ISABELA
Depois que saí da sala de reuniões, voltei direto para a minha sala, onde encontrei Nicolas concentrado enquanto jogava no tablet enquanto usava fones de ouvido. Abracei meu filho tão apertado que ele reclamou para soltá-lo. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pesadelo estava de volta.
Ouvi duas batidas na porta e logo Cíntia colocou a cabeça para dentro. Sua expressão era de total arrependimento e eu estava mesmo furiosa com ela. Depois de tudo o que eu passei sozinha, me virando como dava para trabalhar e criar o meu filho, ela ainda teve a ousadia de trazer Henrique de volta para minha vida.
— Isa, eu queria te pedir desculpas, eu...
— Só preciso que você me responda uma pergunta. — Interrompi sua fala.
— Tá bom.
— Você sabia que era ele que estaria na reunião desde o início?
— Sim, mas... Eu achei que seria bom esse reencontro entre vocês.
— Bom para quem? Você é a única pessoa que sabe de toda a verdade, que acompanhou tudo o que eu tive que passar.
— Eu... Só estava pensando no bem estar de Nicolas.
— Você mais do que ninguém, sempre soube que não eu queria ver Henrique novamente.
— As coisas podem se acertar entre vocês.
— Você acha mesmo que ele vai me perdoar quando descobrir que escondi o filho dele por todos esses anos?
— Tudo pode ser conversado, amiga.
— Cíntia, se ele resolver investigar minha vida, vai acabar descobrindo que tenho um filho e se fizer as contas, vai saber que Nicolas é filho dele.
— Isso seria bom para Nicolas, não é?
— Não! Ele nunca poderá saber que tem um filho.
Tivemos que interromper nossa conversa quando Nicolas retirou o fone de ouvidos e quis saber se poderíamos ir para casa porque ele estava com fome.
— Nós já vamos, meu amorzinho.
Peguei meu celular e a bolsa de cima da mesa e saí da sala enquanto segurava firme a mão do meu filho. Fui tomada por um sentimento angustiante. Ainda dentro do elevador, abri minha rede social e pesquisei o nome de Henrique. Não foi difícil encontrar o perfil dele, afinal, só há um jogador de hóquei famoso chamado Henrique Trovato.
Tive que devolver o celular para dentro da bolsa e voltar minha atenção para Nicolas quando o elevador abriu as portas. Cruzamos a recepção em direção ao estacionamento, mas antes de entrarmos no carro, decidi fazer um pequeno agrado ao meu pequeno por seu bom comportamento durante a minha reunião, e decidi levá-lo para almoçar em uma lanchonete.
Claro que ele quis pedir um hambúrguer com batatas fritas e deixei. Eu tentava manter a alimentação de Nicolas sobre controle para ser mais saudável, mas, às vezes, lhe permitia algumas extravagâncias e hoje, era um desses dias.
Enquanto comia minha salada com frango grelhado, aproveitei para continuar dando uma espiada nas redes sociais de Henrique. Logo depois que rompi com ele, eu o excluí de todas as minhas redes sociais, não fazia questão de acompanhar as notícias sobre esportes para não correr o risco de ver seu rosto estampado por todos os luagres e sempre mudava o canal da televisão quando algum noticiário começava a falar de hóquei.
Fiquei um pouco chocada com os milhares de seguidores que Henrique tinha apenas uma de suas redes sociais, dei uma olhada melhor no feed, nas suas fotos e vídeos postados. Não havia nenhuma foto com mulheres, a não ser com a mãe e a irmã dele.
Será que ele apagou porque terminou com uma possível garota antes de aparecer por aqui?
— Mamãe!
A voz de Nicolas me trouxe de volta à realidade, então guardei o celular de volta na bolsa e passei a prestar atenção no meu filho, que estava fazendo gracinhas com a comida em troca da minha atenção.
— Olha o monstro de batata frita que eu fiz. — Ele apontava, feliz da vida, para o aglomerado de batatas com ketchup no meio do prato.
Quando voltamos para casa, Nicolas foi brincar em seu quarto então aproveitei para pegar o notebook e dar uma olhada em meus emails. Com a aba do navegador aberta, não resisti e acabei pesquisando o nome de Henrique mais uma vez, queria saber em quais polêmicas ele tinha se envolvido ao longo desses oito anos separados. Para minha decepção não encontrei nada comprometedor, apenas nos sites de fofocas achei algumas fotos dele acompanhado em alguns eventos.
Apesar de tudo o que encontrei na internet, esperava que Henrique não descobrisse sobre o filho. Sei que estou sendo egoísta em privar meu filho de conhecer o pai, mas não estou pronta para quando isso acontecer, se acontecer. Porque sei que ele nunca me perdoaria por ter mentido para ele e ainda ter escondido Nicolas por tantos anos.
Cíntia não podia ter trazido Henrique de volta para a minha vida, porque só de pensar em como a mãe dele pode reagir quando souber que não fui até o final com o que ela havia me pedido naquela época me faz ter calafrios e pensar que quando Henrique souber tudo o que ela me obrigou a fazer, vai ser um verdadeiro inferno. Ele que tem a mãe como uma santa e sua maior inspiração, vai ter uma decepção muito grande ao saber de toda a verdade.
