Dante
Dia em que conhece a Manu. — Eu quelo papai! — Escuto a minha sobrinha, Giovanna, pedir ao meu irmão uma boneca que passa em um comercial de televisão, durante o almoço na casa dos nossos pais. Vicenzo apenas sorri, meu irmão ainda anda entristecido depois da perda da minha cunhada, Antonella. Foi uma perda horrível para toda a família. Antonella se foi após uma batalha contra o câncer e deixou meu irmão e a Gio. Desde então, é difícil para ele, temos a nossa família que o apoia em tudo, no entanto, sei que mesmo escondendo a sua dor, Vicenzo ainda sofre com a ausência da esposa. Bato levemente no seu ombro. — Pode deixar que eu compro a boneca — falo e Vicenzo ergue a sobrancelha. — Eu não faria isso se fosse você! — Ele olha de novo para Gio que agora brinca com a Paola, nossa irmã caçula. — Por que não? Ela pediu com aqueles olhos brilhantes, como consegue negar algo para ela? — Cruzo os braços. Meu irmão ri alto. — Que coração mole, você esconde ele bem, hein! — Ele dá uma piscadela. — Pare com isso, ela é a minha sobrinha e só tem três anos, não custa nada dar uma boneca — rebato. Somos sete irmãos, Vicenzo é o segundo mais velho, o primeiro é Dominic, que mora na Itália e comanda os negócios da família. Sou o terceiro, seguido por Enzo, os gêmeos e Paola. De todos nós, Vicenzo é o mais pé no chão e o mais observador. Sempre acerta em coisas que dizem respeito a pessoas e relacionamentos. — Não é nada disso, acontece que essa boneca é uma febre por aqui e já é a segunda vez que ela pede, não consegui encontrar no aniversário dela, o que te faz pensar que encontrará em pleno Natal? — Sou mais charmoso do que você, consigo em um piscar de olhos! — O provoco. — De fato, com a exceção da Paola, você é o mais aceitável dos irmãos, ou sortudo, não sei, no entanto, não acredito que vá conseguir. Paola e eu rodamos praticamente o Rio de Janeiro inteiro, atrás da tal boneca. — Aposto que encontro. — Se acha que vai, boa sorte, vai precisar! — Ele dá tapinhas nas minhas costas. — Eu tenho uma ideia melhor, caso tenha dificuldades, me ligue. Não gosto de admitir, mas meu irmão estava certo! Passo quase duas semanas procurando pela boneca e nada, estou quase desistindo e ligando para ele, para me desculpar. Nem mesmo deixando o meu número de telefone com algumas vendedoras gatas, consegui comprar. Ao menos consegui ótimos encontros, tenho que admitir. Sou solteiro, não por nada, apenas não encontrei a mulher certa, se é que existe essa coisa de pessoa certa. Observo o Dom com a Lívia, sua noiva. Ela é modelo e uma mulher linda, os dois parecem se dar muito bem, no entanto, por algum motivo, não levam o relacionamento adiante. Sinal de que mulher certa, não existe, assim como homem certo também não, sei lá. Estou no shopping comprando algumas coisas e paro em frente à uma loja onde está anunciando a tal boneca, será uma ilusão imaginar que encontrarei aqui, já que vim duas vezes e nada? Bem, entrar uma terceira vez não me matará, talvez eu dê sorte dessa vez. Entro e logo paro um vendedor que caminha com o rosto assustado. — Ei, cara, tudo bem? — falo me aproximando e ele acena com a cabeça. — Onde encontro a sessão de bonecas? — Fica no corredor quatro! — Ele diz parecendo irritado e dá ênfase na palavra quatro, aponta para a placa no alto da seção. Não entendo nada, mas agradeço e corro para lá. Ao chegar na seção, não acredito, está inacreditavelmente vazia, tem apenas uma ruiva, uma linda ruiva, aliás. Ela caminha na direção da boneca, noto que ela encara a fileira de brinquedos desconfiada, com a sobrancelha erguida. Observo também e não vejo nada além da embalagem do brinquedo bem diante dos meus olhos. Rapidamente corro e pego a caixa, mas a ruiva também tem a mão nela e puxa para si. — Mas que… — Seus olhos logo me encontram. — Desculpe, mas eu preciso muito mesmo dessa boneca — falo usando uma boa dose do que sei que tenho, a beleza às vezes é um ponto a meu favor. — Sinto muito, mas, se eu não for hoje para casa com essa boneca, serei deserdada! — ela diz, séria. Nos olhamos por alguns segundos. Admiro seus olhos azuis, que linda ela é! — É para minha sobrinha — apelo, e é verdade. — É para minha priminha que vem de Boston, sério, é vida ou morte — ela diz, balançando a cabeça com veemência. Eu quase solto a embalagem, mas não posso, a Gio quer aquela boneca e eu levarei, mesmo que perca a oportunidade de conhecer melhor essa mulher. — Temos um impasse aqui, não pretendo desistir, não faz ideia do quanto andei para encontrar isso. — Sou honesto. — É, você está