.

"Eu disse para você que você era ingênua e indefesa. Ainda bem que eu apareci, se não algo ruim poderia ter acontecido a você, por estar andando sozinha por aí a fora." Disse ele se ajeitando em seu banco. Fiquei tão triste, mas ele estava certo.

Abaixei o olhar, e segurei minhas lágrimas. Brincando com os dedos eu me sentia envergonhada. Ele devia estar pensando que eu era uma qualquer, dessas adolescentes que faziam de tudo com qualquer um. Mas eu não iria me dar ao trabalho de explicar que eu não era aquilo.

"Por favor, tem como você só dirigir mais rápido?" Perguntei ainda olhando pra baixo. E ouvi quando ele acelerou.

"Tudo bem." Falou ele.

O resto do caminho fomos em silêncio. Demorou apenas alguns minutos até chegarmos em frente a minha casa.

"Muito obrigada." Falei apressadamente e coloquei a mão para abrir a porta do carro, fui interrompida pela mão dele na altura do meu joelho.

"Só um minuto." Disse ele. "Tire a roupa."

"O que?!" Exclamei surpresa e assustada.

"Digo, meu terno." Corrigiu.

"Ah sim..." Dei um suspiro aliviada. Tirei com cuidado o terno dele e o entreguei. "Obrigada por ter me trazido, Julian. Tchau." Falei ainda envergonhada pelo acontecido anterior e sai do carro sem esperar que ele abrisse a porta para mim.

"Você é uma pessoa muito divertida de se provocar, Eloíse." Disse ele e deu uma risada. Percebi que ele não sorria muito, mas o pouco que sorria era perfeito. "Tchau, querida. E tenha cuidado com o maníaco. Fiquei sabendo que ele adora meninas bonitas e ruivinhas, assim como você." Sem esperar eu responder, ele arrancou com o carro e sumiu rua a fora.

Eu não o conhecia, e muito menos sabia algo sobre ele. A única coisa que eu sabia com certeza, era que ele não era normal, além de ser o homem mais bonito que eu já vi na vida, era sedutor e misterioso. Meu coração idiota já estava acelerado e sentindo uma estranha falta daquela presença. Eu nunca mais o veria mesmo, e se visse, que chance eu teria de um homem daqueles gostar de mim?

Suspirando de alívio, frustração, tristeza e curiosidade, entrei em casa.

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