Eu não posso deixar que Henrique fique sabendo que temos um filho juntos e tenho que me certificar de que minha melhor amiga mantenha sua boca fechada pelo bem de todo mundo. Basta que uma palavra chegue aos ouvidos dele e o mundo desabará sobre nossas cabeças.
Peguei o celular de cima do braço do sofá e digitei uma mensagem para Cíntia:
"O que vai fazer hoje à noite?"
Poucos minutos depois, sua resposta chegou:
"Não tenho nada programado."
"Não quer vir tomar um vinho comigo? Estou precisando conversar com alguém."
"Mas você não está com raiva de mim pelo que fiz hoje?"
"Raiva não, só um pouco chateada, mas eu não confio em mais ninguém para conversar o assunto."
"E esse assunto, por acaso, envolve o Henrique?"
"Sim."
"Chegarei aí por volta das nove e meia."
"Combinado."
Deixei o celular em cima da mesa de jantar e tratei de afastar os pensamentos sobre Henrique enquanto subia as escadas para brincar um pouco com meu filho. Quando cheguei ao andar superior, fiquei parada junto à porta do quarto, vendo meu filho brincar com seus bonecos de super-heróis. Era tão bom ver o quanto ele estava crescendo bem e saudável.
Quando ele era menor, vivia fazendo perguntas querendo saber do pai, mas agora parecia ter entendido
— Mamãe! Você quer brincar comigo?
— Mas é claro que sim, meu amor.
Entrei no quarto de Nicolas, me sentei ao seu lado no tapete de foguete e ele me entregou o boneco do Pantera Negra. Esses momentos ao lado do meu filho eram tão gratificantes e eu amava passar tempo com ele.
HENRIQUEDepois que Gabriel e eu saímos da sala de reuniões da empresa, tinha meus pensamentos longe. Reencontrar Isabela depois de tantos anos mexeu com a minha cabeça e trouxe de volta sentimentos que estavam enterrados no fundo do meu coração.— Está tudo bem, cara? — Gabriel perguntou quando já estávamos dentro do elevador.— Sim.— Feliz por ter conseguido mais um patrocinador?— Pode apostar que sim.Estava parado junto ao carro esperando Gabriel voltar do caixa eletrônico quando vi Isabela sair pelo estacionamento, mas ela não estava sozinha, havia um garotinho com ela. Então ela havia tido um filho nesses oito anos que ficamos separados. Eu tinha muitas perguntas rodeando minha cabeça e faria de tudo para descobrir a resposta para todas elas.Como ela não tinha me visto, aproveitei para ficar espiando um pouco mais pelo vidro do restaurante. Isa parecia feliz com a vida que tinha. Eu precisava saber mais sobre ela e a vida que tinha. Peguei meu celular e procurei por ela nas re
ISABELAPoder desabafar com Cíntia me tirou um peso enorme das costas, mesmo que ela tivesse sido a responsável por trazer o problema de volta para minha vida. Ela era a única pessoa que sabia de tudo, por isso, podia contar tudo relacionado a Henrique, até mesmo os meus medos e as inseguranças.Depois que minha melhor amiga foi embora, recolhi as taças usadas e a garrafa de vinho vazia e levei tudo para a cozinha. A caminho do quarto, aproveitei para dar uma olhada no quarto de Nicolas. Meu filho dormia como um anjinho, não resisti e entrei no quarto, me aproximando da cama, depositei um beijo em sua cabeleira antes de sair e fechar a porta.Enchi a banheira com alguns sais de banho e me permiti um momento de descanso antes de finalmente ir para cama. O dia tinha sido complicado e eu precisava relaxar. Pego o romance que sempre deixo por ali e começo a folhear o livro.Algumas horas depois, quando, finalmente, fui para cama, já sentia os olhos pesados, então só me troquei e me aconch
HENRIQUEDesde que assinei o contrato com o time e vim parar nessa cidade, meu agente me fez concordar em ser voluntário em uma escolinha de hóquei para crianças. Já fazia uma semana que eu tinha começado a ir na escola escolhida por ele, eu não fazia nada além de ficar sentado na arquibancada vendo o treinador coordenar aquele bando de meninos com idades variadas.Era domingo, um dia que poderia passar descansando, mas tinha compromisso, afinal, era o primeiro jogo da vida daqueles garotos e, eu tinha sido convocado, mais como um apoio moral e inspiração para eles, já que a grande maioria deles, era meu fã.Por causa do trânsito, acabei chegando na arena uns vinte minutos depois do horário combinado com o treinador do pequeno time e fui me juntar à eles no vestiário, que, por sinal, estava um verdadeira cacofonia. Acabei decidindo esperar do lado de fora para não tumultuar ainda mais.De onde eu estava, conseguia ver a arena se enchendo com os familiares dos jogadores mirins e foi in
