Mais uma vez, olhei para o relógio. Outros dez minutos haviam passado. Kara estava atrasada mais de vinte minutos e, embora eu não tivesse nenhum compromisso naquela noite, eu estava realmente preocupado e, ao mesmo tempo, furioso com ela.Quando eu já estava reprimindo a raiva que começava a se espalhar dentro de mim como pólvora, Kara entrou na mansão de cabeça baixa, como se fosse incapaz de olhar nos meus olhos. No entanto, eu não disse nada e quando ela levantou os olhos para me olhar, seu rosto estava pálido e seus olhos repletos de lágrimas.Eu não prestei atenção no que ela havia dito porque fiquei perdido no rosto dela, que exalava dor e angústia. Kara correu para o quarto e a porta se trancando foi tudo o que ouvi depois disso.Observei Jasmim dormindo nos meus braços, então a deixei no carrinho e pensei muito se deveria ir até lá entender o que estava acontecendo. Lembrei-me então das palavras do Allan no dia anterior, quando ele insistiu em dizer o quanto não me reconhecia
Kara Jimenez— A Rosa está internada em estado grave no hospital – disse, sentindo um nó sufocar minha garganta ao ponto de faltar ar dentro dos meus pulmões — os médicos dizem que ela não sobreviverá.Levantei meus olhos encharcados e vi a visão turva do Gustavo, confuso diante de mim.— Quem é a Rosa?Era claro que ele não se lembraria da Rosa, ainda mais uma vez que ela fora acusada injustamente de roubo por ele próprio. Mas Gustavo também parecia não se lembrar daquilo, o que achei bem estranho.— É a mulher que a Marta acusou de roubo e você prontamente acreditou.Gustavo não entenderia a importância que a Rosa tinha na minha vida, ele nunca sequer se preocupou em querer saber do meu passado. O que eu também julgava excêntrico o fato dele mudar de comportamento assim tão de repente. Quando eu olhava nos olhos dele, conseguia ver verdade, mas meu coração implorava para que eu me mantivesse longe, porque era perigoso confiar nele.— Ah, claro! Disse e não havia desdém em sua voz, “
Cassandra falava sem parar, mas eu, na minha desatenção, não prestei atenção em absolutamente nada do que ela dizia. Meu olhar estava fixado no corredor, onde eu vi Kara pela última vez.Alguma coisa havia mudado dentro de mim. Alguma coisa relacionada a ela e à presença dela na minha vida.Quando Cassandra se aproximou e entregou Jasmim para mim, foi que eu voltei à laboriosa realidade da minha vida.— Você escutou o que eu disse? – perguntou ela, e eu desviei o olhar, disfarçando a minha desatenção - o que realmente está acontecendo entre você e essa empregada?Havia desdém na voz de Cassandra ao mencionar a função de Kara, como se ela fizesse questão de mostrar que era apenas isso que Kara deveria ser na minha vida. Eu travei o maxilar com a soberba de Cassandra. Eu odiava aquele jeito dela e nunca fiz questão de esconder isso de ninguém.— Você está criando teorias da conspiração apenas para anular a traição da sua filha.— Eu sei quando duas pessoas estão conectadas – ela disse,
Kara Jimenez Observei o Gustavo sair apressado do meu quarto, sem me dar qualquer chance de contestar suas decisões. A presença dele ali estava começando a ficar constante demais, de modo que eu desconfiava até mesmo dos meus sentimentos. Coloquei Jasmim no berço e tentei dormir. Me mexi de um lado a outro na cama sem conseguir dormir, pensando sobre tudo que havia acontecido naquele dia. Eu precisava me recordar que o Gustavo ainda era um homem casado, embora dissesse constantemente que jamais perdoaria a Bruna pelo que fizera. Um dia ela acordaria e voltaria a ser a dona daquela casa. Acordei assustada no dia anterior com o sol já batendo no meu rosto e o choro da Jasmim ecoando nos meus ouvidos. Me levantei, troque a fralda dela e dei a ela a mamadeira que já estava no quarto. Notei que ao lado havia um papel, daqueles coloridos e tinha um recado do Gustavo nele. “Quando eu voltar de viagem, aumentarei o seu salário. Mas você precisa estar aí.” Aquilo parecia mais uma chanta
