INDOMÁVEL E SEDUTOR
Rodrigo, seu irmão, tinha seis anos na época. Enquanto ele brincava de se esconder pelo imenso jardim da mansão, Fabian passava o dia esperando a tia. Estava sempre pensando numa maneira de agradá-la.
Giovanna gostava da postura do filho. Incentivava-o a fazê-lo. Dizia que um dia, toda a riqueza da tia, seria dele se ela o visse como um filho.
Apesar de ser taxada como testa de ferro nos negócios, Beatrice se derretia pelo menino. Ela lhe vestia com roupas sóbrias e lhe fazia parecer um príncipe. Penteava os cabelos dele para trás e passava um gel para que ficasse com cara de mais velho.
— Parece o seu pai!— ela dizia emocionada.
Beatrice, apesar de não se dar bem com o irmão, por achá-lo pouco ambicioso, sentiu muito a sua morte. Nunca gostou de Giovanna, mas pelas crianças, acolheu a todos na mansão.
A casa não lhe parecia mais silenciosa em momento algum, chegou a arrepender-se de tê-los feito a oferta, mas aos poucos, Fabian foi conquistando o seu coração duro.
Ela chegava cansada do escritório e muitas vezes se trancava no pequeno cômodo a que chamava de biblioteca. Na verdade, era a extensão do escritório da empresa. De lá, muitas vezes resolvia negócios.
O lugar lhe era aconchegante. Os móveis antigos, o papel de parede com minúsculas flores nos tons de marrom e bege, a escrivaninha em madeira talhada, as paredes rodeadas de prateleiras com livros que nunca leu. O piso de decoração antiga, tudo ali remete ao passado, claro, não fosse o monitor sobre a sua mesa trazendo a Internet, da qual, não se podia mais viver sem. Era ali que descansava a sua mente.
Fabian vinha fazer-lhe companhia sempre. Os olhos curiosos do menino, querendo saber tudo o que a tia fazia, despertaram o seu interesse por ele desde o dia em que entrou naquela casa.
E assim, Fabian foi de jato particular conhecer os cafezais, de onde saía à fortuna da tia.
Beatrice orgulhosa, falava ao menino sobre os seus negócios e que um dia ele iria herdar.
Ambicioso, Fabian sorria enquanto admirava a plantação extensa lá embaixo.
Depois desse dia, a tia passou a lhe preparar para o ofício. Estudou tudo o que era preciso para chegar a ser o grande executivo que é hoje.
Augustus falou sem rodeios, como queria o seu patrão, a cláusula que vinha de surpresa:
— A sua tia deixou uma condição para que seja herdeiro da sua fortuna.
Fabian examinou a expressão de alívio do seu advogado. Ele parecia estar com uma bomba presa ao corpo e finalmente se libertou dela, jogando sobre o seu colo.
— O quê?— o grito de Fabian ecoou estridente.
Augustus levantou a cabeça assustado. Sabia que não iria ser fácil terminar de contar sobre a novidade.
Giovanna permanecia estática. Não conseguia mover um só músculo do rosto.
Fabian já havia levantado da sua cadeira que continuava girando pelo movimento brusco que fizera.
Ele andava em volta da sala, tentando se acalmar.
Augustus esperava paciente que ele voltasse ao seu lugar. Não via a hora de acabar com aquilo de uma vez e sair daquele lugar. Sentia cheiro de pólvora no ar
Fabian bufava como um animal enfurecido, preso a uma jaula. Era assim que se sentia. Preso a uma cláusula de um testamento, por uma condição inoportuna, para que lhe fosse assegurado um direito do qual conquistou por anos. Como podia agora existir qualquer tipo de condição? Pensava que tipo de exigência ela faria. E se fosse um capricho insano da tia?
Depois de um tempo, voltou ao seu lugar e tomou um gole de água. Deixou o copo descansar no suporte de prata. Respirou fundo e disse, dirigindo-se a Augustus:
— Conte-me logo, pelo amor de Deus, seja o que for essa condição m*****a!
