Gustavo Henri O som estridente do despertador me fez abrir os olhos devagar e demorar mais do que deveria para encerrá-lo. Eu nunca precisava de um despertado para me levantar, mas naqueles últimos dias, desde a volta da Bruna para casa, eu não dormia direito. Aliás, nada mais tem funcionado direito na minha vida. Só me levantei quando a Jasmim chorou. Peguei ela no colo e desci as escadas lentamente em direção ao quarto da Kara. O sol ainda não havia apontado no céu, mas já estava claro. A mansão silenciosa trazia paz. Parei em frente a porta e me preparei para ter que olhar para a Kara dormindo e não poder dizer a ela o quanto a amava. Eram dias difíceis conviver com a babá da minha filha e não conseguir conversar com ela sem que o meu coração explodisse no peito. Havia dias em que eu parava na beira da sua cama e apenas a observava, ouvindo sua respiração e admirando sua beleza. Kara havia mudado a minha vida e o modo como eu encarava as coisas ao meu redor. Eu não sabia por qu
Gustavo. Eu não vi o que aconteceu depois. Eu não esperei nenhuma resposta da Bruna, simplesmente virei as costas e fui para o escritório me lamentar em paz. Minutos depois, ouvi gritos vindo da sala e, quando corri para ver o que acontecia, Bruna estava desmaiada nos braços de Cassandra e ela completamente histérica. — O que você fez, Gustavo? – ela batia no rosto de Bruna na intenção de despertá-la, mas seus esforços eram em vão – faça alguma coisa. Mas foi o choro de Jasmim que me chamou a atenção. Girei o pescoço e vi Antônia, trazendo-a até mim. — Onde está a Kara, senhor? – Antônia estava assustada. — A Kara pediu demissão – eu disse isso, quando ela murmurou baixinho, se lamentando – eu vou precisar de você para cuidar da Jasmim, até que eu… Outro grito. Agora, Cassandra gritava pelo telefone com alguém. Deixei Jasmim com a Antônia e peguei a Bruna em meus braços, levando-a até o carro e partindo em direção ao hospital. No caminho, liguei para o departamento do clube e ju
POV. Bruna Sanchez “Quero o divórcio”. Essas palavras ficavam indo e vindo em minha mente sem parar. Quando Cassandra entrou do quarto, eu desejei desaparecer para não ter que ouvi-la dizer o quanto errei tentando reconquistar o Gustavo. — Por que ele pediu o divórcio? A pergunta parecia idiota, porque assim como eu, Cassandra conhecia os motivos do Gustavo em querer se separar de mim, mas ela queria ter certeza de que a culpa era minha, para depois jogar sobre mim toda a sua frustração. — A babá finalmente foi embora – eu disse isso, mas sem nenhuma grande empolgação – ele quer se livrar de mim para poder ir atrás dela. Minha mãe estava surpresa e, ao mesmo tempo, feliz com a notícia. Não havia ninguém que detestasse a Kara mais do que ela. — Certamente o mérito não foi seu – abrir os meus lábios em espanto as palavras dela – não se esforçou para reconquistá-lo. Tínhamos um combinado e você não cumpriu. — Temos mesmo que ter essa conversa agora, mãe? – revirei os olhos aborr
Gustavo Henri. Saí do treino indo direto para a zona sul da cidade. O meu coração tinha esperança de encontrar Kara no bairro onde ela viveu sua vida inteira. Embora soubesse que Sebastian e Celeste fossem um perigo para a segurança dela, lembrei-me de que Kara era a herdeira de Rosa e que havia ficado com a antiga casa dela. Me lembrei também das últimas palavras dela, pedindo para que eu cuidasse de Olivia na sua ausência. Era um pedido especial e eu não poderia deixar de realizá-lo. Estacionei o carro em frente à residência e estranhei o fato de tudo estar escuro. Bati no portão por diversas vezes e isso chamou a atenção de alguns vizinhos. Aquilo era tudo o que eu não queria. Uma senhora se aproximou, desconfiada, até me reconhecer. — Não é todo dia que vemos um jogador de futebol por aqui – os olhos dela brilhavam, mas eu não tinha muito tempo. — Preciso falar com a Celeste – fui direto ao ponto, temendo que mais alguém aparecesse e eu não conseguisse fazer o que precisava
