Gustavo Henri. O meu coração se preparava para o luto. Enquanto o mundo lá fora decidia sobre o meu destino, eu tentei não deixar o caos invadir minha casa e aproveitar cada momento ao lado de Heloise. O abraço que dei nela foi tão profundo e sincero que senti que deveria ter feito aquilo por mais vezes. Meu olhar recaiu sobre ela. Heloise estava tão magra, parecia frágil e pequena perto de mim e eu não conseguia segurar as lágrimas. Desviei o olhar para não mostrar o quanto eu estava preocupado. No fundo, eu não estava preparado para perder também a minha irmã. — Eu achei que quando eu chegasse, encontraria Jasmim aqui – Heloise enxugou as lágrimas e abriu um sorriso – eu conheço aquela garota apenas por fotografia, não queria partir sem antes… Foi como se ela perdesse o ar e não conseguisse mais prosseguir. Me sentei ao lado dela, segurando sua mão gélida e pequena. — Eu vou trazê-la para que você possa vê-la – eu me culpei por ficar tanto tempo longe da minha irmã, agora pa
Kara Jimenez Imediatamente, eu tirei o chip do celular e o joguei fora, quando Afrodite atravessou o beco e parou logo atrás de mim. Ela soube imediatamente o que eu estava fazendo quando seus olhos recaíram sobre mim. Eu ouvi seus passos instalando no chão na noite escura de nova Iorque, e me senti incapaz de virar para olhar em seus olhos. — Você ligou para ele – foi uma afirmação, quando seus olhos recaíram para o chip no chão e em seguida se levantaram para me olhar – ele vai descobrir onde nós estamos e será tarde demais. No fundo do meu coração, eu não me importava mais. As notícias que vinham do Brasil diziam que o Gustavo havia se separado da Bruna depois dela o trair pela segunda vez com o Donovan. Para piorar, Heloise estava de volta. Eu não queria acreditar no que as notícias diziam. Heloise estava em estado terminal e tudo o que eu queria era estar lá para abraçá-los. — Eu não sei o que deu em mim – enfiei o celular no bolso da calça com as mãos tremulas – eu só queria
Trancada no banheiro, eu tremia descontroladamente. Alguns segundos depois, Afrodite bateu à porta. Eu sabia que era ela, porque Clemente sempre ia embora mais cedo e me deixava responsável por fechar o estabelecimento. Eu me sentia desconfortável nessa posição, sozinha em Nova Iorque, às três da madrugada, com as portas abertas. Qualquer marginal poderia entrar e me fazer um grande mal. Enquanto ela chamava pelo meu nome, eu permaneci em silêncio. Engoli o choro e todo o medo que eu sentia e abri lentamente a porta. Afrodite me encarou, estreitando os olhos. Eu suspirei, mostrando meu rosto mais cansado. — Kara? – desviei o olhar do dela e observei aflita todo o ambiente – está procurando quem? Eu olhei de volta para ela e sei que o meu rosto denunciou o quanto eu estava assustada. — Podemos fechar o bar e ir embora? – disse, atropelando as palavras, enquanto me esgueirava e pegava minha bolsa embaixo do balcão. Afrodite passou os olhos sobre o local, percebendo que eu não hav
Gustavo Henri Os dias iam se passando lentamente e eu aproveitava minhas férias ao lado da minha família. Alugamos uma chácara afastada de tudo para que Heloise pudesse descansar. Embora a doença a consumisse por dentro, ela permanecia a mesma garota feliz. Você jamais veria a Heloise abrindo os lábios para reclamar. O sinal de celular era péssimo. Eu já me preparava para sair a um passeio com minha irmã quando o celular tocou. Eu não podia me dar ao luxo de dispensar uma ligação, corri para atender e ouvi a voz do Alexandre do outro lado da linha. — Estou tentando falar com você há dias – a voz dele era cortada e mal conseguia entender o que ele dizia – a Afrodite me ligou. Eu já sei onde a Kara está. Meu coração parou de bater por milésimos de segundos. Não sei por quanto tempo fiquei em silêncio até perceber que Heloise havia parado ao meu lado, se escorando em mim e observando meu rosto, que certamente estava aterrorizado. — Você continua aí, Gustavo? – precisei umedecer min
