Gustavo Henri. Eu estava sentado, abraçando meus joelhos, enquanto o frio do inverno perfurava meus ossos como espinhos afiados, mas nada disso se comparava à dor que assolava meu coração. Me levantei com dificuldade, sabendo que era hora de ser forte e tomar a frente para que Heloise tivesse um enterro digno. Minha mãe precisava de mim, Heloise também. Desci as escadas e não imaginei que a casa estivesse tomada por tantas pessoas assim. Era impossível que eu cumprimentasse todos. Todos os jogadores dos Imperadores estavam ali, incluindo o técnico. Eu falei com cada um deles brevemente e, quando estava prestes a sair, Alan veio correndo logo atrás de mim. — Para onde vai? – perguntou, mas eu não parei, percebendo seus passos apressados vindo logo atrás de mim. — Preciso reconhecer o corpo – a frase morreu na minha garganta, quando eu abria a porta do carro – eu preciso cuidar do velório da minha irmã. — Não acho bom que faça isso sozinho – ele disse, e abriu imediatamente a porta
Gustavo Henri. Embora Bruna tenha se esforçado para acabar com o enterro de Heloise, ela não conseguiu. Ao menos era o que eu achava. Enquanto o caixão dela descia pela sepultura, um pedaço do meu coração foi junto. Queria ter passado mais tempo com ela. Talvez se Heloise tivesse ficado ao meu lado, ela conseguiria salvá-la. Fui consumido pela culpa, pelo tempo perdido. Eu desejei tê-la de volta, mas agora era tarde demais. Eu estava pronto para ir embora, deixá-la naquele lugar frio e vazio, quando senti a mão de alguém segurar pelo meu ombro. Quando me virei, Magno Martins, o médico que havia cuidado da Bruna, me fez parar subitamente para que eu pudesse falar com ele. — Podemos conversar? – ele disse isso sem olhar nos meus olhos. Fiquei curioso com o semblante que vi no rosto dele. Magno olhava para os lados como temer que alguém nos escutasse. Estava nervoso, suas mãos tremulavam levemente, quando finalmente voltou a me olhar, concluiu. — Em um lugar um pouco mais reservad
Kara Jimenez Heloise estava morta. Eu chorava silenciosamente no banheiro da lanchonete pela morte de alguém que eu nem havia conhecido. Peguei o celular algumas vezes na intenção de ligar para o Gustavo, mas desisti de todas elas. Era tarde demais para um recomeço. O Gustavo logo me esqueceria e arrumaria um novo amor. Sai do banheiro sob o olhar atento de Clemente. Parei no balcão para ver se havia chegado algum novo cliente. A lanchonete costumava estar sempre cheia naquele horário, mas não havia ninguém além de mim e dele. — Não estava passando mal novamente – ele disse isso sem olhar nos meus olhos enquanto limpava o balcão – eu só mantenho você nesse emprego porque a Afrodite me pediu, prometendo me oferecer uma chance como gratidão. Clemente realmente acreditava que tinha alguma chance com Afrodite e conseguiria vender a própria alma para conseguir o que desejava. Eu não questionei nem prolonguei o assunto. Estava cansada de dizer para ele o quanto eu era grata pela sua co
Kara Jimenez Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Meu corpo não reagia e tudo o que eu desejava naquele momento era ver o Caleb. Mas Afrodite permanecia parada a minha frente aos prantos, com raiva certamente ou talvez arrependida por ter me deixado sozinha por tanto tempo. — Sinto muito – disse, quando senti meu coração se apertar ao vê-la naquele estado – mas você estava tão animada com sua nova profissão que eu não quis… Minha voz foi silenciada pelo abraçado dela. Ficamos assim por alguns segundos, apenas se lamentando, quando Afrodite se ergueu com o rosto vermelho, enxugou as lagrimas e se afastou. Voltou a me olhar com o mesmo olhar questionador de antes e aquilo me causou arrepios. Eu queria fechar os olhos e dormir, mas ela não sairia dali até que eu contasse a ela toda a verdade. — Quanto ele roubou de você? – agora sua voz era áspera e indiferente, não havia nenhum vestígio de sentimentalismo. — O quê? – eu mal conseguia me mexer naquela cama – é mesmo necessár
