Capítulo 4°

INDOMÁVEL E SEDUTOR 

Qualquer sugestão era mal vista aos olhos da conservadora e autoritária soberana. Apenas Fabian podia atrever-se a dar qualquer opinião, mas isso não significava que ela lhe atenderia.

Passaram o resto do dia tratando das mudanças. Inclusive, Giovanna achava que tinha que trocar quase tudo em todos os setores. Dizia ter náuseas ao ver tanta velharia.

  — Tudo bem mãe, semana que vem tenho uma viagem de negócios, aí você aproveita e troca tudo que quiser.

Chegaram à noite exaustos. Passaram no lavabo e lavaram as mãos para o jantar.

Scarlet, uma senhora que aparentava seus cinquenta anos, alta, magra e elegante, num vestido preto, bem composto ate os joelhos, tinha os cabelos e olhos castanhos claros, era a governanta.  Acompanhava Dorothy, outra senhora da mesma idade, sendo essa ultima negra, forte e de estatura mediana, olhos e cabelos bem pretos. Vestia um vestido discreto azul marinho. Elas serviam o jantar em silêncio.

Fabian olhou para a mãe com cumplicidade. Giovanna entendeu. Fez apenas um gesto para que Scarlet e Dorothy se retirassem.

  — Então mãe, amanhã vamos receber o tal coronel na empresa e resolver essa situação de uma vez!

Giovanna esticou o pescoço na direção da cozinha e cochichou:

  — Os criados, ouvem através das paredes meu filho!

Fabian deu de ombros e disse:

  — São todos de confiança. Estão conosco há anos!

Giovanna não concordava com o filho, meneava cabeça impaciente:

  — Eles eram fiéis a Beatrice, entenda Fabian! São como abutres! Querem nos ver pelas costas!

Nesse momento, três pessoas estavam boquiabertas por detrás da parede que separava a sala de jantar da cozinha.

O terceiro era Alfred, elegantérrimo, alto e magro de pele bem alva, se alternava entre motorista e mordomo, usava até luvas brancas. Foi sempre assim desde o tempo de Beatrice.

Scarlet tinha a mão ao peito num gesto de indignação. Dorothy, mais contida, expressava desejo de chorar e Alfred se alterava falando baixinho:

  — Estou passado, que absurdo! Chamarmo-nos de abutres! Choquei meninas!

Ouve-se o ruído de cadeiras arrastando. Alfred seguiu pela porta dos fundos, que dava para os quartos dos criados. As duas mulheres foram retirar as baixelas de prata.

Giovanna olhou para trás, antes de seguir o filho que subia as escadas. Ela percebeu que as criadas vieram rápido demais.

Fabian subia as escadas tranquilamente, enquanto Giovanna lançava olhares intimidadores para as criadas. Não era à toa que a chamavam de bruxa.

Fabian entrou no seu quarto. Observou a mobília antiga, ao menos tinha uma banheira. Disso ele gostava. Não iria incomodar os criados há essa hora. Tomou um banho de chuveiro mesmo e entrou para debaixo das cobertas.

Adormeceu  pensando no dia seguinte. Seria muito importante conhecer o tal, como ele mesmo dizia, coronel Ambrósio.

Por sua vez, Ambrósio estava apreensivo na fazenda. Deitado ao lado da esposa Norma, ele desabafava:

  — O que será que o barão quer comigo mulher? Estou sem sono com isso! Assim de uma hora par outra! Nunca falei direto com o homem!

Norma quase dormia, desinteressada no assunto. Ambrósio ficou falando ainda por algum tempo, até perceber que falava sozinho.

  — Diacho que estou a falar sozinho e a mulher não se importa comigo!

Demorou, mas Ambrósio enfim dormiu.

Acordou cedo ansioso para viajar a São Paulo. Seu homem de confiança, Teobaldo, mais era um segurança. Andava armado pra tudo o quanto era lugar. Ele tinha quase dois metros de altura. Era musculoso e muito bonito. As moças suspiravam ao vê-lo passar.

Teobaldo deixou o patrão no aeroporto mais próximo e voltou para a fazenda. Ambrósio pretendia voltar no mesmo dia.

Ambrósio chegou ao aeroporto e já era esperado por Alfred que carregava uma placa com o seu nome.

O patrão nunca havia lhe pedido para fazer tal tarefa. Alfred estava insatisfeito. Devia ser muito importante para ele, que aquele homem chegasse tranquilamente sem nenhum imprevisto. Curioso, tentou puxar assunto com o visitante, mas o homem estava cabreiro. Era nítido que o mesmo estava suando por demais. Devia estar nervoso só de pensar em ficar de frente com o barão do café.

Chegaram ao escritório de Fabian. Ambrósio olhou a fachada de vidro espelhado e ficou admirado, e por que não dizer: “deslumbrado”.

Ele estranhou que um homem tão importante como Fabian, o recebesse tão rápido.

Ambrósio foi conduzido por uma moça uniformizada, até a sala de reunião, onde Fabian e Giovanna estavam à sua espera.

Depois de tirar o chapéu, o fazendeiro cumprimentou Fabian e Giovanna com um aperto de mãos. A mulher ficou intrigada com aquela figura rústica e tão bela. Ela reparou nos olhos azuis brilhantes do homem. A expressão rude também, de alguma forma, lhe deixou incomodada.

Giovanna cruzou as pernas, nervosa. Ficou a contemplar o visitante que parecia ter saído de um filme de faroeste. Ela suspirou descaradamente quando o homem sentou-se à sua frente.

Fabian estava incomodado com a reação da mãe. Ate Ambrósio, que estava nervoso por estar diante do homem mais rico de quem já ouviu falar, percebeu o seu olhar sobre ele.

Fabian deixou que Ambrósio ficasse à vontade e ate pediu que servisse para eles um café.

Depois de um tempo, Fabian sentiu que o convidado estava já tão à vontade que retribuía o olhar interessado da mãe. Então começou a falar:

  — Pois bem, senhor coronel Ambrósio! Chamei-lhe aqui porque tenho uma proposta a fazer-lhe.

Ambrósio se ajeitou na cadeira e virou-se para Fabian.

Ele continuou a falar:

  — Consiga para mim uma esposa para um casamento de fachada. Mas tem que ser uma pessoa incapaz de me criar problemas.

Ambrósio ergueu as sobrancelhas. Pensou logo na filha que estava a esperar um bom casamento. Helena já se recusou a casar-se com fazendeiros viúvos, e como estava difícil de lhe casar com um jovem fazendeiro rico, lhe veio à ideia à cabeça. Mas Fabian foi logo falando das condições e ele desanimou.

  — Pretendo recompensar bem os pais da moça, porque a devolverei em quatro anos. Preciso casar-me para ter direito a uma herança, não vou esconder isso do coronel.

Ambrósio ficou pensativo. Não podia colocar a filha numa situação daquela, mas precisava ajudar o barão. Sabia que seria bem recompensado também.

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