Robert
Depois do Baile Beneficente da Família Servantes, eu saí com a cabeça tumultuada e senti que meu corpo estava todo carente. Se era por causa dos drinks que tomei ou se pela torrente de sensualidade que a misteriosa Theodora descarregou em mim, eu não sabia dizer, contudo eu precisava urgentemente me desaguar em um corpo de mulher. Infelizmente a linda companheira de Kaique não se mostrou à disposição. Eu nunca fui o tipo de homem que olha para mulheres comprometidas, porém aquela era uma situação particularmente diferente. Parece que eu havia encontrado minha "kriptonita". Bastou vê-la para entender que eu a queria e quando pude me aproximar do corpo dela, naquela pista de dança, me senti bêbado... A bela Betina não me era uma opção imediata, eu a respeitava muito e esperava que as coisas entre nós acontecessem de maneira planejada e com tranquilidade, no entanto, naquela hora o que eu tinha era urgência. Para minha sorte, Betina se ofereceu para levar uma amiga embriagada para casa e eu me vi livre para corresponder aos anseios de certa recepcionista da Festa que me mandou olhares libidinosos a noite toda. E então ali estava eu, sentado no sofá da sala dessa tal Valquíria que, com desenvoltura, havia me arrancado as calças e se ajoelhava diante de mim como se eu fosse um rei a quem tinha o dever de servir. Enquanto ela abocanhava com os lábios carnudos meu membro já rígido, eu pensava como podem existir mulheres tão imprudentes. Eu era um estranho e ela me levou sem pensar duas vezes para o apartamento dela. Mas talvez a moça morena apenas estivesse como eu: com uma bomba de tesão dentro de si pronta para detonar. Seja lá qual fosse o motivo dela, fechei os olhos e me deliciei com a boca experiente que arrancou de mim um jato denso e quente. — Delicioso! — ela disse engolindo tudo, então partiu para cima de mim e eu a penetrei em retribuição. Quando terminamos, a mulher correu para o banho. Eu suspirei por um instante percebendo com alívio que toda aquela onda de tensão sexual havia se esvaziado. Qual a última vez que eu me senti assim? Aliás, já tinha ficado assim? Não tinha. Como eu possuía certa facilidade em encontrar moças bem dispostas comigo, nunca fiquei naquele nível de urgência de um homem que há tempos fica sem ninguém. E aquela sensação de culpa me invadiu novamente. Nos últimos tempos estava sendo assim: eu dormia com uma mulher e depois um sentimento estranho de culpa me consumia, como se eu estivesse fazendo algo de muito errado comigo mesmo. Foi aí que comecei a realmente pensar em Betina como alguém para a vida toda. Eu sabia bem que a jovem cresceu ouvindo que seria a nora da família Servantes, já que uma união entre nós era considerada perfeita para os negócios, uma vez que o pai dela era o acionista majoritário do Banco Rupert. Se antes eu achava tudo aquilo de um nível muito medieval, agora, diante de um vazio cada vez maior dentro de mim, estava cedendo a todas as coisas que antes considerei tolice. Já era hora de assentar a cabeça, formar uma família, ter uma vida sexual menos perversa. Minha amiga loira era meiga, bonita e de excelente índole. Depois daquilo tudo fui embora sem dar adeus para Valquíria e quando cheguei ao meu próprio apartamento tomei um banho longo e adormeci por horas. Acordei às onze horas com o som do alarme me lembrando do almoço com Betina. Me vesti de forma elegante e comprei flores no caminho até o restaurante italiano favorito dela. Eu já estava na mesa do restaurante com uma taça de vinho na mão quando vi Betina entrando pela larga porta de vidro. Em seu vestido perolado na altura do joelho, ela era uma verdadeira princesa de contos de fada. A jovem mantinha as mesmas feições meigas de quando era criança, porém as curvas generosas denunciavam que ela havia crescido. — Rob! — Ela abriu um largo sorriso ao me ver — Você está tão elegante, na verdade, você é elegante. — E você uma princesa, como sempre. — Eu a cumprimentei com um beijo no rosto e na sequência entreguei as rosas vermelhas. — Pra mim? — Ela abraçou o arranjo de flores — Minhas favoritas. — Meu irmão soltou que você adora rosas vermelhas. Venha, sente-se. — Faz tempo que não saímos sozinhos e estou surpresa pelo