Capítulo 3°

INDOMÁVEL E SEDUTOR 

Augustus aproveitou a deixa e levantou, fechando a sua pasta.

  — Bem, preciso ir.— disse estendendo a mão para Fabian.

Contrariado, Fabian levantou-se também e apertou a sua mão.

Giovana levantou-se sorrindo com simpatia.

Estendeu a mão para Augustus, que a pegou e beijou-lhe com cavalheirismo.

O homem se retirou e Fabian deixou-se cair em sua cadeira, desanimado.

Ele colocou as mãos na cabeça em desespero.

  — Mãe, não vou casar, não vou! Por que a minha tia fez isso comigo?

Giovanna foi abraçar o filho.

  — Calma! Nós vamos resolver esta situação.— ela dizia.

  — É a minha vida mãe! Não me sinto preparado para casar!— Fabian falava inconformado.

Giovanna riu enquanto acariciava os cabelos do filho.

  — Já tem mais de trinta anos, filho! Quando pretende casar?— ela questionava.

  — Não sei nem se quero casar! Quero ser livre mãe!— ele respondeu se exaltando.

Giovanna acompanhou o filho com o olhar enquanto ele se dirigia até a janela e olhava a rua através da persiana.

  — Vamos arrumar uma moça que aceite um casamento arranjado.       — ela disse sorrindo, se achando muito inteligente.

Fabian virou-se de súbito irritado. E ficar com uma mulher me controlando?— ele quis saber.

  — Não, se colocarmos todas as condições em contrato. — ela disse animada.

  — Mãe você é incrível! —Fabian exclamou eufórico.

Giovanna suspirou vaidosa.

Fabian ficou pensativo. Passando a mão no queixo, acariciando a sua covinha, falava com malícia no canto dos lábios:

  — Podemos colocar várias cláusulas. Nada de sexo, herdeiros, cobranças etc.

Giovanna animou-se, batia palminhas suaves com as mãos, enquanto assentiu com a cabeça.

Fabian voltou e sentou-se com a mãe.

  — Será que a filha de alguma amiga sua, aceitaria a nossa proposta?— ele quis saber.

Giovana gargalhou diante da inocência do filho.

Fabian fechou o semblante. Estava a ser motivo de chacota.

Giovanna desfez o sorriso imediatamente e disse:

  —Eu quero dizer, que temos que comprar uma moça!

Fabian sobressaltou-se:

  — Comprar!— exclamou.

  — Sim, comprar meu filho!— Giovanna reafirmou.

Fabian esboçou um sorriso frio e calculista. Os olhos esverdeados brilharam.

  — Mãe você é maquiavélica!— exclamou.

Giovanna debruçou-se sobre a mesa na direção do filho e começou a expor os seus planos:

  — Eu pensei num fazendeiro muito ambicioso, conseguir uma moça que se encaixe nesses requisitos.

Fabian ouvia a mãe, concordando com a cabeça.

  — Seu assessor poderia fazer a ponte entre nós — ela sugeriu.

Fabian levantou-se decidido.

  — É isso! Quero esse fazendeiro aqui em São Paulo. Quero olhar no olho dele e fazer negócio de homem pra homem!

Giovanna levantou-se animada. Pegou o interfone e chamou Duílio, o assessor.

O rapaz chegou agitado. Era um jovem de estatura mediana, cabelos penteados para trás, lhe dando um ar de mais velho. Na verdade, podia ter pouco mais de vinte e seis anos.  Usava um terno impecável, na cor cinza.

Os olhos bem pretos do rapaz estavam fixos em Fabian.

  — Pois não senhor! Em que posso ajudá-lo?— ele falava ansioso pela atenção do patrão.

Fabian virou-se frio para ele.

  — Preciso de uma esposa— disse seco.

O rapaz ergueu as sobrancelhas e não respondeu. Ficou estático por um instante depois indagou:

  —Eu entendi direito, senhor? O senhor precisa de uma esposa, é isso mesmo?

Fabian suspirou impaciente. Fez um gesto para que a mãe explicasse.

Geovanna riu maliciosa. Todos ali na empresa a temiam. Duílio encolheu os ombros, enquanto ela falava inclinada na sua direção. Ele podia sentir o seu hálito no rosto:

  — Precisamos que nos traga um fazendeiro muito ambicioso para conversarmos com ele, entendeu?

Duílio engoliu em seco e assentiu com a cabeça.

Fabian fez um gesto para que o rapaz sentasse à mesa.

  — Duílio, preciso de uma esposa de fachada. Pensei numa moça simples, que não me criasse problema algum. Ela tem que ser muito humilde para que encha os olhos com a recompensa que lhe darei ao unir-se a mim. — quando terminou de falar, Fabian examinou a expressão assustada do rapaz e controlou a sua ansiedade, falando com voz mais branda:

  — Sabe de um fazendeiro, lá das bandas de Minas Gerais, que possa nos ajudar? Ele também será bem recompensado.

  — Sei, sim senhor. O coronel Ambrósio!— o rapaz respondeu prontamente.

Giovanna ergueu as sobrancelhas e sorriu.

Fabian inclinou-se para olhar nos olhos do rapaz e disse com voz controlada, parecia uma súplica:

  — Pode trazê-lo aqui? Quero tratar com ele.

O rapaz assentiu com a cabeça e Fabian falou em tom de ordem:

  — Amanhã! Quero-o aqui amanhã!

Duílio levantou-se assustado olhando para o chão.

  — Sim senhor! Vou ligar para ele agora. Nesse minuto. — disse isso e saiu apressado.

Quando Duílio saiu da sala, Fabian encostou-se a sua cadeira sorrindo. Suspirava aliviado. Estava tudo arquitetado. Se casaria com uma moça qualquer, só para herdar a herança e nunca mais a veria depois do término do contrato.

  — Mãe, mande preparar o contrato para esse tal coronel Ambrósio levar aos pais da moça, seja ela quem for. — disse animado.

  — Imagine, em pleno século vinte e um, alguém ainda ser chamado de coronel porque é um fazendeiro abastado! Que tipo de homem é esse?— Giovanna analisava pensativa.

Fabian levantou-se falando:

  — Pouco me importa mãe! Só quero resolver essa situação de uma vez.

Fabian saiu da sala de reunião acompanhado da mãe. Ele foi para a sua sala. Precisava voltar ao trabalho.

Chegando lá, sentou-se e pôs-se a reclamar da decoração:

  — Mãe precisa mudar tudo nessa sala.

Era a antiga sala de Beatrice. A decoração era sóbria e conservadora. Fabian se sentia velho, sentado àquela mesa de madeira torneada.

  — Vou trocar todos esses móveis, filho!  — ela dizia tocando o tecido escuro e pesado da cortina atrás de Fabian.

  — Quero tudo moderno, novo, de bom gosto! Tire todos esses objetos tristes de decoração! — Fabian falava se referindo às estatuetas, das quais Beatrice tinha tanto apreço.

Giovanna era uma espécie de secretária. Passava o dia quase todo auxiliando o filho. Quando não, circulava por todos os setores do prédio, dando palpite em tudo, o que deixava os funcionários contrariados.

Giovanna olhava em volta com expressão de desagrado, ao tocar nos objetos, antes intocáveis.

Ninguém se atrevia a dar qualquer palpite sobre decoração com Beatrice.

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