Gustavo Henri. — Deste o momento em diante, você se torna a babá das meninas. Antônia alargou o sorriso como se esperasse por isso há muito tempo, por outro lado, Marta protestou inconformada. — E como ficará a casa, senhor? – o rosto dela se tornou vermelho. Ela estava furiosa com a minha ideia – eu não darei conta dessa casa sozinha. — E não precisará – ela olhou para mim assustada, temendo o pior – vou contratar uma ajudante. Observei Marta soltar um suspiro de alívio. Aquela mulher tinha a índole suspeita, eu sabia disso desde o tempo que Cassandra a usava como informante, mas depois do desaparecimento de Kara, eu não podia me dar ao luxo de perder mais uma funcionária. Ainda assim, ela resmungava com a presença de Olivia, como se ela tivesse direito a isso. Ignorei sua atitude, para que não agisse injustamente. Apresentei Olivia a Antônia e disse que ela ficaria sob seus cuidados até o meu retorno. Olivia, ainda tímida, parecia não querer confiar em ninguém. Antônia esta
Marta chorava desesperadamente, em vão. Eu não cederia e muito menos sentiria pena de nenhuma das duas. Porém, diante da ira que dominava meu coração, eu me esqueci de que, expulsando a Bruna de casa, Jasmim iria com ela. Foi o momento mais difícil daquele dia, ter que me despedir de Jasmim, sem saber quando a veria novamente. Segurei-a em meus braços enquanto sentia as lágrimas escorrendo inevitavelmente. A dor era tão grande que eu até mesmo achei que morreria. Era como estar perdendo um pedaço do meu corpo, uma parte fundamental de mim, que me dava vitalidade e sentido para continuar vivendo. Quando o caos se acalmou, a casa ficou vazia. Já não havia mais a Kara e agora não havia mais a Jasmim. Horas depois, Cassandra entrou na casa e levou tudo o que havia sobrado da minha pequena filha. Ela me procurou pela mansão inteira, para tentar me persuadir a perdoar a Bruna e esquecer o que havia acontecido, mas eu saí de casa e só voltei quando Cassandra finalmente foi embora. Agora
Gustavo Henri. O meu coração se preparava para o luto. Enquanto o mundo lá fora decidia sobre o meu destino, eu tentei não deixar o caos invadir minha casa e aproveitar cada momento ao lado de Heloise. O abraço que dei nela foi tão profundo e sincero que senti que deveria ter feito aquilo por mais vezes. Meu olhar recaiu sobre ela. Heloise estava tão magra, parecia frágil e pequena perto de mim e eu não conseguia segurar as lágrimas. Desviei o olhar para não mostrar o quanto eu estava preocupado. No fundo, eu não estava preparado para perder também a minha irmã. — Eu achei que quando eu chegasse, encontraria Jasmim aqui – Heloise enxugou as lágrimas e abriu um sorriso – eu conheço aquela garota apenas por fotografia, não queria partir sem antes… Foi como se ela perdesse o ar e não conseguisse mais prosseguir. Me sentei ao lado dela, segurando sua mão gélida e pequena. — Eu vou trazê-la para que você possa vê-la – eu me culpei por ficar tanto tempo longe da minha irmã, agora pa
Kara Jimenez Imediatamente, eu tirei o chip do celular e o joguei fora, quando Afrodite atravessou o beco e parou logo atrás de mim. Ela soube imediatamente o que eu estava fazendo quando seus olhos recaíram sobre mim. Eu ouvi seus passos instalando no chão na noite escura de nova Iorque, e me senti incapaz de virar para olhar em seus olhos. — Você ligou para ele – foi uma afirmação, quando seus olhos recaíram para o chip no chão e em seguida se levantaram para me olhar – ele vai descobrir onde nós estamos e será tarde demais. No fundo do meu coração, eu não me importava mais. As notícias que vinham do Brasil diziam que o Gustavo havia se separado da Bruna depois dela o trair pela segunda vez com o Donovan. Para piorar, Heloise estava de volta. Eu não queria acreditar no que as notícias diziam. Heloise estava em estado terminal e tudo o que eu queria era estar lá para abraçá-los. — Eu não sei o que deu em mim – enfiei o celular no bolso da calça com as mãos tremulas – eu só queria