— Existe mais algum herdeiro, é isso?—Giovanna quis saber.
Augustus fechou os olhos impaciente.
— Vou falar de uma vez senhor!—disse resignado.
Fabian e Giovana tinham o corpo inclinado para frente, demonstrando o tanto que estavam ansiosos.
Augustus contou sobre a decisão de Beatrice, agora sem rodeios:
— Você precisa se casar e manter-se neste matrimônio por quatro anos!
— O quê?!—Fabian falou aos gritos.
Andava pela sala novamente, falando sem parar:
— Mas isso é um absurdo! Que ideia estapafúrdia! Eu não vou me casar obrigado! Não vou!
Enquanto Fabian descarregava a sua indignação, Giovana respirava aliviada.
Com a mão no peito falava ao advogado:
— Menos mal, temia que houvesse outro herdeiro.
Augustus acompanhou os passos nervosos do seu cliente, desejando que ele pensasse como a mãe.
Giovanna se levantou e foi falar com o filho.
— Querido, pense um pouco! Podemos arranjar um casamento! Quem se recusaria a casar com um partido como você?— ela dizia segurando o filho pelos braços, procurando os seus olhos.
Fabian a encarou com ódio e respondeu-lhe:
— Ninguém manda em mim. Só casarei um dia se sentir amor por alguém, ou não me caso, qual é o problema de ficar solteiro?
Giovanna meneou a cabeça pensativa, suspirou, depois começou a falar:
— Então é isso! Beatrice sabia que ninguém penetraria nesse coração duro. Ela foi estratégica. Não consegue entender? Ela temia que colocasse os negócios em risco por uma aventureira qualquer.
Fabian livrou-se dos braços da mãe e foi sentar-se novamente. Giovana continuou a falar:
— Uma família é o porto seguro de um homem de negócios. Ela temia que não estando mais aqui, você pudesse se perder.
Augustus assentiu com a cabeça concordando.
Fabian lançou-lhe um olhar de desagrado e ele desviou os olhos para a mesa.
Giovanna sentou-se em seu lugar demonstrando contentamento.
Fabian a acompanhou com o olhar incrédulo. Meneou a cabeça e disse:
— Sente-se feliz com isso? Que espécie de mãe é você? O seu filho vai ser obrigado a casar-se contra a sua vontade e você está tranquila desse jeito!
Giovanna deu de ombros e sorriu dizendo:
— Menos mal meu filho! Já pensou se aparece um herdeiro nesse testamento?
Fabian inclinou-se procurando os olhos da mãe. Estava extremamente aborrecido com aquela situação.
— Mãe! Eu trabalhei duro para conquistar esse lugar de único herdeiro. Como posso me conformar ter que cumprir essa condição absurda, estúpida!
Houve um silêncio. Não havia mais nada a dizer, nem como contestar. Estava feito. Beatrice preparou essa situação com muita cautela. Teve todo cuidado para não ser descoberta antes da sua morte.
