Capítulo 5°

INDOMÁVEL E SEDUTOR 

Fabian ficou desesperado com o silêncio do homem, ali a sua frente. Via nele a sua esperança. Tinha que confiar em alguém. Sabia que por algum motivo Duílio tinha o indicado. Com certeza levava fama de ambicioso e não era à toa.

Houve um silencio e Fabian avançou para fazer o que mais sabia: subornar.

  — Será bem recompensado coronel. Sabe que sou muito generoso quando quero, mas sou muito má quando preciso.

Ambrósio, tomou aquilo como ameaça e engoliu em seco.

Giovanna percebeu que Fabian estava assustando o visitante e entrou na conversa:

  — O que o meu filho quer dizer, é que podemos oferecer uma terra de presente para o suposto sogro dele, entendeu? Assim como o coronel receberá uma quantia generosa em dinheiro.

Fabian inclinou-se na direção de Ambrósio e indagou com voz falsamente aveludada:

  — Diga-me coronel, conhece uma moça tão pura capaz de se encaixar nesses requisitos dos quais lhe falei?

Os olhos de Ambrósio brilharam enquanto ele respondeu:

  — Sim barão, eu conheço a moca da qual o senhor está à procura.

Angel, apesar dos seus dezoito anos, mais parecia uma menina, a correr pelas propriedades da fazenda do coronel Ambrósio.

Os longos cabelos loiros de Angel voavam ao vento, se harmonizando com o seu vestido estampado em flores minúsculas nos tons de rosa. Os olhos azuis brilhavam ao sol escaldante daquelas terras de Minas Gerais. Estado esse que é o maior produtor de café do Brasil.

Angel ouviu a sua mãe chamar ao longe. Parou de correr de repente, ofegante.

Os cabelos maltratados, pelo sol e pelo vento, caiam sobre os seus olhos e desciam até a sua cintura.

Angel levantou o rosto, antes abaixado e sua boca carnuda, bem torneada, vieram à visão, junto com o rosto corado. Parecia que tinha duas maçãs na face.

Magra, alta, pele bronzeada, tinha porte de princesa, mesmo sem trato, parecia mais uma  borralheira, prestes a desabrochar.

Sem experiência com o mundo fora da fazenda, Angel nunca namorou. Mergulhava nas estórias de contos de fadas, que lera repetidas vezes.

Havia uma escola, bancada por fazendeiros em parceria com a prefeitura, da cidade local, mas Angel frequentava muito pouco, pois sempre precisou ajudar nos afazeres da casa grande, junto com a sua mãe.

Helena, filha do coronel Ambrósio, formada em pedagogia, lhe auxiliava.

Moça bonita, estudada, estava à espera de um bom casamento.

Helena tinha os cabelos curtos e bem cortados na altura dos ombros. Tinha a pele branca, bem cuidada, olhos bem pretos e expressivos. Andava sempre bem vestida e maquiada.

Angel imaginava que Helena fosse uma princesa, à espera um príncipe encantado.

Helena tinha forte admiração por Angel e sempre dizia à mãe que ela merecia uma sorte melhor, por ser tão bonita e inteligente.

Dona Norma, sua mãe, limitava-se a dizer:

  — Cada um com a sua sorte, filha.

Norma, assim como Helena, também foi preparada para casar. Estudou na cidade, mas voltou para se casar com o primeiro fazendeiro que se encantou por ela.

Helena não reclamava da sua sorte, mas sentia muito por Angel. Dizia que, se fosse bem cuidada, veriam que era uma mulher muito bonita.

Angel gostava mesmo de ler estória de princesa. A gata borralheira, era a sua preferida. Lia sempre quando estava triste.

Uma vez, Helena deu-lhe um vestido de festa. Ela levou para casa, imensamente feliz. Vestia ele sempre quando estava a sonhar com o príncipe dos contos de fadas.

Helena viajou para a cidade e trouxe-lhe um presente: uma miniatura perfeita de um castelo, feito de papel. Os olhos de Angel brilharam de emoção.

Ela olhava aquele castelo e sonhava que morava ali, com o seu príncipe encantado.

Helena, sorria emocionada.” Como era fácil agradar Angel “

  — Cuida bem dele, Angel— ela dizia.

  — Pode deixar senhorita Helena. Vou guardar com carinho. Sempre sonhei com um desses.

Helena já tinha 24 anos e não tinha encontrado um pretende ainda, mas não tinha os sonhos que acalentam o coração de Angel.

Norma olhava da varanda as moças conversando animadamente. Pensava no que Helena falou a respeito da filha da sua criada  Alzira.

Constataram que a menina era uma moça bonita mesmo. Os olhos azuis como o céu. Os cabelos tão loiros e encaracolados, parecia um anjo.

Norma tinha um pé atrás com a beleza daquela moça. Perguntava-se da onde saiu tanta formosura.

Alzira vinha lá de dentro da casa, arrumando o avental que amarrava a cintura.

  — Alzira, da onde saiu tanta formosura dessa sua filha, hein? Esses olhos azuis e esses cabelos loiros!—Norma falava olhando as duas moças ao longe.

Alzira olhou com desagrado para a patroa. Não gostou da insinuação maldosa dela.

  — Sei lá patroa, deve ser do lado do pai dela!—Alzira respondeu, provocando a outra.

Norma virou-se de súbito para encarar a criada, aceitando aquelas palavras como uma afronta.

Alzira não alterava um músculo do rosto. Olhava a filha com encantamento.

  — Mas a danada é bonita demais, não é mesmo?— ela dizia com um sorriso orgulhoso de mãe.

Norma balançou o corpo encarando a outra ali na sua frente, que ignorava completamente a sua dúvida. Mas onde que Eusébio, seu marido, tinha traços tão delicados? — pensava injuriada.

Eusébio, pai de Angel, tinha a pele bem escura por se expor muito ao sol, mas não parecia nada com a moça.

Norma girou nos calcanhares e deu-lhe as costas novamente voltando a contemplar a filha ao longe.

Alzira olhou para ela e segurou o riso, depois se voltou para os seus afazeres, deixando a patroa a sós com as suas caraminholas na cabeça.

Helena vinha na direção da casa enquanto Angel corria ao longe sem destino. Parecia um pássaro, livre a voar.

  — O teu pai está demorando demais nessa viagem!—Norma desabafou com a filha que subia os degraus

Os olhos de Norma não saíam de Angel.

  — Mas essa menina tem energia pra correr por esse mundo afora.

Helena correu os olhos na direção de Angel e sorriu.

  — Ela é só uma menina!—ela falou.

  —Mas já fez dezoito anos!—Norma rebateu.

Helena entrou na casa falando a mãe:

  — Só tem tamanho mãe!

Norma também resolveu entrar, mas antes deu uma olhada para trás falando:

  — Parece que tem a cabeça nas nuvens!

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