Capítulo 3

Dante

Atualmente.

— Dante… Dante! — Dom me sacode pelos ombros.

— Oi, o que foi? — digo, atordoado.

— Eu é que pergunto, está com aquela cara… — Dom abre um sorriso.

— Que cara? Do que está falando? — Olho ao redor e vejo que Manu não está mais ali, provavelmente, subiu com a Carol.

— A mesma da qual nossos irmãos me acusaram de fazer quando eu olhava para a Emanuele. — Ele caminha até a cozinha da casa.

A casa deles é ampla e clara, os móveis são simples e modernos. A sala é ligada à cozinha, e sei que Dom pensou nisso por conta do tamanho da nossa família que dobrou depois que ele e Manu se casaram.

— Quer comer alguma coisa? Sei que chegou hoje de viagem — ele oferece. — Fiz uma foccacia de alecrim e cebola, a preferida de Raio de sol.

— É, eu sei. Aceito um pedaço, estou faminto.

Me sento no banco à sua frente, me apoiando na bancada de mármore claro. Ele retira a perfumada foccacia do forno e nos serve, pegando um vinho da safra da família para acompanhar.

— A Carol está no Rio há quanto tempo? — pergunto, tentando parecer indiferente.

— Desde que descobrimos o descolamento de placenta da Emanuele. Ela e a Paola têm nos ajudado muito. A família inteira, na verdade. Por isso consigo trabalhar, na medida do possível.

O observo, Dominic parece cansado, mas feliz. Embora a gravidez da Manu seja de risco, sei que ele está radiante pelos gêmeos.

— Que bom que voltaram para o Brasil.

— Não tinha como deixá-la sozinha na Toscana, sei que ela ama aquele lugar, mas precisamos da família agora. — Ele me olha. — E fico feliz em tê-lo aqui por perto.

— Mesmo sabendo que será um tormento para mim? — O encaro.

— Sei que é difícil estar aqui sentindo o que sente pela Emanuele, Dante, mas…

— Não falo da Manu — o interrompo. — Isso é passado, irmão, garanto.

Dom só eleva a sobrancelha.

— Falo da Carol, e sei que fui um idiota.

— É, você foi.

— Obrigado por reforçar! É só que sinto a falta dela e não sei o que ela sente, a magoei demais. Além disso, o que importa agora são os bebês e a Manu.

Meu irmão me observa por um longo momento.

— Carol pediu férias no trabalho, chega aqui todos os dias à uma da tarde e fica até às seis, depois reveza com a Paola e nossos irmãos. Vou te colocar no grupo que Enzo fez, tem escala e tudo! — Ele sorri e pega o celular.

— Não avisei a ninguém que cheguei…

— A mamma não está no grupo, só nossos irmãos, a Carol e o Fábio. Sabe como os mais velhos são, eles aparecem sem aviso, cheios de comida, roupas de bebê, brinquedos…

Abro um sorriso.

— Nada mudou!

— Em absoluto. — Ele bebe um gole do vinho. — Deveria ligar para a mamma e avisar que chegou.

— Farei isso. Agora que mencionou sobre brinquedos, lembro que não comprei nada para os meus sobrinhos, são meninos, meninas ou os dois?

Ele faz uma careta.

— Não sei! Paola e Enzo colocaram na cabeça de Emanuele que deve ser surpresa, querem fazer um tal chá revelação, seja lá o que for isso, apenas sei que não podemos saber o sexo dos bebês até o dia desse chá.

Rio.

— Eles querem animar a Manu, ela parece bastante exausta, vocês dois, na verdade.

Dom suspira.

— Sim, ela tem sofrido bastante. Faz poucos dias que parou de chorar durante as madrugadas, ela teme perder os nossos bebês. — Sua expressão entristece.

— Vai dar tudo certo, o que a médica disse?

— Que ela precisa repousar enquanto os bebês formam os pulmões por completo, falta pouco, precisamos aguentar por três semanas. Enquanto isso, acompanhamos de perto. Ela nunca fica sozinha, o que às vezes a incomoda.

— É compreensível, não consigo imaginar viver com a família a todo instante mandando ela fazer isso, não fazer aquilo, tem comer e não comer… — Perco a paciência só em pensar.

— Vicenzo teve uma conversa franca com todos pedindo para pararem, por isso, nossos irmãos fizeram o grupo e estão sempre aqui para controlar os mais velhos e suas ordens, sei que é por amor, mas atrapalha muito. Eu não estou em condições de pedir nada sem magoar alguém, tem dias que me escondo da Emanuele para chorar… — Ele dá de ombros e vejo os seus olhos brilharem, nunca imaginei que veria essa cena e não o condeno ou zombo, jamais faria isso. — Não posso perdê-los, Dante! Eles são a minha vida, não consigo sequer imaginar viver sem qualquer um dos três… — Dom para de comer e chora.

Salto do banco e o abraço, igualmente emocionado.

— Ei, cara, eles já são seus, mano… sei lá, a nonna sempre diz que Deus nos dá o que merecemos e você mais do que ninguém merece isso. Não acho que Deus seja Alguém mal para tirar a sua família de você. Vai ficar tudo bem, conte comigo também para controlá-los, sou o rebelde da casa, lembra? Dou um jeito!

Meu irmão assente.

— Eu sei, obrigado! — Ele funga.

— Não tem o que agradecer, somos família.

Dom seca os olhos e me afasto. Ouvimos as vozes das duas vindo.

— Manu pode descer as escadas?

— Não, fizemos um elevador para ela, você ficou tão arrebatado quando viu a Caroline que não respondeu quando ela falou com você e tampouco viu quando as duas subiram. — Ele passa um guardanapo nos olhos e pigarreia.

Me sinto um tanto idiota quando ouço isso.

— Hum… esse cheirinho está me chamado! — Manu diz ao ser empurrada em uma cadeira de rodas por Caroline.

Sua barriga está enorme, ela ganhou um pouco de peso, o que a deixa bem mais bonita, mesmo com olheiras abaixo dos olhos e os cabelos ruivos escapando do coque alto.

— Que bom, pois eu fiz para você! — Dom a beija levemente. — Venha, Raio de sol, vamos alimentar esse batalhão! — Ele ocupa o lugar em que Carol estavs e empurra a cadeira até uma mesa de jantar no canto direito da cozinha.

— Dante, venha almoçar conosco — Manu me chama.

— Eu bem que gostaria, mas preciso ir ver a mamma, ela não sabe que cheguei, vim direto para cá.

— Vou colocá-lo no grupo, mas estou dando tempo para que ele avise, você conhece os seus cunhados — Dominic alerta.

— Certo, então vá e por favor, volte, não desapareça de novo. — Seus olhos azuis estão brilhando.

Como recusar? E nem desejo ir, ficaria mesmo se não precisasse ver um lugar para ficar e passar na casa dos meus pais.

— Não se preocupe… — Olho dela para Caroline quando digo: — Eu não vou a lugar algum.

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