EnricoDirigi pelas ruas de Seattle, enquanto minhas reflexões giravam em torno dos eventos recentes. Entre as coisas que mais me atormentavam, estava o fato de Rachel não demonstrar a menor preocupação pelo que aconteceu com sua própria irmã. Como alguém pode ser tão egoísta a ponto de não sentir o desejo de estar ao lado da gêmea no momento em que ela mais precisa? Esse pensamento tem me atormentado todos os dias desde o acidente que vitimou Sarah.Embora eu tenha saído da casa de Sarah sentindo-me um pouco mais tranquilo em relação à situação como um todo - afinal, ela parecia estar lidando bem com as mudanças drásticas em sua vida -, o fato de que o apoio de Graham estava fazendo bem a ela era evidente e reconfortante. Embora eu ainda mantivesse uma dose de desconfiança em relação a esse homem, tendo em vista tudo o que ocorreu, eu reconhecia que ele estava genuinamente tentando corrigir seus erros. Se sua presença estava trazendo felicidade a Sarah, eu jamais interferiria nisso.
SarahA vida como cadeirante é uma jornada desafiadora, mas o apoio das pessoas ao meu redor é o que me motiva todos os dias a continuar, a não desistir das metas que tracei para mim mesmo, como voltar a andar. Meu médico garantiu que a capacidade de caminhar depende principalmente de meu esforço e dedicação em seguir as orientações dos profissionais que supervisionam minha recuperação. E é exatamente isso que venho fazendo, me esforçando ao máximo.Entretanto, meu lado emocional frequentemente me sussurra que há uma ausência dolorosa: a de minha irmã gêmea, Rachel. Ela não deu sinal de vida, não tentou entrar em contato, nem mesmo uma única vez. A última conversa que tivemos foi logo após a mídia noticiar o beijo entre Enrico e eu. Ela ligou indignada com a situação, mas depois disso, silêncio. Nenhuma mensagem breve, nada.Meu lado racional, por outro lado, tenta me lembrar de não dar espaço a esses pensamentos sobre Rachel. Ele insiste para que eu esqueça que ela existe e foque em
RachelContemplo a cena diante de mim e ao olhar para Kael, consigo imediatamente perceber o quão diferente ele parece em comparação ao homem que conheci poucos meses atrás. Kael e Sarah encontram-se sentados em um banco de pedra no jardim bem cuidado. A maneira como ele segura a mão da minha irmã revela um toque delicado, como se estivesse protegendo algo frágil e extremamente precioso. Isso deixa evidente o quanto os seus sentimentos evoluíram em relação a ela.Para ser bastante honesta, acredito que não foram os sentimentos do Kael que mudaram, e sim que ele decidiu assumir aquilo que sempre sentiu pela Sarah e expô-los ao mundo.À frente do casal, encontra-se uma mulher cuja vestimenta completamente branca e a situação em que ela se encontra me fazem supor que seja a enfermeira de Sarah.O aspecto verdadeiramente surpreendente dessa cena, revelado quando a governanta me acompanhou até o jardim, é a atitude rígida e o tom de voz inflexível com os quais Sarah repreende a própria enf
RachelAs palavras de Sarah são duras, extremamente grosseiras, mas eu preciso ser realista e aceitar que elas eram também totalmente compreensíveis. A forma como a minha irmã estava me tratando agora era em decorrência a tudo o que eu já aprontei, que foi muita coisa, e aparentemente, Sarah tinha caído na real e entendido que nem todos merecem o seu melhor.Ainda assim, me machucaram. E a minha defesa para a dor sempre foi magoar também.— Não precisa ser tão rude comigo, Sarah — falei, soltando a sua mão — Eu vim de Mônaco apenas para te ver, e você me trata assim?— Você está recebendo o tratamento que merece, Rachel — Kael toma as dores de sua amada — Então, se a Sarah não a quer aqui, você deve ir embora agora.— Eu sou sua irmã, Sarah — Ainda tentei, mas sem apelação — Você vai mesmo me escorraçar daqui?— Eu estou cansada das suas armações e maldades, Rachel — Sarah agora usou um tom mais ameno, mesmo que as palavras ainda fossem grosseiras — E eu quero que vá embora.Eu nunca
