Só que você sabe qual é o problema dos ratos, não sabe?
~♣~
Ela engatinhou para trás, esperando alguns segundos até aquela coisa subir por sua teia e sair andando pelas paredes de terra batida do túnel.
A menina suspirou aliviada e, novamente, praguejou contra os deuses e todas as forças sobrenaturais que poderiam ter culpa de seu estado no momento.
Ela não aguentava mais andar e andar por aquele lugarzinho claustrofóbico e sujo e nunca chegar a lugar algum. Seus joelhos estavam mais arranhados do que nunca e seus braços doíam já que o lugar não tinha espaço o suficiente nem para que ela pudesse ficar em pé.
Suas unhas estavam sujas de terra e pedaços de folhas e galhos secos que pareciam esquecidos ali desde o século passado se prendiam em seus cabelos que, um dia, puderam ser comparados aos de uma boneca.
Ela rapidamente repreendeu esse pensamento com uma careta e voltou a andar, não queria saber de absolutamente mais nada que envolvesse a palavra "boneca".
No momento, até mesmo a ideia de ser rainha um dia parecia menos assustadora do que se encontrar com aqueles seres bizarros novamente.
Um grunhido de raiva fez Violet travar em seu lugar novamente, assustada, até perceber que não vinha de dentro do túnel, e sim de cima dele.
– Você é uma incompetente mesmo, Rosalia – Dollie xingou irritada com a voz abafada pelo chão abaixo de si, completamente diferente da pessoa doce e gentil que Violet havia conhecido logo que chegara ali há apenas algumas horas. – Vocês estavam no mesmo quarto! Como não a viu sair?
– Perdão majestade, eu estava em um sono pesado e...
– Ah, isso não importa mais! Acorde os outros e se virem para encontrá-la, não podemos deixá-la sair depois de tudo o que viu – Dollie ordenou e o túnel estremeceu quando os passos de Rosalia correram rápido pelo chão do cômodo acima, seguidos do som de uma porta se batendo.
A princesa ainda estava estática como uma estátua, tentando ouvir mais alguma coisa, porém nenhum outro som chegou aos seus ouvidos.
Ela olhou para trás, semicerrando os olhos violeta para tentar enxergar em meio a todo aquele escuro. Não sabia mais se deveria continuar ou voltar, agora que Dollie havia descoberto sobre sua "fuga" provavelmente todas as suas bonecas estavam atrás dela, e o pior de todos com certeza era Puppet, com seu sorriso costurado bizarro e a confiança estranha que a rainha parecia ter na marionete.
Ela respirou fundo e mordeu sua língua com força, tensa, nervosa e – por mais que odiasse admitir – com medo. Tudo o que lhe restava no momento era confiar no estranho arco-íris pastel em forma de boneco e continuar seguindo até chegar no salão de entrada como prometido.
Violet estalou os dedos doloridos de sua mão e tornou a engatinhar, a todo segundo amaldiçoando fortemente sua curiosidade, seu tédio e principalmente seu amor por gatos.
Tomara que Ginger seja engolido por um rato gigante e eu esteja lá para ver isso e ainda rir de sua cara, muito provavelmente como ele deve estar rindo da minha agora, pensou irritada, sentindo vontade de descontar toda a sua raiva naquelas paredes que pareciam não ter fim.
Ela queria socá-las, chutar tudo o que visse e explodir aquele castelo. Pensar em como Dollie e aquele reino idiota eram doentios fazia seu medo dar lugar à raiva e apenas isso.
Com certeza ela agrediria aquela bonequinha de porcelana metida a besta quando a visse. Deixaria sua cara mais rachada que as paredes do quarto de Aaron.
Violet respirou fundo e meneou a cabeça, acelerando suas "engatinhadas". Não podia perder tempo com aqueles pensamentos agora, precisava sair dali, encontrar alguém do castelo e levá-lo até Jack, não podia dizer quanto tempo restava até que Dollie resolvesse que era a hora perfeita para transformá-lo em mais uma de suas obras esquisitas e amedrontadoras.
Jack... Seu coração se apertou. E se aquilo fosse culpa sua? Ela sempre desejara coisas ruins ao garoto quando este a irritava, e se o que estava acontecendo fosse o resultado de tudo isso?
Não, não podia ser, eram apenas superstições idiotas e Jack ficaria bem, ela o tiraria dali e logo mais estariam rindo e discutindo novamente.
Ela se moveu por mais alguns metros e pôde avistar um pouco mais à frente um fino feixe de luz entrando pelo o que parecia ser uma portinha de madeira na parte de cima do túnel.
Violet a empurrou para cima ao chegar no local ligeiramente iluminado, mas a porta ao menos se moveu, trancada. Droga, Aaron.
Ela se sentou ali, encolhida, e abraçou o próprio corpo que começava a esfriar conforme ela passava mais tempo naquele pequeno limbo subterrâneo. Então Violet chorou, chorou até que uma luz forte alcançou o túnel, quase a cegando pelo longo tempo que passara enfurnada na escuridão.
A porta estava se abrindo? Ela estreitou os olhos e se afastou, em pânico, quando uma sombra apareceu na porta.
– Alteza? A senhorita está aí? – Um garoto chamou com a voz baixa e urgente, porém Violet não respondeu, ainda desconfiada e surpresa, Deus não seria tão bom assim, seria? – Violet?
– Jack... – foi tudo o que ela conseguiu sussurrar ao encontrar os olhos verdes de Jack a encarando, mais assustados que os seus próprios.
