Kael
Entrar naquele quarto de hospital e deparar-me com Sarah deitada na cama, ciente das reais chances de ela talvez nunca voltar a andar, fez com que me sentisse o pior ser humano do mundo. No fundo, eu sabia que minha responsabilidade era grande naquilo tudo, e o peso da culpa me atingiu como uma avalanche.
Decidi naquele momento que, não importando o que ela dissesse agora, faria tudo o que estivesse ao meu alcance para ajudá-la. Ainda que ela não me quisesse mais por perto, estava decidido a continuar cuidando dela, mesmo que fosse à distância.
— Deixe-nos a sós, Maira.
A voz de Sarah não soou como um pedido, mas sim como uma ordem firme. Apenas por essa frase curta, percebi o quanto o acidente havia transformado s
SarahDepois que Kael fez sua promessa de provar o seu amor por mim através de ações, apesar de ter achado aquilo ridículo, os meus sentimentos estavam em completo tumulto. Sem sequer pensar no que estava prestes a fazer, peguei o objeto mais próximo e o atirei contra a porta.Era meu celular, e acabei danificando-o, o que só aumentou minha agitação. Nunca antes tinha jogado objetos por aí, muito menos com o intuito de liberar minha frustração.— O que houve? — Maira perguntou, entrando no quarto.Desviei o olhar para o chão onde estava o celular, ainda inteiro, mas provavelmente não funcionando mais. Ela seguiu meu olhar e percebeu o que eu havia feito, pegando o aparelho do c
KaelO horário agendado para compromissos de trabalho passou despercebido, pois minha mente estava em um emaranhado de preocupações. Sabia que Ryan precisaria lidar com a ausência, mas naquele momento eu não tinha capacidade de me concentrar em negócios. Eu não estava em condições de pensar sobre negócios e o Ryan iria precisar se virar sem mim, afinal, a empresa também é seu patrimônio, visto que é o meu irmão e a metade das ações são da nossa mãe.Liguei para Ryan, com a intenção de explicar a minha ausência e a minha mente tumultuada.— Já suspeitava que você não conseguiria comparecer à reunião hoje. — A voz de Ryan soava compreensiva, como se lesse meus pensamentos. — Tentei entrar em contato com a Sarah, agora que o diagnóstico é confirmado, mas ela não quer falar comigo.A menção a um diagnóstico definitivo me pegou de surpresa. Confuso, questionei:— Diagnóstico definitivo? Do que você está falando?— Consegui falar brevemente com a Maira por telefone há alguns minutos. Ela me
KaelSarah me encara, sua expressão misturando tristeza e aceitação. Ela fala, e sua voz carrega uma melancolia palpável:— Eu já te perdoei, Kael. Pode seguir com a sua vida normalmente. Volte para Seattle e me esqueça.Eu a interrompi rapidamente, sentindo uma urgência intensa de me fazer entender:— Eu não quero te esquecer! — Minha voz é cheia de fervor e determinação. — Quero estar ao seu lado, sempre. Quero ser o seu maior apoio. Quero ser o homem que você merece, Sarah. Por favor, deixe-me ficar ao seu lado, meu amor.Tento controlar a apreensão na minha voz, ansiando ser a força que Sarah precisa, mesmo quando sei que ela enfrentará inúmeros desafios a partir de agora. Ela fecha os olhos por um momento, e vejo seus cílios úmidos quando ela os abre novamente.— Eu estou paraplégica, Kael. — Ela admite, sua voz trêmula ecoando entre nós. — Você não me quer de verdade. Tudo o que você sente é resultado da culpa. Nada mais.O quarto parece diminuir de tamanho, e percebo que Maira
SarahAntecipei várias reações possíveis de Kael, desde raiva até decepção por ter sido enganado. No entanto, o que vejo em seu rosto é a mais pura e genuína alegria, uma reação que me pega de surpresa.— Não posso acreditar! — Ele comemora, levantando as mãos para o alto como se estivesse agradecendo aos céus. — Que notícia maravilhosa, meu amor.Em um instante, ele está me abraçando, superando as dificuldades da minha posição deitada e da sua altura. Sinto seus braços fortes ao meu redor, e a alegria dele é contagiante.— Me desculpe por ter mentido sobre isso. — Peço, minha voz um sussurro ao lado de seu ouvido.Ele se afasta ligeiramente, olhando nos meus olhos com uma ternura que faz meu coração se derreter.— A única coisa que importa agora é que você voltará a andar. O resto é só isso, Sarah. — Ele fala suavemente. — Eu te amo. E vou fazer tudo o que for necessário para que você volte a me amar também.Minhas palavras saem com sinceridade:— Eu nunca deixei de te amar, Kael.Ou
