Kara Ximenez Afrodite sumiu por alguns dias. A impressão que tinha, enquanto morria de tédio dentro desse hospital, era que ela estava tão zangada comigo que já não suportava mais minha presença. Meu coração ardia em dor quando me lembrava de que poderia perder minha única melhor amiga por um erro bobo que cometi. A cada dia que passo dentro desse hospital, percebo o quanto a maternidade é difícil e dolorosa. Eu já havia experimentado as noites em claro quando cuidei de jasmim ainda recém-nascido, mas eu não sabia a dor de amamentar. Às vezes achava que Caleb arrancaria os meus seios a qualquer momento. Eu até desejei voltar para a lanchonete do que ter que alimentar o meu próprio filho. Ele era a coisa mais linda que esse mundo não conheceu e olhar para ele me fazia lembrar dos momentos fraternos que vivi ao lado de Jasmim. Eu sentia tanta falta dela, como se fosse minha própria filha, e lamentava que precisasse passar por tantas coisas ruins ainda tão pequena. O Gustavo ainda es
Gustavo Henri. Desembarquei no aeroporto, sentindo minhas pernas tremerem. Estava frio em Nova Iorque e eu mal me lembrava da última vez em que vim nesse lugar. O sentimento dentro de mim era completamente desconhecido. Eu não sabia se minhas mãos suavam porque eu veria a Kara, ou porque saberia finalmente seus motivos por ter me abandonado. Assim que saí pela sala de desembarque, procurei por Afrodite, mas não a encontrei. Às vezes eu me esquecia de que, sendo um jogador de futebol, era reconhecido no mundo inteiro e que em todos os lugares haveria brasileiros para pedir um autógrafo. Fui logo cercado por algumas pessoas. Um turbilhão de emoções parecia me dominar, enquanto eu queria fugir dali e encontrar a Kara, eu não podia desapontar as pessoas que tanto me admiravam. Quando finalmente achei que havia terminado, uma voz familiar ecoou nos meus ouvidos, fazendo-me eu erguer a cabeça e ficar completamente desnorteado. — O jogador de futebol tem tempo para me dar um autógrafo
Kara Jimenez Era inacreditável que a Afrodite tivesse me traído dessa forma. Como ela pôde levar o Gustavo de volta para mim, após me ver sofrendo tanto para fugir dele? Naquele momento, eu estava apavorada e certamente minha reação demonstrou sentimentos que o Gustavo interpretou equivocadamente. Ele pensou que eu sentia medo dele. Transpareci isso quando recuei e me encolhi na parede logo atrás de mim. A verdade era, eu queria ser engolida pela parede e desaparecer. Eu queria que alguém arrancasse o meu coração e levasse com ele todas as emoções que eu sentia ao olhar nos olhos do meu jogador preferido. Gustavo deu um passo na minha direção e ficou tão próximo que minhas pernas estremeceram. O cheiro que exalava dele ainda era o mesmo. Uma lagrima escorreu dos meus olhos e eu não consegui evitar mostrar tudo o que eu sentia no nosso reencontro. — Por que você fugiu de mim? – Ele sussurrou e eu fechei os olhos, apenas sentindo o dedo dele limpar minhas lágrimas. Abri os olhos
Decidi parar de ouvir e simplesmente deixei que as lágrimas falassem por mim. Ainda paralisado no mesmo lugar, eu apenas olhava para aquela criança que dormia tão tranquilamente e não acreditei no que Kara dizia a mim. — Meu filho? – Certamente minha pergunta poderia ofendê-la – um menino? Os olhos de Kara se estreitaram e ela sorriu. Eu tentei acompanhar o seu ritmo, mas Kara estava visivelmente mais emocionada do que eu. No silêncio, ela apenas balançou a cabeça. Ainda que se esforçasse para dizer algo a mais, ela não conseguiu. Nem mesmo eu sabia o que dizer naquele momento. Kara o entregou para mim e minhas mãos tremulas denunciaram o quanto aquele momento era único em minha vida. — O nome dele é Caleb Henri – ela disse e eu olhei para ela sem acreditar que, mesmo decidindo ter um filho longe de mim, ela havia pensado em absolutamente tudo – e ele nasceu há três dias. Peguei Caleb em meus braços. Jamais negaria que seria meu filho, ele se parecia comigo quando eu era criança.
