Três semanas se passaram. É horrível ficar trancada em um quarto sem poder fazer nada. Para minha sorte, Alexander fica comigo nas horas em que não estou fazendo fisioterapia. Nesses momentos, ele me atualiza sobre alguns eventos lá fora ‐ não que ele goste de falar, ele é um cara bem calado ‐ mas eu o obrigo a me contar coisas que são do meu interesse e que não consigo saber por meio de Mariana.É engraçado ver como um pequeno vinco se forma no meio da sua testa quando ele se sente contrariado, ou quando ele sorri sem jeito quando falo algo sem pensar.Ele me mostrou fotos de Alice. A garotinha é linda e, pelo que descobri, ela se parece muito com a mãe. É lógico que a minha curiosidade não iria parar em Alice; também fiz perguntas sobre a ex-esposa, que pelo o que descobri, morreu em um atentado. Alice perdeu a mãe muito nova. Alexander desconfia que por esse motivo, Alice se tornou independente. Diz ele que a pequena não lhe dá trabalho em nada, porém é muito tagarela e curiosa. Pe
A viagem de Chicago a Nova York foi tranquila, embora eu tenha me sentido um pouco apreensiva no começo. Quando vi o avião, senti uma sensação de desconforto. Creio que seja por causa do acidente. Ainda não lembro exatamente o que houve, mas posso sentir na pele, na alma.Foram cerca de três horas até chegarmos à casa onde Alexander morava, que para minha surpresa, era um lugar parecido com um bosque. Era muito lindo. As árvores abriam caminho até a entrada principal da casa. Ao descer do carro, pude ver um campo de futebol, um belo gramado cheio de flores e um fontanário muito grande, todo branco.A casa é magnífica. Uma casa de dois pisos, com telhados pintados de cinza claro. Há muitas pedras espalhadas na parede, e onde não tem pedra, é pintado de bege. Simplesmente magnífico, uma verdadeira casa americana.Observo Alexander conversar com alguns homens de terno e não demora até que ele venha ao meu encontro.– Vamos – ele me pega pela mão e me puxa para dentro.Subimos uma pequena
Depois de muito pensar, resolvi tomar um banho. Uma leve dor de cabeça me atingiu e, como ela não me deixava dormir, resolvi tomar meus medicamentos antes da hora. Não quero me automedicar, apenas preciso dormir e, se me entupir de remédios for a solução, assim será. Minutos depois, o sono me atingiu e senti uma paz inexplicável.Acordo com o som estridente do meu celular, atendo ainda sonolenta.– Oi?Aquela voz rouca e suave me atingiu, fazendo meu coração acelerar.– Helena, vamos descer para o almoço.– Eu poderia almoçar no quarto?Ouço ele suspirar.– Não! Minha família está reunida para te dar boas-vindas.– Em vinte minutos eu saio.Desligo o celular sem dar tempo para ele falar algo. Me sento na cama, ainda analisando minha situação. Parece que dormi por duas horas e ainda estou morrendo de sono.Tomei um banho rápido, vesti um macacão plissado vermelho com um cinto dourado e uma sandália também dourada. Deixo meus cabelos soltos e passo uma leve maquiagem. E, como prometido,
Acordei e olhei no relógio que fica no criado-mudo. Eram seis horas da tarde. Não sei como consegui dormir tanto. Vou ao banheiro e tomo outro banho. Tantas coisas estão fervilhando na minha cabeça.A reação e as palavras de Mariana quando acordei, o comportamento apreensivo do meu pai, as falas e as atitudes de Alexander. Não posso esperar mais, preciso ter respostas agora.E Yago? Como esse nome é tão comum para mim? É como se eu já tivesse falado este nome milhares de vezes. Eu sinto que a pessoa que possui este nome foi alguém muito importante na minha vida.Saio do banho e visto um vestido confortável. Procuro meu celular e só agora me lembro que o esqueci na mesa de jantar.Desço as escadas rápido, preciso fazer uma ligação urgente para Mariana.Na sala, encontro Maíra, Alice, Samanta e meu filho. Como eu posso esquecer que tenho um filho? Meu Deus, eu vou ficar louca!Me aproximo de Lucas, que, quando me vê, vem andando devagar na minha direção, dizendo "mamãe". O pego no colo,
