O idiota virou-se na minha direção: — Caralho! Você me mataria de verdade? E se tivesse uma porra de bala aí dentro? — Achei que era de chumbo... — olhei para o cano, confusa. — E eu morreria se fosse de chumbo, sua mentirosa louca. — Não tem nada que simule a bala... — o dono da tenda me explicou. — É tudo por computador... Inclusive o som. Devolvi a arma, chateada. — Esta é a sua cara por que não matou o jovem? — ele me perguntou, arqueando a sobrancelha. — Ele merecia o tiro. — Mas... Você mirou na cabeça dele. — Achei que tivesse munição de chumbo... — Teria feito um estrago do mesmo jeito. — Ele merecia. — Você é louca... — o homem pegou a arma e guardou. O morto-vivo havia desaparecido no meio da multidão. Sorte minha... Ou não. Porque ele ficou na minha mente. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ POV Chain Cheguei a parar e tocar minha cabeça, atrás. A desgraçada teria mesmo atirado. Nunca vi alguém tão sem noçã
Eu estava morrendo de fome. E só tinha coisas estranhas para comer naquele lugar. Quem seria capaz de comer um cachorro-quente feito num trailer? Ou ingerir a pura doçura que era um algodão doce? Deveria se chamar açúcar em forma de algodão. E aquelas maçãs? Certamente feitas sem nenhuma higiene, embaladas à mão, esperando por uma pessoa gulosa que ingeriria todas as impurezas juntas e misturadas.Pensei em converter calorias e ver quanto de malhação era necessário para eliminar o açúcar do corpo para uma daquelas coisas vendidas.Acabei optando por uma água com gás, que fiz questão de verificar se a tampa não estava rompida. Não tinha coragem de comer uma coisa naquele local. Nem beber. Li uma placa luminosa com a palavra “Capeta”. Que diabos era aquilo, feito num copo? Em que mundo eu estava? Porque Noriah Norte certamente não era. Talvez um portal... Do que poderia ser nosso país caso tivéssemos um governante ruim.Voltei para o local da minha morte anunciada: a roda gigante. E par
— Tente pensar em outra coisa e não no enjoo... Deixe-me ver...— Preciso descer — respondeu nervosamente.Assim que giramos até a parte térrea, avisei o homem responsável pelo brinquedo:— Vamos descer. A moça não está passando bem.— A avó dela pagou mais uma hora.— Uma hora rodando? — perguntei, incrédulo.— Sim... — ele afirmou, enquanto subíamos de novo.— Sua avó é maluca?— Sim...— Esqueci, ela não é sua avó — debochei.Ela me olhou e não parecia a fim de me retrucar. E isso me deu até pena dela. Estava com a cara péssima e os lábios sem cor.— Vai para o outro lado... — pediu, com a voz fraca.— Vamos fazer assim... — retirei o plástico com o anel do me
— Onde você lavaria a minha camiseta?— No banheiro.— Eu vou aceitar. Não posso entrar no carro neste estado. Tiago me mataria.Esperamos até que quase todos descessem para que chegasse a nossa vez. Não conversamos neste meio tempo. Estava muito envergonhada de ter vomitado nele. Que dizer, não porque era “ele” em específico... Pois eu ficaria assim se fosse em qualquer outra pessoa. Até... Em Cris.Assim que a nossa gaiola foi aberta, o atendente do brinquedo olhou para dentro e fez cara feia:— Nossa! Que estrago!— Ela fez isso só para me ver sem camisa — ele garantiu, enquanto saltava antes de mim da gaiola.— Seu metido, convencido... — me vi indo atrás dele.Para minha sorte, ele foi na direção de Ketlin e seu amigo. Acabamos chegando juntos.Nos encaramos, os quatro. O amigo dele perguntou:— O que houve com a sua camiseta?— A mentirosa vomitou nela.— Eu não sou mentirosa. Se disser isso outra vez eu vou...— Me matar de verdade? — encarou-me seriamente.— Você bem que merec
