Donna Reid
Me aproximei de uma das casas e a porta estava aberta. A mulher agora chorava baixinho, e a voz de homem tentava acalmá-la. Adentrei e vi duas crianças sentadas, não deviam ter mais do que quatro e cinco anos. Mais ao fundo, vi a mulher deitada e o homem ao seu lado, segurando sua mão.
— Com licença... — falei incerta, em espanhol.
O homem se virou e arregalou os olhos.
— Quem é a señorita? — disse numa mistura de inglês com espanhol, porém, carregado pelo sotaque.
— Eu não vou lhes fazer mal... — senti a presença de Charlie atrás de mim e vi o homem pegar uma arma e apontar para nós assim que o viu também. Charlie fez o mesmo.
Fiquei desesperada com aquela cena, ainda mais na presença das crianças.
— Charlie, pelo amor de Deus, abaixe essa arma, tem crianças aqui... — toquei seu braço, ele não cedeu um milímetro, nem desviou o olhar. Vendo que ele não iria me atender, re
Charlie MacAleese Ouvir o que o tal Pablo falou, só serviu para reforçar a convicção que eu tive mais cedo de que este envolvimento com Donna está afetando minha capacidade de julgamento. Depois de fazer amor naquele penhasco, e ela adormecer em meus braços, acabei cochilando e despertei com um cão selvagem farejando alguma coisa na mochila e percebi o quanto fui descuidado. Assim como foi um animal, podia ser um rebelde. Porém, naquele momento não dei tanta importância. Contudo, durante a caminhada, aquele sentimento foi crescendo dentro de mim e eu constatei que acabamos ficando vulneráveis por culpa minha. Chegar a essa conclusão alterou meu humor e não ajudou em nada, Donna ficar todo o caminho reclamando nos meus ouvidos. O que acabou numa discussão acalorada por conta da sua teimosia. Ela era mimada e caprichosa, mas eu não podia negar que também tinha um bom coração e este, como ela mesma afirmara, a colocava em
Charlie MacAleese As primeiras horas até que foram tranquilas, embora mais lenta do que o esperado, pois não pudemos seguir um ritmomais rápido porque o bebê ficava agitado. Enquanto as mulheres e crianças iam em cima da carroça, os homens iam andando em volta dela. Fizemos duas paradas para comer e em uma delas, Donna caminhou ao meu lado, até que os filhos maiores de Velasques a chamou para continuar a história que tinha começado a contar para eles. Eu a observava durante o trajeto, ela tinha uma facilidade incrível com as crianças. E quando segurou o bebê durante uma das paradas, vi o quanto ela pode ser maternal. Algumas vezes nossos olhares se cruzaram, e ela sorria para mim, fazendo meu coração disparar eu me sentir como um adolescente apaixonado. Em dado momento me questionei se acaso tivéssemosnos conhecido em situação diferente, será que teríamosnos aproximado? Será que haveria algum envolvime
Charlie MacAleese Após ouvir as palavras do homem, ditam num inglês carregado de sotaque. Percebi que Donna começou a oscilar ao me lado e num reflexo rápido, amparei seu corpo quando este perdeu as forças indo de encontro ao chão. —Santa madre de Dios(Santa mãe de Deus) — uma mulher corpulenta, aparentando ter uns setenta anos entrou no estábulo pela mesma porta que o homem tinha vindo minutos antes. —Esta joven necesita un baño caliente y un buen plato de comida(essa jovem precisa de um banho quente e bom prato de comida) — de fato Donna parecia no limite da exaustão. Ao chegar perto, ela olhou para mim. —Y tú también, muchacho. Parece que no duermes en días(e você também rapaz. Parece que não dorme há dias). Ela não estava errada. —Madre... — o homem fala e ela o interrompe. —Dónde están tus modales Hernandes? No escuchaste qu
