Venha, venha...
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Violet deslizava os dedos pelas teclas do piano com rapidez, mostrando que seus seis anos de aulas realmente haviam dado resultado. As ondas louras quase que prateadas de seus cabelos caíam por cima do ombro direito, impedindo que seus pais, Carl e Valentina, vissem seu rosto enquanto a ouviam e observavam do sofá ao lado, colado na parede bem abaixo de uma janela.
Os raios do sol de fim de tarde entravam pelo vidro e dançavam sobre seu vestido azul enquanto sua perna se remexia nervosamente.
O Conde Mitchell, que se sentava do outro lado do salão junto de seu filho Jack, enxugou uma lágrima que ameaçava cair com o dorso de sua mão enluvada. Jack permanecia encarando um ponto qualquer do chão, as pernas cruzadas e a bochecha apoiada sobre uma mão, claramente desinteressado naquilo. Assim como Violet.
A princesa suspirou pesadamente e finalmente terminou a música, Dance of Sugar Plum Fairy. Ela estalou os dedos e remexeu levemente o pescoço, resmungando baixinho de dor.
– Isso foi lindo, Alteza – Conde Mitchell elogiou, batendo palminhas curtas de admiração e Violet virou-se para trás, sorrindo falsamente.
– Obrigada, foi um prazer poder tocar para o senhor – ela respondeu e o homem se levantou, fazendo uma breve reverência que fez Violet se perguntar como os botões de sua camisa não abriam com uma barriga tão enorme.
– Jack? – Ele chamou e rapidamente seu filho despertou de seus devaneios, também se levantando e fazendo uma reverência à Violet.
– Peço perdão pela minha dispersão. Mas assim como meu pai acho que estava ótimo – ele disse e Violet arqueou uma sobrancelha, estreitando os olhos violeta. Cínico.
– Obrigada – ela respondeu fazendo uma rápida mesura e logo seus pais também se levantaram.
– Fico feliz que tenham apreciado essa humilde apresentação de nossa filha – Valentina disse com um sorriso enorme rasgando seu rosto. – Espero que ainda possam voltar mais vezes.
– Voltar? Não, não – Carl disse com toda a sua animação e simpatia, tirando um relógio dourado do bolso e o encarando por alguns instantes antes de se voltar ao conde. – Ninguém vai embora agora, ainda temos tempo para o chá.
Discretamente, Violet, Jack e Valentina suspiraram e reviraram os olhos numa sincronia quase perfeita, afinal, nenhum dos três queria uma hora do chá nem nada parecido. Violet só queria dormir, Jack queria ir embora e Valentina pretendia terminar uma longa lista de trabalho ainda naquele dia.
– Claro, por que não? – Conde Mitchell riu e Carl gesticulou para que fossem em direção ao corredor que os levaria até a sala de jantar.
Ele entrelaçou seu braço com o da esposa que, sorrateiramente, deslizou a mão por suas costas e lhe deu um beliscão. Violet mordeu o lábio inferior, reprimindo o riso ao ouvir o "Ai!" confuso e indignado de seu pai.
– Alteza? – Jack chamou, estendendo o braço para Violet na esperança de que ela o acompanhasse, mas a menina apenas fingiu que não havia visto e empinou o nariz, seguindo pelo corredor logo atrás dos pais.
Jack revirou os olhos e bufou. Por que ela precisava ser sempre tão complicada? Tudo era motivo para birra e mal humor, parecia até que era louca.
~ ♣ ~
– Acho que estava ótimo – Violet disse numa tentativa falha de imitar a voz de Jack. – Nem estava prestando atenção! Como consegue ser tão falso?
Jack revirou os olhos.
– Como consegue ser tão chata? Nem parece que é princes... – ele parou no meio da frase ao tropeçar na raiz grossa de uma árvore do jardim.
Violet se curvou para a frente com os braços em volta da barriga, dando uma gargalhada alta pela quase queda de Jack.
– Viu? É o que acontece quando falam mal de sua alteza – ela disse dando um sorrisinho que irritou Jack profundamente.
