Gustavo Henri Os dias iam se passando lentamente e eu aproveitava minhas férias ao lado da minha família. Alugamos uma chácara afastada de tudo para que Heloise pudesse descansar. Embora a doença a consumisse por dentro, ela permanecia a mesma garota feliz. Você jamais veria a Heloise abrindo os lábios para reclamar. O sinal de celular era péssimo. Eu já me preparava para sair a um passeio com minha irmã quando o celular tocou. Eu não podia me dar ao luxo de dispensar uma ligação, corri para atender e ouvi a voz do Alexandre do outro lado da linha. — Estou tentando falar com você há dias – a voz dele era cortada e mal conseguia entender o que ele dizia – a Afrodite me ligou. Eu já sei onde a Kara está. Meu coração parou de bater por milésimos de segundos. Não sei por quanto tempo fiquei em silêncio até perceber que Heloise havia parado ao meu lado, se escorando em mim e observando meu rosto, que certamente estava aterrorizado. — Você continua aí, Gustavo? – precisei umedecer min
Ainda que eu soubesse que esse momento chegaria, meu coração se afundou ao ver Heloise tão frágil naquele hospital. Eu abraçava a minha mãe como se quisesse sugar toda a sua dor sem deixar nenhum vestígio e sofrer sozinho. Eu não aceitava perder ela e sua partida estava acabando comigo. Depois de alguns minutos esperando, o médico finalmente apareceu para nos dar notícias. Pelo semblante exposto no rosto dele, Heloise não estava nada bem. — Foi uma queda de pressão repentina – eu não acreditava que tivesse sido apenas esse motivo – os remédios têm deixado ela fraca, mas é importante continuar tomando. A impressão que eu tinha era quer ele estava dando voltas no assunto para não dizer a verdadeira situação da minha irmã. Um pouco impaciente, eu interferir perguntando, o que considerava uma atitude agressiva. — Quanto tempo de vida ela ainda tem, doutor – ele olhou para mim assustado, quando abaixou a cabeça antes de responder. Do outro lado da sala, minha mãe se apoiava na pared
Um pouco de paz talvez fizesse bem ao meu coração. Heloise passou aquele dia ensolarado, sorrindo, brincando com jasmim como se ela fosse sua boneca preferida. Certamente eu nunca vi minha irmã tão feliz assim. Sentado no banco do jardim, o lugar que me fazia lembrar da Kara, eu observava Olivia se divertindo com Heloise e Jasmim, quando apenas sentia Clara sentar-se ao meu lado. Tinha uma aparência cansada e, quando olhei para ela, meu coração se apertou ao ver um leve sorriso em seu rosto. — Você parece preocupado – ela lançou o olhar até mim e esperou que eu lhe contasse tudo. – Heloise me contou que a Bruna exigiu que desocupássemos a mansão. Por qual motivo? Fechei os olhos com força, me lembrando que eu não havia conversado com minha mãe sobre aquilo. Era de interesse dela e minha decisão não deveria ser tomada sem antes consultá-la. — Fiz um acordo com a Bruna – disse, engolindo a saliva que fez um nó se formar em minha garganta. “Darei a mansão, meu carro e tudo o qu
Gustavo Henri. Eu estava sentado, abraçando meus joelhos, enquanto o frio do inverno perfurava meus ossos como espinhos afiados, mas nada disso se comparava à dor que assolava meu coração. Me levantei com dificuldade, sabendo que era hora de ser forte e tomar a frente para que Heloise tivesse um enterro digno. Minha mãe precisava de mim, Heloise também. Desci as escadas e não imaginei que a casa estivesse tomada por tantas pessoas assim. Era impossível que eu cumprimentasse todos. Todos os jogadores dos Imperadores estavam ali, incluindo o técnico. Eu falei com cada um deles brevemente e, quando estava prestes a sair, Alan veio correndo logo atrás de mim. — Para onde vai? – perguntou, mas eu não parei, percebendo seus passos apressados vindo logo atrás de mim. — Preciso reconhecer o corpo – a frase morreu na minha garganta, quando eu abria a porta do carro – eu preciso cuidar do velório da minha irmã. — Não acho bom que faça isso sozinho – ele disse, e abriu imediatamente a porta
