INDOMÁVEL E SEDUTOR
Qualquer sugestão era mal vista aos olhos da conservadora e autoritária soberana. Apenas Fabian podia atrever-se a dar qualquer opinião, mas isso não significava que ela lhe atenderia.
Passaram o resto do dia tratando das mudanças. Inclusive, Giovanna achava que tinha que trocar quase tudo em todos os setores. Dizia ter náuseas ao ver tanta velharia.
— Tudo bem mãe, semana que vem tenho uma viagem de negócios, aí você aproveita e troca tudo que quiser.
Chegaram à noite exaustos. Passaram no lavabo e lavaram as mãos para o jantar.
Scarlet, uma senhora que aparentava seus cinquenta anos, alta, magra e elegante, num vestido preto, bem composto ate os joelhos, tinha os cabelos e olhos castanhos claros, era a governanta. Acompanhava Dorothy, outra senhora da mesma idade, sendo essa ultima negra, forte e de estatura mediana, olhos e cabelos bem pretos. Vestia um vestido discreto azul marinho. Elas serviam o jantar em silêncio.
Fabian olhou para a mãe com cumplicidade. Giovanna entendeu. Fez apenas um gesto para que Scarlet e Dorothy se retirassem.
— Então mãe, amanhã vamos receber o tal coronel na empresa e resolver essa situação de uma vez!
Giovanna esticou o pescoço na direção da cozinha e cochichou:
— Os criados, ouvem através das paredes meu filho!
Fabian deu de ombros e disse:
— São todos de confiança. Estão conosco há anos!
Giovanna não concordava com o filho, meneava cabeça impaciente:
— Eles eram fiéis a Beatrice, entenda Fabian! São como abutres! Querem nos ver pelas costas!
Nesse momento, três pessoas estavam boquiabertas por detrás da parede que separava a sala de jantar da cozinha.
O terceiro era Alfred, elegantérrimo, alto e magro de pele bem alva, se alternava entre motorista e mordomo, usava até luvas brancas. Foi sempre assim desde o tempo de Beatrice.
Scarlet tinha a mão ao peito num gesto de indignação. Dorothy, mais contida, expressava desejo de chorar e Alfred se alterava falando baixinho:
— Estou passado, que absurdo! Chamarmo-nos de abutres! Choquei meninas!
Ouve-se o ruído de cadeiras arrastando. Alfred seguiu pela porta dos fundos, que dava para os quartos dos criados. As duas mulheres foram retirar as baixelas de prata.
Giovanna olhou para trás, antes de seguir o filho que subia as escadas. Ela percebeu que as criadas vieram rápido demais.
Fabian subia as escadas tranquilamente, enquanto Giovanna lançava olhares intimidadores para as criadas. Não era à toa que a chamavam de bruxa.
Fabian entrou no seu quarto. Observou a mobília antiga, ao menos tinha uma banheira. Disso ele gostava. Não iria incomodar os criados há essa hora. Tomou um banho de chuveiro mesmo e entrou para debaixo das cobertas.
Adormeceu pensando no dia seguinte. Seria muito importante conhecer o tal, como ele mesmo dizia, coronel Ambrósio.
Por sua vez, Ambrósio estava apreensivo na fazenda. Deitado ao lado da esposa Norma, ele desabafava:
— O que será que o barão quer comigo mulher? Estou sem sono com isso! Assim de uma hora par outra! Nunca falei direto com o homem!
Norma quase dormia, desinteressada no assunto. Ambrósio ficou falando ainda por algum tempo, até perceber que falava sozinho.
— Diacho que estou a falar sozinho e a mulher não se importa comigo!
Demorou, mas Ambrósio enfim dormiu.
Acordou cedo ansioso para viajar a São Paulo. Seu homem de confiança, Teobaldo, mais era um segurança. Andava armado pra tudo o quanto era lugar. Ele tinha quase dois metros de altura. Era musculoso e muito bonito. As moças suspiravam ao vê-lo passar.