SarahApesar do clima pesado não ter desaparecido por completo, a tensão diminuiu consideravelmente, e admiro a maneira como Kael não hesitou em se desculpar por seu comportamento anterior.— Vou deixá-los a sós. — Ele anuncia, embora seja claro que ele não queira realmente fazer isso. — Se precisar de algo, é só chamar.Kael tocou meus lábios levemente com um beijo suave e saiu da sala, e sinto meu coração acelerar com aquele simples gesto.— Você está balançando a perna. — Enrico observa, com um sorriso divertido.— O quê? — Ainda estava distraída pensando no beijo de Kael.— Suas pernas… você está movendo elas de um lado para o outro.Somente agora percebo o que ele quer dizer, e uma onda de felicidade toma conta de mim. É um gesto simples, mas representa um marco importante em minha jornada de recuperação.— Fico feliz que você tenha seguido seu coração, Sarah, e não tenha se deixado influenciar por outros. Também vejo que não permite que a arrogância do Graham a domine.— Estou f
Kael Com habilidade, Sarah trouxe a cadeira até o lado da cama e me olhou intensamente. Ajustei-me confortavelmente entre os travesseiros e devolvi seu olhar sem pestanejar. — Por que estamos dormindo em quartos separados? — ela fez a pergunta que eu não esperava. — Porque imaginei que você desejava ter mais privacidade. — confessei, ciente de que minha explicação poderia soar ingênua. — E se eu disser que prefiro estar aqui, com você? — É isso que você deseja? Meu coração começou a bater descompassado, um nervosismo adolescente tomou conta de mim, como se estivesse diante da minha primeira namorada. — Quero estar onde você estiver, Kael. Sempre. Cheguei até a beira da cama e ajoelhei-me sobre o colchão, auxiliando Sarah a sentar-se. Antes que eu pudesse beijá-la, ela já está tocando seus lábios nos meus de maneira impetuosa. Nos entregamos ao beijo faminto, como dois sedentos, nossas línguas dançando num duelo deliciosamente sensual. Aproveitei a posição dela na cama para d
RachelHoje completa um mês desde que deixei Seattle praticamente foragida. Aproveitei o fato de Kael Graham, aquele tolo, estar em viagem para Londres. Ele inventou a desculpa de ter adquirido uma escuderia de Fórmula Um, mas a verdade é que estava perdidamente apaixonado pela minha ingênua irmã e encontrava qualquer desculpa para estar perto dela, mesmo que isso significasse maltratar a pobre da Sarah.De toda forma, isso não me interessava. O que importa é que consegui tirar dois milhões desse sujeito, que se achava esperto, mas na verdade era um completo idiota. Agora, estou aproveitando esse dinheiro em Mônaco, o lugar perfeito para desfrutar das melhores coisas da vida. No entanto, apesar da maravilha que é estar nesse pequeno e luxuoso país, é também extremamente caro. Meu dinheiro não vai durar para sempre, algo que meu pai sempre me alertava e que eu nunca dei ouvidos. Ele costumava dizer que de onde se tira e não se repõe, há apenas um destino inevitável: o fim.E agora, aos
EnricoDirigi pelas ruas de Seattle, enquanto minhas reflexões giravam em torno dos eventos recentes. Entre as coisas que mais me atormentavam, estava o fato de Rachel não demonstrar a menor preocupação pelo que aconteceu com sua própria irmã. Como alguém pode ser tão egoísta a ponto de não sentir o desejo de estar ao lado da gêmea no momento em que ela mais precisa? Esse pensamento tem me atormentado todos os dias desde o acidente que vitimou Sarah.Embora eu tenha saído da casa de Sarah sentindo-me um pouco mais tranquilo em relação à situação como um todo - afinal, ela parecia estar lidando bem com as mudanças drásticas em sua vida -, o fato de que o apoio de Graham estava fazendo bem a ela era evidente e reconfortante. Embora eu ainda mantivesse uma dose de desconfiança em relação a esse homem, tendo em vista tudo o que ocorreu, eu reconhecia que ele estava genuinamente tentando corrigir seus erros. Se sua presença estava trazendo felicidade a Sarah, eu jamais interferiria nisso.