Jack Voyaller
-Você acha correto Eva, casar sem amor? -Observo a ruiva a minha frente com pesar.
Seus intensos olhos verdes se voltam para mim e seus lábios marcados de um gloss suave se retorcem.
- Não posso julgar ninguém Jack, olha para mim, meu casamento com seu irmão foi arranjado mesmo antes de eu nascer. -Eva balança os ombros com um olhar preocupado.
- Eu não acho correto. -Murmuro olhando-me no espelho com desdém.
O terno cinza chumbo fazia conjunto com o colete e a calça. A pequena flor milimetricamente posicionada sobre a lapela do terno faz-me mais parecido com um noivo e o sentimento de decepção preenchia meu peito ao observar minha imagem refletida no espelho.
- Às vezes o incorreto é a opção mais correta Jack. -Eva para em minha frente arrumando a gravata que estava perfeitamente alinhada.
- Eu espero que isso seja real. -Murmuro cheio de preocupações, afinal, cada um de nós guarda segredos e os meus segredos podem ser pesados demais para Jessye Squared.
- Não se culpe tanto Jack, tente apenas seguir o que a vida está te entregando. Não veja isso como algo ruim. Tente visualizar a oportunidade que está a sua frente. - Ela arruma um pequeno fio do meu cabelo que insiste em ficar de pé.
Maneio a cabeça em concordância sem muito ânimo e por mais que eu tente esconder meu desgosto, a verdade é que tudo isso estava me matando lenta e dolorosamente.
Eu não quero me casar com uma desconhecida, gosto da minha vida de solteiro e do fardo que carrego com ela.
-Jack. -Eva segura meu rosto com as mãos forçando-me a olhar para ela. - Você foi o primeiro que acreditou em mim quando eu cheguei aqui e eu tenho um carinho muito grande por você, então por favor, tente ao menos dar uma chance para essa moça, pois ela está sofrendo assim como você. -Eva desliza as mãos por meu rosto com uma feição preocupada.
Novamente maneio a cabeça em concordância não querendo proferir palavras vazias, afinal se tem algo que a família Voyaller preza acima de tudo, são as promessas feitas.
-A tristeza explícita em seus olhos está me matando eu não queria vê-lo tão infeliz. - Eva apoia a mão em meu peito e fecho os olhos respirando profundamente na tentativa de acalmar o desesperador aperto em meu coração.
- Se Dante não fosse seu marido me casaria com você. -Acabo rindo para descontrair o momento e aliviar a tensão em seu corpo.
-É esse sorriso que quero em seus lábios. -Eva termina de arrumar o pequeno lenço em meu bolso, analisando minuciosamente minha aparência que deveria estar perfeita para aquele dia.
De fato minha aparência estava perfeita, porém não podia dizer o mesmo da desordem em meu interior.
- Vamos fingir que esse é o dia mais feliz da minha vida. -Pisco para ela e a porta do quarto se abre revelando meu irmão mais velho, mas antes vislumbro o pesar nos olhos da minha cunhada pelas minhas palavras e sinceramente não posso fingir mais do que isso.
Nesses últimos dias já havia ultrapassado todos os meus limites de encenação por um século.
-A cerimonialista está esperando. -Dante sorri ao me ver vestido de noivo, mas é visível o desgosto e preocupação em seu semblante.
Eu sei que Dante lutou o máximo que pode contra esse casamento, mas confesso que teve um momento em que o culpei por ser obrigado a passar por isso.
Contudo acabei vendo que o único culpado era o homem a quem chamamos de pai, Donatel sempre conturbou e revirou nossas vidas do avesso.
-Creio que o noivo deve esperar pela noiva e não ao contrário correto? -Brinco tentando descontrair o ambiente e de certa forma funciona ou assim como eu, eles fingem, pois aquilo não podia ser mais cômico do que já estava sendo.
Ser forçado a um casamento por mero orgulho e poder.
Não preciso deixá-los mais preocupados do que já estão. Esse fardo é só meu e eu irei carregá-lo em silêncio, afinal aceitei este casório e cumprirei minha parte do acordo mesmo contra minha vontade.
***
Expiro e inspiro profundamente tentando controlar as batidas exageradas do meu coração. Apesar da irritação que domina meus pensamentos quando os violinistas indicam a entrada da noiva, o nervosismo e a ansiedade toma conta de mim.
As portas da casa principal se abrem e a garota que eu nunca havia visto pessoalmente dá seus primeiros passos em direção ao altar disposto no vasto jardim das propriedades Voyaller.