ISABELADepois do encontro inesperado com Henrique no estacionamento da arena, dei graças a Deus quando Piper e o marido apareceram. James levou os meninos para o tal passeio divertido que ele tinha programado então ofereci carona para Piper já que eu iria para casa dela.Quando chegamos, estacionei o carro na entrada da garagem dela e entramos. A casa estava silenciosa o que era uma benção depois de toda a gritaria durante o jogo na arena. Estava sentada no sofá quando Piper apareceu trazendo uma garrafa do meu Sauvignon Blanc preferido e duas taças.— Aqui está o vinho, como prometido.— Você não faz ideia de como uma garrafa dessa me deixa feliz.— E está no ponto para gente conseguir aguentar esse calor.— Perfeito.— Será que podemos tomar o vinho na cozinha? Assim a gente pode conversar enquanto preparo um almoço rápido porque as crianças vão chegar morrendo de fome.— Só se eu puder te ajudar.— Combinado.Fomos para a cozinha e Piper serviu um pouco de vinho em cada taça antes
HENRIQUEEu vinha treinando todos os dias junto com o time oficial e ficava até depois da hora treinando sozinho que nem percebi o quão rápido a semana tinha passado e quando dei por mim, já era sexta-feira de novo.Estava saindo da arena depois de um treino pesado, do lado de fora o céu já estava escuro, quando meu celular começou a tocar. Rapidamente procurei o aparelho dentro da bolsa de equipamentos e vi o nome de Gabriel na tela.— Fala cara.— Está em casa, Henrique?— Saindo da arena agora. — Joguei a bolsa no porta-malas. — Por quê?— Eu acabei de ser avisado que amanhã terá um evento beneficiente do hospital das crianças com câncer com os jogadores do time.— Amanhã? Está falando sério?— Sim, é sério.— Que droga!— Você já tinha algum outro compromisso marcado?— Minha mãe tinha combinado de vir passar o final de semana comigo.— Pode levar ela com você.— Não dá para simplesmente fazer uma doação e me deixar de fora?— O presidente do time foi bem específico na mensagem qu
ISABELAEstava terminando de conferir alguns relatórios quando batidas na porta chamaram minha atenção. Ao erguer os olhos dos papéis, vi Cíntia entrar, trazendo um envelope colorido nas mãos.— Desculpa te interromper, mas acabou de chegar isso aqui para você.— O que é isso?— É o convite para o evento beneficente anual do Hospital do câncer infantil.— Ah, sim. — Posso confirmar sua presença?— Sem dúvida nenhuma.Cíntia saiu do meu escritório e então abri o envelope para dar uma olhada melhor no dia que seria e quase caí da cadeira quando vi que seria no dia seguinte. Eu teria que me virar para conseguir um horário no cabelereiro, na manicure, comprar um vestido decente e combinar com a babá para ficar com Nicolas.Disquei para a mesa de Cíntia e pedi que ela cancelasse todos os meus compromissos na parte da tarde. No horário do almoço, eu saí da empresa direto para o shopping, ter que comer alguma coisa na praça de alimentação.Passei pelas minhas lojas favoritas, experimentei v
HENRIQUEEu estava terminando de me vestir quando ouvi minha mãe avisar que Gabriel estava me ligando, falei para ela atender porque estava ocupado e em poucos segundos, ela bateu na porta.— Gabriel pediu para avisar que vai estar nos esperando na entrada do evento.— Tudo bem.— Ainda vai demorar muito aí?— Já estou terminando, mãe.Terminei de abotoar a camisa, retirei o paletó do cabide antes de, finalmente, sair do quarto. Encontrei minha mãe sentada no sofá da sala vendo algum programa de culinária na televisão e assim que notou minha presença, desligou a televisão e ficou de pé.— Como você está bonito.— Obrigado, mãe. A senhora também está muito bonita.— Tenho que estar a altura do melhor jogador de hóquei.— Vamos?— Sim!Quando chegamos à portaria, o motorista contratado por Gabriel já estava nos esperando com o carro na frente do prédio. A caminho do evento, o trânsito estava intenso e engarrafado, então aproveitei para responder algumas mensagens que tinha recebido do m
ISABELADentre todos os objetos que estavam disponíveis, acabei comprando uma pintura de colecionador por uma quantia exorbitante, mas era por uma boa causa. No momento em que a pista havia sido liberada, pensei em ir embora, mas ainda tinha que preencher o cheque para pagar pela pintura e organizar a entrega.Estava perdida em meus próprios pensamentos quando Henrique me convidou para uma dança, o certo seria dizer não, mas acabei aceitando para ver se ele tinha aprendido a dançar ou ainda era o mesmo desengoçado que era quando mais novo.Quando ficamos próximos o suficiente, ele passou um braço pela minha cintura e logo senti o cheiro de seu perfume. Um aroma delicioso, a mistura perfeita entre o amadeirado e cítrico. Henrique me conduziu com passos firmes e elegantes, nossos olhos, fixos um no outro, transmitindo uma conexão profunda e silenciosa.— Você está muito bonita esta noite, Isabela. — Ele comentou e pude sentir seu hálito quente contra a pele do meu pescoço.— Obrigada.—