ATUALMENTE
Eu esperava ter um final de semana tranquilo com meu filho, mas bastou uma ligação de Cíntia às oito da manhã para bagunçar tudo. Uma reunião de última hora com um atleta que estava atrás de um patrocínio e como a responsável pela empresa, não tinha outra opção a não ser comparecer.
Quando, finalmente, consegui chegar à empresa já passava das dez e meia da manhã. Tive que levar Nicolas junto comigo, afinal conseguir uma babá disponível de última hora era uma missão impossível e eu tinha dado folga à minha.
Fui direto para a minha sala, onde deixei meu filho distraído com um joguinho no tablet e Cíntia apareceu logo atrás de mim, estava esbaforida.
— Até que enfim você chegou, Isa.
— Não tenho culpa se você me ligou em cima da hora.
— Me desculpe por isso, mas o tal jogador de hóquei confirmou a presença de última hora ontem à noite.
— E onde ele está?
— Estão esperando na sala de reuniões.
— Ok. Vou precisar que fique de olho em Nicolas para mim e não o deixe sair dessa sala.
— Pode deixar.
Peguei meu notebook, os papéis que Cíntia tinha preparado, sem nem me importar em olhar as informações antes, e deixado sobre a minha mesa e fui correndo para a sala de reuniões. Antes de entrar, respirei fundo, me recompus e dei uma última ajeitada nos cabelos.
— Me desculpem pelo atraso — falei ao abrir a porta.
Quando olhei para as pessoas sentadas à minha frente, fiquei paralisada. Não podia ser verdade. Aquele homem sentado de forma relaxada na cadeira não podia ser o mesmo de oito anos atrás. Não podia ser Henrique. O barulho dos meus saltos chamou sua atenção e quando ele ergueu a cabeça, seus olhos encontraram os meus. Notei que estava tão surpreso quanto eu.
— Puta merda! — foi a primeira coisa que saiu da minha boca.
— Isabela?
Por muitas vezes eu me peguei imaginando como seria reencontrar Henrique depois de todos os anos separados, mas nunca imaginei que pudesse ser assim.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu vim para uma reunião com um possível patrocinador e o que você está fazendo aqui?
— Essa é a minha empresa.
— Esperem um minuto. Vocês se conhecem? — perguntou o homem ao lado dele.
— Longa história, Gabriel.
Antes que um de nós dois pudesse falar mais alguma coisa, Cíntia apareceu, trazendo uma bandeja com café, água e alguns snacks. Pedi um minuto e me retirei da sala, praticamente arrastando minha melhor amiga para fora.
— Por que você fez isso?
— Ele estava precisando de um patrocinador, vocês precisavam conversar então só adiantei e uni o útil ao agradável.
— Você sabe que não me engana. Por que armou tudo isso?
— Eu só queria ajudar.
— Acontece que não está me ajudando e sim, trazendo mais um problema para a minha vida.
— Nicolas já tem idade suficiente para saber quem é o pai dele.
— Você, mais do que ninguém, sabe que Nicolas não precisa do pai na vida dele.
— Isa, para de ser egoísta. — Ela trincou o maxilar. — Você sabe o quão difícil é crescer sem saber quem é o seu próprio pai?
Permaneci calada. Eu não sabia o que era não ter um pai presente, mas sabia que ter um pai que não liga para os filhos poderia trazer ainda mais desgraça para a vida de uma criança.
— Desculpa, eu não devia ter falado isso.
— Você tem razão, Cíntia. Eu não sei como é não ter um pai, mas eu sei o que é melhor para o meu filho e que nesse momento, é não saber quem é o pai.
Deixei-a sozinha e voltei para a sala de reuniões, decidida a ser o mais profissional que conseguisse sem deixar que o fato do homem sentado à minha frente ser o pai do meu filho e o quanto estava me deixando tensa. Saber que Nicolas e Henrique estavam no mesmo prédio, separados apenas por algumas paredes, me deixava extremamente desconfortável e com medo.
HENRIQUE TROVATO
Desde que voltei para os Rangers de Nova York, muita coisa boa tem acontecido na minha vida e tenho conseguido trazer muitos patrocinadores novos para o time, afinal, modéstia parte, eu sou um grande jogador e me ter no time é quase uma garantia de vitória sempre.
Hoje era para ser só mais um dia normal de reunião com um possível patrocinador, que segundo o meu agente, era de uma empresa muito bem-sucedida então eu tinha que passar uma boa impressão e garantir a parceria.
Assim que chegamos à tal empresa, fiquei surpreso ao me deparar um imponente arranha-céu todo recoberto de espelhos. Nos identificamos na recepção e, rapidamente, fomos levados até o quinquagésimo andar para uma enorme sala de reuniões, com uma bela vista da cidade.
Eu estava um pouco nervoso, apesar de ter o meu discurso na ponta da língua. Olhei o relógio em meu pulso e constatei que a pessoa estava atrasada fazia uns dez minutos. Eu odiava atrasos. Tentei distrair minha mente conversando com Gabriel e admirando a vista que tinha dali.