Com um esplendoroso vestido branco a jovem caminha em meio as amarílis brancas e hortênsias azuis mescladas de rosa, enfileiradas em buquês, nos vasos que enfeitavam o caminho até o altar.
O corselet rendado bordado com pérolas, emolduram seus seios marcando suas curvas até a altura de sua cintura, onde o vestido cai em lindas camadas pesadas e cheias até seus pés. O buquê de flores sortidas chama ainda mais a atenção para seu corpo e confesso surpreender-me com a beleza daquela jovem.
O véu não tampava seu rosto, mas sua cabeça baixa e olhar fixo no chão impedia a visualização de sua face e, sinceramente, não lembro muito bem de como ela era, afinal, só havia visto uma única foto que não fiz muita questão de analisar na época.
Retiro aqueles pensamentos da cabeça vendo ela cada vez mais próxima do altar. A angústia forma um nó em minha garganta dificultando a passagem de ar para meus pulmões, mas continuo à tua espera com um sorriso forçado no rosto que disfarço da melhor forma possível, ainda assim, sentia-me ansioso e ao mesmo tempo irritado com meus próprios sentimentos.
Ansioso por finalmente conhecê-la e irritado pelo mesmo motivo.
Edgar guia a filha com um sorriso tão grande nos lábios que chega a ser irritante. Minha vontade era socar seu rosto até fazê-lo cuspir toda sua hipocrisia, afinal, ele era egoísta assim como meu pai, nos forçando a um casamento de aparências apenas para alavancar seu nome dentro da máfia com a nossa junção.
Quando ela finalmente chega próximo a mim -o que pareceu uma eternidade- desço do altar para recebê-la. Edgar para em frente à filha dando um beijo demorado em sua testa com todo aquele ritual ridículo de pai preocupado -o que de fato ele não era, pois se fosse não estaríamos aqui- logo em seguida entrega a mão de Jessye a mim.
Com cuidado seguro sua mão e surpreendo-me mais uma vez com sua beleza juvenil. Olhos castanhos claros marcados pela maquiagem suave, lábios cobertos por um batom rosado e bochechas levemente coradas. Pele tão alva que contrasta com o moreno natural da minha mão e seus cabelos loiros presos em um coque alto que segurava a delicada coroa de pedras a deixa ainda mais linda. Eu esperava alguém com aparência mais infantil, mas tudo isso só me faz odiá-la ainda mais e pelo seu olhar vejo que o sentimento é recíproco ou talvez eu esteja vendo o que quero que ela sinta.
Educadamente sorrio, pois não podia demonstrar sentimentos contrários em frente aos convidados e a imprensa dos dois países.
Sim, o casamento está sendo transmitido tanto na Itália, quanto na Espanha, afinal o peso do nosso sobrenome recai em nossas costas e Edgar quer elevar ainda mais os seus status sociais as nossas custas, afinal, querendo ou não, o Porto nos pertence e temos boa influência na maior parte do mundo por exportar e importar produtos legais, além dos ilegais. Já o Falcão, como é mais conhecido. Ingressou tarde demais no mercado social e isso dificulta encobrir seus rastros ilegais e aqui estamos nós, na mesma tecla do poder e, mesmo que isso beneficie as duas famílias, o único que de fato está ganhando holofotes é o meu irritante futuro sogro e sua família de merda.
O padre se ajeita à nossa frente e começa um discurso sobre fidelidade e amor. É tão engraçado ouvir aquilo que tenho vontade de rir. Não, rir não, eu queria mesmo era gargalhar, mas controlo tentando prestar atenção naquelas palavras vazias e desnecessárias.
Jessye ao meu lado, mantém uma postura ereta e olhos fixos no homem à nossa frente. Ela parecia tão concentrada que por um momento acreditei que aquilo fosse realmente importante para ela, mas esses pensamentos logo me deixam.
Seria impossível alguém preferir casar-se do que permanecer em seu país com sua família. Eu estava perdendo apenas minha liberdade. Já ela, mudaria de país, deixaria sua família e amigos para honrar o nome do pai.
A cada segundo que se passa minha mente distante ignora tudo o que o padre fala. Só sou puxado de volta à realidade quando meu nome é pronunciado no microfone.
-Jack Voyaller, você aceita Jessye Squared como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe? -O padre aproxima o microfone da minha boca e sem titubear dou a minha resposta, pois um Voyaller não volta atrás de sua promessa.
