Certamente aquele foi um dos dias mais difíceis da minha vida. Me que dizer adeus a Rosa, a única mulher que havia me estendido a mão, foi como se arrancassem um pedaço do meu coração e o jogasse fora. Eu não tive nem tempo de me despedir. Olhava para ela, como se estivesse dormindo dentro do caixão, e chorei.Rosa acreditou em mim até o último momento. Ela queria que eu vencesse na vida e me tornasse alguém. Diante do caixão dela, eu prometi que eu venceria e que onde ela estivesse, sentiria orgulho de mim. Eu faria valer o seu investimento e o seu amor seria recompensado.Depois do enterro, em um velório vazio, eu fiquei imovel diante da lápide, com mechas úmidas de cabelo grudado em minhas têmporas e bochechas. Caía uma fina chuva, então eu olhei para o céu com os olhos marejados, sentindo dor com o fato de estar completamente só.Não havia restado ninguém em quem eu pudesse contar. Comecei a caminhar para fora do cemitério, lembrando-me do fato de Gustavo ter pago todo o funeral,
Kara Gustavo colocou jasmim na cadeira e eu me sentei ao lado dela, completamente aborrecida. — Sente-se na frente comigo, Kara — a ordem dele fez meu corpo congelar. Ele olhou para mim e só tirou os olhos quando eu obedeci a suas ordens. — Para onde iremos? — Ele ligou o motor, enquanto eu colocava o cinto, mas não me respondeu. — Sabe que não é uma boa ideia eu andar ao seu lado, ainda mais com os boatos que falam por aí. — Quem deve decidir isso sou eu — disse, com os olhos atentos à estrada. — E respondendo a sua pergunta, vamos ao shopping comprar roupas para você. De alguma forma, eu fiquei ofendida. Olhei para minha roupa e depois olhei para ele, que parecia convicto de sua decisão. — Está exagerando — disse, colocando os braços em frente ao corpo e mudando o semblante para que ele entendesse o quanto sua atitude me envergonhava. — Primeiro paga o funeral da Rosa e agora quer comprar roupas novas para mim? De quanto isso será descontado do meu salário? — Por que acha qu
Gustavo Desviei o olhar depressa assim que percebi o que estava fazendo. Eu percebi o Ramon, o proprietário da loja, se aproximando de mim com um sorriso autêntico no rosto. — Eu gostaria de expressar minha gratidão por esta visita tão especial? - eu o abracei e percebi que Ramon estava realmente entusiasmado com minha presença, mas a felicidade repentinamente desapareceu. — Sinto muito pelo que ocorreu com Bruna e torço para que ela possa se recuperar rapidamente. — Obrigado – desviei o olhar de forma intencional, porque eu não queria falar da Bruna ou ouvir qualquer tipo de requisição por ela. Chamei por Kara, que se aproximou sorrindo em minha direção. Até poucos minutos atrás, ela parecia incomodada por eu ter trazido-a até ali. — Kara, a babá de Jasmim – os apresentei e o aperto de mão forte de Ramon envolveu a mão dela – e eu gostaria que você escolhesse as roupas mais apropriadas, incluindo um traje para o aniversário infantil que teremos amanhã. Em seguida, ele soltou
Kara— Afinal, o que Gustavo pensa que está fazendo?Coloquei as sacolas sobre a cama e joguei meu corpo para trás, me deitando e olhando para o teto acima de mim. Inspirei profundamente, sentindo o ar cortar meus pulmões como lâmina afiada e, quando fechei os olhos, a imagem do Gustavo sorrindo para mim foi a primeira que surgiu em minha mente.Levantei-me rapidamente, reprovando-me por tal atitude. Meu coração gelou quando voltei a olhar para as sacolas e lembrei-me de que em menos de vinte e quatro horas estaria em uma festa ao lado do meu patrão. Pensar nesse momento me causava arrepios.Tentando controlar meu tremor, fui para o banheiro e joguei um punhado de água sobre o meu rosto. Quando vi minha imagem no espelho, percebi o quanto era insano pensar na possibilidade de Gustavo se interessar por mim algum dia. Eu precisava fugir dessa situação antes que fosse tarde demais.— Eu preciso arrumar um namorado — disse a mim mesma, enquanto enxugava o meu rosto — assim eu não dou nenh