Kara Jimenez Aquilo era um pesadelo que eu não conseguia acordar. De repente o Gustavo bateu na minha porta, voltou para minha vida e quando descobriu que tivemos um filho juntos ficou com raiva e partiu, me deixando com um nó enorme na garganta cheio de palavras que eu ainda precisava dizer a ele. Observei da janela Afrodite tentar convencê-lo de voltar e terminar nossa conversa. Aliás, foi isso que pedi a ela para que fizesse por mim, já que a ideia brilhante de levar o Gustavo de volta para minha vida havia sido exclusivamente dela. Mas a conversa pareceu não terminar bem. Ele olhou para mim pela última vez e entrou no carro de Afrodite. Meu coração disparou e eu concluí que agora era a vez dele partir da minha vida para sempre. Caleb dormia tranquilamente no berço quando eu o deixei e corri na direção da rua, mas Gustavo já havia partido. — Para onde o Gustavo foi? – temi a resposta, tanto que nem olhei nos olhos de Afrodite. Ela demorou para me responder e até tentou disfa
Gustavo Henri. Os olhos de Kara escureceram. Ela não conseguia entender. Eu imediatamente me culpei por dar uma notícia dessa forma. Não foi assim que planejei e, quando percebi, ela, perdendo as forças, a agarrei, segurando-a com força contra o meu corpo. Silenciosamente, Kara chorou e naquele momento considerei o silêncio minha melhor opção. Eu apenas a segurei em meus braços enquanto permitia que ela colocasse para fora toda a dor. — Como descobriu isso? – ela se afastou e eu lamentei – porque eu não fiquei sabendo… — A notícia estava em todos os jornais da cidade – respondi, mas Kara permanecia de cabeça baixa - não tinha como você ficar sabendo. Lamento muito. Ela permaneceu ali como se estivesse congelada no tempo ou afundada pelas próprias memórias. Percebi então que eu sabia muito pouco sobre esse lado da vida da Kara. Desde quando a conheci, ela nunca gostou muito de falar sobre sua família, seus pais e o relacionamento que havia tido com eles. Era tudo muito vago, aind
Kara Jimenez Meu coração batia descontroladamente dentro do meu peito e isso transparecia em todo o meu corpo. Sei que Sebastian me esperava atrás dessa parede, mas eu não conseguia parar de pensar nas últimas palavras de Gustavo para mim. Sua declaração havia soado tão doce e eu não consegui fazer nada a respeito. Eu saí tão rápido que quase tropecei nas minhas próprias pernas. Parei subitamente a um passo de ver o Sebastian e me acalmei. Estava no momento de resolver aquilo de uma vez por todas. Enchi os pulmões com ar e fechei os olhos antes de dar um passo e ficar de frente com ele. Os dois estavam parados atrás do balcão e os olhares se voltaram para mim. Um sorriso maquiavélico repuxou os lábios de Celeste, mas ela não estava feliz em me ver, aquilo era puro cinismo de alguém que sabia que se daria bem em cima da própria filha. Ouvi um rangido vindo do corredor e girei o pescoço para ver e garanti que não era o Gustavo pronto para estragar tudo. Vi Clemente cruzar a porta e
Gustavo Henri O tom frio e a voz triste da Kara fazem meu coração se afundar dentro do meu peito. Eu a observei virar as costas e entrar indo na direção do Caleb. Acompanhei os policiais para fora para prestar o meu depoimento, mas o que eu queria era ficar com a Kara, não havia ninguém que precisava de mim mais do que ela. Afrodite veio buscá-la e já era tarde da noite em Nova Iorque. Eu estava na delegacia quando Alexandre ligou para mim. Ainda era madrugada e eu me assustei com a urgência da ligação. — A audiência da guarda da Jasmim acontecerá amanhã – meu coração se descontrolou – precisa voltar para o Brasil imediatamente. Meu mundo desmoronou mais uma vez. Eu ainda não podia voltar, precisava resolver as coisas entre mim e a Kara. Prometi a Olivia que traria sua irmã de volta, como eu chegaria no Brasil sem a Kara ao meu lado? Eu apenas concordei com as orientações do Alexandre e pedi para que Afrodite fosse me buscar. Amanhecia e o céu ganhava tons alaranjados com os pr