Gustavo Henri A Kara precisava de mim. A ansiedade voltou a passar pela minha cabeça, eu segurei a mão de Olivia com mais força, quando o silêncio se tornou constrangedor entre mim e Afrodite. — Você continua aí, Gustavo? – a pergunta dela trouxe um grande sorriso ao meu rosto, eu veria finalmente a Kara depois de tanto tempo. Existia alguma chance dela ainda me amar? — Estou – disse, prendendo o ar dentro dos meus pulmões – por que a Kara precisa de mim depois de tanto tempo longe? Essa não era exatamente o tipo de pergunta que eu deveria fazer. Eu era um tolo, que ao invés de não questionar e arrumar minhas coisas, dificultava, criando uma barreira ainda maior entre mim e a mulher que eu amava. Assim que ouviu o nome da Kara, Olivia saltou com os olhos brilhando e um sorriso ingênuo no rosto. — Você está falando com a Kara? – eu não podia respondê-la agora e não respondi, porém, a expectativa não fugiu de seus traços. Olivia esperou pacientemente que eu respondesse sua pergu
Gustavo henri. Meu semblante denunciou o quanto eu estava aborrecido com a atitude de Alexandre em levar a Bruna até a minha casa. Eu não queria mais vê-la, a não ser em frente a um juiz determinando nossa sentença. Voltei a me sentar, depois que a cadeira foi levantada pelas mãos de Alexandre. Nada do que ele dissesse amenizaria o que eu sentia no momento. — Como advogado você deveria ser mais inteligente – eu o recriminei incapaz de olhar em seus olhos e perceber sua reação – foi um erro trazer a Bruna aqui. Minhas palavras perfuraram o coração de Alexandre. Durante aqueles anos em que trabalhou para mim eu nunca havia duvidado de sua competência. — Eu não pude impedir – eu realmente estava curioso para ouvir suas justificativas, mas Alexandre não me ofereceu nenhuma delas – acho que chegou a hora do senhor resolver de uma vez por todas suas diferenças com sua ex mulher, antes de partir ao encontro da Kara. Ele era ótimo na persuasão, eu não podia negar, mas dessa vez meu dese
Kara Ximenez Afrodite sumiu por alguns dias. A impressão que tinha, enquanto morria de tédio dentro desse hospital, era que ela estava tão zangada comigo que já não suportava mais minha presença. Meu coração ardia em dor quando me lembrava de que poderia perder minha única melhor amiga por um erro bobo que cometi. A cada dia que passo dentro desse hospital, percebo o quanto a maternidade é difícil e dolorosa. Eu já havia experimentado as noites em claro quando cuidei de jasmim ainda recém-nascido, mas eu não sabia a dor de amamentar. Às vezes achava que Caleb arrancaria os meus seios a qualquer momento. Eu até desejei voltar para a lanchonete do que ter que alimentar o meu próprio filho. Ele era a coisa mais linda que esse mundo não conheceu e olhar para ele me fazia lembrar dos momentos fraternos que vivi ao lado de Jasmim. Eu sentia tanta falta dela, como se fosse minha própria filha, e lamentava que precisasse passar por tantas coisas ruins ainda tão pequena. O Gustavo ainda es
Gustavo Henri. Desembarquei no aeroporto, sentindo minhas pernas tremerem. Estava frio em Nova Iorque e eu mal me lembrava da última vez em que vim nesse lugar. O sentimento dentro de mim era completamente desconhecido. Eu não sabia se minhas mãos suavam porque eu veria a Kara, ou porque saberia finalmente seus motivos por ter me abandonado. Assim que saí pela sala de desembarque, procurei por Afrodite, mas não a encontrei. Às vezes eu me esquecia de que, sendo um jogador de futebol, era reconhecido no mundo inteiro e que em todos os lugares haveria brasileiros para pedir um autógrafo. Fui logo cercado por algumas pessoas. Um turbilhão de emoções parecia me dominar, enquanto eu queria fugir dali e encontrar a Kara, eu não podia desapontar as pessoas que tanto me admiravam. Quando finalmente achei que havia terminado, uma voz familiar ecoou nos meus ouvidos, fazendo-me eu erguer a cabeça e ficar completamente desnorteado. — O jogador de futebol tem tempo para me dar um autógrafo