- Sim. Eu aceito. -Deslizo a aliança no dedo de Jessye que permanece alheia a tudo que está acontecendo.
-Jessye Squared, você aceita Jack Voyaller como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?
Aqueles olhos curiosos se voltam para mim com um pedido de socorro oculto na íris marejada. Eu não podia fazer nada, não podia ajudá-la, então apenas permaneço em silêncio esperando sua resposta e no mais íntimo do meu coração desejei que ela falasse não.
- Sim. Eu aceito. -Suas mãos trêmulas deslizam a aliança em meu dedo selando o símbolo de amor inexistente.
- Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.
Aquela frase nunca soou tão estranha e por incontáveis segundos nos encaramos sem nos mover.
Os olhos assustados de Jessye me analisam minuciosamente e sinto-me o lobo mal preste a atacar sua presa. Ela não toma a iniciativa e eu apenas não quero assustá-la, então permanecemos nos encarando enquanto os convidados nos olham confusos.
Por um momento desvio o meu olhar do dela e vejo Eva fazendo sinais com a mão para que eu prosseguisse. Não sairíamos dali sem o bendito beijo, então tomo a iniciativa dando um passo à frente e antes que ela possa recuar envolvo uma das minhas mãos em sua nuca e a outra em sua cintura puxando seu corpo contra o meu selando nossos lábios.
Seus lábios tocam o meu desajeitadamente, mas ela não recusa o beijo apenas segue o roteiro envolvendo nossos lábios de forma tímida.
Suas mãos pequenas se fecham em meu terno e quando afasto-me, um pouco sem fôlego por praticamente encenar um beijo por nós dois, seus olhos assustado encaram-me em desespero e naquele momento percebo que Jessye seria a quebra de todas as minhas regras, pois a inocência estampada naqueles olhos não podia ser real ou era exatamente isso que eu queria acreditar.
Jessye SquaredA imagem refletida no espelho é no mínimo deprimente e somada ao olhar brilhante e radiante da minha mãe só causa-me ainda mais repulsa e nojo.Aquele vestido perfeitamente alinhado marcava cada uma das curvas que eu não tinha. Era pesado e as pérolas enroscadas no pano machucavam minha pele me causando uma leve coceira. A maquiagem suave deixava meu rosto mais fino, mas a realidade era que o meu rosto sempre foi oval.Verena, minha irmã mais velha, sentada no sofá ao meu lado, olhava-me com inveja. Tamanha inveja que seus olhos castanhos idênticos aos meus fuzilam-me com ódio. Como se eu quisesse estar naquela posição. Eu daria tudo, trocaria tudo ou qualquer coisa para não ser obrigada a me casar hoje, tentei negociar com meu pai, prometi que iria para um convento, mas a resposta sempre foi a mesma, um grande não.Eu seria obr
Jessye SquaredAcordei com o chamado de Jack ao chegarmos em seu apartamento, a noite estava tão bela que dormi ao sentir o vento bater contra meu rosto e diferente do que pensei o apartamento de Jack é lindo.A decoraçãoé clara, com móveis planejados e bem organizados, um lugar aconchegante que ao meu ver era pequeno, mas para duas pessoas seria o suficiente. A cozinha moderna com moveis planejados, fica bem à frente da sala em um conceito aberto e uma grande ilha de centro separa os dois locais, ao lado as portas de vidro dava a vista de uma bela sacada com vista para cidade e na parte superior provavelmente seriam os quartos.O apartamento, na verdade, é um Loft pequeno e bem aconchegante e eu gosto disso.-Fique à vontade. –O Voyaller limita-se em dizer passando por mim enquanto desabotoa o terno.Meu coração s
Jack VoyallerAcordo com um solavanco no meio da noite completamente perdido, automaticamente apalpo minha cintura em busca da minha Glock 9mm, mas não a encontro acoplada no cós da minha calça. Em alerta sento-me analisando todo o local e ao ver que estava tudo bem passo as mãos pelos cabelos soltando um pesado suspiro.As luzes estavam acesas e demorou mais do que o necessário para me situar e compreender o que estava acontecendo.Observo minhas roupas e respiro profundamente ao lembrar da noite anterior. Volto minha atenção para o relógio sobre a cômoda e vejo que são mais de cinco da manhã.Estava cansado, a dias não vinha dormindo com a preocupação desse casamento, sem contar que a garota demorou mais do que eu previa no banheiro.Cogitei até a possibilidade de ir ver se ela estava bem, mas havia dado minha palavra que
