ISABELA
Poder desabafar com Cíntia me tirou um peso enorme das costas, mesmo que ela tivesse sido a responsável por trazer o problema de volta para minha vida. Ela era a única pessoa que sabia de tudo, por isso, podia contar tudo relacionado a Henrique, até mesmo os meus medos e as inseguranças.
Depois que minha melhor amiga foi embora, recolhi as taças usadas e a garrafa de vinho vazia e levei tudo para a cozinha. A caminho do quarto, aproveitei para dar uma olhada no quarto de Nicolas. Meu filho dormia como um anjinho, não resisti e entrei no quarto, me aproximando da cama, depositei um beijo em sua cabeleira antes de sair e fechar a porta.
Enchi a banheira com alguns sais de banho e me permiti um momento de descanso antes de finalmente ir para cama. O dia tinha sido complicado e eu precisava relaxar. Pego o romance que sempre deixo por ali e começo a folhear o livro.
Algumas horas depois, quando, finalmente, fui para cama, já sentia os olhos pesados, então só me troquei e me aconcheguei debaixo dos lençóis e apaguei.
Quando voltei a abrir os olhos, o sol já brilhava do lado de fora e meu filho estava pulando em cima da minha cama enquanto gritava para me acordar.
— Acorda, mamãe!
— O que foi, Nic? — perguntei ainda meio sonolenta.
— Hoje vai ter o meu primeiro jogo de hóquei e eu não quero chegar atrasado.
Merda! Eu tinha me esquecido desse bendito jogo.
Dei uma olhada no relógio em cima da mesa de cabeceira e já passava das oito e meia da manhã. Deus, fazia tanto tempo que não dormia até mais tarde e agora teria que levantar correndo. Eu tinha menos de uma hora para fazer tudo e chegar à arena para o primeiro jogo de hóquei da vida do meu pequeno.
Enquanto preparava um café da manhã reforçado para Nicolas, xinguei mentalmente o responsável pela escolinha de hóquei por ter marcado um jogo para crianças em pleno domingo e tão cedo. Eu entendia o lado deles terem escolhido um domingo, para que todos os pais pudessem assistir.
Como não daria tempo de tomar um café, decidi que compraria um no caminho. Troquei o pijama por uma calça jeans e uma blusa, sem deixar de levar um casaco e prendi o cabelo num rabo de cavalo já que não teria tempo de arrumá-lo decentemente.
Para minha sorte não havia muito trânsito e conseguimos chegar à arena em tempo recorde. Depois de deixar Nicolas sob a responsabilidade do treinador do time, vi que ainda faltavam uns dez minutos para começar a partida e resolvi ir até a cafeteria da esquina para comprar um café e alguma coisa para comer.
O lugar estava lotado de pais e mães, como já era de se esperar. Pedi um café duplo com alguns cookies para acompanhar e não demorei a encontrar Piper, mãe de Charles, o melhor amigo de Nicolas e fui me sentar com ela.
— Oi, Isa. — Ela tinha um sorriso estampado no rosto e eu fiquei me perguntando como alguém consegue ser tão alegre pela manhã.
— Oi, Piper — retribuo o abraço e me sento na cadeira à sua frente.
— Achei que não viria para o jogo dos meninos.
— Eu não perderia por nada.
Dei o primeiro gole no meu café e então o marido de Piper, James, se juntou à nós, não sem antes beijar a esposa. Senti uma leve pontinha de inveja deles, já fazia tanto tempo que eu não saía com ninguém.
— Que bom que conseguiu vir, meu amor.
— Não foi nada fácil, mas eu não perderia o primeiro jogo do nosso filho.
James então pareceu perceber minha presença à mesa e abriu um sorriso para mim.
— Bom dia, Isabela.
— Oi, James.
— Manhã difícil? — Ele questionou enquanto gesticula para o meu copo de café.
— Só um pouco atrasada.
— Estava pensando, será que deixaria Nicolas ir com a gente para um passeio divertido? Charles, com certeza, ia adorar.
— Mas é claro!
Piper e o marido sempre foram muito gentis comigo e acabamos nos tornando amigos por causa dos nossos meninos. Eles sempre buscavam Nicolas depois das aulas de hóquei quando eu acabava enrolada em alguma reunião. Eram boas pessoas e eu nem conseguiria imgainar minha vida sem a amizade deles.
— Já que James vai levar os meninos para um passeio divertido, o que acha de ir lá para casa e a gente tomar um vinho e colocar o papo em dia? — Piper sugeriu.
— Vai ser ótimo.
