Capítulo 2

ATUALMENTE

Eu esperava ter um final de semana tranquilo com meu filho, mas bastou uma ligação de Cíntia às oito da manhã para bagunçar tudo. Uma reunião de última hora com um atleta que estava atrás de um patrocínio e como a responsável pela empresa, não tinha outra opção a não ser comparecer.

Quando, finalmente, consegui chegar à empresa já passava das dez e meia da manhã. Tive que levar Nicolas junto comigo, afinal conseguir uma babá disponível de última hora era uma missão impossível e eu tinha dado folga à minha.

Fui direto para a minha sala, onde deixei meu filho distraído com um joguinho no tablet e Cíntia apareceu logo atrás de mim, estava esbaforida.

— Até que enfim você chegou, Isa.

— Não tenho culpa se você me ligou em cima da hora.

— Me desculpe por isso, mas o tal jogador de hóquei confirmou a presença de última hora ontem à noite.

— E onde ele está?

— Estão esperando na sala de reuniões.

— Ok. Vou precisar que fique de olho em Nicolas para mim e não o deixe sair dessa sala.

— Pode deixar.

Peguei meu notebook, os papéis que Cíntia tinha preparado, sem nem me importar em olhar as informações antes, e deixado sobre a minha mesa e fui correndo para a sala de reuniões. Antes de entrar, respirei fundo, me recompus e dei uma última ajeitada nos cabelos.

— Me desculpem pelo atraso — falei ao abrir a porta.

Quando olhei para as pessoas sentadas à minha frente, fiquei paralisada. Não podia ser verdade. Aquele homem sentado de forma relaxada na cadeira não podia ser o mesmo de oito anos atrás. Não podia ser Henrique. O barulho dos meus saltos chamou sua atenção e quando ele ergueu a cabeça, seus olhos encontraram os meus. Notei que estava tão surpreso quanto eu.

— Puta merda! — foi a primeira coisa que saiu da minha boca.

—  Isabela?

Por muitas vezes eu me peguei imaginando como seria reencontrar Henrique depois de todos os anos separados, mas nunca imaginei que pudesse ser assim.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu vim para uma reunião com um possível patrocinador e o que você está fazendo aqui?

— Essa é a minha empresa.

— Esperem um minuto. Vocês se conhecem? — perguntou o homem ao lado dele.

— Longa história, Gabriel.

Antes que um de nós dois pudesse falar mais alguma coisa, Cíntia apareceu, trazendo uma bandeja com café, água e alguns snacks. Pedi um minuto e me retirei da sala, praticamente arrastando minha melhor amiga para fora.

— Por que você fez isso?

— Ele estava precisando de um patrocinador, vocês precisavam conversar então só adiantei e uni o útil ao agradável.

— Você sabe que não me engana. Por que armou tudo isso?

— Eu só queria ajudar.

— Acontece que não está me ajudando e sim, trazendo mais um problema para a minha vida.

— Nicolas já tem idade suficiente para saber quem é o pai dele.

— Você, mais do que ninguém, sabe que Nicolas não precisa do pai na vida dele.

— Isa, para de ser egoísta. — Ela trincou o maxilar. — Você sabe o quão difícil é crescer sem saber quem é o seu próprio pai?

Permaneci calada. Eu não sabia o que era não ter um pai presente, mas sabia que ter um pai que não liga para os filhos poderia trazer ainda mais desgraça para a vida de uma criança.

— Desculpa, eu não devia ter falado isso.

— Você tem razão, Cíntia. Eu não sei como é não ter um pai, mas eu sei o que é melhor para o meu filho e que nesse momento, é não saber quem é o pai.

Deixei-a sozinha e voltei para a sala de reuniões, decidida a ser o mais profissional que conseguisse sem deixar que o fato do homem sentado à minha frente ser o pai do meu filho e o quanto estava me deixando tensa. Saber que Nicolas e Henrique estavam no mesmo prédio, separados apenas por algumas paredes, me deixava extremamente desconfortável e com medo.

HENRIQUE TROVATO

Desde que voltei para os Rangers de Nova York, muita coisa boa tem acontecido na minha vida e tenho conseguido trazer muitos patrocinadores novos para o time, afinal, modéstia parte, eu sou um grande jogador e me ter no time é quase uma garantia de vitória sempre.

Hoje era para ser só mais um dia normal de reunião com um possível patrocinador, que segundo o meu agente, era de uma empresa muito bem-sucedida então eu tinha que passar uma boa impressão e garantir a parceria.

Assim que chegamos à tal empresa, fiquei surpreso ao me deparar um imponente arranha-céu todo recoberto de espelhos. Nos identificamos na recepção e, rapidamente, fomos levados até o quinquagésimo andar para uma enorme sala de reuniões, com uma bela vista da cidade.

Eu estava um pouco nervoso, apesar de ter o meu discurso na ponta da língua. Olhei o relógio em meu pulso e constatei que a pessoa estava atrasada fazia uns dez minutos. Eu odiava atrasos. Tentei distrair minha mente conversando com Gabriel e admirando a vista que tinha dali.

Quando a porta foi aberta, o barulho de salto alto contra o chão despertou minha atenção e quase caí da cadeira quando ergui os olhos e vi quem tinha entrado. Eu seria capaz de reconhecer aqueles olhos mesmo estando no meio de uma multidão. Era Isabela.

Oito anos depois e bem diante de mim, estava a mulher por quem tinha sido abandonado logo depois da formatura. lsabela estava ainda mais linda do que quando nos conhecemos. Seus cabelos agora estavam loiros e levemente ondulados, mas seus olhos ainda tinham o mesmo brilho de quando a vi pela primeira vez e os lábios fartos, que costumavam ser só meus, estavam tingidos por um batom vermelho.

As roupas elegantes que ela estava usando, não me permitia ver muita coisa, mas dava para ver que estava mais curvilínea. Os saltos pretos sempre a deixavam mais sexy.

Fiquei sem palavras quando descobri que ela era a dona daquela empresa. Oito anos separados e ela simplesmente tinha passado de uma garota inocente para dona de uma empresa milionária. Tinha que admitir que todos esses anos tinham feito muito bem a ela.

Durante toda a reunião, tentei afastar quaisquer pensamentos inapropriados que atrapalhassem minha concentração. Não podia correr o risco de perder esse patrocínio. Quando finalmente assinamos o acordo, estranhei que Isabela recolheu os papéis e os seus pertences e saiu da sala apressada, quase como se estivesse fugindo de mim.

— Está feliz por ter conseguido a parceria? — Meu agente e melhor amigo quis saber, me trazendo de volta à realidade.

— Com certeza.

— E você vai ter que me contar como conhece a Sra. Isabela.

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