Donna Reid
Esperar era horrível.
Abaixada entre a vegetação alta como forma de proteção, eu segurava a arma que Charlie tinha me dado, com as duas mãos. Passei a prestar atenção em cada som à minha volta. Parecia que fazia muito tempo que ele tinha saído, mas eu sabia que tinham sido só alguns minutos.
Inquieta em meu esconderijo, eu estava começando a ficar desesperada porque ele não voltava.
E se aconteceu alguma coisa?
Eu não queria pensar essas coisas, mas era inevitável. E eu comecei a sentir uma agonia dentro de mim. De repente o ar parecia terrivelmente abafado e sufocante. Comecei a chorar e só percebi quando uma lágrima caiu sobre meu braço em frente ao corpo segurando aquela maldita arma.
— Charlie, cadê você? — murmurei fechando os olhos. Estava come&cc
Donna Reid A confusão era cada vez maior. Pessoas gritando, outras chorando e chamando por seus conhecidos e parentes. Os segundos pareciam séculos, a chuva não parava, turvando tudo à minha frente e eu continuava gritando e procurando por Charlie, de repente, vi um corpo boiando, emborcado, com o rosto para dentro da água, reconheci uma parte de sua camisa, e se continuasse assim, ele morreria afogado, nadei o mais rápido que pude em meio aos destroços sendo jogados de um lado a outro na água agitada, mas esses obstáculos pelo caminho não me impediriam de chegar até ele. Quando o alcancei, virei seu corpo para cima, o que foi fácil, já que boiava na água. Em meio ao caos total, tratei de nadar para a margem, para longe do barco que dava indicações de que iria afundar de vez a qualquer momento. Graças a Deus não precisei nadar muito, pois, embora fizesse um tempo que estávamos navegando, algumas horas para ser exata, ainda não
Charlie MacAleese Faz mais de duas horas que estamos caminhando e eu não sei quanto tempo levaremos até chegar à fronteira. Sem o mapa, fica difícil de se situar, tudo o que tenho são os meus instintos. — Charlie... — paro e percebo que Donna tinha ficado, alguns passos, para trás. Volto, indo até ela. — Podemos parar um pouco? Estou muito cansada. O certo seria continuar e é isso que faremos, não posso correr o risco de sermos visto agora, estamos num lugar que nos deixa vulnerável. — Vamos continuar — afirmo. — Charlie... — ela começa a protestar, mas eu a pego nos braços e recomeço a andar. — Não precisa fazer isso, você também precisa descansar um pouco. — Não temos tempo para isso, agora todo minuto conta contra nós ou a nosso favor — eu continuava andando. O sol havia secado nossas roupas em nossos corpos e a terra havia absorvido toda água da chuva, restando uma relva verde e vibrante sob
Brandon Miller Fico abaixado, vendo toda movimentação. Essa garota só pode ser piradinha da cabeça ou não tem medo de morrer. Vejo quando Gelder, o braço direito de Ruan Pablo, líder dos rebeldes, diz que vai levá-la até ele e pelo rádio, combinam de se encontrar no acampamento da fronteira. Por sorte, estava aqui perto quando ouvi por este mesmo rádio, Gelder dizer que tinha encontrado a americana e o homem que estava com ela, deduzi logo que seria MacAleese e sua garota. Que merda eles estavam fazendo ali, deviam estar na porcaria do barco, a caminho de onde Rocío os esperava, este já tinha sido avisado e está no local combinado desde ontem, com alguns homens, caso haja algum imprevisto. Afim, de averiguar minhas suspeitas, tratei de dar a desculpa de que ia buscar mais armas para levar para a fronteira e vim atrás deles. Infelizmente não pude fazer nada para que não fossem rendidos, ali tinha um número considerável de homens
Charlie MacAleese Passaram-se algumas horas e eu continuava agitado, não conseguia parar de pensar em Donna. Se ela estava assustada e com medo; se achava que eu estava morto, vi bem o estado em que ela ficou quando pensou que eu havia me afogado. Ela deve estar aterrorizada e isso me mata por dentro. Mas não tive opção a não ser deixar que a levassem para preservar nós dois. Contudo, não pretendia deixar que ficasse sob o julgo deles por mais tempo que o necessário. — Calma aí, amigo. Vamos chegar lá ainda hoje — Brendon fala pela terceira vez pelo fato de me ver acelerar os passos. Desde que começamos a caminhada, vez ou outra ele soltava das suas e eu ignorava o idiota que salvou minha vida. Continuamos nosso caminho, cada um, envolto em seus próprios pensamentos. Demorou mais do que eu gostaria, porque não pudemos usar o carro que ele tinha ido até nós, segundo ele, as estradas estavam com muitos rebeldes. Mas enfim