Charlie MacAleese Ela estava sentada e não dormindo como imaginei. — Achei que estivesse dormindo. Se sente melhor? — digo me sentando ao seu lado, mal cabíamos os dois sentados naquela coisa pequena. — Sim. — Então, por que não dorme um pouco? — Não consigo dormir. Só consigo pensar que amanhã estaremos a caminho de casa. — Não vamos pegar esse barco. Segundo Velasques, tem rebeldes na área e no porto também tem. Mas a algumas milhas daqui tem um barco clandestino, era o que ele ia pegar com a família se o bebê não tivesse nascido antes da hora. — O que você acha? — Acho que é o melhor. — Confio no seu julgamento. — Que bom, porque decidi que vamos nesse. É menos arriscado para você. — Tudo bem. Quanto tempo até chegarmos a esse barco? — Aproximadamente um dia e meio de caminhada. — Depois de tudo o que vivi nos últimos dias, eu já estou acostumada
Donna ReidEsperar era horrível.Abaixada entre a vegetação alta como forma de proteção, eu segurava a arma que Charlie tinha me dado, com as duas mãos. Passei a prestar atenção em cada som à minha volta. Parecia que fazia muito tempo que ele tinha saído, mas eu sabia que tinham sido só alguns minutos.Inquieta em meu esconderijo, eu estava começando a ficar desesperada porque ele não voltava.E se aconteceu alguma coisa?Eu não queria pensar essas coisas, mas era inevitável. E eu comecei a sentir uma agonia dentro de mim. De repente o ar parecia terrivelmente abafado e sufocante. Comecei a chorar e só percebi quando uma lágrima caiu sobre meu braço em frente ao corpo segurando aquela maldita arma.— Charlie, cadê você? — murmurei fechando os olhos. Estava come&cc
Donna Reid A confusão era cada vez maior. Pessoas gritando, outras chorando e chamando por seus conhecidos e parentes. Os segundos pareciam séculos, a chuva não parava, turvando tudo à minha frente e eu continuava gritando e procurando por Charlie, de repente, vi um corpo boiando, emborcado, com o rosto para dentro da água, reconheci uma parte de sua camisa, e se continuasse assim, ele morreria afogado, nadei o mais rápido que pude em meio aos destroços sendo jogados de um lado a outro na água agitada, mas esses obstáculos pelo caminho não me impediriam de chegar até ele. Quando o alcancei, virei seu corpo para cima, o que foi fácil, já que boiava na água. Em meio ao caos total, tratei de nadar para a margem, para longe do barco que dava indicações de que iria afundar de vez a qualquer momento. Graças a Deus não precisei nadar muito, pois, embora fizesse um tempo que estávamos navegando, algumas horas para ser exata, ainda não
Charlie MacAleese Faz mais de duas horas que estamos caminhando e eu não sei quanto tempo levaremos até chegar à fronteira. Sem o mapa, fica difícil de se situar, tudo o que tenho são os meus instintos. — Charlie... — paro e percebo que Donna tinha ficado, alguns passos, para trás. Volto, indo até ela. — Podemos parar um pouco? Estou muito cansada. O certo seria continuar e é isso que faremos, não posso correr o risco de sermos visto agora, estamos num lugar que nos deixa vulnerável. — Vamos continuar — afirmo. — Charlie... — ela começa a protestar, mas eu a pego nos braços e recomeço a andar. — Não precisa fazer isso, você também precisa descansar um pouco. — Não temos tempo para isso, agora todo minuto conta contra nós ou a nosso favor — eu continuava andando. O sol havia secado nossas roupas em nossos corpos e a terra havia absorvido toda água da chuva, restando uma relva verde e vibrante sob
Brandon Miller Fico abaixado, vendo toda movimentação. Essa garota só pode ser piradinha da cabeça ou não tem medo de morrer. Vejo quando Gelder, o braço direito de Ruan Pablo, líder dos rebeldes, diz que vai levá-la até ele e pelo rádio, combinam de se encontrar no acampamento da fronteira. Por sorte, estava aqui perto quando ouvi por este mesmo rádio, Gelder dizer que tinha encontrado a americana e o homem que estava com ela, deduzi logo que seria MacAleese e sua garota. Que merda eles estavam fazendo ali, deviam estar na porcaria do barco, a caminho de onde Rocío os esperava, este já tinha sido avisado e está no local combinado desde ontem, com alguns homens, caso haja algum imprevisto. Afim, de averiguar minhas suspeitas, tratei de dar a desculpa de que ia buscar mais armas para levar para a fronteira e vim atrás deles. Infelizmente não pude fazer nada para que não fossem rendidos, ali tinha um número considerável de homens