HENRIQUE
Depois que Gabriel e eu saímos da sala de reuniões da empresa, tinha meus pensamentos longe. Reencontrar Isabela depois de tantos anos mexeu com a minha cabeça e trouxe de volta sentimentos que estavam enterrados no fundo do meu coração.
— Está tudo bem, cara? — Gabriel perguntou quando já estávamos dentro do elevador.
— Sim.
— Feliz por ter conseguido mais um patrocinador?
— Pode apostar que sim.
Estava parado junto ao carro esperando Gabriel voltar do caixa eletrônico quando vi Isabela sair pelo estacionamento, mas ela não estava sozinha, havia um garotinho com ela. Então ela havia tido um filho nesses oito anos que ficamos separados. Eu tinha muitas perguntas rodeando minha cabeça e faria de tudo para descobrir a resposta para todas elas.
Como ela não tinha me visto, aproveitei para ficar espiando um pouco mais pelo vidro do restaurante. Isa parecia feliz com a vida que tinha. Eu precisava saber mais sobre ela e a vida que tinha. Peguei meu celular e procurei por ela nas redes sociais, para minha infelicidade, o perfil dela era fechado e ela precisaria aceitar para que eu tivesse acesso e fazendo isso, ela saberia que eu estava vasculhando a vida dela.
— Podemos ir agora?
— Claro. Só quero chegar em casa logo.
Guardei o celular de volta no bolso traseiro da calça e entrei no carro. Gabriel era meu agente, mas também o meu melhor amigo e me conhecia tão bem quanto eu mesmo, por isso nem me incomodei quando ele começou a fazer perguntas sobre Isabela e de onde eu a conhecia.
— Podemos conversar sobre quando chegarmos na minha casa? Eu não posso falar sobre isso sem um copo de uísque.
— Tudo bem, mas você vai ter que me contar tudo, até porque preciso estar preparado para caso aconteça alguma coisa e você não perca essa parceria.
Durante o restante do caminho até meu apartamento, Gabriel respeitou meu pedido e não comentou mais nada sobre Isa. Foi só colocar o pé dentro de casa, que ele voltou ao assunto. Eu esperava ter um pouco mais de tempo para conseguir assimilar que tinha reencontrado a única mulher que amei de verdade.
— Pode ir abrindo o bico e me contando tudo. — Ele pediu enquanto se jogava no meu sofá e eu seguia até o carrinho de bebidas.
— Eu conheço a Isabela desde a faculdade.
— Diante da sua reação quando a viu entrar naquela sala, não foi só isso que aconteceu entre vocês, não é mesmo?
Servi duas doses de uísque e fui me sentar no sofá com ele. Beberiquei o líquido em meu copo e então, resolvi desabafar:
— Eu conheci Isa durante o nosso primeiro ano na faculdade, eu fazia direito e ela cursava administração de empresas, mas tínhamos algumas aulas juntos. Foi amor à primeira vista, mas ela era uma garota muito tímida e demorou a aceitar que eu realmente gostava dela.
— Essa história está ficando cada vez melhor.
— Quando eu finalmente consegui convencer ela de que o que eu sentia era verdadeiro, foi o melhor dia da minha vida, ela me permitiu beijá-la. Ela sempre ia aos meus jogos, era bom ver ela torcer por mim.
— E a sua família aceitou ela?
— Minha mãe achava que era só um namorico, que logo ia passar, já o meu pai, acolheu Isa como a filha que ele não teve. Ela estava sempre comigo, passávamos horas e horas conversando sem a menor necessidade de sexo até que, finalmente, aconteceu e foi surreal.
— E depois?
— Acontece que poucas horas depois da nossa formatura, ela pediu para encontrá-la no parque e terminou tudo entre a gente. Eu fiquei com muita raiva dela na época porque tinha vários planos para nós dois.
— E como se sente vendo ela de novo depois de oito anos separados?
— Não sei, cara. Por um lado estou feliz por poder revê-la depois de tantos anos, saber que ela está bem e que conseguiu realizar seu sonho de ter sua própria empresa, mas também estou sentindo um pouco de raiva pelo que ela fez comigo no passado.
— Eu te entendo, mas já parou para pensar que ela pode ter feito isso porque era o melhor para sua carreira?
— Muitas coisas se passaram na minha cabeça quando ela terminou e isso me fez dar o meu melhor no hóquei.
— Talvez por isso você seja o melhor jogador da NHL atualmente.
— Você tem razão. Talvez eu devesse agradecer ela.
— E você já pensou em fazer isso pessoalmente?