Momentos antes... Donna Reid Senti o balanço do carro e aquilo estava me deixando enjoada. Fui despertando aos poucos e os acontecimentos iam ficando claro em minha mente. A vila, o naufrágio, o ataque, Charlie... Lágrimas quentes e silenciosas começaram a descer pela lateral do meu rosto. Eu queria voltar para o mundo da inconsciência e não mais pensar naquilo tudo. Mas eu precisava, tinha que pensar numa forma de sair dali, mas como? Não sabia o que seria de mim a partir de agora. Minha mente não tinha condições nenhuma de focar no momento presente e pensar o que viria a seguir. Eu só tinha uma imagem na cabeça: Charlie. Pouco depois o carro parou e aquele homem repugnante me puxou de qualquer jeito para fora do veículo. Então me dei conta de que estava com as mãos amarradas. Ele saiu me puxando e eu deixei meu corpo se mover pelo embalo dos empurrões que ele dava. A sensação de náusea
Donna Reid Ao ouvir sua frase, eu o questionei. Não estava acreditando em meus ouvidos. Agora que estamos perto de sair desse martírio, ele me sai com essa. — Como assim vamos acabar com eles? Não seria melhor ir embora de uma vez? — Não tem como sair daqui sem passar pelo meio do confronto. Todas as fronteiras estão sendo vigiadas por rebeldes. Os militares estão apostos, contam com ajuda militar de outros países e logo a coisa vai ficar feia, pelo menos até a notícia da morte do líder deles se espalhar e eles se renderem. Então, se não quiser sentar e esperar, o único jeito é fazer como MacAleese falou: acabar com os desgraçados e abrir caminho para fora desse inferno — a resposta foi dada por seu amigo, Carlos Rocío. Ainda incerta e com medo, olhei para Charlie. Ele me encarou por alguns instantes, seus olhos parecendo conter fogo líquido. Por um instante imaginei que ele quisesse aquilo, por fim aquela guerra. E qua
Donna Reid Eu realmente não gostava de esperar. Isso era claro. E quanto mais esperava, mais impaciente eu ficava. — Vai abrir um buraco no chão daqui a pouco... — Brandon fala pela terceira vez. — Por que não se senta um pouco? Ficar andando em círculos não vai fazer o médico vir mais rápido, está exausta, o olhar vidrado... — Eu estou bem — cortei. — Disse a mesma coisa quando lhe ofereci comida. Mais cedo, antes de o senhor Rocío se despedir, eles me chamaram para comer alguma coisa na lanchonete do hospital. Eu me recusei com medo de o médico chamar e não ter ninguém ali, então eles trouxeram um café e um sanduiche para mim, alegando que não poderia ficar a noite toda sem comer e que ia acabar ficando hospitalizada também. Eu comi, igual a uma esfomeada, mas o café não desceu de jeito nenhum e por pouco não coloquei o que tinha comido, para fora, bem ali. Vendo que Brandon ainda esperava uma resposta
Charlie MacAleeseAinda não estava totalmente consciente, mas podia ouvir sua voz baixa e em tom de choro. Queria dizer que não chorasse. Que não se preocupasse. Eu estava bem, embora a dor estivesse me levando à loucura. Talvez por isso eu tenha me deixado levar para o mundo da inconsciência mais uma vez.Acordo mais uma vez, porém, não abro os olhos. Tudo a minha volta é silêncio. Não ouço mais a voz de Donna. Onde será que ela está?Tento me mexer e reteso o corpo ao sentir uma pontada de dor e minha mente é inundada com os fatos dos últimos acontecimentos.Quando vi aquele homem barrando a passagem dela, não pensei duas vezes em ir ao seu encontro. Brandon ia cobrindo minha retaguarda e eu me joguei com tudo para cima dele. Só queria que Brandon a tirasse logo dali e ele atendeu prontamente quando dei a or