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Capítulo 2

Kate colocou o saco de lixo sobre as pernas e pousou as mãos sobre ele. A caminhonete cedeu com o peso de Jason. Ele deu uma olhada de lado para ela, torceu o nariz, acendeu um cigarro e ligou o carro.

Kate desviou o olhar das coxas grossas do patrão e se concentrou na estrada a sua frente. Chegou em Fênix há seis meses após pegar carona com um caminhoneiro.

O homem baixo, barbudo e barrigudo a deixou no bar de Jimmy, com a vagina e o ânus arrebentados e o estômago vazio. Jimmy ficou com ela.

Kate cuidava do bar, da casa integrada e dos caminhoneiros de passagem. Sem perspectivas de um futuro, ela aceitou sua nova rotina com resignação. Dentro do possível, tudo corria bem.

Então, começaram os boatos da chegada de um forasteiro, vindo da guerra que está dizimando o sul do país. Kate ouviu coisas estranhas sobre ele. Coisas do tipo assassino e canibal.

Escravidão e prostituição são comuns na região, mas o canibalismo, embora latente, é pouco visto ou comentado. A única certeza que Kate tem sobre o seu novo carrasco, é que ele é bonito como a encarnação do diabo e bebe com a fúria de um leão.

Bebidas fortes e baratas que derrubam muitos homens de barba, em Jason parecem não fazerem efeito. É como se ele já estivesse curtido em álcool.

Kate arriscou um olhar hesitante para o lado. O cabelo castanho e longo estava solto, descendo pelas costas largas e se misturando com a barba da mesma cor.

Jason tem pequenas cicatrizes em volta dos olhos azuis e uma falha na sobrancelha esquerda que o torna mais sexy e selvagem.

Ombros largos, braços longos e fortes, peito musculoso, abdômen reto, pernas grandes, coxas grossas e um volume descomunal. Kate olhou para as montanhas e passou a língua pelos lábios ressecados.

Se ele a pegar a força, ela está morta. Não tem como uma mulher enfrentar "aquilo" e sobreviver para contar a história.

Jason percebeu os olhares de Kate para ele. A viu pela primeira vez há alguns meses atrás trabalhando naquele pardieiro que Jimmy chama de bar.

A pele negra como a noite chega a ter reflexos azulados. Magra e pequena, Kate não tem cabelo. Sua cabeça é raspada como a dos soldados que serviram com ele na guerra. Os olhos negros são tristes e vazios.

É preciso coragem para enxergar a desesperança nos olhos de Kate. Os lábios carnudos estão sempre apertados entre os dentes como se ela esperasse ser machucada a qualquer momento.

Os vestidos velhos e surrados que usa, deve ter ganho de alguma alma caridosa. Jason suspirou e manteve os olhos azuis na estrada. Não tinha a intenção de permanecer em Fênix.

Estava a caminho de Santiago para comprar um pequeno rancho e se estabelecer por lá. Porém, foi atraído pelas vastas planícies e as montanhas geladas.

O clima frio, nublado e úmido, combina com ele. Dias cinzentos são tristes e melancólicos. São perfeitos para o estado de ânimo de Jason.

Seu porte físico e aparência primitiva e selvagem, faz com que as pessoas criem as mais variadas e absurdas teorias sobre ele. Jason gosta assim. Dessa forma, ninguém se mete com ele.

Jimmy não colocou empecilhos quanto a venda da negra. Agora Kate é sua propriedade. Pode fazer o que bem entender com ela.

Jason comprou a casa de Luke Ford por uma ninharia e gosta do lugar distante e isolado. Perdido em pensamentos confusos e sombrios, Jason não viu o javali que saiu por de trás das árvores e cruzou a estrada.

Ele só teve tempo de frear e jogar a caminhonete para o lado da pista. Sem perder tempo, Jason saiu do veículo, pegou o rifle na caçamba e saiu correndo no encalço do animal.

Kate, assustada e ofegante, colocou as duas mãos no porta luvas e se inclinou para trás até encostar no banco. O saco de lixo estava caído no assoalho da caminhonete.

A freada brusca e inesperada fez ela bater a testa no para brisa e o sangue escorreu. Kate fez uma careta de dor e levou a mão até a testa machucada.

Ela se apressou em revirar o saco de lixo com as suas coisas a procura de um pano para se limpar. Se sujasse o carro de Jason com o seu sangue, ele a mataria ali mesmo e deixaria seu corpo na estrada para os lobos. Ou talvez, ele a comeria.

O simples pensamento embrulhou o estômago vazio de Kate. Ela pegou uma blusa preta, dobrou e colocou na testa para estancar o ferimento.

Ali, parada no meio do nada, Kate encostou a cabeça no banco e fechou os olhos, sem deixar de pressionar o corte.

Ela não sabe quanto tempo se passou até que um baque forte e violento cedeu a parte de trás da caminhonete. Kate abriu os olhos e olhou para trás.

E ela desejou nunca ter feito isso. O javali abatido estava com as quatro patas para cima e Jason tinha muito sangue nas mãos, no casaco preto e na boca.

Ele engoliu alguma coisa, jogou o rifle na caçamba ao lado do animal morto e entrou no carro. Ele não se limpou.

Jason olhou para ela e disse secamente:

- Espero que saiba assar um javali.

Não era uma pergunta. Então, Kate não sabia se deveria falar alguma coisa. Mas como Jason ainda a olhava com um olhar inquisidor, Kate abriu a boca.

- Eu nunca assei um javali.

Jason sorriu com desdém. Os dentes sujos de sangue.

- Mas vai assar. E tem um cervo inteiro para você dessosar.

Kate engoliu em seco. Agradeceu aos céus por não estar com nada dentro do estômago.

Jason ligou o carro. Kate se machucou durante o acidente e se virou sozinha. Sem reclamações. Ele tinha adquirido uma ótima mercadoria.


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