certo, temos um impasse mesmo. Pois, eu também andei, sofri, quase apanhei e assustei um funcionário da loja, tudo por causa dela. — A ruiva aponta para a embalagem. Em seguida uma senhora aparece e nos encara com um sorriso estranho. — Eu acho que posso resolver para vocês — a mulher diz, enquanto puxa a boneca das nossas mãos. — Deixa que eu levo! — A louca sai correndo com a caixa agarrada ao corpo. Me surpreendo ao ver que a ruiva corre atrás dela e não tenho opção senão segui-las. Mas foi em vão, a mulher desaparece no meio da multidão. — Dante Alvarenga! — Me apresento estendendo a mão quando paramos. — Emanuele Velasquez! — ela responde sem fôlego e retribui o gesto. — Me desculpe! — falamos ao mesmo tempo. — Parece que vamos andar um pouco mais atrás daquela boneca… — digo, olhando ao redor, ali não tem mais, isso é certo. — Ai, não posso acreditar… ela estava tão perto! — ela lamenta. — Tem razão, mas parece que uma espertinha resolveu um impasse importante, pois eu não soltaria nem se me pagasse — afirmo sorrindo. Seria engraçado o desfecho disso. — Ah, então teríamos um caso de polícia, pois eu não tinha pretensões de desistir também, não depois do que passei e possivelmente vou passar de novo. — Emanuele parece aborrecida. — Nos resta então trabalhar em parceria, quem encontrar avisa ao outro, o que acha? — ofereço, algo nela faz eu querer me aproximar, e eu tenho que jogar com tudo. — Pode ser, embora eu não acredite em milagres de Natal. Sua expressão é desconfiada. — Tome o meu cartão, sou dentista e acabei de abrir um consultório, ainda não tem muita visibilidade, mas estou começando agora, é uma versão smart de consultório dentário, pode ligar para esse número. — Entrego o recém impresso. Ela faz uma cara de quem não curtiu muito. — O que foi, não gostou do cartão? — Ahn… é que… bem, eu trabalho com propaganda e marketing…, e acontece que falar em ir ao dentista já deixa algumas pessoas um tanto amedrontadas, esse detalhe do seu cartão… — Seus lábios formam uma linha fina. — Só falta fazer o som da broca, é meio assustador. — Eu disse para o Rodrigo que isso não daria certo. — Balanço a cabeça, e ela me encara, confusa. — É o meu sócio. — Ah, por que não tentam deixar mais clean? De repente, um cartão verde claro com tons brancos, em vez da broca, um contorno do dente, algo assim — ela sugere. — Seria perfeito, acho que tive uma ideia — falo de repente. — E se eu te contratar para cuidar dessa parte de marketing do meu consultório? Somos novos nisso, qualquer ajuda seria bem-vinda. — Passo a mão pelos cabelos. — Mas você nem me conhece… — ela rebate em seguida. — Hum, tem razão, mas desde quando precisamos ser melhores amigos para contratar alguém? — Levanto a sobrancelha. — Touche! — ela responde. — Ok, fechado. — Emanuele me entrega seu cartão. Observo e acho graça. — Belo cartão! Vamos combinar um almoço essa semana e falamos sobre o consultório. Boa sorte com a boneca e se achar me avise que eu te aviso também. — Dou uma piscadinha. — Foi um prazer te conhecer, Emanuele! — Igualmente, Dante! — Ela abre um lindo sorriso. Ela é mesmo linda, não costumo ficar tão rendido com uma mulher, porém, essa ruiva tem algo, não sei ainda o que é, no entanto, vou descobrir.DanteAo sair do shopping, ligo para Vicenzo, vencido. Meu irmão gargalha às minhas custas e diz para eu ligar para o Dominic, a boneca é italiana e lá não é tão popular quanto por aqui.Tenho uma ideia imediatamente, só preciso pedir ao meu irmão mais velho para mandar duas bonecas e não apenas uma.— Por que quer duas do mesmo modelo, Dante? Vai presentear outra criança? — ele pergunta quando ligo para pedir.— Isso não importa, apenas saiba que é imprescindível que mande duas, o quanto antes, por favor, Dom!— Imprescindível?! O que está tramando, hein?! Certo, se eu for para o Brasil, levo, caso não, mando como encomenda, vai chegar antes do Natal — ele responde tranquilamente.— Não, mano! Mande o quanto antes, preciso mesmo dessas bonecas aqui, as duas e mande para a minha casa — insisto e meu irmão suspira.— Ok, Dante. Deve chegar em dois dias, no máximo.— Perfeito, quando você volta?— Não sei, estou esperando a Lívia decidir se vai ou não passar o Natal aí comigo, porém,
