Capítulo 3

ISABELA

Depois que saí da sala de reuniões, voltei direto para a minha sala, onde encontrei Nicolas concentrado enquanto jogava no tablet enquanto usava fones de ouvido. Abracei meu filho tão apertado que ele reclamou para soltá-lo. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pesadelo estava de volta.

Ouvi duas batidas na porta e logo Cíntia colocou a cabeça para dentro. Sua expressão era de total arrependimento e eu estava mesmo furiosa com ela. Depois de tudo o que eu passei sozinha, me virando como dava para trabalhar e criar o meu filho, ela ainda teve a ousadia de trazer Henrique de volta para minha vida.

— Isa, eu queria te pedir desculpas, eu...

— Só preciso que você me responda uma pergunta. — Interrompi sua fala.

bom.

— Você sabia que era ele que estaria na reunião desde o início?

— Sim, mas... Eu achei que seria bom esse reencontro entre vocês.

— Bom para quem? Você é a única pessoa que sabe de toda a verdade, que acompanhou tudo o que eu tive que passar.

— Eu... Só estava pensando no bem estar de Nicolas.

— Você mais do que ninguém, sempre soube que não eu queria ver Henrique novamente.

— As coisas podem se acertar entre vocês.

— Você acha mesmo que ele vai me perdoar quando descobrir que escondi o filho dele por todos esses anos?

— Tudo pode ser conversado, amiga.

— Cíntia, se ele resolver investigar minha vida, vai acabar descobrindo que tenho um filho e se fizer as contas, vai saber que Nicolas é filho dele.

— Isso seria bom para Nicolas, não é?

— Não! Ele nunca poderá saber que tem um filho.

Tivemos que interromper nossa conversa quando Nicolas retirou o fone de ouvidos e quis saber se poderíamos ir para casa porque ele estava com fome.

— Nós já vamos, meu amorzinho.

Peguei meu celular e a bolsa de cima da mesa e saí da sala enquanto segurava firme a mão do meu filho. Fui tomada por um sentimento angustiante. Ainda dentro do elevador, abri minha rede social e pesquisei o nome de Henrique. Não foi difícil encontrar o perfil dele, afinal, só há um jogador de hóquei famoso chamado Henrique Trovato.

Tive que devolver o celular para dentro da bolsa e voltar minha atenção para Nicolas quando o elevador abriu as portas. Cruzamos a recepção em direção ao estacionamento, mas antes de entrarmos no carro, decidi fazer um pequeno agrado ao meu pequeno por seu bom comportamento durante a minha reunião, e decidi levá-lo para almoçar em uma lanchonete.

Claro que ele quis pedir um hambúrguer com batatas fritas e deixei. Eu tentava manter a alimentação de Nicolas sobre controle para ser mais saudável, mas, às vezes, lhe permitia algumas extravagâncias e hoje, era um desses dias.

Enquanto comia minha salada com frango grelhado, aproveitei para continuar dando uma espiada nas redes sociais de Henrique. Logo depois que rompi com ele, eu o excluí de todas as minhas redes sociais, não fazia questão de acompanhar as notícias sobre esportes para não correr o risco de ver seu rosto estampado por todos os luagres e sempre mudava o canal da televisão quando algum noticiário começava a falar de hóquei.

Fiquei um pouco chocada com os milhares de seguidores que Henrique tinha apenas uma de suas redes sociais, dei uma olhada melhor no feed, nas suas fotos e vídeos postados. Não havia nenhuma foto com mulheres, a não ser com a mãe e a irmã dele.

Será que ele apagou porque terminou com uma possível garota antes de aparecer por aqui?

— Mamãe!

A voz de Nicolas me trouxe de volta à realidade, então guardei o celular de volta na bolsa e passei a prestar atenção no meu filho, que estava fazendo gracinhas com a comida em troca da minha atenção.

— Olha o monstro de batata frita que eu fiz. — Ele apontava, feliz da vida, para o aglomerado de batatas com ketchup no meio do prato.

Quando voltamos para casa, Nicolas foi brincar em seu quarto então aproveitei para pegar o notebook e dar uma olhada em meus emails. Com a aba do navegador aberta, não resisti e acabei pesquisando o nome de Henrique mais uma vez, queria saber em quais polêmicas ele tinha se envolvido ao longo desses oito anos separados. Para minha decepção não encontrei nada comprometedor, apenas nos sites de fofocas achei algumas fotos dele acompanhado em alguns eventos.

Apesar de tudo o que encontrei na internet, esperava que Henrique não descobrisse sobre o filho. Sei que estou sendo egoísta em privar meu filho de conhecer o pai, mas não estou pronta para quando isso acontecer, se acontecer. Porque sei que ele nunca me perdoaria por ter mentido para ele e ainda ter escondido Nicolas por tantos anos.

Cíntia não podia ter trazido Henrique de volta para a minha vida, porque só de pensar em como a mãe dele pode reagir quando souber que não fui até o final com o que ela havia me pedido naquela época me faz ter calafrios e pensar que quando Henrique souber tudo o que ela me obrigou a fazer, vai ser um verdadeiro inferno. Ele que tem a mãe como uma santa e sua maior inspiração, vai ter uma decepção muito grande ao saber de toda a verdade.

Eu não posso deixar que Henrique fique sabendo que temos um filho juntos e tenho que me certificar de que minha melhor amiga mantenha sua boca fechada pelo bem de todo mundo. Basta que uma palavra chegue aos ouvidos dele e o mundo desabará sobre nossas cabeças.

Peguei o celular de cima do braço do sofá e digitei uma mensagem para Cíntia:

"O que vai fazer hoje à noite?"

Poucos minutos depois, sua resposta chegou:

"Não tenho nada programado."

"Não quer vir tomar um vinho comigo? Estou precisando conversar com alguém."

"Mas você não está com raiva de mim pelo que fiz hoje?"

"Raiva não, só um pouco chateada, mas eu não confio em mais ninguém para conversar o assunto."

"E esse assunto, por acaso, envolve o Henrique?"

"Sim."

"Chegarei aí por volta das nove e meia."

"Combinado."

Deixei o celular em cima da mesa de jantar e tratei de afastar os pensamentos sobre Henrique enquanto subia as escadas para brincar um pouco com meu filho. Quando cheguei ao andar superior, fiquei parada junto à porta do quarto, vendo meu filho brincar com seus bonecos de super-heróis. Era tão bom ver o quanto ele estava crescendo bem e saudável.

Quando ele era menor, vivia fazendo perguntas querendo saber do pai, mas agora parecia ter entendido

— Mamãe! Você quer brincar comigo?

— Mas é claro que sim, meu amor.

Entrei no quarto de Nicolas, me sentei ao seu lado no tapete de foguete e ele me entregou o boneco do Pantera Negra. Esses momentos ao lado do meu filho eram tão gratificantes e eu amava passar tempo com ele.

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