Gustavo Henri. Embora Bruna tenha se esforçado para acabar com o enterro de Heloise, ela não conseguiu. Ao menos era o que eu achava. Enquanto o caixão dela descia pela sepultura, um pedaço do meu coração foi junto. Queria ter passado mais tempo com ela. Talvez se Heloise tivesse ficado ao meu lado, ela conseguiria salvá-la. Fui consumido pela culpa, pelo tempo perdido. Eu desejei tê-la de volta, mas agora era tarde demais. Eu estava pronto para ir embora, deixá-la naquele lugar frio e vazio, quando senti a mão de alguém segurar pelo meu ombro. Quando me virei, Magno Martins, o médico que havia cuidado da Bruna, me fez parar subitamente para que eu pudesse falar com ele. — Podemos conversar? – ele disse isso sem olhar nos meus olhos. Fiquei curioso com o semblante que vi no rosto dele. Magno olhava para os lados como temer que alguém nos escutasse. Estava nervoso, suas mãos tremulavam levemente, quando finalmente voltou a me olhar, concluiu. — Em um lugar um pouco mais reservad
Kara Jimenez Heloise estava morta. Eu chorava silenciosamente no banheiro da lanchonete pela morte de alguém que eu nem havia conhecido. Peguei o celular algumas vezes na intenção de ligar para o Gustavo, mas desisti de todas elas. Era tarde demais para um recomeço. O Gustavo logo me esqueceria e arrumaria um novo amor. Sai do banheiro sob o olhar atento de Clemente. Parei no balcão para ver se havia chegado algum novo cliente. A lanchonete costumava estar sempre cheia naquele horário, mas não havia ninguém além de mim e dele. — Não estava passando mal novamente – ele disse isso sem olhar nos meus olhos enquanto limpava o balcão – eu só mantenho você nesse emprego porque a Afrodite me pediu, prometendo me oferecer uma chance como gratidão. Clemente realmente acreditava que tinha alguma chance com Afrodite e conseguiria vender a própria alma para conseguir o que desejava. Eu não questionei nem prolonguei o assunto. Estava cansada de dizer para ele o quanto eu era grata pela sua co
Kara Jimenez Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Meu corpo não reagia e tudo o que eu desejava naquele momento era ver o Caleb. Mas Afrodite permanecia parada a minha frente aos prantos, com raiva certamente ou talvez arrependida por ter me deixado sozinha por tanto tempo. — Sinto muito – disse, quando senti meu coração se apertar ao vê-la naquele estado – mas você estava tão animada com sua nova profissão que eu não quis… Minha voz foi silenciada pelo abraçado dela. Ficamos assim por alguns segundos, apenas se lamentando, quando Afrodite se ergueu com o rosto vermelho, enxugou as lagrimas e se afastou. Voltou a me olhar com o mesmo olhar questionador de antes e aquilo me causou arrepios. Eu queria fechar os olhos e dormir, mas ela não sairia dali até que eu contasse a ela toda a verdade. — Quanto ele roubou de você? – agora sua voz era áspera e indiferente, não havia nenhum vestígio de sentimentalismo. — O quê? – eu mal conseguia me mexer naquela cama – é mesmo necessár
Gustavo Henri A Kara precisava de mim. A ansiedade voltou a passar pela minha cabeça, eu segurei a mão de Olivia com mais força, quando o silêncio se tornou constrangedor entre mim e Afrodite. — Você continua aí, Gustavo? – a pergunta dela trouxe um grande sorriso ao meu rosto, eu veria finalmente a Kara depois de tanto tempo. Existia alguma chance dela ainda me amar? — Estou – disse, prendendo o ar dentro dos meus pulmões – por que a Kara precisa de mim depois de tanto tempo longe? Essa não era exatamente o tipo de pergunta que eu deveria fazer. Eu era um tolo, que ao invés de não questionar e arrumar minhas coisas, dificultava, criando uma barreira ainda maior entre mim e a mulher que eu amava. Assim que ouviu o nome da Kara, Olivia saltou com os olhos brilhando e um sorriso ingênuo no rosto. — Você está falando com a Kara? – eu não podia respondê-la agora e não respondi, porém, a expectativa não fugiu de seus traços. Olivia esperou pacientemente que eu respondesse sua pergu