Teobaldo deixou o patrão no aeroporto mais próximo e voltou para a fazenda. Ambrósio pretendia voltar no mesmo dia.
Ambrósio chegou ao aeroporto e já era esperado por Alfred que carregava uma placa com o seu nome.
O patrão nunca havia lhe pedido para fazer tal tarefa. Alfred estava insatisfeito. Devia ser muito importante para ele, que aquele homem chegasse tranquilamente sem nenhum imprevisto. Curioso, tentou puxar assunto com o visitante, mas o homem estava cabreiro. Era nítido que o mesmo estava suando por demais. Devia estar nervoso só de pensar em ficar de frente com o barão do café.
Chegaram ao escritório de Fabian. Ambrósio olhou a fachada de vidro espelhado e ficou admirado, e por que não dizer: “deslumbrado”.
Ele estranhou que um homem tão importante como Fabian, o recebesse tão rápido.
Ambrósio foi conduzido por uma moça uniformizada, até a sala de reunião, onde Fabian e Giovanna estavam à sua espera.
Depois de tirar o chapéu, o fazendeiro cumprimentou Fabian e Giovanna com um aperto de mãos. A mulher ficou intrigada com aquela figura rústica e tão bela. Ela reparou nos olhos azuis brilhantes do homem. A expressão rude também, de alguma forma, lhe deixou incomodada.
Giovanna cruzou as pernas, nervosa. Ficou a contemplar o visitante que parecia ter saído de um filme de faroeste. Ela suspirou descaradamente quando o homem sentou-se à sua frente.
Fabian estava incomodado com a reação da mãe. Ate Ambrósio, que estava nervoso por estar diante do homem mais rico de quem já ouviu falar, percebeu o seu olhar sobre ele.
Fabian deixou que Ambrósio ficasse à vontade e ate pediu que servisse para eles um café.
Depois de um tempo, Fabian sentiu que o convidado estava já tão à vontade que retribuía o olhar interessado da mãe. Então começou a falar:
— Pois bem, senhor coronel Ambrósio! Chamei-lhe aqui porque tenho uma proposta a fazer-lhe.
Ambrósio se ajeitou na cadeira e virou-se para Fabian.
Ele continuou a falar:
— Consiga para mim uma esposa para um casamento de fachada. Mas tem que ser uma pessoa incapaz de me criar problemas.
Ambrósio ergueu as sobrancelhas. Pensou logo na filha que estava a esperar um bom casamento. Helena já se recusou a casar-se com fazendeiros viúvos, e como estava difícil de lhe casar com um jovem fazendeiro rico, lhe veio à ideia à cabeça. Mas Fabian foi logo falando das condições e ele desanimou.
— Pretendo recompensar bem os pais da moça, porque a devolverei em quatro anos. Preciso casar-me para ter direito a uma herança, não vou esconder isso do coronel.
Ambrósio ficou pensativo. Não podia colocar a filha numa situação daquela, mas precisava ajudar o barão. Sabia que seria bem recompensado também.