Quando a porta foi aberta, o barulho de salto alto contra o chão despertou minha atenção e quase caí da cadeira quando ergui os olhos e vi quem tinha entrado. Eu seria capaz de reconhecer aqueles olhos mesmo estando no meio de uma multidão. Era Isabela.
Oito anos depois e bem diante de mim, estava a mulher por quem tinha sido abandonado logo depois da formatura. lsabela estava ainda mais linda do que quando nos conhecemos. Seus cabelos agora estavam loiros e levemente ondulados, mas seus olhos ainda tinham o mesmo brilho de quando a vi pela primeira vez e os lábios fartos, que costumavam ser só meus, estavam tingidos por um batom vermelho.
As roupas elegantes que ela estava usando, não me permitia ver muita coisa, mas dava para ver que estava mais curvilínea. Os saltos pretos sempre a deixavam mais sexy.
Fiquei sem palavras quando descobri que ela era a dona daquela empresa. Oito anos separados e ela simplesmente tinha passado de uma garota inocente para dona de uma empresa milionária. Tinha que admitir que todos esses anos tinham feito muito bem a ela.
Durante toda a reunião, tentei afastar quaisquer pensamentos inapropriados que atrapalhassem minha concentração. Não podia correr o risco de perder esse patrocínio. Quando finalmente assinamos o acordo, estranhei que Isabela recolheu os papéis e os seus pertences e saiu da sala apressada, quase como se estivesse fugindo de mim.
— Está feliz por ter conseguido a parceria? — Meu agente e melhor amigo quis saber, me trazendo de volta à realidade.
— Com certeza.
— E você vai ter que me contar como conhece a Sra. Isabela.
ISABELADepois que saí da sala de reuniões, voltei direto para a minha sala, onde encontrei Nicolas concentrado enquanto jogava no tablet enquanto usava fones de ouvido. Abracei meu filho tão apertado que ele reclamou para soltá-lo. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pesadelo estava de volta.Ouvi duas batidas na porta e logo Cíntia colocou a cabeça para dentro. Sua expressão era de total arrependimento e eu estava mesmo furiosa com ela. Depois de tudo o que eu passei sozinha, me virando como dava para trabalhar e criar o meu filho, ela ainda teve a ousadia de trazer Henrique de volta para minha vida.— Isa, eu queria te pedir desculpas, eu...— Só preciso que você me responda uma pergunta. — Interrompi sua fala.— Tá bom.— Você sabia que era ele que estaria na reunião desde o início?— Sim, mas... Eu achei que seria bom esse reencontro entre vocês.— Bom para quem? Você é a única pessoa que sabe de toda a verdade, que acompanhou tudo o que eu tive que passar.— Eu... Só estava
HENRIQUEDepois que Gabriel e eu saímos da sala de reuniões da empresa, tinha meus pensamentos longe. Reencontrar Isabela depois de tantos anos mexeu com a minha cabeça e trouxe de volta sentimentos que estavam enterrados no fundo do meu coração.— Está tudo bem, cara? — Gabriel perguntou quando já estávamos dentro do elevador.— Sim.— Feliz por ter conseguido mais um patrocinador?— Pode apostar que sim.Estava parado junto ao carro esperando Gabriel voltar do caixa eletrônico quando vi Isabela sair pelo estacionamento, mas ela não estava sozinha, havia um garotinho com ela. Então ela havia tido um filho nesses oito anos que ficamos separados. Eu tinha muitas perguntas rodeando minha cabeça e faria de tudo para descobrir a resposta para todas elas.Como ela não tinha me visto, aproveitei para ficar espiando um pouco mais pelo vidro do restaurante. Isa parecia feliz com a vida que tinha. Eu precisava saber mais sobre ela e a vida que tinha. Peguei meu celular e procurei por ela nas re
ISABELAPoder desabafar com Cíntia me tirou um peso enorme das costas, mesmo que ela tivesse sido a responsável por trazer o problema de volta para minha vida. Ela era a única pessoa que sabia de tudo, por isso, podia contar tudo relacionado a Henrique, até mesmo os meus medos e as inseguranças.Depois que minha melhor amiga foi embora, recolhi as taças usadas e a garrafa de vinho vazia e levei tudo para a cozinha. A caminho do quarto, aproveitei para dar uma olhada no quarto de Nicolas. Meu filho dormia como um anjinho, não resisti e entrei no quarto, me aproximando da cama, depositei um beijo em sua cabeleira antes de sair e fechar a porta.Enchi a banheira com alguns sais de banho e me permiti um momento de descanso antes de finalmente ir para cama. O dia tinha sido complicado e eu precisava relaxar. Pego o romance que sempre deixo por ali e começo a folhear o livro.Algumas horas depois, quando, finalmente, fui para cama, já sentia os olhos pesados, então só me troquei e me aconch