Estou há mais de dez horas enfiado neste galpão. Antes de tratarmos do cúmplice de Yago, tínhamos outros assuntos para resolver, até que chegou a vez dele.Rodolfo é um sádico. Nosso pai sempre pegou mais pesado com ele, transformando-o em um lunático. Esses momentos de tortura são os preferidos dele, por este motivo Otávio e eu sentamos e aguardamos o subchefe se acalmar.Ouço mais um osso sendo quebrado e o grito irritante de Paulo. Se continuar assim, ele virará farelo, e eu não terei as informações que preciso.– Já chega – digo, me aproximando.– Agora que eu comecei – reclama Rodolfo. Ele está com sua camisa branca banhada de sangue. Bom, era uma vez a camisa.– Você está há mais de quatro horas torturando o pobre homem, e ele ainda não disse nada – diz Otávio, se aproximando com uma pasta na mão. Ele puxa uma cadeira e se senta em frente a Paulo, que o olha com os olhos meio fechados. – Eu tenho uma surpresinha para te mostrar. Olha o que eu encontrei.Paulo cospe um pouco de s
Chego em casa e encontro o silêncio; são aproximadamente 11 da noite. Helena deve estar dormindo, o que adiará nossa conversa para amanhã. Provavelmente estarei encrencado; conhecendo o pouco que conheço da mulher com quem me casei, amanhã será o dia de escutar calado.Subo as escadas e vou ao quarto de Lucas, que fica em frente ao meu. Meu pequeno dorme tão tranquilo que evito tocá-lo para não acordá-lo. Verifico a janela e a temperatura do ar, e saio em direção ao quarto de Alice, que se encontra ao lado. Para minha surpresa, ela não está na cama.Entro no meu quarto e encontro o escuro iluminado apenas pela tela da televisão. Vejo Helena acariciando a cabeça de Alice enquanto canta suavemente uma canção infantil.Brilha, brilha estrelinha Lá no céu, pequenininha Solitária, se conduz Pelo céu com tua luz Brilha, brilha, estrelinha Lá no céu, pequenininha.Fico parado um pouco, ouvindo-a repetir a canção. Sua mão sempre afaga os cabelos de Alice, e o que eu sinto neste momento é
Eu esperei por esse beijo desde o dia em que o vi entrando ansioso e desesperado pela porta do quarto do hospital.Eu ansiava estar em seus braços desde o dia em que senti o toque de suas mãos. Eu estava perdida procurando por algo que agora sei que só encontrarei com ele.Eu posso ouvir as batidas do meu coração, como se milhares de tambores estivessem sendo batidos dentro de mim. Minha pele se arrepia ao sentir a ausência de suas mãos, mas quando ele volta a me tocar, é como se labaredas de fogo deixassem um rastro por onde sua mão passou.Sinto uma necessidade desesperada de ser coberta pelo corpo dele. Quero tocá-lo e nunca mais parar, e saber que esta noite ele aceitou quebrar os muros que um dia erguemos me deixa extremamente feliz.— Você tem certeza disso? — Ele pergunta, beijando meu pescoço e me apertando em um abraço maravilhoso. Eu corro minhas mãos pelos seus cabelos macios, eu queria afundar meus dedos nesses cabelos desde o dia em que o vi.— Se você parar, nos briga! —
Acordo com a vibração suave do celular, acendo a luz do abajur e, ao olhar para a tela, vejo que já há duas chamadas não atendidas de Rodolfo. Me amaldiçoo por ter deixado o celular no silencioso.— Já que atendeu, é sinal que não está morto, mas me alegro em saber que provavelmente a noite foi boa — diz Rodolfo do outro lado da linha, e ao fundo ouço a risada de Otávio.Olho para Helena, que dorme agarrada ao travesseiro, ocupando quase 70% do espaço da cama. Seus lindos cabelos negros estão espalhados pelo lençol. Ela dormindo em minha cama é uma visão maravilhosa.— Alexander? — Rodolfo resmunga. — Droga, vai mesmo me deixar falando sozinho?— Que horas são para vocês estarem me ligando? — Meu quarto está todo escuro, exceto pela luz do abajur, então não tenho noção do tempo lá fora.— São nove horas da manhã. — Me sento na cama em um pulo, o que faz Helena se mexer. Droga, quase acordei minha mulher. — Você tem uma reunião às dez, outra antes das uma da tarde, e depois temos um as