— Não sei se é uma boa ideia, não.
— E por que não?
— Porque ela tem uma família e eu não quero arrumar confusão.
— Como você sabe disso?
— Eu vi ela saindo do prédio segurando a mão de um garotinho.
Gabriel deixou o copo em cima da mesinha de centro e pegou o próprio celular e comeeçou a digitar alguma coisa.
— O que está fazendo?
— Procurando ela nas redes sociais.
— Eu já fiz isso, mas o perfil dela é privado.
No momento em que Gabriel virou a tela do celular em minha direção, vi que ele tinha acesso ao perfil de Isa.
— Parece que alguém aqui é bloqueado nas redes sociais da madame.
Peguei o celular da sua mão e comecei a olhar suas postagens. Na maioria das fotos postadas ela estava sozinha, com o garotinho ou com a sua secretária, provavelmente são amigas, mas não havia nenhuma foto com um homem. Ela não era casada e pelo que parecia não havia ninguém em sua vida.
— Será que pode me devolver o meu celular, por favor?
Devolvi o aparelho para Gabriel e terminei de tomar o uísque do meu copo de uma só vez.
— Vai com calma na bebida, cinderelo. Você tem um jogo amanhã.
— Eu sei.
— Bom, agora vou ter que te deixar, afinal, minha esposa está me esperando para o almoço.
— Fala para Daphene que enviei um abraço para ela.
— Pode deixar que falo sim e você vá descansar, nada de fazer coisas erradas.
— Nunca fiz.
Ele saiu do meu apartamento e fui para o quarto, onde me joguei na cama e apaguei por horas. Quando voltei a abrir os olhos, o relógio de cabeceira já marcava oito da noite, troquei de roupa e desci para a academia do prédio, treinaria um pouco antes de voltar para a cama.
ISABELAPoder desabafar com Cíntia me tirou um peso enorme das costas, mesmo que ela tivesse sido a responsável por trazer o problema de volta para minha vida. Ela era a única pessoa que sabia de tudo, por isso, podia contar tudo relacionado a Henrique, até mesmo os meus medos e as inseguranças.Depois que minha melhor amiga foi embora, recolhi as taças usadas e a garrafa de vinho vazia e levei tudo para a cozinha. A caminho do quarto, aproveitei para dar uma olhada no quarto de Nicolas. Meu filho dormia como um anjinho, não resisti e entrei no quarto, me aproximando da cama, depositei um beijo em sua cabeleira antes de sair e fechar a porta.Enchi a banheira com alguns sais de banho e me permiti um momento de descanso antes de finalmente ir para cama. O dia tinha sido complicado e eu precisava relaxar. Pego o romance que sempre deixo por ali e começo a folhear o livro.Algumas horas depois, quando, finalmente, fui para cama, já sentia os olhos pesados, então só me troquei e me aconch
HENRIQUEDesde que assinei o contrato com o time e vim parar nessa cidade, meu agente me fez concordar em ser voluntário em uma escolinha de hóquei para crianças. Já fazia uma semana que eu tinha começado a ir na escola escolhida por ele, eu não fazia nada além de ficar sentado na arquibancada vendo o treinador coordenar aquele bando de meninos com idades variadas.Era domingo, um dia que poderia passar descansando, mas tinha compromisso, afinal, era o primeiro jogo da vida daqueles garotos e, eu tinha sido convocado, mais como um apoio moral e inspiração para eles, já que a grande maioria deles, era meu fã.Por causa do trânsito, acabei chegando na arena uns vinte minutos depois do horário combinado com o treinador do pequeno time e fui me juntar à eles no vestiário, que, por sinal, estava um verdadeira cacofonia. Acabei decidindo esperar do lado de fora para não tumultuar ainda mais.De onde eu estava, conseguia ver a arena se enchendo com os familiares dos jogadores mirins e foi in
ISABELADepois do encontro inesperado com Henrique no estacionamento da arena, dei graças a Deus quando Piper e o marido apareceram. James levou os meninos para o tal passeio divertido que ele tinha programado então ofereci carona para Piper já que eu iria para casa dela.Quando chegamos, estacionei o carro na entrada da garagem dela e entramos. A casa estava silenciosa o que era uma benção depois de toda a gritaria durante o jogo na arena. Estava sentada no sofá quando Piper apareceu trazendo uma garrafa do meu Sauvignon Blanc preferido e duas taças.— Aqui está o vinho, como prometido.— Você não faz ideia de como uma garrafa dessa me deixa feliz.— E está no ponto para gente conseguir aguentar esse calor.— Perfeito.— Será que podemos tomar o vinho na cozinha? Assim a gente pode conversar enquanto preparo um almoço rápido porque as crianças vão chegar morrendo de fome.— Só se eu puder te ajudar.— Combinado.Fomos para a cozinha e Piper serviu um pouco de vinho em cada taça antes
