Capítulo 2°

INDOMÁVEL  E SEDUTOR 

Rodrigo, seu irmão, tinha seis anos na época. Enquanto ele brincava de se esconder pelo imenso jardim da mansão, Fabian passava o dia esperando a tia. Estava sempre pensando numa maneira de agradá-la.

Giovanna gostava da postura do filho. Incentivava-o a fazê-lo. Dizia que um dia, toda a riqueza da tia, seria dele se ela o visse como um filho.

Apesar de ser taxada como testa de ferro nos negócios, Beatrice se derretia pelo menino. Ela lhe vestia com roupas sóbrias e lhe fazia parecer um príncipe. Penteava os cabelos dele para trás e passava um gel para que ficasse com cara de mais velho.

  — Parece o seu pai!— ela dizia emocionada.

Beatrice, apesar de não se dar bem com o irmão, por achá-lo pouco ambicioso, sentiu muito a sua morte. Nunca gostou de Giovanna, mas pelas crianças, acolheu a todos na mansão.

A casa não lhe parecia mais silenciosa em momento algum, chegou a arrepender-se de tê-los feito a oferta, mas aos poucos, Fabian foi conquistando o seu coração duro.

Ela chegava cansada do escritório e muitas vezes se trancava no pequeno cômodo a que chamava de biblioteca. Na verdade, era a extensão do escritório da empresa. De lá, muitas vezes resolvia negócios.

O lugar lhe era aconchegante. Os móveis antigos, o papel de parede com minúsculas flores nos tons de marrom e bege, a escrivaninha em madeira talhada, as paredes rodeadas de prateleiras com livros que nunca leu. O piso de decoração antiga, tudo ali remete ao passado, claro, não fosse o monitor sobre a sua mesa trazendo a Internet, da qual, não se podia mais viver sem. Era ali que descansava a sua mente.

Fabian vinha fazer-lhe companhia sempre. Os olhos curiosos do menino, querendo saber tudo o que a tia fazia, despertaram o seu interesse por ele desde o dia em que entrou naquela casa.

E assim, Fabian foi de jato particular conhecer os cafezais, de onde saía à fortuna da tia.

Beatrice orgulhosa, falava ao menino sobre os seus negócios e que um dia ele iria herdar.

Ambicioso, Fabian sorria enquanto admirava a plantação extensa lá embaixo.

Depois desse dia, a tia passou a lhe preparar para o ofício. Estudou tudo o que era preciso para chegar a ser o grande executivo que é hoje.

Augustus falou sem rodeios, como queria o seu patrão, a cláusula que vinha de surpresa:

  — A sua tia deixou uma condição para que seja herdeiro da sua fortuna.

Fabian examinou a expressão de alívio do seu advogado. Ele parecia estar com uma bomba presa ao corpo e finalmente se libertou dela, jogando sobre o seu colo.

  — O quê?— o grito de Fabian ecoou estridente.

Augustus levantou a cabeça assustado. Sabia que não iria ser fácil terminar de contar sobre a novidade.

Giovanna permanecia estática. Não conseguia mover um só músculo do rosto.

Fabian já havia levantado da sua cadeira que continuava girando pelo movimento brusco que fizera.

Ele andava em volta da sala, tentando se acalmar.

Augustus esperava paciente que ele voltasse ao seu lugar. Não via a hora de acabar com aquilo de uma vez e sair daquele lugar. Sentia cheiro de pólvora no ar

Fabian bufava como um animal enfurecido, preso a uma jaula. Era assim que se sentia. Preso a uma cláusula de um testamento, por uma condição inoportuna, para que lhe fosse assegurado um direito do qual conquistou por anos. Como podia agora existir qualquer tipo de condição? Pensava que tipo de exigência ela faria. E se fosse um capricho insano da tia?

Depois de um tempo, voltou ao seu lugar e tomou um gole de água. Deixou o copo descansar no suporte de prata. Respirou fundo e disse, dirigindo-se a Augustus:

— Conte-me logo, pelo amor de Deus, seja o que for essa condição m*****a!

  — Existe mais algum herdeiro, é isso?—Giovanna quis saber.

Augustus fechou os olhos impaciente.

  — Vou falar de uma vez senhor!—disse resignado.

Fabian e Giovana tinham o corpo inclinado para frente, demonstrando o tanto que estavam ansiosos.

Augustus contou sobre a decisão de Beatrice, agora sem rodeios:

  — Você precisa se casar e manter-se neste matrimônio por quatro anos!

  — O quê?!—Fabian falou aos gritos.

Andava pela sala novamente, falando sem parar:

  — Mas isso é um absurdo! Que ideia estapafúrdia! Eu não vou me casar obrigado! Não vou!

Enquanto Fabian descarregava a sua indignação, Giovana respirava aliviada.

Com a mão no peito falava ao advogado:

  — Menos mal, temia que houvesse outro herdeiro.

Augustus acompanhou os passos nervosos do seu cliente, desejando que ele pensasse como a mãe.

Giovanna se levantou e foi falar com o filho.

  — Querido, pense um pouco! Podemos arranjar um casamento! Quem se recusaria a casar com um partido como você?— ela dizia segurando o filho pelos braços, procurando os seus olhos.

Fabian a encarou com ódio e respondeu-lhe:

  — Ninguém manda em mim. Só casarei um dia se sentir amor por alguém, ou não me caso, qual é o problema de ficar solteiro?

Giovanna meneou a cabeça pensativa, suspirou, depois começou a falar:

  — Então é isso! Beatrice sabia que ninguém penetraria nesse coração duro. Ela foi estratégica. Não consegue entender? Ela temia que colocasse os negócios em risco por uma aventureira qualquer.

Fabian livrou-se dos braços da mãe e foi sentar-se novamente. Giovana continuou a falar:

  — Uma família é o porto seguro de um homem de negócios. Ela temia que não estando mais aqui, você pudesse se perder.

Augustus assentiu com a cabeça concordando.

Fabian lançou-lhe um olhar de desagrado e ele desviou os olhos para a mesa.

Giovanna sentou-se em seu lugar demonstrando contentamento.

Fabian a acompanhou com o olhar incrédulo. Meneou a cabeça e disse:

  — Sente-se feliz com isso? Que espécie de mãe é você? O seu filho vai ser obrigado a casar-se contra a sua vontade e você está tranquila desse jeito!

Giovanna deu de ombros e sorriu dizendo:

  — Menos mal meu filho! Já pensou se aparece um herdeiro nesse testamento?

Fabian inclinou-se procurando os olhos da mãe. Estava extremamente aborrecido com aquela situação.

  — Mãe! Eu trabalhei duro para conquistar esse lugar de único herdeiro. Como posso me conformar ter que cumprir essa condição absurda, estúpida! 

Houve um silêncio. Não havia mais nada a dizer, nem como contestar. Estava feito. Beatrice preparou essa situação com muita cautela. Teve todo cuidado para não ser descoberta antes da sua morte.

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