EnricoAcabei de chegar em Seattle e fiquei ansioso ao olhar para o relógio no meu pulso. Já fazia horas desde que tive notícias do meu pai, o que era extremamente preocupante dadas as circunstâncias atuais. Recebi uma ligação da administradora da casa de repouso onde meu pai estava internado, e isso me colocou em uma situação delicada, levando-me a viajar imediatamente para os Estados Unidos.Segundo a administradora, meu pai não havia falado com ninguém por três dias. Ele permanecia em silêncio, evitando conversar até mesmo com seus amigos na casa e recusando-se a comer. A situação me deixou inquieto, pensando no outro lado do Atlântico, enquanto meu pai, já idoso e com saúde frágil, enfrentava essa situação alarmante.Eu pedi para a senhora Sanchez me manter informado sobre o comportamento dele e organizei rapidamente minha viagem de emergência para Seattle. Ainda não tinha ideia do que poderia estar acontecendo, levando-o a agir dessa forma, mas estava determinado a descobrir. Ape
Rachel A noite chegou trazendo a escuridão com ela. Eu estava perdida em meus próprios pensamentos. Lembranças de diferentes momentos da minha vida continuavam me incomodando. Não conseguia descansar depois do longo voo de Mônaco a Seattle. A viagem ainda estava afetando como eu me sentia.ão estava com fome e não queria comer naquela noite. Decidi ficar sozinha, enfrentando os sentimentos ruins. Eu me sentia triste por ter ignorado as pessoas ao meu redor nas últimas semanas, especialmente quando tentavam me alertar sobre a situação difícil da minha irmã.Mas algo surpreendente aconteceu e mudou as coisas. Meu telefone tocou, quebrando o silêncio da noite. Era Orion Demetriou, um homem rico e influente que eu tinha conhecido em Mônaco. Ele estava interessado em mim como uma possível parceira, alguém com quem poderia se casar para benefício mútuo. Eu me sentia desconfortável perto de Orion, porque ele era convencido e arrogante. No entanto, devido à minha situação financeira apertada
EnricoAo ver com os meus próprios olhos o estado preocupante do meu pai, eu pude comprovar que a senhora Sanchez não estava exagerando quando me ligou para dizer que o meu pai estava fazendo greve de comida. Estava bem visível para qualquer pessoa o quanto ele estava debilitado e fraco.— O que está acontecendo, pai? — Foi a minha primeira pergunta para o homem à minha frente. A diretora da casa de repouso havia saído do quarto e nos deixado sozinhos, e eu puxei uma cadeira, a colocando ao lado dele, onde estava sentado agora. — Porque está aqui, Enrico? — Ele não responde a minha pergunta — Não deveria estar pilotando algum carro de Fórmula Um? Fazendo aquilo que é a coisa mais importante da sua vida?O homem com o qual eu estava acostumado e com quem sempre convivi estava de volta, e o brilho que consegui identificar em seu olhar ao me ver já tinha sumido, sendo substituído pelo olhar cheio de ironia que sempre o acompanhava, ao menos quando estava em minha presença era dessa for
RachelEu estava faminta. Afinal, minha última refeição havia sido no avião e, desde então, não tinha comido nada. No entanto, parecia que Orion havia usado o jantar como desculpa apenas para nos encontrarmos, já que não havia de fato um jantar. De qualquer forma, tentei me manter focada em sua longa e enfadonha conversa sobre conquistas, ações na bolsa de valores e todos aqueles assuntos incompreensíveis que homens de negócios costumam discutir, pelos quais todos parecem se entender.Isso definitivamente não era para mim. Eu não estava realmente compreendendo nada, exceto que ele era extremamente rico, mas isso eu já sabia. Não era necessário repetir isso incessantemente. Realmente chato.Apesar de achar tudo aquilo insuportavelmente monótono, mantive um sorriso no rosto e balançava a cabeça em concordância sempre que necessário, para fazê-lo pensar que eu estava realmente interessada em tudo o que ele estava dizendo.Finalmente, a pergunta tão esperada chegou: "Você está com fome, q