Charlie MacAleese
Após ouvir as palavras do homem, ditam num inglês carregado de sotaque. Percebi que Donna começou a oscilar ao me lado e num reflexo rápido, amparei seu corpo quando este perdeu as forças indo de encontro ao chão.
— Santa madre de Dios (Santa mãe de Deus) — uma mulher corpulenta, aparentando ter uns setenta anos entrou no estábulo pela mesma porta que o homem tinha vindo minutos antes. — Esta joven necesita un baño caliente y un buen plato de comida (essa jovem precisa de um banho quente e bom prato de comida) — de fato Donna parecia no limite da exaustão. Ao chegar perto, ela olhou para mim. — Y tú también, muchacho. Parece que no duermes en días (e você também rapaz. Parece que não dorme há dias).
Ela não estava errada.
— Madre... — o homem fala e ela o interrompe.
— Dónde están tus modales Hernandes? No escuchaste qu
Charlie MacAleese Ela estava sentada e não dormindo como imaginei. — Achei que estivesse dormindo. Se sente melhor? — digo me sentando ao seu lado, mal cabíamos os dois sentados naquela coisa pequena. — Sim. — Então, por que não dorme um pouco? — Não consigo dormir. Só consigo pensar que amanhã estaremos a caminho de casa. — Não vamos pegar esse barco. Segundo Velasques, tem rebeldes na área e no porto também tem. Mas a algumas milhas daqui tem um barco clandestino, era o que ele ia pegar com a família se o bebê não tivesse nascido antes da hora. — O que você acha? — Acho que é o melhor. — Confio no seu julgamento. — Que bom, porque decidi que vamos nesse. É menos arriscado para você. — Tudo bem. Quanto tempo até chegarmos a esse barco? — Aproximadamente um dia e meio de caminhada. — Depois de tudo o que vivi nos últimos dias, eu já estou acostumada
Donna ReidEsperar era horrível.Abaixada entre a vegetação alta como forma de proteção, eu segurava a arma que Charlie tinha me dado, com as duas mãos. Passei a prestar atenção em cada som à minha volta. Parecia que fazia muito tempo que ele tinha saído, mas eu sabia que tinham sido só alguns minutos.Inquieta em meu esconderijo, eu estava começando a ficar desesperada porque ele não voltava.E se aconteceu alguma coisa?Eu não queria pensar essas coisas, mas era inevitável. E eu comecei a sentir uma agonia dentro de mim. De repente o ar parecia terrivelmente abafado e sufocante. Comecei a chorar e só percebi quando uma lágrima caiu sobre meu braço em frente ao corpo segurando aquela maldita arma.— Charlie, cadê você? — murmurei fechando os olhos. Estava come&cc
Donna Reid A confusão era cada vez maior. Pessoas gritando, outras chorando e chamando por seus conhecidos e parentes. Os segundos pareciam séculos, a chuva não parava, turvando tudo à minha frente e eu continuava gritando e procurando por Charlie, de repente, vi um corpo boiando, emborcado, com o rosto para dentro da água, reconheci uma parte de sua camisa, e se continuasse assim, ele morreria afogado, nadei o mais rápido que pude em meio aos destroços sendo jogados de um lado a outro na água agitada, mas esses obstáculos pelo caminho não me impediriam de chegar até ele. Quando o alcancei, virei seu corpo para cima, o que foi fácil, já que boiava na água. Em meio ao caos total, tratei de nadar para a margem, para longe do barco que dava indicações de que iria afundar de vez a qualquer momento. Graças a Deus não precisei nadar muito, pois, embora fizesse um tempo que estávamos navegando, algumas horas para ser exata, ainda não
Charlie MacAleese Faz mais de duas horas que estamos caminhando e eu não sei quanto tempo levaremos até chegar à fronteira. Sem o mapa, fica difícil de se situar, tudo o que tenho são os meus instintos. — Charlie... — paro e percebo que Donna tinha ficado, alguns passos, para trás. Volto, indo até ela. — Podemos parar um pouco? Estou muito cansada. O certo seria continuar e é isso que faremos, não posso correr o risco de sermos visto agora, estamos num lugar que nos deixa vulnerável. — Vamos continuar — afirmo. — Charlie... — ela começa a protestar, mas eu a pego nos braços e recomeço a andar. — Não precisa fazer isso, você também precisa descansar um pouco. — Não temos tempo para isso, agora todo minuto conta contra nós ou a nosso favor — eu continuava andando. O sol havia secado nossas roupas em nossos corpos e a terra havia absorvido toda água da chuva, restando uma relva verde e vibrante sob