— Não sei se posso acreditar em você, mentirosa.— Liah?Olhei para o lado e vi minha avó vindo na nossa direção. Não... Aquilo era minha destruição, na certa.Ela me abraçou e encarou Chain:— Como foi na roda gigante, bonitão?— Obrigada por pagar para mim... Sou Chain — ele estendeu a mão para ela, que apertou-a, olhando para o homem de forma sedutora.— Sou Rosela... Mãe da mãe de Merliah.Chain enrugou a testa, parecendo com dificuldade de assimilar o que minha avó disse.— Prazer em conhecê-la, Rosela.— O que um homem como você faz neste Parque... Para não ir mais profundamente e perguntar o que faz nesta cidade?— Um pouco perdido... Só isso... — ele respondeu, depois de pensar um pouco.— Enfim, se encontrou. E não é que achou o que tinha perdido?O homem a olhou, confuso.— Merliah — Rosela explicou.Revirei os olhos:— Não, vó!— Vó? Eu mal conheço você, garota. Como ousa me chamar de vó?Ele me olhou e começou a rir:— Você mal a conhece... E ela afirmou não saber quem a s
Olhei no relógio. Era sete horas da noite. Dentro de uma hora seria servido o jantar.— Está tudo bem com você, Liah? — Corinne questionou, percebendo minha ansiedade.— Sim... Tudo... — olhei o anel no meu dedo e a pedra estava amarela. E eu não tinha a mínima ideia do que significava aquela cor.Assim que minha mãe chegou, levantei do sofá:— Mãe, eu... Preciso ir ao Parque. Por no máximo trinta minutos. Antes do jantar estou de volta.— Liah... Você já foi ao Parque ontem. O que vai fazer lá novamente?— Preciso muito fazer uma coisa.— No parque? O que sua avó está inventando?— Não tem nada a ver com vovó... Tem a ver comigo. Por que acha que tudo é culpa dela?— Eu... Não disse isso — ela me encarou, confusa.Sai, sem olhar para trás. Não, eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Só tinha certeza que precisava ir ao parque... Tentar devolver o anel que não me pertencia.Corri praticamente todo o percurso. Sim, corri usando botas de salto. Porque eu fui uma idiota de maquiar
— Tenho as contas... Não é como você imagina.— Então divida com todos seus problemas, mãe. Me parece que quer abraçar o mundo e não dá conta... E todos ao seu redor sofrem com sua cobrança sobre si mesma.— Eu... Eu... Sou assim.— Eu quero realizar o meu sonho. E para isso preciso estudar e me aperfeiçoar. Não posso viver para sempre costurando bustiês e calcinhas de lantejoulas.— Todo trabalho é digno.— Não estou dizendo que não é. Mas você nunca sonhou com alguma coisa além de ser a dona deste lugar?Vi as lágrimas escorrerem pelos olhos dela, antes que dissesse:— Sim... Eu sonhei. E tentei de todas as formas não herdar isto aqui. Fugi... O máximo que consegui. Mas a vida é cruel e perversa fora destes cinco andares. No fim, saberá que o Hotel Califórnia é nosso único refúgio... Seguro, alegre... Estável. Nossos clientes não nos cobram nada além do prazer de uma noite. Lá fora, as pessoas são perversas, duras, cruéis... Mentirosas...Mentirosas... Aquela palavra fez meu corpo r
Chain gritou e eu fiquei nervosa, pegando imediatamente a vela, que apagou na pele dele.— Você é louca por acaso? Se tem luz elétrica usa esta vela por quê, porra? É algum tipo de feitiçaria? Além de mentirosa você também é bruxa? Isso é sinistro, macabro... — levou à área ferida da mão à boca, certamente tentando conter a dor.— Eu só pedi a senha, porra!— Que senha? Precisa de senha para passar a noite num Hotel agora? Quero falar com o gerente. Na verdade, exijo.Eu sorri. O homem não sabia a senha. Não havia vindo para o quinto andar.— Acha engraçado? — arqueou a sobrancelha. — Não estou brincando, quero falar com o gerente.— Só um minuto que vou chamá-lo.Abaixei-me e peguei um elástico que tinha na prateleira térrea