Terminamos o nossos cafés e voltamos para a arena, bem a tempo de ver nossos meninos terminando o aquecimento. Nos sentamos nas primeiras fileiras, ao lado dos pais e mães dos outros garotos do time. Eu estava ansiosa e me sentindo muito emocionada por poder realizar o sonho do meu filho.
Comemorei muito a cada ponto que o time dos garotos fazia, como se eles fossem jogadores profissionais e quando o sinal sonoro soou indicando o fim do jogo, eu não poderia estar me sentindo mais orgulhosa pelo meu filho.
Assim que foi liberado, eu corri para o vestiário para parabenizar meu pequeno, mas estanquei na porta. Não podia acreditar no que estava vendo. Henrique Trovato estava parado no meio de todos os garotos enquanto parabenizava cada um e autografava alguns tacos.
— Você está bem, Isa? — Foi a voz de Piper que me trouxe de volta à realidade. — Você ficou pálida de repente.
— Estou bem, sim.
Fiquei ali, com as costas apoiadas na parede enquanto esperava todo o alvoroço se desfazer do lado de dentro do vestiário.
Já no estacionamento, enquanto guardava o material de Nicolas no porta-malas do carro, meu garoto estava todo feliz por seu time ter ganhado o jogo.
— Mamãe, você viu aquele ponto que eu fiz por último?
— Vi. — Dei um beijo no topo de sua cabeça. — Foi perfeito, meu filho.
Estávamos esperando Piper, James e Charles sairem do vestiário quando Nicolas saiu correndo em direção à porta e quando ergui os olhos do celular, vi quem estava saindo. Droga. Não dava para ouvir o que meu filho estava conversando com Henrique, mas ele estava praticamente arrastando o homem em minha direção.
— Essa é a minha mãe, treinador. — Meu filho falou todo orgulhoso.
Treinador? Quando é que tinham mudado o treinador do time?
— Oi, Isabela.
— Oi — respondi enquanto guardava o celular no bolso traseiro da calça jeans.
— Venha, filho — segurei a mão de Nicolas e saímos de perto de Henrique. — Temos que ir encontrar Charles.
HENRIQUEDesde que assinei o contrato com o time e vim parar nessa cidade, meu agente me fez concordar em ser voluntário em uma escolinha de hóquei para crianças. Já fazia uma semana que eu tinha começado a ir na escola escolhida por ele, eu não fazia nada além de ficar sentado na arquibancada vendo o treinador coordenar aquele bando de meninos com idades variadas.Era domingo, um dia que poderia passar descansando, mas tinha compromisso, afinal, era o primeiro jogo da vida daqueles garotos e, eu tinha sido convocado, mais como um apoio moral e inspiração para eles, já que a grande maioria deles, era meu fã.Por causa do trânsito, acabei chegando na arena uns vinte minutos depois do horário combinado com o treinador do pequeno time e fui me juntar à eles no vestiário, que, por sinal, estava um verdadeira cacofonia. Acabei decidindo esperar do lado de fora para não tumultuar ainda mais.De onde eu estava, conseguia ver a arena se enchendo com os familiares dos jogadores mirins e foi in
ISABELADepois do encontro inesperado com Henrique no estacionamento da arena, dei graças a Deus quando Piper e o marido apareceram. James levou os meninos para o tal passeio divertido que ele tinha programado então ofereci carona para Piper já que eu iria para casa dela.Quando chegamos, estacionei o carro na entrada da garagem dela e entramos. A casa estava silenciosa o que era uma benção depois de toda a gritaria durante o jogo na arena. Estava sentada no sofá quando Piper apareceu trazendo uma garrafa do meu Sauvignon Blanc preferido e duas taças.— Aqui está o vinho, como prometido.— Você não faz ideia de como uma garrafa dessa me deixa feliz.— E está no ponto para gente conseguir aguentar esse calor.— Perfeito.— Será que podemos tomar o vinho na cozinha? Assim a gente pode conversar enquanto preparo um almoço rápido porque as crianças vão chegar morrendo de fome.— Só se eu puder te ajudar.— Combinado.Fomos para a cozinha e Piper serviu um pouco de vinho em cada taça antes
HENRIQUEEu vinha treinando todos os dias junto com o time oficial e ficava até depois da hora treinando sozinho que nem percebi o quão rápido a semana tinha passado e quando dei por mim, já era sexta-feira de novo.Estava saindo da arena depois de um treino pesado, do lado de fora o céu já estava escuro, quando meu celular começou a tocar. Rapidamente procurei o aparelho dentro da bolsa de equipamentos e vi o nome de Gabriel na tela.— Fala cara.— Está em casa, Henrique?— Saindo da arena agora. — Joguei a bolsa no porta-malas. — Por quê?— Eu acabei de ser avisado que amanhã terá um evento beneficiente do hospital das crianças com câncer com os jogadores do time.— Amanhã? Está falando sério?— Sim, é sério.— Que droga!— Você já tinha algum outro compromisso marcado?— Minha mãe tinha combinado de vir passar o final de semana comigo.— Pode levar ela com você.— Não dá para simplesmente fazer uma doação e me deixar de fora?— O presidente do time foi bem específico na mensagem qu
