INDOMÁVEL E SEDUTOR
Fabian ficou desesperado com o silêncio do homem, ali a sua frente. Via nele a sua esperança. Tinha que confiar em alguém. Sabia que por algum motivo Duílio tinha o indicado. Com certeza levava fama de ambicioso e não era à toa.
Houve um silencio e Fabian avançou para fazer o que mais sabia: subornar.
— Será bem recompensado coronel. Sabe que sou muito generoso quando quero, mas sou muito má quando preciso.
Ambrósio, tomou aquilo como ameaça e engoliu em seco.
Giovanna percebeu que Fabian estava assustando o visitante e entrou na conversa:
— O que o meu filho quer dizer, é que podemos oferecer uma terra de presente para o suposto sogro dele, entendeu? Assim como o coronel receberá uma quantia generosa em dinheiro.
Fabian inclinou-se na direção de Ambrósio e indagou com voz falsamente aveludada:
— Diga-me coronel, conhece uma moça tão pura capaz de se encaixar nesses requisitos dos quais lhe falei?
Os olhos de Ambrósio brilharam enquanto ele respondeu:
— Sim barão, eu conheço a moca da qual o senhor está à procura.
Angel, apesar dos seus dezoito anos, mais parecia uma menina, a correr pelas propriedades da fazenda do coronel Ambrósio.
Os longos cabelos loiros de Angel voavam ao vento, se harmonizando com o seu vestido estampado em flores minúsculas nos tons de rosa. Os olhos azuis brilhavam ao sol escaldante daquelas terras de Minas Gerais. Estado esse que é o maior produtor de café do Brasil.
Angel ouviu a sua mãe chamar ao longe. Parou de correr de repente, ofegante.
Os cabelos maltratados, pelo sol e pelo vento, caiam sobre os seus olhos e desciam até a sua cintura.
Angel levantou o rosto, antes abaixado e sua boca carnuda, bem torneada, vieram à visão, junto com o rosto corado. Parecia que tinha duas maçãs na face.
Magra, alta, pele bronzeada, tinha porte de princesa, mesmo sem trato, parecia mais uma borralheira, prestes a desabrochar.
Sem experiência com o mundo fora da fazenda, Angel nunca namorou. Mergulhava nas estórias de contos de fadas, que lera repetidas vezes.
Havia uma escola, bancada por fazendeiros em parceria com a prefeitura, da cidade local, mas Angel frequentava muito pouco, pois sempre precisou ajudar nos afazeres da casa grande, junto com a sua mãe.
Helena, filha do coronel Ambrósio, formada em pedagogia, lhe auxiliava.
Moça bonita, estudada, estava à espera de um bom casamento.
Helena tinha os cabelos curtos e bem cortados na altura dos ombros. Tinha a pele branca, bem cuidada, olhos bem pretos e expressivos. Andava sempre bem vestida e maquiada.
Angel imaginava que Helena fosse uma princesa, à espera um príncipe encantado.
Helena tinha forte admiração por Angel e sempre dizia à mãe que ela merecia uma sorte melhor, por ser tão bonita e inteligente.
Dona Norma, sua mãe, limitava-se a dizer:
— Cada um com a sua sorte, filha.
Norma, assim como Helena, também foi preparada para casar. Estudou na cidade, mas voltou para se casar com o primeiro fazendeiro que se encantou por ela.
Helena não reclamava da sua sorte, mas sentia muito por Angel. Dizia que, se fosse bem cuidada, veriam que era uma mulher muito bonita.
Angel gostava mesmo de ler estória de princesa. A gata borralheira, era a sua preferida. Lia sempre quando estava triste.
Uma vez, Helena deu-lhe um vestido de festa. Ela levou para casa, imensamente feliz. Vestia ele sempre quando estava a sonhar com o príncipe dos contos de fadas.
Helena viajou para a cidade e trouxe-lhe um presente: uma miniatura perfeita de um castelo, feito de papel. Os olhos de Angel brilharam de emoção.
