Meus olhos demoraram até se ajustar a escuridão. Os pedaços de papelão na janela cobriam a maior parte da luz natural, mas algumas frestas mal cobertas permitiam uma pequena iluminação passar. Assim que passou para o lado de dentro, Mel se sacudiu fervorosamente.
A farmácia não era muito grande. Um balcão comprido ocupava a parde oposta a entrada e separava a área de medicamentos. Quatro corredores eram divididas por prateleiras logo a nossa frente. Tudo parecia na mais perfeita ordem lá dentro, todas as prateleiras lotadas de diversos itens, como se fosse somente um dia de venda normal. Não era possível ver nenhum zumbi, mas dei o comando para que Mel ficasse na entrada e eu e Elton nos separamos para dar uma segunda olhada nos pontos cegos.
Cláudio respirava com dificuldade, sentado no chão com as
Senti um baque na minhas costas e compreendi que eu mesma havia perdido o equilíbrio, apoiando-me na prateleira atrás de mim. Tentei arrumar a postura, mas o zumbido no meu ouvido desorientava. Uma sensação aterradora de vazio pareceu engolir meu coração, conforme meu corpo não atende ao impulso de correr na direção de Guga. Eu simplesmente não conseguia processar o que estava acontecendo, quase preparada para acordar de um sonho ruim ainda é minha casa .Uma criança! Ele tem 17 anos! Bem ao longe, a voz de Amanda começou a se tornar clara. Ela estava aguda, marcada pelo choro.Eu não queria! Me desculpe eu achei que ele estava vindo na minha direção... eu mandei ficarem parados! Só então me dei conta do homem que empunhava a arma, agora estava ajoelhado no chão, completamente em prantos. Seu
Desculpa, quem? Ouvi Amanda falando.Não éramos exatamente amigos nos tempos de colégio, tendo trocado pouco mais que algumas frases, mas senti um alívio indescritível em ver aquele rosto. Na verdade, o sentimento de realizar que ele, que começara aquela jornada pelo inferno junto conosco, também conseguiria sobreviver, era mais próximo de esperança.Também não sabia que ajuda ele poderia nos fornecer, conforme mais zumbis se aproximavam, enquanto tínhamos duas pessoas seriamente feridas, mas para onde quer que ele tivesse a intenção de nos levar, parecia melhor do que onde estávamos.Cláudio, você consegue caminhar? Minha voz agora parecia mais estável, uma onda de adrenalina estufando minhas veias.Consigo chegar até lá. Ele respondeu, desvencilhando-se de Amanda.Ótimo
Assim que saímos daquele beco, nos deparamos com uma rua sem saída a esquerda. Um muro pintado de rosa com desenhos infantis me chocou, porém, foi ver a parte direita da rua, onde um ônibus estava tombado sobre a parte da frente de um caminho, no que parecia ter sido um acidente grotesco. Algumas partes das latarias estavam severamente chamuscadas, mas se houvera fogo, ele foi apagado antes de consumir tudo. Aquele acidente bloqueava quase completamente duas ruas do cruzamento, deixando somente um espaço para que seguíssemos o caminho.Era mais uma rua completamente segura, onde os indícios de que pertenciam ao apocalipse ficavam somente por conta da frequente presença de sangue e do cheiro forte de podridão que parecia ter dominado completamente a cidade. Somente quando busquei por aquilo, encontrei? Dessa vez, havia vários corpos jogados pelo chão, alguns com marcas sérias que poderiam ter si
O sol havia se posto ha quase uma hora e, só então, eu percebi que havia finalmente me acalmado.Era difícil ter certeza sobre o tempo, mas provavelmente ha cerca de 5 horas Amanda saíra do quarto de hóspedes, os braços e a blusa brancas cobertas de sangue, para nos falar que os garotos estavam bem. Carla e Tony foram extremamente gentis com todos nós, convidando-nos para almoçar com eles, mas até então eu trocara somente poucas palavras, e mesmo o cheiro da comida de Carla sendo excelente, não me motivou a dar nem uma garfada. Fiquei quase feliz quando Valentina também pediu desculpas, mas recusou a refeição, porque dessa forma eu não me sentia tão mal educada.Todo o tempo que passamos sentados na sala de estar com os donos da casa pareceram horas intermináveis, dura
Alex veio para cá no mesmo dia. Quando o apocalipse começou, ele estava cuidando sozinho do mercadinho da esquina, onde trabalhava desde que saiu do colégio, há 5 anos. Sua cada era apenas algumas ruas dali, então quando ele conseguiu contato com a mar e o mais velho, combinaram que os dois iriam até onde Alex trabalhava e ficariam lá, onde havia bastante comida, até o caos acalmar. Depois que os celulares pararam de funcionar. Alex esperou por mais cinco dias, pelos quais experienciou um pesadelo interminável, até aceitar que eles não iriam vir.Quem o encontrou, na verdade, foi o Fábio. Buscando por comida, foi até o mercadinho, e para sua surpresa deparou-se com um rosto conhecido ao tentar invadir a loja. Quando informou Tony e Carla que o atendente da mercearia ainda estava vivo, <
O vapor que saia da xícara subia até o céu, perdendo-se entre a imensidão. Aquele chá poderia ter sido banal ha um mês atrás, mas agora tratava-se de um prazer quase irreal. Carla amava chás, então sempre que podiam, Fábio e Alex pegavam caixas de sachês para ela, além dos que ela cultivava na pequena horta (que, após o apocalipse, começavam a se expandir) atrás da casa.O jardim da parte da frente, tão grande quanto o da minha casa e certamente melhor cuidado, também começava a esboçar o começo de uma horta, a qual Tony estava se dedicando. As marcações já estavam feitas. Eu não saberia dizer quanto espaço seria necessário para que uma horta pudesse alimentar completamente uma família de três pessoas, mas parecia de bo
Me desculpas… murmurei, sentindo minhas bochechas esquentando. Eu meio que sabia que não era sua culpa. Eu só estou frustrada.A sua frustração não é motivo para jogar a culpa em mim. Elton disse, seco. De qualquer forma, Alex chamou a minha atenção pigarreando, parecendo um tanto tenso. Virei para ele, notando seu desconforto.Tudo bem? Perguntei, ansiosa para que qualquer coisa nesse mundo me distraísse da discussão com Elton.Estou ótimo e você? Alex sorriu para mim, tentando tornar o clima mais leve. Eu e Elton estávamos conversamos sobre o Anselmo. O senhor da farmácia…Eu, Tony e Carla o conhecíamos… estava contando o que aconteceu com ele, mas se você quiser, conversamos outra hora!Recusei a pro
E… morreu. Alex disse, ao meu lado.Merda! Por impulso, descontei o nervosismo na primeira coisa ao meu alcance. Meu punho foi de encontro ao voltante e uma dor subiu pelo meu braço. Ai!Alex não conteve a risada…Ah, para! Você foi bem! Ele insistiu, batendo amigavelmente no meu ombro. Diferente dos outros dois, aquele carro onde estávamos era muito mais apertado e Alex espremia os seus quase dois metros no banco de carona. Da primeira vez eu não consegui fazer o carro andar meio metro sem ele morrer, você quem praticamente fez tudo com os outros dois!Girei a chave na ignição e sorri para ele, agradecida pelo incentivo.Já fazia três dias desde que começamos a limpar o caminho até o hipermercado. Na primeira tarde, passamos a maior parte do tempo caminhando pela parte segura que Fábio