INDOMÁVEL E SEDUTOR Augustus aproveitou a deixa e levantou, fechando a sua pasta. — Bem, preciso ir.— disse estendendo a mão para Fabian. Contrariado, Fabian levantou-se também e apertou a sua mão. Giovana levantou-se sorrindo com simpatia. Estendeu a mão para Augustus, que a pegou e beijou-lhe com cavalheirismo. O homem se retirou e Fabian deixou-se cair em sua cadeira, desanimado. Ele colocou as mãos na cabeça em desespero. — Mãe, não vou casar, não vou! Por que a minha tia fez isso comigo? Giovanna foi abraçar o filho. — Calma! Nós vamos resolver esta situação.— ela dizia. — É a minha vida mãe! Não me sinto preparado para casar!— Fabian falava inconformado. Giovanna riu enquanto acariciava os cabelos do filho. — Já tem mais de trinta anos, filho! Quando pretende casar?— ela questionava. — Não sei nem se quero casar! Quero ser livre mãe!— ele respondeu se exaltando. Giovanna acompanhou o filho com o olhar enquanto ele se dirigia até a janela e olhava a ru
INDOMÁVEL E SEDUTOR Qualquer sugestão era mal vista aos olhos da conservadora e autoritária soberana. Apenas Fabian podia atrever-se a dar qualquer opinião, mas isso não significava que ela lhe atenderia. Passaram o resto do dia tratando das mudanças. Inclusive, Giovanna achava que tinha que trocar quase tudo em todos os setores. Dizia ter náuseas ao ver tanta velharia. — Tudo bem mãe, semana que vem tenho uma viagem de negócios, aí você aproveita e troca tudo que quiser. Chegaram à noite exaustos. Passaram no lavabo e lavaram as mãos para o jantar. Scarlet, uma senhora que aparentava seus cinquenta anos, alta, magra e elegante, num vestido preto, bem composto ate os joelhos, tinha os cabelos e olhos castanhos claros, era a governanta. Acompanhava Dorothy, outra senhora da mesma idade, sendo essa ultima negra, forte e de estatura mediana, olhos e cabelos bem pretos. Vestia um vestido discreto azul marinho. Elas serviam o jantar em silêncio. Fabian olhou para a mãe com cumpli
INDOMÁVEL E SEDUTOR Fabian ficou desesperado com o silêncio do homem, ali a sua frente. Via nele a sua esperança. Tinha que confiar em alguém. Sabia que por algum motivo Duílio tinha o indicado. Com certeza levava fama de ambicioso e não era à toa. Houve um silencio e Fabian avançou para fazer o que mais sabia: subornar. — Será bem recompensado coronel. Sabe que sou muito generoso quando quero, mas sou muito má quando preciso. Ambrósio, tomou aquilo como ameaça e engoliu em seco. Giovanna percebeu que Fabian estava assustando o visitante e entrou na conversa: — O que o meu filho quer dizer, é que podemos oferecer uma terra de presente para o suposto sogro dele, entendeu? Assim como o coronel receberá uma quantia generosa em dinheiro. Fabian inclinou-se na direção de Ambrósio e indagou com voz falsamente aveludada: — Diga-me coronel, conhece uma moça tão pura capaz de se encaixar nesses requisitos dos quais lhe falei? Os olhos de Ambrósio brilharam enquanto ele responde
INDOMÁVEL E SEDUTOR Quando Ambrósio chegou cansado da viagem à São Paulo, Norma o esperava ansiosa. Já era tarde. Helena lhe fazia companhia. Ele tinha a expressão abatida. — Mas que cara é essa homem?—Norma indagou curiosa. Helena foi abraçar o pai e o levou para a mesa de jantar. Depois de lavar as mãos e o rosto no lavabo, Ambrósio foi sentar à mesa. Norma foi servi-lo, pois Alzira já havia ido embora com Angel. Ambrósio esticou o pescoço na direção da cozinha. — Alzira já foi embora?—ele indagou em voz baixa. Norma se sacudiu e respondeu aborrecida: — Há muito tempo homem! Porque está perguntando? Ambrósio ignorava o ranço que a mulher tinha pela a outra. — Tenho uma bomba pra contar pra vocês. — ele declarou olhando a reação das duas à mesa. — Nossa! Bem que essa viagem estava mesmo estranha! O que esse tal barão do café queria com você? — Norma falava apoiando os cotovelos na mesa e se inclinando na direção do marido. — Mas eu estou até agora sem acre