Ela olhava aquele castelo e sonhava que morava ali, com o seu príncipe encantado.
Helena, sorria emocionada.” Como era fácil agradar Angel “
— Cuida bem dele, Angel— ela dizia.
— Pode deixar senhorita Helena. Vou guardar com carinho. Sempre sonhei com um desses.
Helena já tinha 24 anos e não tinha encontrado um pretende ainda, mas não tinha os sonhos que acalentam o coração de Angel.
Norma olhava da varanda as moças conversando animadamente. Pensava no que Helena falou a respeito da filha da sua criada Alzira.
Constataram que a menina era uma moça bonita mesmo. Os olhos azuis como o céu. Os cabelos tão loiros e encaracolados, parecia um anjo.
Norma tinha um pé atrás com a beleza daquela moça. Perguntava-se da onde saiu tanta formosura.
Alzira vinha lá de dentro da casa, arrumando o avental que amarrava a cintura.
— Alzira, da onde saiu tanta formosura dessa sua filha, hein? Esses olhos azuis e esses cabelos loiros!—Norma falava olhando as duas moças ao longe.
Alzira olhou com desagrado para a patroa. Não gostou da insinuação maldosa dela.
— Sei lá patroa, deve ser do lado do pai dela!—Alzira respondeu, provocando a outra.
Norma virou-se de súbito para encarar a criada, aceitando aquelas palavras como uma afronta.
Alzira não alterava um músculo do rosto. Olhava a filha com encantamento.
— Mas a danada é bonita demais, não é mesmo?— ela dizia com um sorriso orgulhoso de mãe.
Norma balançou o corpo encarando a outra ali na sua frente, que ignorava completamente a sua dúvida. Mas onde que Eusébio, seu marido, tinha traços tão delicados? — pensava injuriada.
Eusébio, pai de Angel, tinha a pele bem escura por se expor muito ao sol, mas não parecia nada com a moça.
Norma girou nos calcanhares e deu-lhe as costas novamente voltando a contemplar a filha ao longe.
Alzira olhou para ela e segurou o riso, depois se voltou para os seus afazeres, deixando a patroa a sós com as suas caraminholas na cabeça.
Helena vinha na direção da casa enquanto Angel corria ao longe sem destino. Parecia um pássaro, livre a voar.
— O teu pai está demorando demais nessa viagem!—Norma desabafou com a filha que subia os degraus
Os olhos de Norma não saíam de Angel.
— Mas essa menina tem energia pra correr por esse mundo afora.
Helena correu os olhos na direção de Angel e sorriu.
— Ela é só uma menina!—ela falou.
—Mas já fez dezoito anos!—Norma rebateu.
Helena entrou na casa falando a mãe:
— Só tem tamanho mãe!
Norma também resolveu entrar, mas antes deu uma olhada para trás falando:
— Parece que tem a cabeça nas nuvens!