Dante Atualmente. — Dante… Dante! — Dom me sacode pelos ombros. — Oi, o que foi? — digo, atordoado. — Eu é que pergunto, está com aquela cara… — Dom abre um sorriso. — Que cara? Do que está falando? — Olho ao redor e vejo que Manu não está mais ali, provavelmente, subiu com a Carol. — A mesma da qual nossos irmãos me acusaram de fazer quando eu olhava para a Emanuele. — Ele caminha até a cozinha da casa. A casa deles é ampla e clara, os móveis são simples e modernos. A sala é ligada à cozinha, e sei que Dom pensou nisso por conta do tamanho da nossa família que dobrou depois que ele e Manu se casaram. — Quer comer alguma coisa? Sei que chegou hoje de viagem — ele oferece. — Fiz uma foccacia de alecrim e cebola, a preferida de Raio de sol. — É, eu sei. Aceito um pedaço, estou faminto. Me sento no banco à sua frente, me apoiando na bancada de mármore claro. Ele retira a perfumada foccacia do forno e nos serve, pegando um vinho da safra da família para acompanhar. — A Carol e
Caroline Momento em que conhece o Dante Corro ao sair de casa após mais uma discussão com a minha mãe. Confesso que estou farta dessa situação e no momento, a minha falta de emprego não ajuda. Eu preciso trabalhar para conseguir alugar uma kitnet, apartamento ou qualquer coisa que dê para ficar que não seja perto dela. Nosso relacionamento nunca foi muito bom e depois do fim do meu noivado, só piora. Só a Manu para me fazer sair no meio da semana para me mostrar o seu dentista. Minha amiga tem um enorme apego a esse amigo dela, mas ao que tudo indica, o relacionamento é de amizade apenas. Ela diz que o consultório é lotado e de modelos, já que o tal dentista é um homem lindo… Suspiro e sigo até a praça onde marcamos, ela está me aguardando em seu carro que ela não se desfaz de jeito nenhum. Aquilo parece que vai se desintegrar a qualquer instante. — Oi, desculpe o atraso, amiga! — Entro e afivelo o cinto. — Não se preocupe, lá é lotado, vamos chegar a tempo. Manu dá a partida
CarolineAtualmente.Meu coração ainda acelera perto dele. Dante continua lindo, senão mais do que antes. Sinto seus olhos verdes me perscrutar, mas mantenho a postura.Temo ceder se olhar de volta. Dante me magoou demais, não apenas a mim, como a Manu e o Dominic, mas Dom o perdoou, pois é irmão dele e a Manu… bem, a Emanuele não existe, ela perdoaria conhecendo o Dominic ou não. Ela é assim, mas comigo foi diferente. Ele me fez achar que me amava e que se casaria comigo, porém do nada, Dante descobriu uma paixão louca pela Emanuele e isso acabou comigo e quase acabou com a amizade que ela e eu temos. Não posso me permitir sofrer daquele jeito de novo.Ele continua lindo, mas com certeza, continua imprevisível.— Até mais tarde, volto assim que me hospedar e avisar a mamma que cheguei — ele avisa e, hesitante, se despede e sai.— Já pode respirar, amiga! — Emanuele zomba e seu marido acha graça.— Não riam, ainda é difícil para mim, embora não
DanteEstou no hotel, e ao fechar a porta do quarto, escuto o meu telefone tocar como louco. Me sento na poltrona e abro para ver as mensagens.Missão GêmeosDominic Rizzo Missão Gêmeos adicionou DanteEnzo:Dante?Matteo:É o que parece…Filippo:Qual é o problema, não é nosso irmão também?Enzo:Nenhum, só não entendi, ele está nos Estates,não quer saber da família.Vicenzo:Não diga bobagens, Enzo.Enzo:Menti? Cadê ele agora? E o Dom? Que joga a bomba e sai correndo.Filippo:O Dom tem mais o que fazer, e você já chegou na casa deles para ajudar a Manu?Enzo:Estou a caminho. Já que o Dante está no grupo, cadê ele que não fala nada?Eu:Estou aqui, Enzo.Matteo:Aqui é meio vago, né?Eu:Acabei de chegar ao Brasil, fui ver a Manu e o Dom primeiro,Depois passei na mamma.Filippo:Bem-vindo de volta, mano!Eu:Obrigado, Pipo!Matteo:A Carol já sabe que você voltou?Enzo:Pois é, ela está no grupo…Carol:Gente, fala sério! Não tem problema nenhum o Dante estar no grupo, est
Dante Todos os dias me faço a pergunta que Vicenzo pediu para fazer quando acordasse, e eu ainda não tenho a minha resposta, até hoje. Por essa razão eu fugi, era demais ver a Manu e Carol e não sentir nada. Pensei que desaparecer seria uma ótima saída daquela situação desagradável.Nossa história foi uma grande bagunça! Manu e eu nos tornamos amigos, depois eu me apaixonei por sua melhor amiga, Caroline, porém, quando estava prestes a me casar com a Carol, Manu e meu irmão inventam um noivado falso que se torna real.... aquilo mexeu comigo e notei que sentia algo mais do que amizade pela Emanuele... Agora, parado na sala da casa da Manu e do Dom, vejo os dois juntos, atravessando o momento complicado que estão vivendo, conseguindo ser cúmplices, e acima de tudo, conseguindo sorrir juntos. Isso me faz ter apenas uma certeza, ela nunca foi para mim e não me sinto tão mal em reconhecer isso…, não muito. Fui tão idiota, tão imaturo que me envergonho de estar aqui, mas estou porque o m