OITO ANOS ATRÁSEu me apaixonei por Henrique Trovato.Henrique era um filho da puta sortudo. Um cara popular que vivia rodeado de garotas como todos os seus companheiros do time de hóquei, mas, que, por algum motivo, acabou se apaixonando por mim. Eu era Isabela, só uma garota comum e ele o melhor jogador do time da faculdade.Era comum ouvir pelos corredores que seu desempenho durante os jogos era notável, que ele tinha o mundo nos patins e uma carreira promissora se seguisse jogando depois da formatura. Eu tinha que admitir que ele era mesmo um ótimo jogador e totalmente diferente do estereótipo de jogador popular.Apesar clara diferença entre a gente, Henrique acabou me conquistando e se tornando o meu mundo em pouco tempo. Tentávamos passar o maior tempo possível juntos, já que a rotina dele era atribulada demais. Treinos, estudos extras, aulas e os jogos.Pensei que esse seria o meu final feliz, mas eu era jovem e tola. Depois da formatura, por conta de uma decisão errada, destru
ATUALMENTEEu esperava ter um final de semana tranquilo com meu filho, mas bastou uma ligação de Cíntia às oito da manhã para bagunçar tudo. Uma reunião de última hora com um atleta que estava atrás de um patrocínio e como a responsável pela empresa, não tinha outra opção a não ser comparecer.Quando, finalmente, consegui chegar à empresa já passava das dez e meia da manhã. Tive que levar Nicolas junto comigo, afinal conseguir uma babá disponível de última hora era uma missão impossível e eu tinha dado folga à minha.Fui direto para a minha sala, onde deixei meu filho distraído com um joguinho no tablet e Cíntia apareceu logo atrás de mim, estava esbaforida.— Até que enfim você chegou, Isa.— Não tenho culpa se você me ligou em cima da hora.— Me desculpe por isso, mas o tal jogador de hóquei confirmou a presença de última hora ontem à noite.— E onde ele está?— Estão esperando na sala de reuniões.— Ok. Vou precisar que fique de olho em Nicolas para mim e não o deixe sair dessa sal
ISABELADepois que saí da sala de reuniões, voltei direto para a minha sala, onde encontrei Nicolas concentrado enquanto jogava no tablet enquanto usava fones de ouvido. Abracei meu filho tão apertado que ele reclamou para soltá-lo. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pesadelo estava de volta.Ouvi duas batidas na porta e logo Cíntia colocou a cabeça para dentro. Sua expressão era de total arrependimento e eu estava mesmo furiosa com ela. Depois de tudo o que eu passei sozinha, me virando como dava para trabalhar e criar o meu filho, ela ainda teve a ousadia de trazer Henrique de volta para minha vida.— Isa, eu queria te pedir desculpas, eu...— Só preciso que você me responda uma pergunta. — Interrompi sua fala.— Tá bom.— Você sabia que era ele que estaria na reunião desde o início?— Sim, mas... Eu achei que seria bom esse reencontro entre vocês.— Bom para quem? Você é a única pessoa que sabe de toda a verdade, que acompanhou tudo o que eu tive que passar.— Eu... Só estava
HENRIQUEDepois que Gabriel e eu saímos da sala de reuniões da empresa, tinha meus pensamentos longe. Reencontrar Isabela depois de tantos anos mexeu com a minha cabeça e trouxe de volta sentimentos que estavam enterrados no fundo do meu coração.— Está tudo bem, cara? — Gabriel perguntou quando já estávamos dentro do elevador.— Sim.— Feliz por ter conseguido mais um patrocinador?— Pode apostar que sim.Estava parado junto ao carro esperando Gabriel voltar do caixa eletrônico quando vi Isabela sair pelo estacionamento, mas ela não estava sozinha, havia um garotinho com ela. Então ela havia tido um filho nesses oito anos que ficamos separados. Eu tinha muitas perguntas rodeando minha cabeça e faria de tudo para descobrir a resposta para todas elas.Como ela não tinha me visto, aproveitei para ficar espiando um pouco mais pelo vidro do restaurante. Isa parecia feliz com a vida que tinha. Eu precisava saber mais sobre ela e a vida que tinha. Peguei meu celular e procurei por ela nas re