INDOMÁVEL E SEDUTOR Quando Ambrósio chegou cansado da viagem à São Paulo, Norma o esperava ansiosa. Já era tarde. Helena lhe fazia companhia. Ele tinha a expressão abatida. — Mas que cara é essa homem?—Norma indagou curiosa. Helena foi abraçar o pai e o levou para a mesa de jantar. Depois de lavar as mãos e o rosto no lavabo, Ambrósio foi sentar à mesa. Norma foi servi-lo, pois Alzira já havia ido embora com Angel. Ambrósio esticou o pescoço na direção da cozinha. — Alzira já foi embora?—ele indagou em voz baixa. Norma se sacudiu e respondeu aborrecida: — Há muito tempo homem! Porque está perguntando? Ambrósio ignorava o ranço que a mulher tinha pela a outra. — Tenho uma bomba pra contar pra vocês. — ele declarou olhando a reação das duas à mesa. — Nossa! Bem que essa viagem estava mesmo estranha! O que esse tal barão do café queria com você? — Norma falava apoiando os cotovelos na mesa e se inclinando na direção do marido. — Mas eu estou até agora sem acre
INDOMÁVEL E SEDUTOR Depois que Ambrósio jantou, subiu com a esposa para o quarto. Estava exausto. Tomou um banho e deitou-se. Norma vestiu uma camisola de algodão, estampada com minúsculas flores amarelas, se perfumou e foi deita-se do lado do marido. Estava fogosa, pois fazia quase um mês que o marido não lhe procurava. Ela achava que ele se deitava com mulheres da noite. Assim ela chamava as prostitutas que atendia em casa noturna. Norma não tinha ciúmes dessas, achava que isso era coisa de homem. Só tinha um ranço por Alzira. Achava estranho que Angel não se parecia com os pais e que tinha o cabelo e os olhos iguais aos do seu marido. Alzira parecia perceber, mas não se importava, isso deixava Norma mais intrigada. Estava feliz pelo marido ter poupado Helena daquele casamento esdrúxulo e não ter se importado com Angel. Deitou-se querendo falar do assunto: — Você acha que o compadre Eusébio vai concordar com o negócio do casamento Ambrósio? Ambrósio virou-se pra ela e re
INDOMÁVEL E SEDUTOR Eusébio segurou firme o seu chapéu e olhou fixamente nos olhos do patrão dizendo: — Eu imagino como deve ser difícil para o senhor, não poder casar a sua filha com esse homem tão generoso! Ambrósio ficou pensativo. Não sabia se o compadre estava sendo irônico. Apesar de ser um homem simples não podia deixar de ficar intrigado pelo fato dele não oferecer Helena primeiro. — Diga-me coronel, quem é esse partido que o senhor arrumou pra minha menina. — Eusébio quis saber. Ambrósio falou de uma vez: — O barão do café. Eusébio ficou boquiaberto. Ambrósio ficou a analisar a reação do compadre. Não sabia se era boa ou ruim, mas tinha que convencê-lo. Eusébio coçou a cabeça pensativo. Depois ficou orgulhoso. Ambrósio suspirou aliviado. Empurrou o contrato para a frente e disse: — É só assinar. Eusébio franziu a testa. O coronel continuou: — Vai ter a sua fazenda e o homem será o seu genro. O que pode querer mais da vida? — Diacho!— Eusébio prague
INDOMÁVEL E SEDUTOR Helena cavalgava sem destino. Fazia sempre isso quando estava angustiada. Como uma vez em que o seu pai lhe comunicou que havia arranjado para ela um casamento com um fazendeiro viúvo de quarenta e cinco anos. Ela simplesmente saiu a cavalo e sumiu no meio do mato. Foi encontrada por Teobaldo horas depois. O pai ficou tão arrependido que desfez o acordo com o seu pretendente e jurou nunca mais lhe impor um marido. Agora, sem que Ambrósio percebesse, ela se embrenhou novamente no meio do mato. Teobaldo saiu na caminhonete atrás dela. Ele já sabia mais ou menos onde ela se escondia. Não era a primeira vez que sumira. Ele parou o carro e desceu. Andou na direção do rio. Ela estava lá. Olhando as águas. O pensamento perdido. — Senhorita Helena!— ele chamou. Ela assustou-se. Virou-se de repente. Ele já estava muito perto. Um beijo foi inevitável. Helena o empurrou ofegante. — Ficou louco? Já falei que isso não podia acontecer novamente! — ela queixou-se,