convite. — Para ser sincero, tenho segundas intenções — eu disse, misterioso. — Mas vamos jantar primeiro. Ah, me conte também como está sendo o trabalho com seu pai. — Rob, estou sofrendo para acompanhar o ritmo dele, mas não estou deixando nada a desejar. Continuamos a falar de nossas rotinas e pouco tempo depois fomos servidos.Betina era uma companhia agradável e muito neutra, como a de uma irmã... Não! Tinha que me esforçar para enxergá-la como mulher e assim seguir com meus objetivos. Iria lhe propor um noivado, sem sentimentos avassaladores para atrapalhar o raciocínio, sem aquela urgência sexual que me levava a agir como um urso devorador na maioria das vezes. Com ela eu teria que ser gentil. Eu sabia que ela nunca fora de ninguém e agora, perante um passo tão importante, eu queria ser fiel, pois era o que ela merecia. — Estou feliz que tenha vindo — eu disse à ela. — Sua presença sempre me transmite muita ternura. — Sim, eu sinto o mesmo. — Ela corou — Nos conhecemos desde crianças e sempre admirei como você era forte e capaz de resolver todas as coisas. — É que sou mais velho que você, crianças tendem a admirar as maiores. — Talvez...mas não lembro de admirar assim os outros meninos. — Você cresceu, está com vinte anos? — Tenho vinte e dois, Rob. — É a mesma idade do meu irmão? — Não, o Cristian tem vinte e sete! — ela riu. — É sério que você não sabe a idade do seu irmão? — Vocês não estudaram juntos? — Em séries diferentes! E ele estava atrasado na escola, lembra? — Tanto faz, estou me desviando do assunto. — Certo, você falava do quanto eu cresci. Então você notou que agora já não sou uma menininha. — Não tem como não notar — eu disse, encarando as curvas generosas dos seios. Ela corou novamente e eu sorri — Você, além de ter se tornado uma mulher lindíssima, é também muito nobre e especial. —Obrigado. — Ela ficou repentinamente tímida. — Betina, nossas famílias também são muito próximas, não são? — Sim. — Ela bebericou um gole do vinho — Você está estranho hoje, Rob. As rosas, esse jantar elegante e os elogios... — Espere! — Então tirei uma caixinha do bolso e entreguei para ela — Quero dar um passo importante com você. Ela abriu a pequena caixa de jóias e ouvi seu exclamar surpreso diante do anel. — Isso é um anel de noivado? — Sim, quero que aceite. Acredito muito que juntos formaremos uma família perfeita. — Eu… Estou surpresa... — E feliz? — Sim... — A voz dela era vacilante — Você sabe que nutro sentimentos por você desde sempre e confesso que imaginei esse momento por diversas vezes só que... — Só que... — Parece que estou pulando uma etapa — ela suspirou. — Não deveríamos namorar antes de noivar? Quer dizer, nós nunca nos beijamos, então é estranho... — Eu resolvo isso. Me inclinei para ela, que arregalou os olhos. Ao passar o braço pela sua cintura a percebi muito rígida e nervosa, porém a puxei para mais perto, sentindo os seios fartos comprimidos em mim. Então a beijei com carinho e suavidade até que a respiração dela se acalmasse. Aos poucos ela correspondeu ao beijo e quando a deixei o rosto de Betina estava vermelho como um pimentão. — Você já foi beijada? — Cla-claro! Rob, eu já tenho vinte e dois anos! — indignou-se. — Mas porque? Eu beijo muito mal? — Ela ficou repentinamente preocupada. — Você parecia nervosa. — Eu só não esperava... — Enfim, a parte do beijo já foi resolvida. — Ainda assim... — Querida Betina, sempre foi um fato concreto de que uma hora ficaríamos juntos. Prometo ser um bom marido. — Olha Rob, eu nem sei como reagir. — Pegou a aliança e colocou no dedo — Cabe direitinho. — Sim. — Façamos assim. Eu aceito, mas quero que nesse início tentemos ser namorados. Ir ao cinema juntos, andar de mãos dadas. — Ela foi citando tudo o que esperava de um namoro. Sinceramente eu não tinha muita paciência para romance, queria algo descomplicado, porém a vida me ensinou que as melhores coisas deveriam ser conquistadas. — Concordo. Betina sorriu. Ela parecia ainda não ter acreditado em tudo que estava acontecendo, que logo estaria usando meu nome. Eu não queria um noivado longo, mas também não deveria ser tão curto a ponto das pessoas começarem a ter ideias erradas sobre minha pressa. No final a levei para casa onde