Eles sempre, sempre fogem...~ ♣~– Como chegou aqui? Você... Você não estava naquela sala? E-eu... – Violet gaguejou confusa, seu cerébro se recusando a acreditar que aquele ser que lhe estendia a mão para finalmente tirá-la do túnel era o irritante e folgado Jack Mitchell.– Um garoto-boneco colorido, Aaron, me deu uma chave e disse para encontrá-la aqui – Jack disse e chacoalhou a mão estendida pra a princesa, seus olhos arregalados tinham pressa. – Vamos logo! Contamos tudo um para o outro depois que estivermos fora daqui!– Mas eu... Ah, que se dane! – Ela segurou a mão de Jack e o garoto a puxou para cima, desviando o olhar constrangido ao ver que a única coisa que Violet vestia era uma camisola. – Ora o que foi? Sou linda demais para você? – Violet zombou, limpando as mãos sujas de terra na seda rosa-bebê de sua roupa já encardi
Para serem mortos no final.~ ♣ ~Violet só parou de correr quando avistou algo suspeito no final do corredor, andando lentamente até o objeto para observar mais de perto. Jack estava ofegante ao seu lado, sem um pingo da energia que agora corria pelas veias de Violet.A menina se abaixou e deu uma risadinha amarga ao conseguir identificar que era uma pequena boneca de pano que a observava do chão, seus olhos roxos de botão brilhando sob a luz da lua. Ela a pegou pelos cabelos de lã amarela como se fosse a coisa mais grotesca que já vira na vida e leu o que estava bordado em seu vestidinho colorido: "Você sabe o que é melhor nesses joguinhos? Uma rainha nunca perde"Jogou a boneca longe usando toda a sua força e Jack se aproximou, as sobrancelhas franzidas pela curiosidade.– O que foi? O que era?– Aquela desgraçada pensando que pode me assustar – ela respondeu e analisou a palma de sua mão por um tempo, pas
Coisas ruins acontecem o tempo inteiro,E, consequentemente, as pessoas pensam coisas ruins o tempo inteiroMas então, coisas boas voltam a acontecer, como uma distraçãoEntão, me diga:Se eu fosse embora, até quando minha falta seria motivo de tristeza para você?Não chore mamãe, ainda estou aquiE, de um jeito ou de outro, farei com que se lembre. ~ ♣ ~As horas e os minutos se passaram, lentos e incontáveis, e Jack permanecia encostado sobre o tronco úmido de uma árvore, os jo
O sol brilhava forte e o castelo estava realmente agitado e animado, como Alfred jamais vira em toda a sua vida dentro da realeza. Empregadas, cozinheiros, decoradores e até jardineiros iam e vinham apressados de um canto para o outro.O menino tentava brincar em paz com seu carrinho que, vez ou outra, era derrubado por pés gigantes que caminhavam com urgência, seguido de um "Perdão, alteza". Mas que diabos? Ele não queria perdão nenhum, só queria poder brincar em paz!O próximo par de sapatos brilhantes e bem engraxados a atrapalhá-lo em sua tão preciosa brincadeira foram os de Jack Mitchell, conde de Coldland e melhor amigo de Alfred.– Tio Jack! – O garotinho exclamou, pulando nos braços do rapaz que o girou no ar, em seguida o jogando para o alto e o pegando novamente, fazendo o pequeno rir.– Como vai, reizinho? – Jack perguntou com um sorriso e Alfred franziu o rosto numa careta, cruzando os bracinhos rechonchudos.– Bravo! Eu só queria brincar, m
Dez longos anos se passaram desde o incidente que mudou, para sempre, as definições de perigo para os habitantes do pequeno reino de Coldland.Alfred Tessy tem nove anos e cresceu ouvindo histórias sobre sua irmã mais velha: sobre como o bosque ao redor do castelo havia a engolido e nunca mais devolvido para seus pais, que por entre as árvores se escondiam as mais perversas e sombrias criaturas e certamente era um lugar terrível para se estar.Porém, durante uma confraternização real, o pequeno príncipe acaba por encontrar algo que pode acabar com tudo em que ele acreditava até então.Poderiam seus pais ter mentido esse tempo inteiro? E se Violet realmente estivesse viva?Alfred se sente mais curioso e inclinado do que nunca a explorar os mistérios além do muro do castelo, buscando saber e entender o que realmente aconteceu com sua irmã e porque, após tanto tempo, ela finalmente resolveu aparecer se autodeclarando rainha de um reino de bonecas subterrâneo.
Seu reino se afunda em silêncio e solidãoA esperança parece algo distante, fora de cogitaçãoO que era antes brilhante, belo e iluminadoSe torna escuro, empoeiradoSua luz está distante, seu sol foi apagadoEm desespero, você clamaPor alguém que mesmo sem te conhecer, te amaE segue, sem resistência, o seu chamadoE de alguma forma, você sabeUma família pode acabarMas o amor, em sua mais pura alegriaMesmo no coração formado pela porcelana mais fria,Para sempre prevalecerá.O - O - O - O - O - O - O - O - O - O - O - O - O -
"Toda mentira uma hora se quebra, tudo o que está escondido uma hora se mostra. Assim como os segredos, você sabe que não pode mantê-los por muito tempo, não é?" ~ ♣ ~Era madrugada, Alfred chutava que eram por volta de cinco da manhã, pois o céu já não se encontrava mais preto e cheio de pontinhos luminosos, e sim violeta, como no início de cada manhã - como nos olhos da garota que mais cedo o chamara para conhecer seu castelo.Ele não conseguia pensar em algo que n&atil
"A curiosidade pode te levar à coisas boas ou ruins, à respostas ou à um monte de nada. E saber disso não te deixa ainda mais curioso?Nós dois sabemos que não é correto se deixar levar por um sentimento tão traiçoeiro, mas você nunca vai saber se não tentar, não é?" ~ ♣ ~– Que segredo? – Alfred perguntou assustado, arregalando os olhos azuis e apertando as mãos sobre a barra de sua camisa.Jack s