INDOMÁVEL E SEDUTOR Helena sabia que Angel podia ser quem quisesse, porque o seu espírito era livre. — Queria ser como você Angel. — ela disse com tristeza. Angel se levantou e começou a falar como se estivesse dentro dos seus livros. — E eu queria ser como a senhorita. Linda! Mais parece uma princesa! Helena sorria enquanto comia. Olhava Angel fingindo que usava um vestido de princesa. Quase dava para vê-lo, quão real parecia. Depois que comeu, Helena deu aula para Angel. — Precisa fazer as provas semana que vem. Só então poderá sonhar com uma faculdade. — ela dizia para a sua aluna. — Faculdade! Tenho que fazer faculdade? — Angel indagou curiosa. Helena se diverte com Angel. Ela tinha um jeito infantil de ser. — E o que pretende fazer da sua vida? — Helena quis saber. Angel pensou um pouco, depois disse: — Casar com um príncipe encantado e ser feliz! — Só isso?!— Helena falou incrédula. Angel respondeu-lhe com voz mansa: — Mas a senhorita não estudou
INDOMÁVEL E SEDUTOR No dia seguinte, quando chegou para trabalhar, Alzira já procurou logo falar com Ambrósio. — O senhor me dá licença que eu preciso ter uma prosa com o senhor. — disse em tom de desespero.Ambrósio apontou o caminho do escritório. Alzira seguiu pra lá. Norma queria ir atrás, mas ele lhe repreendeu: — Você fica mulher! O assunto não lhe diz respeito.Norma respirou fundo e foi para a cozinha.Alzira não conseguia se sentar, por mais que o coronel insistisse. — Não fique nervosa comadre! Sua filha vai fazer um bom casamento — ele dizia. — Mas porque não ajeitou tudo isso pra senhorita Helena, que já passa da idade de casar? — Alzira falava sem parar.Ambrósio engoliu em seco. Escolheu as palavras antes falar: — Comadre, a minha filha tem condições de arrumar um pretendente rico. A chance da sua filha é essa. Procure entender que eu estou pensando na minha afilhada.Alzira encheu os pulmões e indagou: — Se Angel fosse sua filha, ainda assim, acharia um bo
INDOMÁVEL E SEDUTOR Rodrigo levantou-se. Vestia-se sempre muito elegante, menos sóbrio que Fabian. Os cabelos pretos encaracolados e desalinhados propositadamente, fazia-lhe parecer mais jovial. Usava uma corrente delicada de ouro no pescoço e deixava a camisa pouco desabotoada para que ela ficasse à mostra. Tinha os olhos pretos, bem expressivos e a boca bem definida. A pele era alva como a da mãe. Na verdade eles se pareciam muito. Usava uma calça preta e camisa marrom. Estava perfumado e apressado para sair. — A conversa acabou? — ele quis saber. Giovana levantou-se e foi abraçá-lo. — Filho, acabou de chegar e já vai sair? — ela falava carinhosa. Fabian suspirou impaciente. — Deixe-o ir mãe! Não está vendo que já combinou de ir pra farra com os amigos?— ele dizia olhando para a mãe, achando patética a sua preocupação. Rodrigo riu abraçando a mãe. — Volto logo! Estou mesmo cansado da viagem. — ele disse olhando para Fabian que se roía de ciúmes. Rodrigo se aproxim
INDOMÁVEL E SEDUTOR Sobre a cômoda tinha um castelo de papel em miniatura. Uma réplica perfeita. Angel escovava os cabelos encaracolados e muito loiros olhando para a maquete e sonhando. Estava curiosa em saber como seria esse tal barão do café. Angel imaginava ele um homem extremamente bonito e fino. Até aí tudo bem, mas a imaginação dela ia mais além. Imaginava Fabian um homem meigo, carinhoso, de voz suave e doce. Ficou ali sonhando até adormecer. Os pais estavam em pé de guerra. — Eu devia ficar aqui nessa casa e deixar você sozinho nessa tal fazenda Eusébio. — Alzira resmungava, enquanto Eusébio tentava lhe acarinhar. Ele não respondia, estava fogoso como nunca. Talvez por conta da alegria de saber que no dia seguinte seria dono de terra, fazendeiro. Sempre morou nas terras do coronel Ambrósio. Sempre trabalhou para ele. Conheceu Alzira, ela já trabalhava na fazenda. O povo de língua ferina, lhe dizia que ela era gazela do coronel. Mesmo assim, ele se engraçou por ela.