HENRIQUEEu vinha treinando todos os dias junto com o time oficial e ficava até depois da hora treinando sozinho que nem percebi o quão rápido a semana tinha passado e quando dei por mim, já era sexta-feira de novo.Estava saindo da arena depois de um treino pesado, do lado de fora o céu já estava escuro, quando meu celular começou a tocar. Rapidamente procurei o aparelho dentro da bolsa de equipamentos e vi o nome de Gabriel na tela.— Fala cara.— Está em casa, Henrique?— Saindo da arena agora. — Joguei a bolsa no porta-malas. — Por quê?— Eu acabei de ser avisado que amanhã terá um evento beneficiente do hospital das crianças com câncer com os jogadores do time.— Amanhã? Está falando sério?— Sim, é sério.— Que droga!— Você já tinha algum outro compromisso marcado?— Minha mãe tinha combinado de vir passar o final de semana comigo.— Pode levar ela com você.— Não dá para simplesmente fazer uma doação e me deixar de fora?— O presidente do time foi bem específico na mensagem qu
OITO ANOS ATRÁSEu me apaixonei por Henrique Trovato.Henrique era um filho da puta sortudo. Um cara popular que vivia rodeado de garotas como todos os seus companheiros do time de hóquei, mas, que, por algum motivo, acabou se apaixonando por mim. Eu era Isabela, só uma garota comum e ele o melhor jogador do time da faculdade.Era comum ouvir pelos corredores que seu desempenho durante os jogos era notável, que ele tinha o mundo nos patins e uma carreira promissora se seguisse jogando depois da formatura. Eu tinha que admitir que ele era mesmo um ótimo jogador e totalmente diferente do estereótipo de jogador popular.Apesar clara diferença entre a gente, Henrique acabou me conquistando e se tornando o meu mundo em pouco tempo. Tentávamos passar o maior tempo possível juntos, já que a rotina dele era atribulada demais. Treinos, estudos extras, aulas e os jogos.Pensei que esse seria o meu final feliz, mas eu era jovem e tola. Depois da formatura, por conta de uma decisão errada, destru
ATUALMENTEEu esperava ter um final de semana tranquilo com meu filho, mas bastou uma ligação de Cíntia às oito da manhã para bagunçar tudo. Uma reunião de última hora com um atleta que estava atrás de um patrocínio e como a responsável pela empresa, não tinha outra opção a não ser comparecer.Quando, finalmente, consegui chegar à empresa já passava das dez e meia da manhã. Tive que levar Nicolas junto comigo, afinal conseguir uma babá disponível de última hora era uma missão impossível e eu tinha dado folga à minha.Fui direto para a minha sala, onde deixei meu filho distraído com um joguinho no tablet e Cíntia apareceu logo atrás de mim, estava esbaforida.— Até que enfim você chegou, Isa.— Não tenho culpa se você me ligou em cima da hora.— Me desculpe por isso, mas o tal jogador de hóquei confirmou a presença de última hora ontem à noite.— E onde ele está?— Estão esperando na sala de reuniões.— Ok. Vou precisar que fique de olho em Nicolas para mim e não o deixe sair dessa sal
ISABELADepois que saí da sala de reuniões, voltei direto para a minha sala, onde encontrei Nicolas concentrado enquanto jogava no tablet enquanto usava fones de ouvido. Abracei meu filho tão apertado que ele reclamou para soltá-lo. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pesadelo estava de volta.Ouvi duas batidas na porta e logo Cíntia colocou a cabeça para dentro. Sua expressão era de total arrependimento e eu estava mesmo furiosa com ela. Depois de tudo o que eu passei sozinha, me virando como dava para trabalhar e criar o meu filho, ela ainda teve a ousadia de trazer Henrique de volta para minha vida.— Isa, eu queria te pedir desculpas, eu...— Só preciso que você me responda uma pergunta. — Interrompi sua fala.— Tá bom.— Você sabia que era ele que estaria na reunião desde o início?— Sim, mas... Eu achei que seria bom esse reencontro entre vocês.— Bom para quem? Você é a única pessoa que sabe de toda a verdade, que acompanhou tudo o que eu tive que passar.— Eu... Só estava