– Mal-educada.
– Na verdade eu fui muito bem-educada querido, por isso sei reconhecer de longe quando vejo um idiota – ela disse voltando a caminhar e Jack grunhiu de raiva, seu rosto sardento começando a adquirir um tom avermelhado.
– Se seus pais souberem...
– Ora, papai irá fingir que está decepcionado e mamãe... – Violet deu de ombros e deu outra risadinha. – Ela irá rir e concordar comigo.
– A senhorita é uma vergonha como princesa.
– O quê? – Violet parou, virando-se para ele com uma careta e apoiando as mãos nos quadris. – Acha que só porque fazemos parte da realeza precisamos ser sérios e chatos o tempo todo? Não somos como você.
– A senhorita é a cópia perfeita e irritante de vossa majestade...
Violet sorriu, passando os dedos pelos cabelos claros.
– Cuidado com o que diz, posso te fazer perder a cabeça por isso – ela disse passando o dedo indicador pelo pescoço, simbolizando uma execução. – E mamãe não tem culpa de que seu pai não era nobre o suficiente para ganhar seu coração e sua mão.
– Sorte a dele – Jack disse sorrindo cinicamente. – Minha vida seria um desastre maior ainda se eu tivesse uma garotinha mimada e malcriada como irmã.
– Não sou mimada! – Violet retrucou batendo o pé no chão. – Apenas reconheço minha autoridade. E sei que no fundo você gosta de mim.
Ela colocou as mãos entrelaçadas juntas de seu rosto e fez um biquinho manhoso. Jack revirou os olhos, irritado, e voltou a andar.
– Ei! Não saia andando por aí enquanto fala comigo! – Violet disse e Jack parou, voltando-se para ela com seu sorriso cínico novamente estampado no rosto.
– Perdão, Alteza.
A menina sorriu e suspirou, finalmente satisfeita.
– Ótimo, gosto assim.
Tenho um pouco de queijo para você... ~ ♣ ~– Alteza – uma voz feminina a chamou, chacoalhando Violet pelos ombros, e a menina choramingou, abrindo lentamente os olhos inchados por conta do sono. – Vossa Majestade a está esperando para o café.– Hum... Aham... Sim, estou indo, obrigada Lorie – ela resmungou mais uma vez, sentando-se na cama ao ouvir os passos da criada se distanciarem, seguidos do som da porta pesada de seu quarto se fechando.Ela fez uma careta ao passar o dorso da mão abaixo da boca e senti-la umedecer com a saliva pegajosa que escorria por sua pele. Ótimo, já estava começando o dia bem.Depois de se arrumar com uma preguiça quase torturante, desceu as escadas em espiral até o salão principal com a maior lentidão possível, levantando a barra de seu vestido rosado com as mãos en
Você deve gostar como a bela ratinha que é... ~ ♣ ~– A senhorita acabou de... descer por essa escada? – O garoto de cabelos brancos perguntou e apontou para a escada atrás de Violet, permanecendo sério apesar das costuras que formavam um sorriso em suas bochechas pálidas.– Bom, tecnicamente eu meio que rolei por ela e não desci... Mas sim, eu vim por ali – Violet respondeu assentindo.– Hum... Isso é um caso sério... Devo levá-la à Rainha? – O rapaz indagou como se falasse consigo mesmo e Violet se pôs de pé, batendo as mãos na saia de seu vestido e fazendo uma nuvem de terra e pedaç
Oh, está com medo dos gatos?Não se preocupe, não irão te atacar...~ ♣ ~Violet ria de maneira despreocupada enquanto Dollie contava mais uma de suas histórias de muito tempo atrás. Nós te deixaremos fugir por hora, ratinha... ~ ♣ ~– Aaron... – Violet pronunciou lentamente como se não tivesse entendido e desviou o olhar para o chão rapidamente ao perceber que o garoto ainda a encarava de uma forma quase que intensa demais em sua opinião. – Por que está aqui? Por que não está junto dos outros?– Porque eu era um Perfeito, mas agora sou um Quebrado e Quebrados não servem para ela, até que tenho sorte por ainda estar vivo, os outros foram todos... – ele parou ao ver os olhos arregalados de Violet e riu.– Ela quem? Dollie? – A menina perguntou franzindo as sobrancelhas e Aaron assentiu.– Ela aceita os Defeituosos mas nunca um Perfeito que se quebra, não pode aceitar que um de seus falsos sonhos de perfeição se corrompeu.– O que é um Perfeito? E um Quebrado? Desculpe, não compreendo – Violet admitiu baixinho e ajoelhou-se V - Cada Vez Mais Curiosa...
