A noite caiu e Barbara andava ansiosa pelo apartamento. Ela tinha mandado várias mensagens sem resposta. Começou a pensar que Matheus talvez não fosse o cara que ela acreditava ser. Talvez fosse só mais um que agora ria dela enquanto contava aos amigos como foi lhe tirar a droga da virgindade. Não que para ela essa merda fosse importante ao ponto de só alguém especial merecer. Mas tudo o que ela não queria era ser piada na boca de homem escroto e muito menos se sentir usada por ele. Um cara não se gaba para os amigos que você o chupou e depois ele não conseguiu te comer. No entanto, se gaba que você se ajoelhou para ele e depois te fodeu como bem desejava. E, às vezes, ainda diz que você foi fácil demais. Ela já tinha visto isso acontecer vezes o suficiente para se tornar reticente aos finalmente no sexo.Já passava das nove. O coração estava angustiado e triste. Ela resolveu mandar mais uma mensagem. Já sentia que estava se humilhando para ele, mas precisava tentar.Estou realmente p
Barbara chorou durante toda aquela tarde e noite. Ela queria chorar mais, porém se recusava. Sentia que não devia viver por tanto tempo essa decepção. Acreditava que seria melhor e mais fácil de superar se apenas a abandonasse, nas lembranças.Estava na casa dos pais, no seu antigo quarto, sentada à penteadeira, enquanto se maquiava para festa de Natal. Os avós já haviam chegado, além de alguns amigos do pai. Levantou-se e caminhou até o grande espelho na parede. Para mais pura alegria do Carlos, hoje a sua filha usava um vestido de comprimento até os joelhos e decote raso. Ela estava muito bonita, combinava bem com tons de azul. Passou os dedos ajeitando as ondas dos longos cabelos, e desceu. Ao chegar ao andar de baixo, escutou a campainha tocar. Olhou em direção à porta e viu quando a empregada a abriu, revelando Edgar depois dela.— Que saco! — resmungou baixinho.— Olha só... Está lindíssima! — disse ele ao se aproximar, todo sorridente.— Você não tem família? É Natal, devia est
— Nada. Vim chamar o meu pai.— Não seja intrometida! — O tom dela era firme e rude.— Não estou sendo intrometida. — Passou pela mãe indo em direção aos degraus.— Aonde vai?— Vou subir.— De jeito nenhum! — Pegou-a pelo braço. — Você vai voltar e fazer companhia ao Edgar.— Não fui eu quem convidou ele. — Livrou-se do aperto.— Não interessa! O seu pai e o pai dele tem intenção de um noivado entre vocês.— Convenhamos, o seu marido tem alguém ideal para ser meu noivo a cada temporada. Edgar não vai durar muito, já estamos quase em janeiro.— Volte para festa!— Algum problema? — perguntou Carlos.— Tantos, que eu ficaria uma noite inteira listando — disse Barbara.Respirando fundo a sua frustração, passou por eles, retornando para sala de estar.— Tentou fugir? — perguntou Edgar.— Sempre.— Posso fugir com você. — Ele tinha um sorriso travesso que, sem saber o motivo, Barbara sentiu-se irritada com aquilo.— Mas nem pela melhor aventura, Edgar. Não força a barra dessa amizade — fe
Matheus viu de longe uma mulher alta e de longos cabelos loiros. Foi inevitável não pensar em Barbara. Por um segundo, quando os olhos bateram naquela figura, o seu coração chegou a acelerar mais do que já estava, mas logo pensou que seria impossível. Ele estava em um hospital público, onde era preciso chegar morto ou quase isso, para ser atendido. E ela era uma mulher rica, tinha acesso ao melhor da saúde. Então ele ouviu a sua voz. Olhou novamente para ela e aproximou-se, desacreditado, porém, com vontade de saber se Barbara estava tão perto assim. Ele sentia saudade, muita saudade.— Barbara?! — chamou-a, incerto.Ela olhou-lhe por cima do ombro. Era ela! Ele quis sorrir de felicidade em vê-la, mas não fez.— Matheus — sussurrou o seu nome. Ele sentiu que era como se doesse pronunciá-lo.— O que faz aqui? Está tudo bem? — Olhou para sua avó.— É o meu avô. Ele passou mal, desmaiou. Foi de repente. Estão com ele lá dentro. — Barbara olhou em direção à porta por onde o levaram. — E v