INDOMÁVEL E SEDUTOR Fabian ficou desesperado com o silêncio do homem, ali a sua frente. Via nele a sua esperança. Tinha que confiar em alguém. Sabia que por algum motivo Duílio tinha o indicado. Com certeza levava fama de ambicioso e não era à toa. Houve um silencio e Fabian avançou para fazer o que mais sabia: subornar. — Será bem recompensado coronel. Sabe que sou muito generoso quando quero, mas sou muito má quando preciso. Ambrósio, tomou aquilo como ameaça e engoliu em seco. Giovanna percebeu que Fabian estava assustando o visitante e entrou na conversa: — O que o meu filho quer dizer, é que podemos oferecer uma terra de presente para o suposto sogro dele, entendeu? Assim como o coronel receberá uma quantia generosa em dinheiro. Fabian inclinou-se na direção de Ambrósio e indagou com voz falsamente aveludada: — Diga-me coronel, conhece uma moça tão pura capaz de se encaixar nesses requisitos dos quais lhe falei? Os olhos de Ambrósio brilharam enquanto ele responde
INDOMÁVEL E SEDUTOR Quando Ambrósio chegou cansado da viagem à São Paulo, Norma o esperava ansiosa. Já era tarde. Helena lhe fazia companhia. Ele tinha a expressão abatida. — Mas que cara é essa homem?—Norma indagou curiosa. Helena foi abraçar o pai e o levou para a mesa de jantar. Depois de lavar as mãos e o rosto no lavabo, Ambrósio foi sentar à mesa. Norma foi servi-lo, pois Alzira já havia ido embora com Angel. Ambrósio esticou o pescoço na direção da cozinha. — Alzira já foi embora?—ele indagou em voz baixa. Norma se sacudiu e respondeu aborrecida: — Há muito tempo homem! Porque está perguntando? Ambrósio ignorava o ranço que a mulher tinha pela a outra. — Tenho uma bomba pra contar pra vocês. — ele declarou olhando a reação das duas à mesa. — Nossa! Bem que essa viagem estava mesmo estranha! O que esse tal barão do café queria com você? — Norma falava apoiando os cotovelos na mesa e se inclinando na direção do marido. — Mas eu estou até agora sem acre
INDOMÁVEL E SEDUTOR Depois que Ambrósio jantou, subiu com a esposa para o quarto. Estava exausto. Tomou um banho e deitou-se. Norma vestiu uma camisola de algodão, estampada com minúsculas flores amarelas, se perfumou e foi deita-se do lado do marido. Estava fogosa, pois fazia quase um mês que o marido não lhe procurava. Ela achava que ele se deitava com mulheres da noite. Assim ela chamava as prostitutas que atendia em casa noturna. Norma não tinha ciúmes dessas, achava que isso era coisa de homem. Só tinha um ranço por Alzira. Achava estranho que Angel não se parecia com os pais e que tinha o cabelo e os olhos iguais aos do seu marido. Alzira parecia perceber, mas não se importava, isso deixava Norma mais intrigada. Estava feliz pelo marido ter poupado Helena daquele casamento esdrúxulo e não ter se importado com Angel. Deitou-se querendo falar do assunto: — Você acha que o compadre Eusébio vai concordar com o negócio do casamento Ambrósio? Ambrósio virou-se pra ela e re
INDOMÁVEL E SEDUTOR Eusébio segurou firme o seu chapéu e olhou fixamente nos olhos do patrão dizendo: — Eu imagino como deve ser difícil para o senhor, não poder casar a sua filha com esse homem tão generoso! Ambrósio ficou pensativo. Não sabia se o compadre estava sendo irônico. Apesar de ser um homem simples não podia deixar de ficar intrigado pelo fato dele não oferecer Helena primeiro. — Diga-me coronel, quem é esse partido que o senhor arrumou pra minha menina. — Eusébio quis saber. Ambrósio falou de uma vez: — O barão do café. Eusébio ficou boquiaberto. Ambrósio ficou a analisar a reação do compadre. Não sabia se era boa ou ruim, mas tinha que convencê-lo. Eusébio coçou a cabeça pensativo. Depois ficou orgulhoso. Ambrósio suspirou aliviado. Empurrou o contrato para a frente e disse: — É só assinar. Eusébio franziu a testa. O coronel continuou: — Vai ter a sua fazenda e o homem será o seu genro. O que pode querer mais da vida? — Diacho!— Eusébio prague