ela morava com os pais e nos beijamos novamente. Ela pareceu ansiar por mais, no entanto a deixei sã e salva. Quando voltei para meu apartamento fiquei em dúvida se deveria dar a notícia imediatamente para meu pai. Ele ficaria imensamente feliz, disso eu tenho certeza. Deixei para contar no dia seguinte, na empresa. — Pois é, agora sou um homem comprometido. No mesmo instante a imagem de Theodora me veio à mente e um arrepio me percorreu o corpo todo. Por sorte eu não mais a veria, caso contrário seria muito difícil continuar bancando o cavalheiro.TheodoraAquela semana no trabalho foi exaustiva. Era sexta-feira e eu não via a hora de ir para casa me ver longe daquele lugar sufocante. A Contacte Contabilidade era um escritório grande e no meu setor só havia mulheres.— Você errou essa planilha, Theodora! — minha encarregada falou, com a voz cheia de irritação. — E se eu enviasse assim? Refaça e pelo amor de Deus, confira mil vezes antes de me entregar qualquer coisa!Eu me afundei na minha cadeira. Enia era mais jovem do que eu, mas como filha do dono era bastante autoritária.Não bastava eu ser a vítima favorita das implicâncias dela, mas eu realmente estava muito distraída naquela semana e havia cometido alguns deslizes, o que no mundo da contabilidade era imperdoável.Que eu odiava o meu trabalho não era novidade: me sentia tão triste atrás daquela mesa de escritório, olhando o tempo todo para números, planilhas...mas era melhor que os meus dois últimos empregos com telemarketing. Ali pelo menos o salário era digno e eu tinh
Robert Era dia do aniversário de Cristian, um evento criado por minha mãe em cima da hora. Cristian nunca foi de comemorar o próprio aniversário, todavia, como ele andava muito baixo astral, a ideia de uma festa pareceu ser positiva. E meu irmão caçula não poderia recusar já que, nossos pais estavam muito animados, como se a festa fosse deles. Depois de uma semana cansativa na empresa, repleta de reuniões inadiáveis, tudo o que eu mais queria era um final de semana tranquilo. Ainda assim, fiquei incumbido de buscar Betina e depois o bolo e doces e ambas as tarefas me pareciam morosas. Betina demorou demais para se arrumar e o bolo foi encomendado em um lugar bem longe. Quando chegamos à casa do meu pai, confesso que já estava cansado. Todo mundo parecia já ter chegado e poucos notaram nossa entrada. Betina logo se desvencilhou na minha mão e correu para meus pais, cobrindo—os de abraços enquanto eu tentava achar algum funcionário que poderia ir comigo ao carro buscar o
TheodoraQuando o sol começou a baixar, os convidados foram se retirando da área da piscina. Kaique tinha voltado para o meu lado há pouco tempo e eu não escondi minha chateação por ter sido abandonada.— Melhore essa carinha, meu amor — ele disse, me fisgando pela cintura. — Você se saiu muito bem.— Por onde andou? Achei que seu objetivo era conquistar o Sr. Servantes e tentar fechar o negócio com a empresa deles para ajudar seu pai.— Sim, o objetivo era esse até eu colocar os olhos no Alejandro...— Alejandro?— Sim, o segurança bonitão deles. — Kaique deu uma desmunhecada, contudo logo se recompôs — Só de lembrar daqueles braços enormes empurrando contra a parede da garagem, me arrepio todinho.— Me poupe dos detalhes! — arfei. — O seu problema, meu amigo, é que mesmo sendo gay você age igualzinho a todos os homens: pensam mais com a cabeça de baixo do que a de cima!— E você precisa de uma boa foda — ele disse, me encarando daquele jeito cheio de desdém. — Deve estar juntando t
RobertDepois dos parabéns ao meu irmão Cristian, o salão virou uma mini balada. De repente tiraram uma caixa de som, não sei de onde e uma seleção de músicas agitadas começaram a tocar.Eu estava no meu canto, observando a animação dos convidados ao dançarem. Até mesmo meus pais pulavam entre os jovens e Cristian havia arrastado Dona Marta, a governanta, para dançar também. O ambiente estava à meia luz, minha mãe havia improvisado uma iluminação interessante com castiçais. Victor se aproximou de mim com dois copos de uísque e me ofereceu um, que eu aceitei de bom grado.— Obrigado. Não vai dançar? — eu perguntei a ele, enquanto sorvia o líquido amarelado.— Nem pensar. Sou muito descoordenado, ia passar vergonha.— Essa eu queria ver — eu ri. — Cadê sua acompanhante?— Tive que mandar para casa de táxi. Longa história. — Ele voltou o olhar para os que dançavam — Aquele moço que seu pai convidou, se ele não estivesse com a namorada aqui diria que ele é viado. Olha o jeito que ele rebo