Jessye SquaredAcordo com o sol batendo em minha cara e demoro a me localizar, quando finalmente lembro onde estou quase tenho um ataque cardíaco por ver que havia dormido mais do que o necessário.Levanto correndo e fuço na única bolsa que não havia sido mexida por sabe Deus quem, buscando minha escova de dente, pentes e acessórios para os meus cabelos. Minhas demais roupas estavam no closet e confesso que fiquei surpresa ao ver que nenhuma delas de fato eram minhas, afinal estavam todas novas.Se isso foi obra da minha mãe, tenho certeza que sim, ela resolveu repaginar meu guarda roupa com uma coleção mais adulta, não que eu estivesse reclamando já que amo moda e amo me vestir bem, mas tinha algumas peças íntimas realmente interessantes e assustadoras, sem contar meus pijamas que um pouco mais sensuais me obrigariam a dormir de calça j
JessyeFaz exatamente duas semanas que não vejo o Voyaller e isso está começando a me irritar. Sei que ele vem para o apartamento, pois encontro as roupas dele no cesto ao lado do armário do banheiro, ou seja, em algum momento da madrugada ele aparece e da mesma maneira desaparece.E o pior de tudo é que não ouço seus movimentos, ele é silencioso, sei que foi treinado para isso, mas podia pelo menos tentar criar uma mísera amizade entre a gente.Cansei de ficar trancada dentro desse apartamento mofando e vendo séries, acredito que nunca consegui maratonar como venho fazendo, são horas e horas frente a uma televisão, descobri também que a empregada vem todas as quartas e sexta, uma senhora gentil que fez meu dia mais alegre.Ela limpa a casa e recolhe a roupa suja da qual leva para lavanderia e traz novamente na sexta-feira. Aproveitei Dona Mar&iacut
- Quer que eu fique? - Pergunto surpreso e ela maneia a cabeça afirmando.-Por favor. -Vejo seus olhos me encararem em súplica. - Não vou conseguir dormir se estiver sozinha, confio em você.Depois de ouvir aquelas palavras jamais negaria deitar ao seu lado.- Só vou tirar o terno e os sapatos. -Afirmo começando a tirar o terno e o colete, desabotoando alguns botões da camisa social e jogo meus sapatos ao lado da cama junto com minhas meias.Jessye observa todos os meus movimentos atentamente e de certa forma sinto-me constrangido e incomodado, mas jamais conseguiria deixá-la depois de ver tamanho desespero.Sabendo que ela estava nua opto por deitar na parte de cima do edredom deixando que ela fique embaixo. Ela continua deitada de barriga para cima encarando o teto mais do que deveria.Me deito de lado para observá-la melhor e acabo rindo ao ver suas bochechas vermelhas.
Acordo perdido ao ouvir meu celular tocar em um canto do quarto, passo as mãos nos olhos e minha vista demora a focar no teto do quarto.Depois de longos minutos olhando para o nada percebo que Jessye dorme agarrada ao meu corpo como se eu fosse um travesseiro.Seu braço está estendido sobre o meu peito e sua perna jogada sobre as minhas sem contar o fato de que ela está nua.Completamente nua agarrada a mim.Esfrego os olhos com uma mão e apoio à outra em sua cintura tentando me desvencilhar de seus braços, mas ela geme baixinho esfregando o rosto em meu peito.Foco Jack, foco.Repito aquelas palavras para mim mesmo e queria saber como ela podia ser tão descarada e maluca a ponto de dormir nua agarrada a mim dessa maneira se mal nos conhecemos.Ou é muita confiança e inocência ou isso faz parte do seu jogo junto com seus pais para me enlouquecer, afinal isso
Chegamos à Alemanha há pouco menos de duas horas e faz exatamente quarenta muitos que aguardo Jessye terminar de se arrumar para descermos a festa que seu pai organizou exclusivamente para nós.Não que isso me agrade muito, na verdade, não agrada nem um pouco, mas não sou acostumado a me atrasar para qualquer tipo de evento que envolva a máfia, porém Jessye parece não se importar muito quanto a isso.Cogitei a possibilidade de descer sem ela e cheguei a conclusão que seria deselegante da minha parte deixar minha mais nova e irritante esposa para trás.-Está pronta garota? - Pergunto pela terceira vez.- Não. -Recebo a mesma resposta e desisto de permanecer em pé deitando-me na cama de casal à minha frente.- Já perdemos o voo e tivemos que vir com Dante, agora faz mais de quarenta minutos que você está nesse banhe