INDOMÁVEL E SEDUTOR Depois que Ambrósio jantou, subiu com a esposa para o quarto. Estava exausto. Tomou um banho e deitou-se. Norma vestiu uma camisola de algodão, estampada com minúsculas flores amarelas, se perfumou e foi deita-se do lado do marido. Estava fogosa, pois fazia quase um mês que o marido não lhe procurava. Ela achava que ele se deitava com mulheres da noite. Assim ela chamava as prostitutas que atendia em casa noturna. Norma não tinha ciúmes dessas, achava que isso era coisa de homem. Só tinha um ranço por Alzira. Achava estranho que Angel não se parecia com os pais e que tinha o cabelo e os olhos iguais aos do seu marido. Alzira parecia perceber, mas não se importava, isso deixava Norma mais intrigada. Estava feliz pelo marido ter poupado Helena daquele casamento esdrúxulo e não ter se importado com Angel. Deitou-se querendo falar do assunto: — Você acha que o compadre Eusébio vai concordar com o negócio do casamento Ambrósio? Ambrósio virou-se pra ela e re
INDOMÁVEL E SEDUTOR Eusébio segurou firme o seu chapéu e olhou fixamente nos olhos do patrão dizendo: — Eu imagino como deve ser difícil para o senhor, não poder casar a sua filha com esse homem tão generoso! Ambrósio ficou pensativo. Não sabia se o compadre estava sendo irônico. Apesar de ser um homem simples não podia deixar de ficar intrigado pelo fato dele não oferecer Helena primeiro. — Diga-me coronel, quem é esse partido que o senhor arrumou pra minha menina. — Eusébio quis saber. Ambrósio falou de uma vez: — O barão do café. Eusébio ficou boquiaberto. Ambrósio ficou a analisar a reação do compadre. Não sabia se era boa ou ruim, mas tinha que convencê-lo. Eusébio coçou a cabeça pensativo. Depois ficou orgulhoso. Ambrósio suspirou aliviado. Empurrou o contrato para a frente e disse: — É só assinar. Eusébio franziu a testa. O coronel continuou: — Vai ter a sua fazenda e o homem será o seu genro. O que pode querer mais da vida? — Diacho!— Eusébio prague
INDOMÁVEL E SEDUTOR Helena cavalgava sem destino. Fazia sempre isso quando estava angustiada. Como uma vez em que o seu pai lhe comunicou que havia arranjado para ela um casamento com um fazendeiro viúvo de quarenta e cinco anos. Ela simplesmente saiu a cavalo e sumiu no meio do mato. Foi encontrada por Teobaldo horas depois. O pai ficou tão arrependido que desfez o acordo com o seu pretendente e jurou nunca mais lhe impor um marido. Agora, sem que Ambrósio percebesse, ela se embrenhou novamente no meio do mato. Teobaldo saiu na caminhonete atrás dela. Ele já sabia mais ou menos onde ela se escondia. Não era a primeira vez que sumira. Ele parou o carro e desceu. Andou na direção do rio. Ela estava lá. Olhando as águas. O pensamento perdido. — Senhorita Helena!— ele chamou. Ela assustou-se. Virou-se de repente. Ele já estava muito perto. Um beijo foi inevitável. Helena o empurrou ofegante. — Ficou louco? Já falei que isso não podia acontecer novamente! — ela queixou-se,
INDOMÁVEL E SEDUTOR Helena sabia que Angel podia ser quem quisesse, porque o seu espírito era livre. — Queria ser como você Angel. — ela disse com tristeza. Angel se levantou e começou a falar como se estivesse dentro dos seus livros. — E eu queria ser como a senhorita. Linda! Mais parece uma princesa! Helena sorria enquanto comia. Olhava Angel fingindo que usava um vestido de princesa. Quase dava para vê-lo, quão real parecia. Depois que comeu, Helena deu aula para Angel. — Precisa fazer as provas semana que vem. Só então poderá sonhar com uma faculdade. — ela dizia para a sua aluna. — Faculdade! Tenho que fazer faculdade? — Angel indagou curiosa. Helena se diverte com Angel. Ela tinha um jeito infantil de ser. — E o que pretende fazer da sua vida? — Helena quis saber. Angel pensou um pouco, depois disse: — Casar com um príncipe encantado e ser feliz! — Só isso?!— Helena falou incrédula. Angel respondeu-lhe com voz mansa: — Mas a senhorita não estudou