Só que você sabe qual é o problema dos ratos, não sabe?~♣~Violet xingou mais uma vez quando uma teia de aranha se prendeu em seu rosto e ela precisou morder com força o lábio inferior para não gritar ao ver o aracnídeo pendurado no teto do túnel, remexendo as patas longas bem à frente de seu rosto.Ela engatinhou para trás, esperando alguns segundos até aquela coisa subir por sua teia e sair andando pelas paredes de terra batida do túnel.A menina suspirou aliviada e, novamente, praguejou contra os deuses e todas as forças sobrenaturais que poderiam ter culpa de seu estado no momento.Ela não aguentava mais andar e andar por aquele lugarzinho claustrofóbico e sujo e nunca chegar a lugar algum. Seus joelhos estavam mais arranhados do que nunca e seus braços doíam já que o lugar não tinha espaço o sufi
Eles sempre, sempre fogem...~ ♣~– Como chegou aqui? Você... Você não estava naquela sala? E-eu... – Violet gaguejou confusa, seu cerébro se recusando a acreditar que aquele ser que lhe estendia a mão para finalmente tirá-la do túnel era o irritante e folgado Jack Mitchell.– Um garoto-boneco colorido, Aaron, me deu uma chave e disse para encontrá-la aqui – Jack disse e chacoalhou a mão estendida pra a princesa, seus olhos arregalados tinham pressa. – Vamos logo! Contamos tudo um para o outro depois que estivermos fora daqui!– Mas eu... Ah, que se dane! – Ela segurou a mão de Jack e o garoto a puxou para cima, desviando o olhar constrangido ao ver que a única coisa que Violet vestia era uma camisola. – Ora o que foi? Sou linda demais para você? – Violet zombou, limpando as mãos sujas de terra na seda rosa-bebê de sua roupa já encardi
Para serem mortos no final.~ ♣ ~Violet só parou de correr quando avistou algo suspeito no final do corredor, andando lentamente até o objeto para observar mais de perto. Jack estava ofegante ao seu lado, sem um pingo da energia que agora corria pelas veias de Violet.A menina se abaixou e deu uma risadinha amarga ao conseguir identificar que era uma pequena boneca de pano que a observava do chão, seus olhos roxos de botão brilhando sob a luz da lua. Ela a pegou pelos cabelos de lã amarela como se fosse a coisa mais grotesca que já vira na vida e leu o que estava bordado em seu vestidinho colorido: "Você sabe o que é melhor nesses joguinhos? Uma rainha nunca perde"Jogou a boneca longe usando toda a sua força e Jack se aproximou, as sobrancelhas franzidas pela curiosidade.– O que foi? O que era?– Aquela desgraçada pensando que pode me assustar – ela respondeu e analisou a palma de sua mão por um tempo, pas
Coisas ruins acontecem o tempo inteiro,E, consequentemente, as pessoas pensam coisas ruins o tempo inteiroMas então, coisas boas voltam a acontecer, como uma distraçãoEntão, me diga:Se eu fosse embora, até quando minha falta seria motivo de tristeza para você?Não chore mamãe, ainda estou aquiE, de um jeito ou de outro, farei com que se lembre. ~ ♣ ~As horas e os minutos se passaram, lentos e incontáveis, e Jack permanecia encostado sobre o tronco úmido de uma árvore, os jo