Gustavo Mesmo me vendo à beira de um colapso, eu permaneci firme, virando as costas e me afastando da Kara e da sensação que ela causava toda vez que se aproximava de outro homem que não fosse eu. Ouvi os passos apressados dela vindo logo atrás de mim, mas não me virei para olhá-la. — Essa é a Kara, Afrodite — disse para a maquiadora, sem parar, apontando para a Kara, que imediatamente parou de me seguir, mas eu não tive a chance de ver sua reação. Entrei pelo corredor deixando as mulheres a sós e fui para o quarto ver a jasmim. Ela dormia tão tranquilamente que eu a deixei e fui para o meu quarto no andar de cima. Embora estivesse extremamente aborrecido com a cena que presenciei minutos antes, eu tentei ignorar tomando um banho gelado e demorado. Mas meus esforços eram em vão. Eu ainda me perguntava por que me importava tanto com quem a Kara se aproximava ou não. Eu sabia que algo estranho acontecia dentro de mim, mas evitava a todo custo aceitar essa mudança. Me arrumei,
Kara Eu mal podia acreditar, me vendo no espelho. Eu estava irreconhecível. Eu sei que os meus olhos lacrimejaram, mas Afrodite logo gritou, dizendo que eu estava proibida de chorar uma gota sequer. — Embora eu ache que você deveria usar um vestido mais elegante — sugeriu ela – esse estilo combina com você. — Eu sou a babá da Jasmim, Afrodite – lembrei-a, apesar de ser a primeira vez que nos víamos, sentia-me confortável ao lado dela – e também não quero chamar a atenção. — Impossível, Kara, olhe para você – Afrodite segurou meus ombros por trás e me fez voltar a olhar para o espelho. Desviei o olhar depressa e me afastei. Não queria pensar sobre isso, sobre o quanto eu despertaria a atenção ou se eu seria o assunto principal da festa. Ao pensar nos possíveis comentários que poderiam surgir, sentia-me em estado de calafrios. Peguei a bolsa, já com as mãos tremulas, e preparei-me para sair quando vi Afrodite pegar Jasmim no colo. — Você pode persuadir Gustavo a não me levar ne
Kara Eu me sentia um peixe fora da água. Apesar de estar feliz por conhecer uma grande quantidade de jogadores do meu time do coração, não conseguia relaxar por um minuto sequer. Os meus olhos estavam sempre atentos e o meu ouvido aguçado me alertava de que o assunto principal daquela festa era eu. Talvez fosse apenas uma impressão minha ou estivesse imaginando coisas, mas, todas às vezes que ouvia um riso, achava que ele estava se dirigindo a mim. Estava tão distraída que não percebi Allan se aproximar e levei um susto ao ouvir o som da voz dele. — Por que não está se divertindo? – Ele riu quando eu dei um pulo, e minhas bochechas ficaram vermelhas. Eu precisei recuperar o fôlego, antes de conseguir dizer qualquer coisa. — Eu não deveria ter aceitado vir a esse aniversário – fechei os olhos com força quando sentir meu peito arder e me sentei na cadeira que havia em frente à piscina – as pessoas olham para mim como se eu fosse uma intrusa. Não me sinto nada bem estando aqui. —
Gustavo Henri Eu tentei me manter longe da Kara a festa inteira, permanecendo calmo e indiferente a ela, embora soubesse estarmos em um covil de pessoas maldosas, que fariam qualquer coisa para humilhá-la por estar na minha companhia. Mantinha-me sempre atento, de longe. Tirávamos uma foto, por um instante, fiquei de costas para a piscina e o barulho da água se agitando me alertou. Quando me virei, não avistei a Kara e corri, pulando na piscina logo em seguida. Ela afundava lentamente, de olhos fechados, agarrei-a no colo e emergir. O Allan me ajudou, fazendo os primeiros socorros, quando Kara acordou assustada. Kara olhou para mim e uma lagrima caiu dos seus olhos. Eu voltei a pegá-la no colo, levando-a até o meu carro. Peguei Jasmim e quando estava pronto para partir, Abigail agarrou o meu braço dizendo. — Eu sinto muito, Gustavo – gaguejava, mas eu não conseguia avistar nenhum arrependimento na sua voz – foi um acidente, a babá perdeu o equilíbrio e caiu. Eu olhei para ela i