TheodoraEu voltei para dentro da mansão com o rosto em chamas. Estava tão desorientada que não sabia para onde ir. Por sorte, Kaique e Lisa me interceptaram logo que me aproximei do salão e juntos subimos as escadas que davam para um imenso corredor.— Dona Ofélia já me mostrou o meu quarto — Lisa indagou, me puxando pela mão.Entramos todos no cômodo e, se o momento fosse outro, eu teria me encantado com o papel de parede em tons de camurça e branco. Eu apenas sentei na cama despejando todo meu peso nela, como se fosse um saco de batatas.— Menina, o que aconteceu? Você saiu da pista e depois reapareceu com essa cara — Kaique disse.— Eu torci o tornozelo — comecei dizendo.— E você não foi ver se ela estava bem? — Lisa interrogou Kaique que se fez de desentendido — Você é um péssimo namorado!— Você também estava ocupada demais com o caçula dos Servantes, que eu vi. Eu te trouxe aqui para dar apoio à sua irmã.— Gente, não precisam discutir por minha causa — eu pedi com voz cansada
Robert O café da manhã que Dona Marta preparou era digno de um hotel de luxo. A maioria preferiu se sentar na grande mesa preparada no Salão principal, enquanto eu apenas me servia de um café puro e bem forte. Próxima à escada que levava para o terraço estava Theodora, sozinha. Era evidente que algo a preocupava e eu senti vontade de ir conversar com ela, mas antes mesmo que eu me pusesse em sua direção, a mulher subiu as escadas. Não deu dois minutos e vi o Senador Ferraz se dirigindo para o mesmo lugar. Meu sangue gelou, uma vez que o velho era conhecido por não ter a mínima noção de decoro e moral, incrível que um tipinho como aquele fazia parte do círculo de amigos do meu pai e não tinha o menor sentido estar na festa de Cristian. Depois do flagra que meu pai nos deu na noite anterior entendi que era melhor não me meter com Theodora, mas os minutos começaram a passar e confesso que um mal pressentimento começou a me dominar. Não era prudente que nenhuma mulher
Theodora Eu já havia me sentido assim com alguém em qualquer momento na vida? Com uma urgência não resolvida, uma fome nunca saciada? Quando Robert capturou minha boca num beijo intenso e gostoso eu não pude resistir, pois meu corpo todo implorava por isso. E pensar que horas atrás eu estava à mercê de um abusador que me fez ter nojo de mim mesma, a ideia de ser violada por um ser tão asqueroso era tenebroso e graças a Deus que Robert havia aparecido. Eu olhava para ele como se fosse reluzente como ouro e minha gratidão não cabia no peito. Então eu entendi que queria ser dele, mesmo que fosse uma única vez. Diferente de Ector, meu ex namorado, eu me sentia segura comigo mesma e pronta para avançar. — Tessy... Ele me chamar pelo apelido só fez minha certeza se intensificar. Correspondi ao beijo dele, passando minhas mãos pelos braços bem torneados. Então ele me levantou e me colocou sentada sobre a mesa em que antes tomávamos nosso café. Uma xícara caiu
Theodora Eu gostaria de poder dizer que as duas semanas seguintes passaram voando, mas não seria verdade. Se arrastaram como velhas raquíticas. Minha rotina voltou ao normal. Depois do escândalo na mansão dos Servantes, Kaique disse a todos que terminamos e assim eu fiquei fora de campo. De qualquer forma, o Toninho fechou negócio com o Octávio e agora eles eram vistos constantemente na companhia um do outro. Tudo normal, tudo como o esperado, exceto por uma coisa: eu não parava de pensar em Robert! Nós nos vimos em duas ocasiões apenas: na Festa Beneficente e no aniversário de Cristian, sempre acreditei que se precisava de muito mais tempo para cultivar sentimentos fortes por alguém e com Robert Servantes foi diferente.Toda vez que o telefone tocava eu olhava ansiosa esperando que fosse ele e logo lembrava que eu não tinha lhe dado meu número, então eu ria do ridículo da minha situação. Estar no trabalho com a cabeça repleta de recordações tumultuadas não aj