Ainda que eu soubesse que esse momento chegaria, meu coração se afundou ao ver Heloise tão frágil naquele hospital. Eu abraçava a minha mãe como se quisesse sugar toda a sua dor sem deixar nenhum vestígio e sofrer sozinho. Eu não aceitava perder ela e sua partida estava acabando comigo. Depois de alguns minutos esperando, o médico finalmente apareceu para nos dar notícias. Pelo semblante exposto no rosto dele, Heloise não estava nada bem. — Foi uma queda de pressão repentina – eu não acreditava que tivesse sido apenas esse motivo – os remédios têm deixado ela fraca, mas é importante continuar tomando. A impressão que eu tinha era quer ele estava dando voltas no assunto para não dizer a verdadeira situação da minha irmã. Um pouco impaciente, eu interferir perguntando, o que considerava uma atitude agressiva. — Quanto tempo de vida ela ainda tem, doutor – ele olhou para mim assustado, quando abaixou a cabeça antes de responder. Do outro lado da sala, minha mãe se apoiava na pared
Um pouco de paz talvez fizesse bem ao meu coração. Heloise passou aquele dia ensolarado, sorrindo, brincando com jasmim como se ela fosse sua boneca preferida. Certamente eu nunca vi minha irmã tão feliz assim. Sentado no banco do jardim, o lugar que me fazia lembrar da Kara, eu observava Olivia se divertindo com Heloise e Jasmim, quando apenas sentia Clara sentar-se ao meu lado. Tinha uma aparência cansada e, quando olhei para ela, meu coração se apertou ao ver um leve sorriso em seu rosto. — Você parece preocupado – ela lançou o olhar até mim e esperou que eu lhe contasse tudo. – Heloise me contou que a Bruna exigiu que desocupássemos a mansão. Por qual motivo? Fechei os olhos com força, me lembrando que eu não havia conversado com minha mãe sobre aquilo. Era de interesse dela e minha decisão não deveria ser tomada sem antes consultá-la. — Fiz um acordo com a Bruna – disse, engolindo a saliva que fez um nó se formar em minha garganta. “Darei a mansão, meu carro e tudo o qu
Gustavo Henri. Eu estava sentado, abraçando meus joelhos, enquanto o frio do inverno perfurava meus ossos como espinhos afiados, mas nada disso se comparava à dor que assolava meu coração. Me levantei com dificuldade, sabendo que era hora de ser forte e tomar a frente para que Heloise tivesse um enterro digno. Minha mãe precisava de mim, Heloise também. Desci as escadas e não imaginei que a casa estivesse tomada por tantas pessoas assim. Era impossível que eu cumprimentasse todos. Todos os jogadores dos Imperadores estavam ali, incluindo o técnico. Eu falei com cada um deles brevemente e, quando estava prestes a sair, Alan veio correndo logo atrás de mim. — Para onde vai? – perguntou, mas eu não parei, percebendo seus passos apressados vindo logo atrás de mim. — Preciso reconhecer o corpo – a frase morreu na minha garganta, quando eu abria a porta do carro – eu preciso cuidar do velório da minha irmã. — Não acho bom que faça isso sozinho – ele disse, e abriu imediatamente a porta
Gustavo Henri. Embora Bruna tenha se esforçado para acabar com o enterro de Heloise, ela não conseguiu. Ao menos era o que eu achava. Enquanto o caixão dela descia pela sepultura, um pedaço do meu coração foi junto. Queria ter passado mais tempo com ela. Talvez se Heloise tivesse ficado ao meu lado, ela conseguiria salvá-la. Fui consumido pela culpa, pelo tempo perdido. Eu desejei tê-la de volta, mas agora era tarde demais. Eu estava pronto para ir embora, deixá-la naquele lugar frio e vazio, quando senti a mão de alguém segurar pelo meu ombro. Quando me virei, Magno Martins, o médico que havia cuidado da Bruna, me fez parar subitamente para que eu pudesse falar com ele. — Podemos conversar? – ele disse isso sem olhar nos meus olhos. Fiquei curioso com o semblante que vi no rosto dele. Magno olhava para os lados como temer que alguém nos escutasse. Estava nervoso, suas mãos tremulavam levemente, quando finalmente voltou a me olhar, concluiu. — Em um lugar um pouco mais reservad