Brandon Miller Fico abaixado, vendo toda movimentação. Essa garota só pode ser piradinha da cabeça ou não tem medo de morrer. Vejo quando Gelder, o braço direito de Ruan Pablo, líder dos rebeldes, diz que vai levá-la até ele e pelo rádio, combinam de se encontrar no acampamento da fronteira. Por sorte, estava aqui perto quando ouvi por este mesmo rádio, Gelder dizer que tinha encontrado a americana e o homem que estava com ela, deduzi logo que seria MacAleese e sua garota. Que merda eles estavam fazendo ali, deviam estar na porcaria do barco, a caminho de onde Rocío os esperava, este já tinha sido avisado e está no local combinado desde ontem, com alguns homens, caso haja algum imprevisto. Afim, de averiguar minhas suspeitas, tratei de dar a desculpa de que ia buscar mais armas para levar para a fronteira e vim atrás deles. Infelizmente não pude fazer nada para que não fossem rendidos, ali tinha um número considerável de homens
Charlie MacAleese Passaram-se algumas horas e eu continuava agitado, não conseguia parar de pensar em Donna. Se ela estava assustada e com medo; se achava que eu estava morto, vi bem o estado em que ela ficou quando pensou que eu havia me afogado. Ela deve estar aterrorizada e isso me mata por dentro. Mas não tive opção a não ser deixar que a levassem para preservar nós dois. Contudo, não pretendia deixar que ficasse sob o julgo deles por mais tempo que o necessário. — Calma aí, amigo. Vamos chegar lá ainda hoje — Brendon fala pela terceira vez pelo fato de me ver acelerar os passos. Desde que começamos a caminhada, vez ou outra ele soltava das suas e eu ignorava o idiota que salvou minha vida. Continuamos nosso caminho, cada um, envolto em seus próprios pensamentos. Demorou mais do que eu gostaria, porque não pudemos usar o carro que ele tinha ido até nós, segundo ele, as estradas estavam com muitos rebeldes. Mas enfim
Momentos antes... Donna Reid Senti o balanço do carro e aquilo estava me deixando enjoada. Fui despertando aos poucos e os acontecimentos iam ficando claro em minha mente. A vila, o naufrágio, o ataque, Charlie... Lágrimas quentes e silenciosas começaram a descer pela lateral do meu rosto. Eu queria voltar para o mundo da inconsciência e não mais pensar naquilo tudo. Mas eu precisava, tinha que pensar numa forma de sair dali, mas como? Não sabia o que seria de mim a partir de agora. Minha mente não tinha condições nenhuma de focar no momento presente e pensar o que viria a seguir. Eu só tinha uma imagem na cabeça: Charlie. Pouco depois o carro parou e aquele homem repugnante me puxou de qualquer jeito para fora do veículo. Então me dei conta de que estava com as mãos amarradas. Ele saiu me puxando e eu deixei meu corpo se mover pelo embalo dos empurrões que ele dava. A sensação de náusea
Donna Reid Ao ouvir sua frase, eu o questionei. Não estava acreditando em meus ouvidos. Agora que estamos perto de sair desse martírio, ele me sai com essa. — Como assim vamos acabar com eles? Não seria melhor ir embora de uma vez? — Não tem como sair daqui sem passar pelo meio do confronto. Todas as fronteiras estão sendo vigiadas por rebeldes. Os militares estão apostos, contam com ajuda militar de outros países e logo a coisa vai ficar feia, pelo menos até a notícia da morte do líder deles se espalhar e eles se renderem. Então, se não quiser sentar e esperar, o único jeito é fazer como MacAleese falou: acabar com os desgraçados e abrir caminho para fora desse inferno — a resposta foi dada por seu amigo, Carlos Rocío. Ainda incerta e com medo, olhei para Charlie. Ele me encarou por alguns instantes, seus olhos parecendo conter fogo líquido. Por um instante imaginei que ele quisesse aquilo, por fim aquela guerra. E qua