Capítulo 4

HENRIQUE

Depois que Gabriel e eu saímos da sala de reuniões da empresa, tinha meus pensamentos longe. Reencontrar Isabela depois de tantos anos mexeu com a minha cabeça e trouxe de volta sentimentos que estavam enterrados no fundo do meu coração.

— Está tudo bem, cara? — Gabriel perguntou quando já estávamos dentro do elevador.

— Sim.

— Feliz por ter conseguido mais um patrocinador?

— Pode apostar que sim.

Estava parado junto ao carro esperando Gabriel voltar do caixa eletrônico quando vi Isabela sair pelo estacionamento, mas ela não estava sozinha, havia um garotinho com ela. Então ela havia tido um filho nesses oito anos que ficamos separados. Eu tinha muitas perguntas rodeando minha cabeça e faria de tudo para descobrir a resposta para todas elas.

Como ela não tinha me visto, aproveitei para ficar espiando um pouco mais pelo vidro do restaurante. Isa parecia feliz com a vida que tinha. Eu precisava saber mais sobre ela e a vida que tinha. Peguei meu celular e procurei por ela nas redes sociais, para minha infelicidade, o perfil dela era fechado e ela precisaria aceitar para que eu tivesse acesso e fazendo isso, ela saberia que eu estava vasculhando a vida dela.

— Podemos ir agora?

— Claro. Só quero chegar em casa logo.

Guardei o celular de volta no bolso traseiro da calça e entrei no carro. Gabriel era meu agente, mas também o meu melhor amigo e me conhecia tão bem quanto eu mesmo, por isso nem me incomodei quando ele começou a fazer perguntas sobre Isabela e de onde eu a conhecia.

— Podemos conversar sobre quando chegarmos na minha casa? Eu não posso falar sobre isso sem um copo de uísque.

— Tudo bem, mas você vai ter que me contar tudo, até porque preciso estar preparado para caso aconteça alguma coisa e você não perca essa parceria.

Durante o restante do caminho até meu apartamento, Gabriel respeitou meu pedido e não comentou mais nada sobre Isa. Foi só colocar o pé dentro de casa, que ele voltou ao assunto. Eu esperava ter um pouco mais de tempo para conseguir assimilar que tinha reencontrado a única mulher que amei de verdade.

— Pode ir abrindo o bico e me contando tudo. — Ele pediu enquanto se jogava no meu sofá e eu seguia até o carrinho de bebidas.

— Eu conheço a Isabela desde a faculdade.

— Diante da sua reação quando a viu entrar naquela sala, não foi só isso que aconteceu entre vocês, não é mesmo?

Servi duas doses de uísque e fui me sentar no sofá com ele. Beberiquei o líquido em meu copo e então, resolvi desabafar:

— Eu conheci Isa durante o nosso primeiro ano na faculdade, eu fazia direito e ela cursava administração de empresas, mas tínhamos algumas aulas juntos. Foi amor à primeira vista, mas ela era uma garota muito tímida e demorou a aceitar que eu realmente gostava dela.

— Essa história está ficando cada vez melhor.

— Quando eu finalmente consegui convencer ela de que o que eu sentia era verdadeiro, foi o melhor dia da minha vida, ela me permitiu beijá-la. Ela sempre ia aos meus jogos, era bom ver ela torcer por mim.

— E a sua família aceitou ela?

— Minha mãe achava que era só um namorico, que logo ia passar, já o meu pai, acolheu Isa como a filha que ele não teve. Ela estava sempre comigo, passávamos horas e horas conversando sem a menor necessidade de sexo até que, finalmente, aconteceu e foi surreal.

— E depois?

— Acontece que poucas horas depois da nossa formatura, ela pediu para encontrá-la no parque e terminou tudo entre a gente. Eu fiquei com muita raiva dela na época porque tinha vários planos para nós dois.

— E como se sente vendo ela de novo depois de oito anos separados?

— Não sei, cara. Por um lado estou feliz por poder revê-la depois de tantos anos, saber que ela está bem e que conseguiu realizar seu sonho de ter sua própria empresa, mas também estou sentindo um pouco de raiva pelo que ela fez comigo no passado.

— Eu te entendo, mas já parou para pensar que ela pode ter feito isso porque era o melhor para sua carreira?

— Muitas coisas se passaram na minha cabeça quando ela terminou e isso me fez dar o meu melhor no hóquei.

— Talvez por isso você seja o melhor jogador da NHL atualmente.

— Você tem razão. Talvez eu devesse agradecer ela.

— E você já pensou em fazer isso pessoalmente?

— Não sei se é uma boa ideia, não.

— E por que não?

— Porque ela tem uma família e eu não quero arrumar confusão.

— Como você sabe disso?

— Eu vi ela saindo do prédio segurando a mão de um garotinho.

Gabriel deixou o copo em cima da mesinha de centro e pegou o próprio celular e comeeçou a digitar alguma coisa.

— O que está fazendo?

— Procurando ela nas redes sociais.

— Eu já fiz isso, mas o perfil dela é privado.

No momento em que Gabriel virou a tela do celular em minha direção, vi que ele tinha acesso ao perfil de Isa.

— Parece que alguém aqui é bloqueado nas redes sociais da madame.

Peguei o celular da sua mão e comecei a olhar suas postagens. Na maioria das fotos postadas ela estava sozinha, com o garotinho ou com a sua secretária, provavelmente são amigas, mas não havia nenhuma foto com um homem. Ela não era casada e pelo que parecia não havia ninguém em sua vida.

— Será que pode me devolver o meu celular, por favor?

Devolvi o aparelho para Gabriel e terminei de tomar o uísque do meu copo de uma só vez.

— Vai com calma na bebida, cinderelo. Você tem um jogo amanhã.

— Eu sei.

— Bom, agora vou ter que te deixar, afinal, minha esposa está me esperando para o almoço.

— Fala para Daphene que enviei um abraço para ela.

— Pode deixar que falo sim e você vá descansar, nada de fazer coisas erradas.

— Nunca fiz.

Ele saiu do meu apartamento e fui para o quarto, onde me joguei na cama e apaguei por horas. Quando voltei a abrir os olhos, o relógio de cabeceira já marcava oito da noite, troquei de roupa e desci para a academia do prédio, treinaria um pouco antes de voltar para a cama.

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