Aquilo foi um tapa na cara da Barbara. A sua realidade era a minoria no seu país, e ele a lembrou disso. Lembrou-se de quando era criança, de quantos brinquedos já ganhou no dia vinte e cinco de dezembro. Perguntou-se quantos Matheus pode ganhar em todos os seus vinte e quatro anos de vida.— Eu sinto muito.— As pessoas na sua bolha sempre sentem muito, quando nunca sentiram nada de verdade.— Você está certo. E talvez eu seja uma dessas pessoas, mas nesse momento eu sinto muito, de verdade.Ele deu-lhe um rápido sorriso, guardando as mãos no bolso da calça jeans.— Eu vou nessa. — Movimentou-se em direção à moto, quando Barbara agarrou o seu punho com certa força.Ele olhou-a. A boca dela chegou a se abrir para dizer que sentia a sua falta de um jeito que até doía a alma, mas seus lábios fecharam-se e a sua mão o soltou. Sem dizer nada, ela virou-se indo em direção ao prédio. Matheus sentiu os olhos ficarem marejados e o coração bater ainda mais forte, deixando-o um pouco sem ar. Ap
O queixo dele estremeceu com o choro que o arrebentava por dentro. A vontade de dizer a verdade foi enorme, mas ele não devia. Olhou para cima e respirou fundo, apertando as mãos dela. Beijou a sua testa e a soltou, levantando-se. Sem dizer nem uma palavra, foi embora, mas não antes de parar na porta por alguns instantes e olhá-la mais uma vez. Barbara ainda estava sentada sobre os calcanhares, ombros baixos, mãos sobre as coxas, olhos fechados e face molhada. Então, ele se foi.Ela abriu os olhos ao mesmo tempo que ouviu a porta da sala se fechar em um baque. Ele não estava mais ali. Barbara se aninhou no centro da cama em posição fetal e abraçou um dos travesseiros, chorando copiosamente. Ele estava mentindo. Não era a diferença de classe social, cultural ou a cor da pele deles. Era algo mais, algo maior que ele não queria dividir. Pensou que talvez porque não confiasse nela o suficiente, ou porque a verdade fosse ser demais para ela. No fim, só sabia que Matheus havia desistido sem
Barbara estava sentada na cama do quarto onde a hospedaram. Encarava a única foto que tinha com Matheus. Uma que eles tiraram no encontro na praia. Ele não queria, mas ela registrou o momento mesmo assim. Não postou nas redes sociais que pouco usava. Detestava a ideia de estranhos observando à distância todos os seus passos do dia, cada refeição, cada roupa vestida. Era futilidade demais para ela. Por isso as fofocas nunca falavam muito no seu nome, somente quando alguma amiga fazia merda e de certa forma isso refletia sobre ela. Tentava se manter o mais longe possível dos holofotes. Ser o mais anônima que conseguia.Uma batida soou atrás da porta. Ela se levantou e foi até lá, abrindo-a.— Está pronta? — perguntou Edgar.— Para o tal luau?Ele assentiu, escorando-se no batente.— Não, não estou a fim.— Então vamos descer para o jantar, já está servido.Ela saiu e fechou a porta atrás de si. O jantar havia sido servido na sala de jantar dentro da casa. Lá fora o vento era frio, apesa
Enquanto andava entre as pessoas que se acumulavam ao redor da fogueira, ela terminou a sua cerveja. Parou e ficou observando a ponta do fogo alto crepitar com o céu escuro ao fundo.— Barbara?! — Alguém a chamou, incerto.Ela virou-se para trás.— Oi, Isabela.— Meu Deus! Eu não te vejo a um tempão — disse a garota ao se aproximar. — Você está sumida. Foi embora e nunca mais voltou. Até disseram que vocês se mudaram porque o seu pai tinha falido. — A garota riu com um humor que Barbara não entendeu e para o qual não tinha paciência para lidar no momento.— Te garanto que não estamos falidos. Foi apenas uma mudança.— Ainda bem. — Riu outra vez, se segurando no braço da Barbara. A menina já parecia estar um tanto alcoolizada. — Já pensou ser pobre? — falou com nojo. — Credo! Não sei como aguenta o Rio de Janeiro. Muito pobre por metro quadrado. — Gargalhou, cambaleando para trás.— O que tem de engraçado nisso? — Barbara perguntou com uma das sobrancelhas arqueada e um tom sério. No f