HENRIQUEDesde que assinei o contrato com o time e vim parar nessa cidade, meu agente me fez concordar em ser voluntário em uma escolinha de hóquei para crianças. Já fazia uma semana que eu tinha começado a ir na escola escolhida por ele, eu não fazia nada além de ficar sentado na arquibancada vendo o treinador coordenar aquele bando de meninos com idades variadas.Era domingo, um dia que poderia passar descansando, mas tinha compromisso, afinal, era o primeiro jogo da vida daqueles garotos e, eu tinha sido convocado, mais como um apoio moral e inspiração para eles, já que a grande maioria deles, era meu fã.Por causa do trânsito, acabei chegando na arena uns vinte minutos depois do horário combinado com o treinador do pequeno time e fui me juntar à eles no vestiário, que, por sinal, estava um verdadeira cacofonia. Acabei decidindo esperar do lado de fora para não tumultuar ainda mais.De onde eu estava, conseguia ver a arena se enchendo com os familiares dos jogadores mirins e foi in
ISABELADepois do encontro inesperado com Henrique no estacionamento da arena, dei graças a Deus quando Piper e o marido apareceram. James levou os meninos para o tal passeio divertido que ele tinha programado então ofereci carona para Piper já que eu iria para casa dela.Quando chegamos, estacionei o carro na entrada da garagem dela e entramos. A casa estava silenciosa o que era uma benção depois de toda a gritaria durante o jogo na arena. Estava sentada no sofá quando Piper apareceu trazendo uma garrafa do meu Sauvignon Blanc preferido e duas taças.— Aqui está o vinho, como prometido.— Você não faz ideia de como uma garrafa dessa me deixa feliz.— E está no ponto para gente conseguir aguentar esse calor.— Perfeito.— Será que podemos tomar o vinho na cozinha? Assim a gente pode conversar enquanto preparo um almoço rápido porque as crianças vão chegar morrendo de fome.— Só se eu puder te ajudar.— Combinado.Fomos para a cozinha e Piper serviu um pouco de vinho em cada taça antes
HENRIQUEEu vinha treinando todos os dias junto com o time oficial e ficava até depois da hora treinando sozinho que nem percebi o quão rápido a semana tinha passado e quando dei por mim, já era sexta-feira de novo.Estava saindo da arena depois de um treino pesado, do lado de fora o céu já estava escuro, quando meu celular começou a tocar. Rapidamente procurei o aparelho dentro da bolsa de equipamentos e vi o nome de Gabriel na tela.— Fala cara.— Está em casa, Henrique?— Saindo da arena agora. — Joguei a bolsa no porta-malas. — Por quê?— Eu acabei de ser avisado que amanhã terá um evento beneficiente do hospital das crianças com câncer com os jogadores do time.— Amanhã? Está falando sério?— Sim, é sério.— Que droga!— Você já tinha algum outro compromisso marcado?— Minha mãe tinha combinado de vir passar o final de semana comigo.— Pode levar ela com você.— Não dá para simplesmente fazer uma doação e me deixar de fora?— O presidente do time foi bem específico na mensagem qu
ISABELAEstava terminando de conferir alguns relatórios quando batidas na porta chamaram minha atenção. Ao erguer os olhos dos papéis, vi Cíntia entrar, trazendo um envelope colorido nas mãos.— Desculpa te interromper, mas acabou de chegar isso aqui para você.— O que é isso?— É o convite para o evento beneficente anual do Hospital do câncer infantil.— Ah, sim. — Posso confirmar sua presença?— Sem dúvida nenhuma.Cíntia saiu do meu escritório e então abri o envelope para dar uma olhada melhor no dia que seria e quase caí da cadeira quando vi que seria no dia seguinte. Eu teria que me virar para conseguir um horário no cabelereiro, na manicure, comprar um vestido decente e combinar com a babá para ficar com Nicolas.Disquei para a mesa de Cíntia e pedi que ela cancelasse todos os meus compromissos na parte da tarde. No horário do almoço, eu saí da empresa direto para o shopping, ter que comer alguma coisa na praça de alimentação.Passei pelas minhas lojas favoritas, experimentei v
HENRIQUEEu estava terminando de me vestir quando ouvi minha mãe avisar que Gabriel estava me ligando, falei para ela atender porque estava ocupado e em poucos segundos, ela bateu na porta.— Gabriel pediu para avisar que vai estar nos esperando na entrada do evento.— Tudo bem.— Ainda vai demorar muito aí?— Já estou terminando, mãe.Terminei de abotoar a camisa, retirei o paletó do cabide antes de, finalmente, sair do quarto. Encontrei minha mãe sentada no sofá da sala vendo algum programa de culinária na televisão e assim que notou minha presença, desligou a televisão e ficou de pé.— Como você está bonito.— Obrigado, mãe. A senhora também está muito bonita.— Tenho que estar a altura do melhor jogador de hóquei.— Vamos?— Sim!Quando chegamos à portaria, o motorista contratado por Gabriel já estava nos esperando com o carro na frente do prédio. A caminho do evento, o trânsito estava intenso e engarrafado, então aproveitei para responder algumas mensagens que tinha recebido do m