INDOMÁVEL E SEDUTOR Helena cavalgava sem destino. Fazia sempre isso quando estava angustiada. Como uma vez em que o seu pai lhe comunicou que havia arranjado para ela um casamento com um fazendeiro viúvo de quarenta e cinco anos. Ela simplesmente saiu a cavalo e sumiu no meio do mato. Foi encontrada por Teobaldo horas depois. O pai ficou tão arrependido que desfez o acordo com o seu pretendente e jurou nunca mais lhe impor um marido. Agora, sem que Ambrósio percebesse, ela se embrenhou novamente no meio do mato. Teobaldo saiu na caminhonete atrás dela. Ele já sabia mais ou menos onde ela se escondia. Não era a primeira vez que sumira. Ele parou o carro e desceu. Andou na direção do rio. Ela estava lá. Olhando as águas. O pensamento perdido. — Senhorita Helena!— ele chamou. Ela assustou-se. Virou-se de repente. Ele já estava muito perto. Um beijo foi inevitável. Helena o empurrou ofegante. — Ficou louco? Já falei que isso não podia acontecer novamente! — ela queixou-se,
INDOMÁVEL E SEDUTOR Helena sabia que Angel podia ser quem quisesse, porque o seu espírito era livre. — Queria ser como você Angel. — ela disse com tristeza. Angel se levantou e começou a falar como se estivesse dentro dos seus livros. — E eu queria ser como a senhorita. Linda! Mais parece uma princesa! Helena sorria enquanto comia. Olhava Angel fingindo que usava um vestido de princesa. Quase dava para vê-lo, quão real parecia. Depois que comeu, Helena deu aula para Angel. — Precisa fazer as provas semana que vem. Só então poderá sonhar com uma faculdade. — ela dizia para a sua aluna. — Faculdade! Tenho que fazer faculdade? — Angel indagou curiosa. Helena se diverte com Angel. Ela tinha um jeito infantil de ser. — E o que pretende fazer da sua vida? — Helena quis saber. Angel pensou um pouco, depois disse: — Casar com um príncipe encantado e ser feliz! — Só isso?!— Helena falou incrédula. Angel respondeu-lhe com voz mansa: — Mas a senhorita não estudou
INDOMÁVEL E SEDUTOR No dia seguinte, quando chegou para trabalhar, Alzira já procurou logo falar com Ambrósio. — O senhor me dá licença que eu preciso ter uma prosa com o senhor. — disse em tom de desespero.Ambrósio apontou o caminho do escritório. Alzira seguiu pra lá. Norma queria ir atrás, mas ele lhe repreendeu: — Você fica mulher! O assunto não lhe diz respeito.Norma respirou fundo e foi para a cozinha.Alzira não conseguia se sentar, por mais que o coronel insistisse. — Não fique nervosa comadre! Sua filha vai fazer um bom casamento — ele dizia. — Mas porque não ajeitou tudo isso pra senhorita Helena, que já passa da idade de casar? — Alzira falava sem parar.Ambrósio engoliu em seco. Escolheu as palavras antes falar: — Comadre, a minha filha tem condições de arrumar um pretendente rico. A chance da sua filha é essa. Procure entender que eu estou pensando na minha afilhada.Alzira encheu os pulmões e indagou: — Se Angel fosse sua filha, ainda assim, acharia um bo
INDOMÁVEL E SEDUTOR Rodrigo levantou-se. Vestia-se sempre muito elegante, menos sóbrio que Fabian. Os cabelos pretos encaracolados e desalinhados propositadamente, fazia-lhe parecer mais jovial. Usava uma corrente delicada de ouro no pescoço e deixava a camisa pouco desabotoada para que ela ficasse à mostra. Tinha os olhos pretos, bem expressivos e a boca bem definida. A pele era alva como a da mãe. Na verdade eles se pareciam muito. Usava uma calça preta e camisa marrom. Estava perfumado e apressado para sair. — A conversa acabou? — ele quis saber. Giovana levantou-se e foi abraçá-lo. — Filho, acabou de chegar e já vai sair? — ela falava carinhosa. Fabian suspirou impaciente. — Deixe-o ir mãe! Não está vendo que já combinou de ir pra farra com os amigos?— ele dizia olhando para a mãe, achando patética a sua preocupação. Rodrigo riu abraçando a mãe. — Volto logo! Estou mesmo cansado da viagem. — ele disse olhando para Fabian que se roía de ciúmes. Rodrigo se aproxim