KaraMe lembrei então da promessa que havia feito a mim mesma e, quando percebi estar perdida nos braços do Gustavo, recuei assustada. Olhei constantemente para os lados, me certificando que ninguém nos observava. Quando voltei a olhar, vi Gustavo me observando confuso.— O que aconteceu? – Me encarou estranhamente, como se quisesse desnudar minha alma. Eu me encolhi. – Parece que está com medo de mim.Eu me afastei ainda mais, quando percebi Antônia entrar no meu quarto e seu semblante se modificar completamente ao me ver com o Gustavo.— Eu preciso que o senhor me libere para que eu vá até o hospital reconhecer o corpo da Rosa.Abaixei a cabeça, evitando olhar nos olhos dele. Gustavo ficou em silêncio por longos segundos.— Sem problemas – disse ele –, mas eu vou com você.— Não! – disse imediatamente, com os olhos arregalados, percebendo que Antônia continuava ali – Preciso resolver meus problemas sozinha, senhor Gustavo. Só me libere para que eu possa me despedir da minha amiga.E
Gustavo:Nunca antes havia passado uma noite sozinho com Jasmim, e não fazia ideia do quanto ela choraria e me deixaria desesperado. Certamente, aquela foi a noite mais longa da minha vida. Acordei no dia seguinte com o barulho de alguém batendo na porta do meu quarto. Olhei para o lado, assustado, e vi minha adorável e pequena filha, dormindo tranquilamente, enquanto eu mal conseguia abrir os olhos, com um sono que parecia não ter fim.A batida na porta continuou. Peguei meu celular para ver as horas e confesso que fiquei frustrado por não receber nenhuma notícia de Kara. Eu não tinha ideia de onde ela estava ou das dificuldades que certamente enfrentava no enterro de sua amiga. Eu deveria ir atrás dela ou enviar alguém para essa missão, mas precisava primeiro acordar.Levantei-me com dificuldade e arrastei-me até a porta. Antônia me olhou assustada quando percebeu que Jasmim havia dormido comigo. Eu esfregava os olhos quando sua voz, num tom desesperado, invadiu meus ouvidos.— A Ka
Certamente aquele foi um dos dias mais difíceis da minha vida. Me que dizer adeus a Rosa, a única mulher que havia me estendido a mão, foi como se arrancassem um pedaço do meu coração e o jogasse fora. Eu não tive nem tempo de me despedir. Olhava para ela, como se estivesse dormindo dentro do caixão, e chorei.Rosa acreditou em mim até o último momento. Ela queria que eu vencesse na vida e me tornasse alguém. Diante do caixão dela, eu prometi que eu venceria e que onde ela estivesse, sentiria orgulho de mim. Eu faria valer o seu investimento e o seu amor seria recompensado.Depois do enterro, em um velório vazio, eu fiquei imovel diante da lápide, com mechas úmidas de cabelo grudado em minhas têmporas e bochechas. Caía uma fina chuva, então eu olhei para o céu com os olhos marejados, sentindo dor com o fato de estar completamente só.Não havia restado ninguém em quem eu pudesse contar. Comecei a caminhar para fora do cemitério, lembrando-me do fato de Gustavo ter pago todo o funeral,
Kara Gustavo colocou jasmim na cadeira e eu me sentei ao lado dela, completamente aborrecida. — Sente-se na frente comigo, Kara — a ordem dele fez meu corpo congelar. Ele olhou para mim e só tirou os olhos quando eu obedeci a suas ordens. — Para onde iremos? — Ele ligou o motor, enquanto eu colocava o cinto, mas não me respondeu. — Sabe que não é uma boa ideia eu andar ao seu lado, ainda mais com os boatos que falam por aí. — Quem deve decidir isso sou eu — disse, com os olhos atentos à estrada. — E respondendo a sua pergunta, vamos ao shopping comprar roupas para você. De alguma forma, eu fiquei ofendida. Olhei para minha roupa e depois olhei para ele, que parecia convicto de sua decisão. — Está exagerando — disse, colocando os braços em frente ao corpo e mudando o semblante para que ele entendesse o quanto sua atitude me envergonhava. — Primeiro paga o funeral da Rosa e agora quer comprar roupas novas para mim? De quanto isso será descontado do meu salário? — Por que acha qu